Pensar as questões de gênero e sexualidade para além das dualidades e ambivalências, instituídas como forma de demarcar espaços e determinar quem ou o que é dominante e portador/a de poder, propõe rever como temos pensado e vivido o gênero e a sexualidade frente aos processos de construção social e cultural na contemporaneidade. Isso nos desafia questionar a respeito das estruturas de poder que tem imperado em nossa sociedade, compreendendo os motivos que direcionam a uma permanente interdição de assuntos que dizem respeito à vida dos sujeitos e suas maneiras de ser.
Proponho-me a analisar e compreender o conto de Guimarães Rosa A terceira margem do Rio, buscando fazer um intercruzamento entre a perspectiva que esse personagem apresenta ao habitar a terceira margem e a constituição do ser como sujeito de gênero e sexualidade, para articular uma reflexão que se apresente num lugar outro daquilo que se institui para esses sujeitos de gênero e sexualidade nos espaços rurais, construindo um pensamento a respeito do que seria se colocar para além de binarismos e ambivalências, tomando narrativas de minhas experiências na infância como elemento importante neste processo de pesquisa.
O referido conto apresenta a narrativa sobre a experiência de um sujeito que resolve aventurar-se por um lugar da transitoriedade que não representasse para ele o que o solo firme sempre representou, então decidiu se lançar no rio, deixando para traz sua esposa, seus dois filhos e uma filha.
É a partir dessa perspectiva de pensar o ser-na-roça[i] que presentifica seu ente com a significação do que seu entendimento sobre gênero e sexualidade na performatização de jeitos próprios de fazer e viver em espaços rurais, buscando constituir-se em seu lugar de vida conforme sua forma de compreensão de mundo.
Este texto se configura como um movimento de pensar sobre as questões de gênero e sexualidade a partir das narrativas do conto A terceira margem do Rio, antecedendo a entrada em campo para a re-colha das narrativas de professores/as da roça. A pesquisa tem sua centralidade nos processos de vida das pessoas que vivem na roça, propondo-se um movimento de compreensão e interpretação que leve em conta a subjetividade dos sujeitos.
O estudo utiliza como método a Pesquisa Narrativa associada à abordagem qualitativa, estando ancorado nas bases da fenomenologia e hermenêutica por buscar interpretar o ser em seu contexto de vida e a partir dos sentidos que atribuem à sua condição de existir em contextos rurais.
[i] Este termo é apresentado a partir dos modos de ser-viver-na-roça, se colocando aqui como um constructo que tem inspiração na proposta de ser-sendo (HEIDEGGER, 2015).
Percurso metodológico: pesquisa narrativa em contextos da roça
A pesquisa narrativa tem se apresentado como potência para o movimento de pesquisa em educação por considerar as experiências que docentes da Educação Básica lograram no envolvimento com a profissão docente neste nível de ensino, tendo oportunidade de narrarem sobre a vida e os espaços da docência, evidenciando pontos e elementos relevantes para o fazer no âmbito das escolas públicas de espaços que, por muito tempo, eram desconsiderados como produtores de saberes.
Tal movimento de pesquisa se constitui a partir das quebras de paradigmas no campo das ciências duras, insurgindo disso, novas reconfigurações que dão respaldo para a pesquisa qualitativa, legitimando e dando abertura para modos outros de fazer pesquisa, considerando elementos metodológicos construídos com fundamentos numa “perspectiva etno-histórico-sociológica” (BERTEAUX, 2010), ancorada em abordagens da etnografia e suas técnicas para observação tomadas com uma visão sociológica.
Uma perspectiva etno-histórico-sociológica leva em consideração as narrativas de vida numa inter-relação que esta tem com os processos de subjetividade e intersubjetividade de quem narra, podendo ser tomadas como dados de pesquisa por compreender experiências de vida-formação-profissão elementos fundantes para pensar a docência e espaços educativos.
As narrativas significam condições de potência para a produção científica, uma vez que, estas carregam em sim uma dinâmica que nos permite compreender fenômenos sociais numa dimensão que perpassa o individual e o coletivo, as singularidades e pluralidades das pessoas. Para Berteaux (2010, p. 17),
Recorrer às narrativas de vida enriquece consideravelmente essa perspectiva, trazendo-lhe aquilo que faltava à observação direta, exclusivamente focada nas interações face a face: uma dimensão diacrônica que permite perceber as lógicas da ação no seu desenvolvimento biográfico e as configurações de relações sociais no seu desenvolvimento histórico (reprodução e dinâmicas de transformação).
Então, o processo que integra uma pesquisa narrativa revela um movimento de valorização às interações que tal movimento propõe para pesquisador/a e participantes de pesquisa, pois a observação direta e o envolvimento que disso decorre, potencializa a produção de dados e favorece a apresentação das narrativas em suas dimensões sincrônica e diacrônica.
A pesquisa narrativa se configura como modo específico que podemos tomar para evidenciar experiência de vida individual de professores e professoras que é atravessada por histórias de vida de outras pessoas, representando suas instituições de educação e outros espaços em que se vinculam.
