Metadados do trabalho

A Casa Como O Espaço De Constituição De Identidade: A Figura Feminina No Conto "A Casa De Meus Sonhos" De Edna O'brien

Milton Cássio Andrade do Prado

Este trabalho tem como objetivo propor minhas reflexões sobre o conto A Casa de Meus Sonhos da autora Edna o’Brien. O conto traz a história de uma mulher que ao se despedir da casa revisita os seus cômodos que fazem-na relembrar dos acontecimentos e pessoas com as quais os compartilhou. A examinação do conto, no qual a casa é o espaço onde o enredo se desenvolve fez despertar em mim a vontade de entender os processos — discursivos e imagéticos — pelos quais, subjetivamente, a relação da mulher com o espaço influi no processo de constituição de sua identidade, de modo que por vezes os espaços da casa se confundem com a própria mulher retratada no conto. Utilizei-me da teoria de Gaston Bachelard, a qual considera o espaço da casa como um abrigo de constituir-se do sujeito pelo devaneio. A medida em que a mulher se despede da casa torna-se manifesta a sua relação identirária envolvendo seus cômodos.

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Como citar este trabalho

PRADO, Milton Cássio Andrade do. A CASA COMO O ESPAÇO DE CONSTITUIÇÃO DE IDENTIDADE: A FIGURA FEMININA NO CONTO "A CASA DE MEUS SONHOS" DE EDNA O'BRIEN. Anais do Colóquio Internacional Educação e Contemporaneidade, 2021 . ISSN: 1982-3657. Disponível em: https://www.coloquioeducon.com/hub/anais/21-a-casa-como-o-espa%C3%A7o-de-constitui%C3%A7%C3%A3o-de-identidade-a-figura-feminina-no-conto-a-casa-de-meus-sonhos-de-edna-o-brien. Acesso em: 16 out. 2025.

A CASA COMO O ESPAÇO DE CONSTITUIÇÃO DE IDENTIDADE: A FIGURA FEMININA NO CONTO "A CASA DE MEUS SONHOS" DE EDNA O'BRIEN

Inerentes ao desenvolvimento individual e social do indivíduo destacam-se atenuantes intrinsecamente relacionados à pós-modernidade[1], agora, com suas várias demandas que cercam o sujeito — assujeitado — e que o influencia de maneira considerável. Dentre esses mudanças mais emergentes destaca-se, por exemplo, a forma fragmentada como ele se percebe, constrói e também age sobre aquilo que se entende como realidade(s), inclui-se, por exemplo, a forma como a sua própria identidade é concebida no mundo (de maneira voluntária ou não).

Busquei abordar o tema que trata dos processos pelos quais os sujeitos se constituem e agem como tal tendo em vista as ações da mulher representada no conto A Casa de Meus Sonhos[2]. Em virtude das nuances que envolvem o processo de constituição do ser, em especial o que confere à mulher do conto, este trabalho tem como objetivo desvelar a relação que a mulher estabelece com os espaços da casa por meio do devaneio e as consequências dessa relação na construção de sua identidade.

 Pretendo investigar como as ações e idiossincrasias relacionadas à mulher podem estar relacionadas a sua vivência no espaço da casa — ocupada por ela na infância — em particular das que envolvem a tentativa de capturar e “engaiolar” o seu passado (temporalidade) na espacialidade onde esteve inserida.

A mulher trazida no conto estabelece uma relação com a autora. Cabe ressaltar que o mundo externo não interessa a Edna O’Brien, o seu alcance está nas minúcias de sua infância, o seu Éden rural irlandês. A narradora testemunha revive a sua infância e essas lembranças desnudam a mesma mulher em estágios sucessivos de desintegração mental.

O conto se apresenta como um lamento da mulher, pois, ao passo em que ela relembra os acontecimentos testemunhados pelos cômodos da casa o conto ganha um tom melancólico. O cunho nostálgico revelado pelos contornos da casa (narrados pela mulher) é entendido como a saudade dos Édens[3] (Ednas) que já não existem, impossíveis de serem revividos, e por isso tendem a se prender, subjetivamente, na espacialidade.

O problema do qual tratarei — evoluindo para uma possível resposta — passa pela busca de elucidar o modo como ocorre a tentativa subjetiva e inconsciente da personagem de capturar o tempo através da espacialidade no conto, de modo que, inevitavelmente, interfere na construção de sua identidade.