Narrar a vida, construir experiências de gênero e sexualidade na roça
Brincar embaixo das árvores sempre foi muito imaginativo e de boas sensações. Nos arredores da casa na roça ou no quintal de nossa casa na rua sempre havia uma árvore frutífera, de boa sombra para construir curralzinhos feitos com pequenas lascas de pau, casinhas de barro, estradas para carrinhos, bem como, cabanas compostas por tudo aquilo que representavam móveis, louças e outros elementos de uma casa.
Tudo isso, como modo de representar, através das brincadeiras, o mundo dos adultos e atividades que desenvolviam. Sempre tive uma quantidade de brinquedos que considero essencial para a época, pois em minhas brincadeiras conseguia utilizar tudo que tinha. Eram alguns carros, cavalos, vacas, bois, bezerros, porquinhos, cabras, burros, dinossauros e outras miniaturas de bichos parecidos com os que existiam na roça e pertenciam a minha imaginação.
Minha irmã, 5 anos mais velha que eu, tinha bonecas e outros brinquedos. Poucas são minhas recordações de brincarmos juntos, utilizando algum dos brinquedos que eram meus ou os que eram dela. Lembro bem que, quando estava em casa na rua, passava o dia inteiro brincando no quintal com as fazendinhas que construía ou então, numa cabana que montei. Cresci ouvindo dizer que menino não brinca com coisas de menina.
Isso não era impedimento, sempre brinquei com coisas de meninas às escondidas, como não podia ter bonecas, apenas carrinhos e essas coisas que convencionaram ser para meninos, tinha um ursinho, com ele representava o desejo e afeto do cuidado, instituindo a vivência de uma infância que fugia ao que estava de-marcado[i] socialmente como modo de ser menino ou menina. Nas brincadeiras livres, sempre me envolvia com minha irmã e suas amigas, pois a acompanhava na maior parte do tempo quando ela saia para brincar na rua.
Todo objeto interessante para mim, se tornava um brinquedo ou a possibilidade de um divertimento. Na roça, o que mais gostava de fazer era subir em árvores, andar a cavalo e em jegue. Correr pelas estradas de terra, tomar banho nos tanques[ii], procurar búzios e pedrinhas para serem meus brinquedos. O que adorava fazer, também, era juntar latas vazias e coisas velhas jogadas no meio do tempo, que serviam para montar minhas casinhas embaixo do umbuzeiro.
Esse pé de umbu era bem fechado e por baixo o chão era muito limpo, sem nenhum mato ou garrancho, um lugar propício para viajar em qualquer fantasia ou realidade que quisesse. Um espaço seguro dos olhares maliciosos dos mais velhos, que tinham uma concepção de vida mais fechada para as questões que se apresentavam como diferentes. Ali, fazia fogão e colocava folhas de mato para cozinhar, simulava uma vivência em um lugar sozinho ou de poucas pessoas. Qualquer criança que chegava ia brincar comigo. Parecia que o tempo era eterno, e nada nem ninguém fariam algum mal a mim. Não ouvia comentários, não percebia olhares desconfiados e maldosos.
Parece que era uma prospecção de minha vida no futuro. Uma espécie de preparação des-pretensiosa de um ser presentificado num ente que o lançava no mundo. Era eu fazendo-me abertura para o ser. Percebo que era uma condição de me tornar clareira para o ser. Para Heidegger (1969, p. 77), “a clareira, no entanto, o aberto, não está apenas livre para a claridade e a sombra, mas também para a voz que reboa e para o eco que se perde, para tudo que soa e ressoa e morre na distância. A clareira é o aberto para tudo que se presenta e ausenta”.
Sendo prospecção de futuro ou não, compreendo que era um fazer-se abertura, clareira do ser que estava se presentificando no envolvimento com aquilo que a vida lhe oferecia, através de pro-vocações de uma criança que constituía sua experiência de vida na infância, pela liberdade de ser quem era, atendendo aos desejos de fazer como acreditava que podia. Era um deixar-se fazer, naquilo e a partir do que se a-presentava ou se ausentava.
Na sombra do umbuzeiro, havia condições de um des-velamento do meu ser próprio – autêntico - que se manifestava nesse contexto da infância enquanto uma pro-vocação para ser o que já é, onde meus modos de existir na infância tinham in-fluências de um fazer livre e leve, sem comandos de outrem, em que o imperativo não tinha lugar. Era um ser-sendo ele mesmo, numa sentenciação desencadeada pelo gerúndio constante.