Para melhor compreensão da investigação é fundamental que se conheça o enredo do conto, que é narrado por uma escritora que está se mudando de sua casa em Londres, e então passa a relembrar do seu passado na casa. A mulher lembra de seu marido cruel que queria a custódia de seus filhos, mas ela resistiu e conseguiu ficar com eles, e desde então a casa tem sido sua fortaleza. Ela conta como resistiu a um intruso com o olhar engraçado e que ria de qualquer coisa. O tom nostálgico do conto revela que ela não queria sair da casa. Ela dava festas e certa vez ficou feliz porque um menino sardento de quem ela gostava estava lá. Em uma ocasião ela conheceu um santo homem asiático que a pediu para ficar sob seu teto. Depois que ele veio, ela decidiu que não queria mais que ele ficasse, pois os suspiros do homem enchiam a casa e os quartos que eram tolerantemente alegres por causa das flores e dos objetos agradáveis. Mesmo desapontado o homem asiático finalmente resolve ir embora, porém manteve contato com ela até sete dias depois, quando ele morre. A mulher relembra também do pai cruel e da mãe que fora sempre compreensível com ela. Ela se lembra de sua empregada espanhola, uma moça agradável, porém uma prostituta que tivera um pai louco que quebrava relógios e uma mãe que a mimava. A mulher tinha um amante bonito o qual ela levou junto com os filhos dela para Paris, mas ele acabou sendo grosseiro comparando-a com sua antiga esposa e ela então ela quis que ele se fosse. Ela ficou doente (uma febre galopante) e passou a sofrer de delírios, logo em seguida perdeu o interesse em cozinhar e cuidar da casa. Ela desistiu do seu emprego como colunista. As crianças adivinharam que ela estava vendendo os seus pertences, mas nunca disseram nada. Agora era o momento da mudança e ela e outras pessoas deveriam ser levados para um lugar onde ficariam sob supervisão.

A narradora, Edna o’Brien, conta que a mulher ao iniciar a mudança começa a se lembrar do que ocorrera em cada cômodo ou alguma memória associada aos objetos que haviam na casa, desde as manchas na parede até a beliche onde as crianças dormiam traziam à tona os acontecimentos ocorridos durante o tempo vivido na casa, o que se pode observar:

Foi para o quarto das crianças e gritou, “Ei na esquina tri-li-li, esperando Henry Lee”. Era esse o quarto onde, toda noite, as crianças costumavam discutir a respeito de quem ficaria com o beliche de cima, e aonde trazia xícaras de leite quente, engrossado com mel, para os resfriados e as congestões que eles não tinham, e onde o filho mais velho costumava gostar de olhar para a luz do céu, ouvindo a chuva tamborilar, desejando que a neve caísse, ouvindo (embora seja impossível) o sol nascer e iluminar o basculante, observando a mudança gradativa do lençol escuro em  lençol transparente, e depois a semelhança com algo mergulhado numa lavagem rápida de brilhante ouro matinal (O’BRIEN, 1974, p. 141-142).

A mulher tenta prencher o vazio deixado pelas lembranças retomando aos objetos que compunham os espaços da casa. A lembrança sempre está associada a algum objeto, Bachelard (1993) conta:

Os objetos assim acariciados nascem realmente de uma luz íntima; chegam a um nível de realidade mais elevado que os objetos indiferentes, que os objetos definidos pela realidade geométrica. Propagam uma nova realidade do ser. Tomam lugar não só numa ordem, mas numa comunhão de ordens. De um objeto ao outro, no quarto, os cuidados domésticos tecem ligações que unem um passado muito antigo a um novo dia. A arrumadeira desperta os móveis adormecidos (Bachelard, 1993, p. 240-241).

O relembrar dos fatos ocorridos na casa no trecho supracitado dá uma medida da necessidade humana de habitar, Segundo Bachelard (1993), o ser humano habita mesmo antes de nascer. É no espaço da casa que o homem protege a sua paz, agarrando-se aos espaços, e por meio desse processo a casa passa a abrigar também o devaneio, resultando em valores que marcam profundamente a vida do sujeito.