Esse ser autêntico traz uma perspectiva de como nos relacionamos com as coisas a partir de um movimento de deixar-ser, entrega como possibilidade de abertura fundada na autenticidade do ser, numa vida autêntica que é orientada com a apropriação de um si-mesmo, numa condição de tomada de consciência do ser-aí que é abertura para o mundo, neste caso, para a roça. Para Heidegger (p. 126, 1991):
Todo trabalho e toda realização, toda ação e toda previsão, se mantem na abertura de um âmbito aberto no seio do qual o ente se põe propriamente e se torna suscetível de ser expresso naquilo que é e como é. Isso somente acontece quando o ente mesmo se pro-põe, na enunciação que o apresenta, de tal maneira que esta enunciação se submete à ordem de exprimir o ente assim como é. Na medida em que a enunciação obedece a tal ordem, ela se conforma ao ente. O dizer que se submete a tal ordem é conforme (verdadeiro). O que assim é dito é conforme (verdadeiro).
Sendo assim, busco des-velar o ser a partir da afirmação de uma vida autêntica por anunciar esse ente na condição daquilo que me aproprio nos acon-tecimentos que me envolvem e me afentam e provocam a possibilidade de abertura e entrega de um ser que é no fazer-se roça.
Quando meu pai saía para fazer qualquer coisa de sua lida diária com os animais, eu o acompanhava, adorava andar com ele. Sentia-me desafiado pelas atividades que ele me ensinava. A maneira de ensinamento, às vezes não era tão interessante assim, pois tinham coisas que ele fazia que me provocavam medo. Acredito que, como forma de demonstrar força e segurança, acabava fazendo o que tinha que fazer. Isso foi preponderante para enfrentar as situações da vida.
Minha mãe, sempre preocupada com nosso bem estar, cuidava de tudo e se virava para que nada nos faltasse em casa. Pensava em nosso futuro, cuidando da parte de escolarização como algo muito importante em nossas vidas. Ela era a mantenedora da casa. Não media esforços para fazer o melhor por mim e por minha irmã. Sempre estava atenta com nossa boa aparência, nos arrumava impecavelmente. É uma lembrança constante o modo como cuidava de nós. Escolhia a roupa que eu ia vestir, numa combinação de muito bom gosto. Eu sentia aquilo como uma orientação para a vida. Cresci, valorizando o cuidado comigo mesmo, zelando por uma boa aparência, isso sem perder de vista os princípios de honestidade, liberdade e dignidade que pude construir.
Minha infância foi um tempo vivido com bastante intensidade. Dividia-me entre as descobertas do ver a roça, as aventuras no lombo do jegue, as brincadeiras de casinha na sombra do umbuzeiro e tantas outras formas de ser criança na roça e na rua. Era um menino quase parecido com o qual Manoel de Barros (2015, p. 131) descreve em sua poesia.
Por viver muitos anos dentro do mato
moda de ave
O menino pegou um olhar de pássaro –
Contraiu visão de Fontana.
Por forma que ele enxergava as coisas
por igual
como os pássaros enxergam.
As coisas todas inominadas.
Água não era ainda a palavra água.
Pedra não era ainda a palavra pedra.
E tal.
As palavras eram livres de gramática e
podiam ficar em qualquer posição.
Por forma que o menino podia inaugurar.
Podia dar às pedras costumes de flor.
Podia dar ao canto formato de sol.
E se quisesse caber em uma abelha, era
só abrir a palavra abelha e entrar dentro
dela.
Como se fosse infância da língua.
Peguei visão de fontana por viver na roça e na rua, um movimento que me possibilitou travessias diversas em meu processo de vida. Durante meu viver a infância, carreguei comigo uma forma própria de enxergar a vida e as coisas. Aquilo que causava sofrimento a meu ser criança, era trans-formado por uma sensibilidade que me pro-vocava ver o mundo de outra forma, semelhante à forma como os pássaros enxergavam.
Era um modo de enxergar as coisas ainda sem nome. Uma maneira maravilhosa e perfeita para converter uma coisa em outra, significando a posição que cada coisa se colocava para mim. Eram meus desejos e vontade de tornar meu existir em algo que fosse o cultivo de realidades ou ficções possíveis, que não se parecessem com algumas situações ruins que passei na infância e que me afetaram de um modo muito profundo, não daria para descrever aqui.
Então, me valia da liberdade das palavras em relação à seu conjunto gramatical, para re-significar alguns momentos de minha vida na infância. Preferia brincar, fazer da minha vida, naquele momento, um evento interminável, em que, as coisas podiam ser o que quisesse que fossem. E que, eu tinha condições de dar o formato que quisesse a tudo aquilo que minha visão de fontana me permitia ver.
Em meio a tudo isso, uma coisa ficou de-marcada em minha vida, ainda me utilizo dessa visão de fontana como possibilidade de ver, ouvir e sentir aquilo que tem sentido em minhas formas de habitar a roça e desenvolver a docência, percebendo quais são as coisas que simbolizam meus modos de existência, exercitando condições de abertura numa constância.
Narrar a experiência nos propõe uma articulação daquilo que nos afetou, nos envolveu e nos atravessou de uma forma de anunciar e denunciar eventos e situações vividas, des-velando compreensões instituídas por uma maneira de pensar o caminho da experiência a partir de quem somos agora, do que nos motiva a desenvolver uma narrativa (auto)biográfica, levando em conta as intencionalidades de narrar o que está sendo narrado.
Isso se apresenta nesta pesquisa como princípio ético e político de um eu-pesquisador, que prima pela valorização das relações que cada pessoa da roça estabelece, para construção do conjunto simbólico que representa suas vidas e maneiras de existir e resistir em contextos rurais. Penso que seja também, por acreditar que as escolas da roça tenham uma potência muito grande nas comunidades em que estão situadas e, é delas que essa comunidade se nutre social e politicamente.
É por tais motivos que, acredito na importância de buscar pensar narrativamente, sobre essas questões que me afetam e pro-vocam inquietações, como condicionalidade de luta e defesa do que acredito como professor da Educação Básica e morador de áreas rurais.
Paralelo às brincadeiras e montarias, acon-tecia meu processo de escolarização numa escola da rua. Era uma escolinha particular, sua estrutura não era muito grandiosa no que se refere aos espaços de sala de aula e áreas pedagógicas. Lembro que as turmas eram formadas com um número pequeno de alunos/as. A metodologia de ensino estava pautada nas propostas de cartilhas, em que o desenvolvimento da coordenação motora fina era muito estimulado.
Utilizava-se bastante as propostas de desenvolvimento das competências de leitura e escrita através do método fonema e grafema. As famílias silábicas eram apresentadas de forma muito criativa, depois seguíamos com as reproduções de escrita, com as cópias e repetindo com orientação das professoras. Desse modo, me alfabetizei logo e passei a ler as palavras dos livros e me dedicar às atividades que a escola apresentava.
Em minha trajetória como estudante da Educação Básica, sempre fui muito envolvido com a escola, adorava minhas professoras da Educação infantil e Ensino fundamental, pois demonstravam a mim acolhimento, afetividade e respeito ao meu jeito de ser. Isso me fazia muito bem, uma vez que eu sempre estava em busca de uma aceitação, pois ser filho de uma “mulher separada” não era fácil, já que todos os/as meus/minhas colegas tinham seus pais e mães convivendo juntos.
Como não conseguia me encaixar neste modelo, sempre me considerei diferente por ter pais separados e, também, ter alguns trejeitos femininos. Eu não conseguia perceber problema nisso, mas na rua sempre ouvir falas do tipo, “toma jeito de homem!”, “menino não se comporta assim!”, “menino segura os livros assim!”. Além de, às vezes, ser chamado de “viado” ou “mulherzinha” na escola, na rua ou na roça. Isso tudo, implicou em tentativas de ocultar minha identidade sexual e de gênero, indo na busca de ser igual aos outros meninos, reproduzindo atitudes de “homem”, passando a viver um conflito muito grande comigo mesmo, que se estendeu durante toda minha infância e juventude. Com o tempo, consegui compreender meu jeito de ser e, construí minha identidade sexual e de gênero sem me considerar inferior.
Há uma necessidade de apagamento das fronteiras, das diferenças que singularizam os(as) sujeitos, transformando-os em estrangeiros por não se ajustarem ao padrão estabelecido pela cultura escolar. Assim, é atribuída a alteridade uma dimensão de estranheza, os outros na escola resultado dos coletivos diversos são os estranhos, a margem dos ritos e rituais da escola (RIOS, 2011, p. 290).
Na roça onde meu pai morava tinha uma escola multisseriada perto. Quando ficava na roça e sem ir à minha escola, ia lá para a fazenda de seu Pequeno[iii], onde o prédio[iv] escolar estava localizado. Ficava na janela, olhando a professora dar aulas para uma turma que tinha todo mundo misturado, desde crianças bem pequenas até crianças maiores que eu. Na época, aquilo me fascinava... Uma escola no meio do tempo, sem muros, sem farda, onde eu podia ficar na janela assistindo aulas e, na hora que eu quisesse podia ir brincar com eles, andar a cavalo, tomar banho nos tanques, fugir daquele sofrimento, dos padrões que a sociedade exigia.
Uma compreensão sobre gênero e sexualidade para além do lugar comum
A terceira margem passa a ser a configuração de um lugar possível para a produção de sentidos construídos pelo sujeito a partir do que ele compreende do ser sujeito de gênero e sexualidade, sem apego ao que a sociedade instituiu para seu gênero e sua sexualidade.