O espaço humaniza o homem ao passo que é humanizado, Bachelard (1993) acrescenta:

Não acabaríamos nunca se nos deixássemos levar por todos os devaneios da pedra habitada. Curiosamente, esses devaneios são longos e breves. Podemos persegui-los infinitamente; entretanto, a reflexão os faz parar num tom breve. Ao menor sinal, a concha se humaniza: entretanto sabemos imediatamente que a concha não é humana. Com a concha, o impulso vital da habitação chega rápido demais a seu fim. A natureza obtém muito depressa a segurança da vida encerrada. Mas o sonhador não pode acreditar que o trabalho acabou quando as paredes ficam sólidas e é assim que os sonhos construtores de conchas dão vida e ação às moléculas tão geometricamente associadas (BACHELARD, 1993, p. 272).

Por ser capaz de acolher, confinar, diminuir, complementar e principalmente por acompanhar o homem em suas memórias o espaço também se humaniza fazendo do inverso uma parte real. O primeiro contato do homem ao nascer acontece com o espaço estranho a ele, a casa é a sua tentativa de entender o mundo e a si próprio pelo seu lado interno e privado. A casa é entendida como um lugar de refúgio, com suas divisões e fronteiras estabelecidas.

 

[1] Shinn (2018, p. 43) “[...] incorpora eventos que transformaram inegavelmente o homem, a máquina, o material e a epistemologia nas últimas décadas e que, desse modo, redesenha o mapa da modernidade especificando os componentes e os modos de interação e extensão alternativos”.

[2] O conto “A Casa de meus sonho” é o nono da coletânea Uma mulher escandalosa.

[3] “Qualquer lugar que, assim como o Éden bíblico, se assemelha ao paraíso, sendo perfeito, calmo, tranquilo, sossegado” In: DICIO, Dicionário Online de Português. Porto: 7Graus, 2021. Disponível em: <https://www.dicio.com.br/pesquisa.php?q=Eden> Acesso em: 21 dez. 2021.

1. A casa como espaço de constituição do homem

Considero que no conto A Casa de Meus Sonhos os espaços passam a falar por si só, e esse inverso é irrefutável no momento em que o próprio ato de criação e apego a esses espaços e objetos são, também, parte constitutiva do processo de construção de identidade da mulher.

Parto da premissa que a casa é o local de formação do sujeito devendo ser considerados os atenuantes relacionados tanto ao aconchego que ela proporciona quanto os que estão ligados à deterioração mental sofrida pela personagem do conto. Tratando da casa como o espaço onde o homem se constitui como tal, Bachelard (1993) reitera:

Nosso objetivo está claro agora: é necessário mostrar que a casa é um dos maiores poderes de integração para os pensamentos, as lembranças e os sonhos do homem. Nessa integração, o princípio que faz a ligação é o devaneio. O passado, o presente e o futuro dão à casa dinamismos diferentes, dinamismos que frequentemente intervém, às vezes se opondo, às vezes estimulando-se um ao outro. A casa, na vida do homem, afasta contingências, multiplica seus conselhos de continuidade. Sem ela, o homem seria um ser disperso. Ela mantém o homem através das tempestades do céu e das tempestades da vida. Ela é corpo e alma. É o primeiro mundo do ser humano (BACHELARD ,1993, p. 201).

Na busca de abordar o espaço da casa como local onde o homem constrói a sua identidade, considero importante tratar da transgressão da casa tangível ao humano, de modo que mesmo sem perder a sua objetividade passa a viver humanamente por meio de uma inversão dos papeis. Sobre esse aspecto peculiar ao espaço, Bachelard (1993) conta:

Com a casa vivida pelo poeta, dirigimo-nos a um ponto sensível da antropocosmologia. A casa é um instrumento de topoanálise. É um instrumento eficaz precisamente porque é de uso difícil. Em suma, a discussão de nossas teses está colocada num terreno que nos é desfavorável. Com efeito a casa é, à primeira vista, um objeto que possui uma geometria rígida. Somos tentados a analisá-la racionalmente. Sua realidade primeira é visível e tangível. É feita de sólidos bem talhados, de vigas bem encaixadas. A linha reta é dominante. O fio de prumo deixou-lhe a marca de sua sabedoria, de seu equilíbrio. Tal objeto geométrico deveria resistir a metáforas que acolhem o corpo humano, a alma humana. Mas a transposição ao humano se faz imediatamente, desde que se tome a casa como um espaço de conforto e intimidade, como um espaço que deve condensar e defender a intimidade. Abre-se então, fora de toda racionalidade, o campo do onirismo. (BACHELARD ,1993, p. 228).

A casa, com suas repartições e refúgios revela a busca do homem em tentar entender a vida pelo lado de dentro, essa extensão de consciência aos objetos tangíveis tem como essência algo que define nossas bases de relação com o mundo. O homem se projeta nos objetos em cada interação com o espaço ao seu redor.

Tratando da cultura como espaço de ação individual e coletiva e da forma como o indivíduo age no mundo, e como ele interpreta a si e aos outros que compõem os espaços onde ele se constitui, Boesch diz “Mais especificamente, a atribuição de significado aos objetos se dá, segundo Boesch, na interação do indivíduo com o meio ambiente, de acordo com as operações mentais complementares de acomodação e assimilação [...]” (BOESH apud SIMÃO 2010, p. 65).

Saliento que, por meio de suas ações (simbólicas e emocionais) a mulher estabelece relação com a casa e os outros ambientes externos onde o enredo se desenrola, e que a subjetividade desempenha o seu papel fundamental de subjetivação na fase inicial da ação, ou no estabelecimento de metas.

Sobre a possibilidade do devaneio enquanto proporcionador do aconchego e do cuidado causados pelos espaços da casa, Boesch (2010) explicita:

Aqui, o papel do devaneio é relevante, na medida em que se torna um substituto da ação real, que pode ser ameaçadora, muito difícil ou frustrante. O devaneio pode também ser apenas um momentâneo meio de pospor a ação, uma forma de levar a novas formas de ação, ou pode ser, ainda, doloroso. De toda forma está aqui, uma vez mais e fortemente, o papel da subjetividade na fase inicial da ação (BOESCH apud SIMÃO 2010, p. 61).

Na busca de reviver os momentos vividos na casa, a narradora confessa a relação de cuidado e acolhimento que a personagem tem com o seu espaço, a conferir a seguir:

A casa fora sua fortaleza. E mesmo assim houve obstáculos. A vez em que um total desconhecido bateu, um magro homem alto, perguntando se podia ter uma palavrinha com ela, avançando porta adentro para pisar no capacho de borracha e lhe dizer que não tinha nenhuma intenção de deixa-la só (O’BRIEN, 1974, p.143).

Essa projeção é elemento determinante inclusive no que envolve a percepção do homem em relação ao tempo, pois, é nos objetos que se percebe o tempo, e é pela sua efemeridade que o homem enxerga a necessidade de marcá-lo no espaço. Sobre essa necessidade de marcar o tempo no espaço, Bachelard (1993) escreve:

Às vezes acreditamos conhecer-nos no tempo, ao passo que se conhece apenas uma série de fixações nos espaços da estabilidade do ser, de um ser que não quer passar no tempo, que no próprio passado, quando vai em busca do tempo perdido, quer "suspender" o vôo do tempo. Em seus mil alvéolos, o espaço retém o tempo comprimido. O espaço serve para isso (BACHELARD ,1993, p. 202).

 A casa e seus cômodos se materializam como a necessidade de refúgio do seu próprio morador. O tempo que não pode mais ser revisitado passa a ser buscado no espaço pela mulher do conto. Na arquitetura da casa encontra-se o mapa da alma que deseja recolher-se cada vez mais, e a tentativa de entender o mundo pelo seu interior estabelecendo uma relação com o exterior.

A necessidade de habitar, inerente ao ser do homem, é a denúncia da necessidade de se fixar no tempo, a percepção que o homem tem do tempo são fixações no espaço. Como podemos notar em o’Brien (1974, p. 143) “Era como se todos esses estados passados apenas implorassem para se repetirem, para se atenuarem, para continuarem para todo o sempre, amém. Essas coisas eram como amarras que a aprisionavam”.

Há a intenção causada pelo devaneio de reter o tempo comprimido no espaço, sobre essa busca, Bachelard (1993) reitera:

A memória — coisa estranha! — não registra a duração concreta, a duração no sentido bergsoniano. Não se podem reviver as durações abolidas. Só se pode pensá-lãs na linha de um tempo abstrato privado de toda densidade. É pelo espaço, é no espaço que encontramos os belos fósseis de uma duração concretizados em longos estágios. O inconsciente estagia. As lembranças são imóveis e tanto mais sólidas í quanto mais bem espacializadas. Localizar uma lembrança no tempo não é uma preocupação de biógrafo e quase corresponde exclusivamente a uma espécie de história externa, a uma história para uso externo, para comunicar aos outros (BACHELARD, 1993, p 203).