Sem alegria nem cuidado, nosso pai encalcou o chapéu e decidiu um adeus para a gente. Nem falou outras palavras, não pegou matula e trouxa, não fez a alguma recomendação. Nossa mãe, a gente achou que ela ia esbravejar, mas persistiu somente alva de pálida, mascou o beiço e bramou: — "Cê vai, ocê fique, você nunca volte!" Nosso pai suspendeu a resposta. Espiou manso para mim, me acenando de vir também, por uns passos. Temi a ira de nossa mãe, mas obedeci, de vez de jeito. O rumo daquilo me animava, chega que um propósito perguntei: — "Pai, o senhor me leva junto, nessa sua canoa?" Ele só retornou o olhar em mim, e me botou a bênção, com gesto me mandando para trás. Fiz que vim, mas ainda virei, na grota do mato, para saber. Nosso pai entrou na canoa e desamarrou, pelo remar. E a canoa saiu se indo — a sombra dela por igual, feito um jacaré, comprida longa. (ROSA, 1994, p. 409)
Fazer o percurso da terceira margem significava reconstituir-se sujeito a partir da subjetividade do ser sendo, em que a presencialidade se constituía da interação desse homem consigo mesmo e com o espaço do rio largo e profundo, cuja água seria a transitoriedade e um espaço de incertezas responsável pela reconstituição de um ser instituído, agora, pelo desejo de ser. Habitar a terceira margem é assumir-se sujeito de gênero e sexualidade numa lógica outra que não está fundamentada em proposições heteronormativas.
Nesta perspectiva constitutiva de um sujeito que constitui seu gênero e sua sexualidade a partir das condições instituídas pelo seu desejo, nos propõe refletir a respeito dos elementos que a sociedade se utiliza para determinar se somos meninos ou meninas, homens ou mulheres a partir de um órgão genital, pois ao fazer isso, entra em cena o uso do poder para determinar quem somos.
Por compreender que o sujeito se constitui a partir do momento que exercem o poder sob ele ou ele se institui como sujeito de poder, penso que a terceira margem possa ser tomada como um lugar hermenêutico por se apresentar como um espaço em que o poder ser é assumido pelo sujeito em sua condição do desejo de ser sendo. A condição do ser sendo é a presentificação do sujeito de gênero e sexualidade em sua evolução, superando as condições do binarismo e da ambivalência.
A terceira margem como lugar hermenêutico pode ser entendida, também, a partir da superação da questão “antinatural” (FOUCAULT, 2017) que demarca a oposição e funda a determinação dos sujeitos de gênero e sexualidade somente na procriação. Demarcar a oposição e instituir em torno das questões de gênero e sexualidade o binarismo, é uma maneira de reforçar padrões hegemônicos para a manutenção do poder detido pelos grupos dominantes e, enfraquecimento das minorias políticas que se encontram nas fronteiras por assumirem-se sujeitos a partir do desejo de ser quem são.
Cabe salientar que a terceira margem não se coloca aqui como sinônimo de fronteira ou de entre-lugar, mas sim como um espaço outro que pode acolher aqueles e aquelas que estão vivendo nas fronteiras ou no entre-lugar. Isso porque, quem vive essa condição de invisibilidade, marginalização e exclusão por não se adequar aos padrões heteronormativos instituídos socialmente, carregam consigo o desejo semelhante ao pai que decidiu habitar a terceira margem do rio.
A gente teve de se acostumar com aquilo. Às penas, que, com aquilo, a gente mesmo nunca se acostumou, em si, na verdade. Tiro por mim, que, no que queria, e no que não queria, só quando nosso pai me achava: assunto que jogava para trás meus pensamentos. O severo que era, de não se entender, de maneira nenhuma, como ele aguentava. De dia e de noite, com sol ou aguaceiros, calor, sereno, e nas friagens terríveis de meio-do-ano, sem arrumo, só com o chapéu velho na cabeça, por todas as semanas, e meses, e os anos — sem fazer conta do se-ir do viver. Não pojava em nenhuma das duas beiras, nem nas ilhas e croas do rio, não pisou mais em chão nem capim. Por certo, ao menos, que, para dormir seu tanto, ele fizesse amarração da canoa, em alguma ponta-de-ilha, no esconso. Mas não armava um foguinho em praia, nem dispunha de sua luz feita, nunca mais riscou um fósforo. O que consumia de comer, era só um quase; mesmo do que a gente depositava, no entre as raízes da gameleira, ou na lapinha de pedra do barranco, ele recolhia pouco, nem o bastável. Não adoecia? E a constante força dos braços, para ter tento na canoa, resistindo, mesmo na demasia das enchentes, no subimento, aí quando no laço da correnteza enorme do rio tudo rola o perigoso, aqueles corpos de bichos mortos e paus-de-árvore descendo — de espanto de esbarro. E nunca falou mais palavra, com pessoa alguma. Nós, também, não falávamos mais nele. Só se pensava. Não, de nosso pai não se podia ter esquecimento; e, se, por um pouco, a gente fazia que esquecia, era só para se despertar de novo, de repente, com a memória, no passo de outros sobressaltos. (ROSA, 1994, p. 410)
Viver na terceira margem do rio é abrir mão daquilo que se está acostumado para enfrentar o desconhecido, o inesperado e o incerto. É produzir sentidos outros para seus modos de ser, fazer e viver. Para quem não está envolvido nessa condição de ser tudo pode ser assustador e parecer impossível. Seja por motivos como estes, que ainda vivenciamos situações de imposição de princípios dos grupos dominantes.
Considerar a construção do gênero e da sexualidade para além de ambivalências e binarismos é correr risco, é viver no risco. Risco de decisões próprias que demandem o inesperado, que requeira uma compreensão outra dos nossos modos de ser, fazer e viver numa sociedade afetada pelos padrões instituídos pelo capitalismo.
O pensamento proposto por Louro (2016, p. 47) a respeito do rompimento de uma lógica binária nos permite compreender a interdependência como uma condição outra nesse processo de pensar a construção do gênero e da sexualidade, levando em conta a condição do ser sendo para a presentificação do sujeito de gênero e sexualidade em sua evolução, em que “numa ótica desconstrutiva, seria demonstrada a mútua implicação/constituição dos opostos e se passaria a questionar os processos pelos quais uma forma de sexualidade (a heterossexualidade) acabou por se tornar a norma, ou mais do que isso, passou a ser concebida como ‘natural’”.
Isso significa dizer que, quem desvia-se dessa norma, que passou a ser concebida como natural, e vai de encontro à interpelação que foi sendo atribuída desde quando nasceu, ou até mesmo antes do nascimento, somente, por terem identificado um sinal que fosse condizente a um órgão genital masculino ou feminino, passa a ser visto de modo inferior perante sua performatividade.
Desse modo, a escola e a sociedade tem reproduzido essa ótica da normalidade conforme as concepções que estão constituídas em torno da heterossexualidade, impulsionando um movimento que reforça a lógica da ambivalência e do binarismo, isso se dá pela falta de abertura em compreender os sujeitos de gênero e sexualidade para além do que está posto como parâmetro a respeito do que seja o gênero e a sexualidade das pessoas.
Neste sentido, é importante perceber a necessidade da realização de reflexões na escola com enfoque na visibilidade às questões de gênero e sexualidade, bem como, outras questões que estão no âmbito da diversidade, por outra lógica que esteja dissociada da construção social e cultural que institui como “natural” a lógica do pensamento dominante e colonizador.
O fazer docente que se coloca a realizar um movimento que se aproxime da condição de pensar por um lugar outro, está criando possibilidades para que os sujeitos da diferença possam buscar sua terceira margem ou então promover, em solo firme, modos outros que destitua a interpelação dos sujeitos de gênero e sexualidade pela direção do binarismo e da ambivalência.
Entender os sujeitos de gênero e sexualidade para além de binarismos e ambivalências é perceber a importância de uma maior compreensão a respeito dos modos de ser, fazer e viver. Desse forma, penso que a presentificação do ente em seus modos de ser-viver-na-roça, em alguns momentos, tem experienciado viver na terceira margem, pois tem buscado alternativas para (re)existir nos espaços da roça frente a uma estrutura social, política e econômica fundada numa proposta de urbanidade e consumismo, afirmando o tempo todo que os modos de vida constituídos nos espaços rurais estão ultrapassados.
Assim, compreendo que o ente que está presentificado no ser-na-roça constrói sentidos a partir da significância que o espaço da roça apresenta para ele. Dessa forma, o ser sujeito de gênero e sexualidade e viver em espaços rurais vão sendo interpelado conforme a relação de poder que permeia nestes espaços, isso faz com que as determinações de papeis sociais sejam perpetuadas de acordo ao que as comunidades validam verdade.
Conforme a reflexão que faço como sujeito de gênero e sexualidade que habita territórios rurais, percebo que a presença instituída pelo ente que coloca o ser sendo, possibilita uma compreensão de um ser por si mesmo. Isso apresenta-se como elemento constituinte que o próprio sujeito toma para compor seus modos de ser-viver-na-roça, uma vez que, “no modo de assumir-se ou perder-se, a existência só se decide a partir de cada presença em si mesma. A questão da existência só poderá ser esclarecida sempre pelo próprio existir” (HEIDEGGER, 2015, p 48).
É com esse pensamento, que tenho buscado a construção de uma compreensão para explicar a ruralidade da presença[v] que permeia os espaços da roça e se coloca como uma condicionante para uma compreensão do ser por ele mesmo, esta é determinada pelos modos que cada ser-na-roça estabelece com seu próprio ser, fazendo-se presença. Heidegger (2015, p. 55) evidencia que, “a presença é de tal modo que, sendo, realiza a compreensão de algo como ser. Mantendo-se esse nexo, deve-se mostrar que o tempo é o de onde a presença em geral compreende e interpreta implicitamente o ser”.
O ente que se presentifica no ser constituído por seus desejos, sejam eles reprimidos ou não, se apresenta, também, como condição de vida para o ser-na-roça. Considerando, a maneira como vivemos o gênero e sexualidade é uma construção social e cultural, evidencio que os modos de ser e viver o gênero e a sexualidade que temos oportunidade de constituir para a nossa vida, podem ser uma escolha que carrega em si condições de nossos desejos e escolhas, conforme a construção que fizemos para ser-viver-na-roça.