Pensar no espaço como lugar de constituição identitária é considerar que o homem se relaciona dialeticamente com o mundo que o cerca de maneira ininterrupta. Cabe pensar no homem como sendo constituído pelo espaço ao passo em que também o transforma. Ao projetar o seu ser na casa a mulher passa a ver nos objetos da casa o seu próprio ser. A verificar a seguir:

Ela subiu direto para quarto. Nada mais restava de sua personalidade a não ser o papel de parede. Papel de parede bege com botões de rosas vermelhas, cada rosa parecendo um botão embrião, e todos complicadamente unidos por caules finos que nem linha, e prestes a se abrirem. Não muita gente vira seu quarto, mas os que tinham feito ainda estavam por lá que nem fantasmas, espectros, congelados nas mesmas posições que tinham antes ocupado sem pensar (O’BRIEN, 1974, p.144).

Ao se deparar com o papel de parede bege a mulher se projeta no objeto na busca de algo que fora algum dia, é a tentativa da apreensão daquilo que não pode ser recuperado, e que resiste (de alguma maneira) no espaço, ao transcorrer implacável do tempo.

Ao tratar de espacialidade e temporalidade, Heidegger busca avançar na investigação do fenômeno do ser, pois para o filósofo da floresta negra havia uma relação indissociável envolvendo o Dasein, tempo e espaço. Esses constituintes existenciais são determinantes para que ele possa alcançar a sua historicidade própria — assumir sua condição de existência plena, de ser-para-a-morte, que dispõe de um tempo para realizar-se, retirando-se do cotidiano provisório.

2. O Devaneio como manifestação da relação estabelecida com a imagem e espaço

Estabelecendo uma ligação mais próxima e constituindo-se pela imagem da casa, a mulher no conto A casa de meus Sonhos sonha com o mundo no qual se faz inatingível. Um dos aspectos dessa relação é o tom melancólico da despedida da personagem ganha traduzido pela linguagem poética. Sobre o aspecto melancólico pelo qual o devaneio é constituído, nos dizeres de Bachelard (2009, p. 60) “Ao contrário, o devaneio do dia beneficia-se de uma tranquilidade lúcida. Ainda que se tinja de melancolia, é uma melancolia repousante, uma melancolia ligante que dá continuidade ao nosso repouso”.

Essa tranquilidade melancólica é evidenciada na forma pela qual a mulher no conto narra sua percepção em relação ao quarto da casa, e é no quarto onde essa relação se fortalece por meio do devaneio, tal como no trecho do conto quando a autora narra “Ela subiu direto para quarto. Nada mais restava de sua personalidade a não ser o papel de parede” (O’BRIEN, 1974, p.144).

Sobre a concepção de devaneio como possibilidade de habitar o mundo, e o quarto como espaço íntimo tanto da casa quanto da alma do sonhador, Bachelard (2009) explicita:

O devaneio cósmico nos faz habitar um mundo; dá ao sonhador a impressão de um em casa num universo imaginado. O mundo imaginado dá-nos um em casa em expansão, o inverso do em casa do quarto. Victor Ségalen, o poeta da viagem, dizia que o quarto é "a finalidade do regresso'" (BACHELARD, 2009, p. 170).

Tendo em vista que a casa, segundo Bachelard, abriga o devaneio cabe investigar qual seria as benesses de poder existir do homem na casa segundo o autor. Ao analisar a narradora testemunha, que investiga e narra embasada naquilo que vê, torna-se evidente que a casa está estritamente relacionada aos conflitos vividos pela mulher do conto. Como se vê:

Já no quarto de dormir, ela fechou a porta e começou a tremer. Ela acabara de embarcar em outra catástrofe. Ao ir para a cama ele tossira alto, e pareceu-lhe que ele se demorara no patamar, bem do lado de fora de sua porta. Ela estava dentro, agachada, ouvindo. Ela parecia estar sempre ouvindo, agachada, numa cama, ou debaixo de uma cama, ou por detrás de uma pilha de móveis, ou por detrás de uma porta que estava sobrecarregada de casacões e capas de chuva. Ela parecia ser sempre a ré, embora, na verdade, a outra pessoa fosse o assassino. (O’BRIEN, 1974, p.147).