Essa escolha que fazemos, assim como o pai que decidiu viver na terceira margem do rio, suscita veemente a presencialidade do ente no ser sendo. Isso tem muito a ver com a ontologia do sujeito e seus modos de compreender e interpretar a si próprio, levando em conta seus espaços de vida e seus desejos do ser sendo. Assim, a presença é uma oportunidade de cada ser sendo poder constituir-se ao modo que compreende a si mesmo como sujeito, trazendo à baila suas ausências, desejos e interrogações a respeito de seu ser.
Colocar-se como sujeito que busca pensar seu gênero e sua sexualidade por um lugar outro, é arriscar-se em terrenos ou águas desconhecidas como o rio escuro e profundo do conto A terceira margem do rio é um lugar de possibilidades outras de um marco zero para a construção de concepções que possam superar os pensamentos fincados no binarismo e na ambivalência quando tomamos as construções do gênero e da sexualidade.
Arriscar-se pelo desconhecido é, também, correr o risco de não ser compreendido por outro, da mesma maneira como o filho, personagem narrador no conto, que se arriscava a observar seu pai e construir os sentidos de uma presença de um ente que instituía seu ser sendo através da ausência de seu pai.
Nossa mãe, vergonhosa, se portou com muita cordura; por isso, todos pensaram de nosso pai a razão em que não queriam falar: doideira. Só uns achavam o entanto de poder também ser pagamento de promessa; ou que, nosso pai, quem sabe, por escrúpulo de estar com alguma feia doença, que seja, a lepra, se desertava para outra sina de existir, perto e longe de sua família dele. As vozes das notícias se dando pelas certas pessoas — passadores, moradores das beiras, até do afastado da outra banda — descrevendo que nosso pai nunca se surgia a tomar terra, em ponto nem canto, de dia nem de noite, da forma como cursava no rio, solto solitariamente. (ROSA, 1994, p. 409)
Interpretar e compreender um ser sendo como ele se mostra ser é uma ação própria de quem busca na presentificação do ente em seu ser uma compreensão de si próprio. Nesse caso, considerar a atitude do pai como doideira, pagamento de promessa ou estar com uma lepra seria a justificativa mais convincente para aquelas pessoas que compreender seu modo de ser, fazer e viver pelo lugar comum, sem nunca imaginar que existem outras razões de ser para o que já existe e também para o que não existe e precisaria existir como ser ontológico para a explicação da presença que se manifesta para além do que está posto.
Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta, tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo ausência: e o rio-rio-rio, o rio — pondo perpétuo. (...) Sem fazer véspera. Sou doido? Não. Na nossa casa, a palavra doido não se falava, nunca mais se falou, os anos todos, não se condenava ninguém de doido. Ninguém é doido. Ou, então, todos. Só fiz, que fui lá. Com um lenço, para o aceno ser mais. Eu estava muito no meu sentido. Esperei. Ao por fim, ele apareceu, aí e lá, o vulto. Estava ali, sentado à popa. Estava ali, de grito. Chamei, umas quantas vezes. E falei, o que me urgia, jurado e declarado, tive que reforçar a voz: — "Pai, o senhor está velho, já fez o seu tanto... Agora, o senhor vem, não carece mais... O senhor vem, e eu, agora mesmo, quando que seja, a ambas vontades, eu tomo o seu lugar, do senhor, na canoa!..." E, assim dizendo, meu coração bateu no compasso do mais certo. (ROSA, 1994, p. 411)
Pensar as questões de gênero e sexualidade por uma lógica outra nos remete a compreender e interpretar a nós mesmos ou aos outros a partir da própria história e razões de um ser sendo que institui uma presença a partir de sua condição de existir. É tomar os motes que o filho tomou para compreender a atitude do pai, de modo a vivenciar com intensidade o movimento que outro sujeito empreendeu através de sua experiência no espaço de vida que tinha e, aparentemente era seguro para aventurar-se produzir maneiras outras de presentificação de um ser sendo que corresponderia ao desejo de um ser mais.
Um ser em constante evolução quando se percebe sujeito de direito e poder sobre si próprio, muitas vezes, consegue compreender e interpretar o outro pelo lugar da ausência e dos desejos, solidarizando-se às condições de vida do outro. Esse pensamento pode também ser a revelação de uma ausência e de desejos que o ser sendo toma para a presentificação de seu ente em si mesmo. Esse solidarizar-se do filho com o pai é, aqui em meu entendimento, um compreender com. É um buscar saber na presença.
[i] Ao longo do texto, utilizarei algumas expressões hifenizadas como forma de provocação a partir de atravessamentos em que fui e estou sendo ex-posto. Também, porque tais expressões nos oportunizam pensar na semântica dos termos hifenizados de maneira mais singular e específica do traço de escrita que busco desenvolver nesta pesquisa, possibilidades para de-marcar como estou significando minhas compreensões sobre os estudos de Heidegger (2015).
[ii] Pequenos reservatórios naturais de água encontrados em meio à vegetação natural da caatinga que servem como bebedouros para os animais, bem como, para o consumo humano.
[iii] Senhor conhecido por seu Pequeno, dono de uma área de terra extensa que ficava em frente à casa que meu pai morava na roça. Ele havia cedido uma área de sua terra para a construção de um prédio escolar.
[iv] Nas décadas de 70 e 80 do século XX, houve uma expansão das escolas nos espaços rurais (RIOS, 2015), em que, muitos donos de terras e com influência nas comunidades cediam uma área de suas terras para a construção de salões para o funcionamento de uma sala de aula. Além do salão, existia também, um banheiro nas proximidades da escola.
[v] Esse termo está sendo construído no texto da tese de doutoramento a partir das discussões que tenho realizado com base nos escritos de Heidegger, para pensar como presentificação do ente constitui o ser-na-roça conforme o que vai se dando na vida dos sujeitos que habitam os territórios rurais instituídos nos modos de ser-viver-na-roça.
Tomar uma perspectiva etno-histórico-sociológica para compreender, analisar e compreender o conto de Guimarães Rosa A terceira margem do Rio, para fazer um intercruzamento entre a perspectiva que esse personagem apresenta ao habitar a terceira margem e a constituição do ser como sujeito de gênero e sexualidade, nos propõe considerar as narrativas de vida numa inter-relação que os processos de subjetividade e intersubjetividade de quem narra se apresentam como elementar na pesquisa por compreender que as experiências de vida-formação-profissão são importantes para pensar a docência e espaços educativos.
Buscar na pesquisa narrativa as condições necessárias para pensar sobre as questões de gênero e sexualidade a partir da colaboração que tal perspectiva apresenta, se coloca aqui como um exercício potente de análise e reflexão sobre a vida narrada, trazendo à baila possibilidades de compreensão e interpretação dessas narrativas, entendendo que o sujeito se constitui a partir do que pensa ser, de seus fazeres, da maneira como pensa sua vida. Nisso implica como o poder se exerce sob ele ou ele se institui como sujeito de poder.
Neste sentido a terceira margem é tomada aqui como um lugar hermenêutico por se colocar como espaço em que a condição de ser é assumida pelo sujeito a partir de sua vontade de ser sendo. Dessa forma, a possibilidade desse ser sendo é a presentificação do sujeito de gênero e sexualidade em sua abertura, que provoca a superação das condições do binarismo e da ambivalência.
[1] Este termo é apresentado a partir dos modos de ser-viver-na-roça, se colocando aqui como um constructo que tem inspiração na proposta de ser-sendo (HEIDEGGER, 2015).
[1] Ao longo do texto, utilizarei algumas expressões hifenizadas como forma de provocação a partir de atravessamentos em que fui e estou sendo ex-posto. Também, porque tais expressões nos oportunizam pensar na semântica dos termos hifenizados de maneira mais singular e específica do traço de escrita que busco desenvolver nesta pesquisa, possibilidades para de-marcar como estou significando minhas compreensões sobre os estudos de Heidegger (2015).
[1] Pequenos reservatórios naturais de água encontrados em meio à vegetação natural da caatinga que servem como bebedouros para os animais, bem como, para o consumo humano.
[1] Senhor conhecido por seu Pequeno, dono de uma área de terra extensa que ficava em frente à casa que meu pai morava na roça. Ele havia cedido uma área de sua terra para a construção de um prédio escolar.
[1] Nas décadas de 70 e 80 do século XX, houve uma expansão das escolas nos espaços rurais (RIOS, 2015), em que, muitos donos de terras e com influência nas comunidades cediam uma área de suas terras para a construção de salões para o funcionamento de uma sala de aula. Além do salão, existia também, um banheiro nas proximidades da escola.
[1] Esse termo está sendo construído no texto da tese de doutoramento a partir das discussões que tenho realizado com base nos escritos de Heidegger, para pensar como presentificação do ente constitui o ser-na-roça conforme o que vai se dando na vida dos sujeitos que habitam os territórios rurais instituídos nos modos de ser-viver-na-roça.
BARROS, Manoel de. Meu quintal é maior que o mundo. 1 ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2015.
BERTAUX, Daniel. Narrativas de vida: a pesquisa e seus métodos. Natal: EDUFRN; São Paulo: Paulus, 2010.
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade: o uso dos prazeres. 7 ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra, 2017.
HEIDEGGER, Martin. Conferências e escritos filosóficos. Tradução e notas Ernildo Stein. 4 ed. São Paulo: Nova Cultural, 1991.
HEIDEGGER, Martin. Da experiência do pensar. Tradução introduções e notas Maria do Carmo Tavares de Miranda. Porto Alegre: Editora Globo, 1969.
HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. 10 ed. Petrópolis: Vozes, 2015.
LOURO, Guacira Lopes. Gênero e sexualidade: pedagogias contemporâneas. Revista Pro-Posições. v. 19, n. 2, maio/ago. 2008. p. 17 – 23.
ROSA, João Guimarães. A terceira margem do rio. In: Ficção completa. v. 2. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994, p. 409-413.