Os espaços da casa representados pela narradora representam não só a percepção da mulher, mas o seu estado de espírito materializado nos cômodos e objetos que neles se encontram. O que se pôde observar ao narrar o quarto cheio de móveis é o quanto o espaço aparenta ficar menor com a presença do homem por detrás da porta, talvez menor do que realmente fosse.

A narradora expõe que o vazio da mulher é constantemente preenchido pelos objetos, sua vontade romântica em aprisionar os minutos, de reter no espaço o tempo que não pode ser aprisionado. É plausível de se considerar que em Bachelard a casa não é apenas o lugar onde ocorrem os acontecimentos da infância da mulher no conto, mas o lugar de constituição de sua identidade pelo aconchego. Acessar os cômodos da casa seria o mesmo que percorrer as camadas da alma que constituem a mulher.

Ao se despedir da casa a mulher também se despede de si própria, e por vezes a imagem da casa se confunde com a própria mulher. A casa é o espaço do recriar imagético pela mulher. É pelo devaneio que a casa é o lugar onde tudo se torna possível.

Bachelard (1993) considera a imagem como fenômeno da consciência, um fenômeno da imagem, uma dádiva da consciência ingênua, complementando:

Para especificarmos bem o que possa ser uma fenomenologia da imagem, para frisarmos que a imagem existe antes do pensamento, seria necessário dizer que a poesia é antes de ser uma fenomenologia do espírito, uma fenomenologia da alma. Deveríamos então acumular documentos sobre a consciência sonhadora. (BACHELARD ,1993, p. 185).

Infere-se que a imagem proporciona pelo espaço da casa torna-se dela, da mulher, ao passo que a constitui como tal. As imagens são formadas pela memória da mulher que se realocam em sua memória desprendendo da realidade objetiva ao passo que revisita o passado.

Em Bachelard essas imagens sempre estão colocadas em um espaço. O espaço é o local de apreensão das memórias por meio das imagens e da linguagem. É por meio do aconchego que a imaginação cria os espaços vividos. As imagens da casa projetadas pelo devaneio não são indiferentes a mulher, mas vividos por ela em suas experiências.

Entre os espaços poéticos de Bachelard — além dos aqui introduzidos — ganham notoriedade os cantos, a imensidão e a dialética externo-interno. O canto representa a solidão, o espaço onde o homem escolhe para se esconder de todo o resto. Sobre essa dimensão espacial, Bachelard (1993, p.286) explica “Eis o ponto de partida de nossas reflexões: todo canto de uma casa, todo ângulo de um aposento, todo espaço reduzido onde gostamos de nos esconder, de confabular conosco mesmos, é, para a imaginação, uma solidão, ou seja, o germe de um aposento, o germe de uma casa”.

Desta forma o canto torna-se tanto o reduto da solidão como de proteção da mulher no conto, a proteção não só de si mesma, mas da memória que persiste em cristalizá-la no espaço. Sobre o vazio da casa que em alguma medida era preenchido pelos objetos, a averiguar:

O pior de tudo era quando iam embora para o colégio interno — quartos vazios, camas vazias, e duas bicicletas abandonadas lá no galpão. Só voltariam nas férias e haveria o mesmo alvoroço de novo, diversas peças de roupa deixadas nos diversos degraus da escada, mas era sempre como se fossem visitantes, e pouco a pouco a casa começava a ganhar um pouco da frieza de um túmulo. (O’BRIEN, 1974, p.14).

Ao relatar o vazio deixado pelas crianças quando tinham de ir para o colégio interno a mulher faz uso dos objetos como: as bicicletas e as roupas nos diversos “cantos” da casa, sendo a própria casa é um canto das crianças em relação ao resto do mundo.

 Da imensidão e a dialética externo-interno faz surgir a identidade da mulher. Da síntese do espaço interno da casa em relação ao externo social — sendo esses espaços não apenas físicos, mas também espirituais — faz-se criar o imaginário da mulher em relação aos espaços, tornando-se maior que o próprio indivíduo, por isso inalcançáveis em sua totalidade.

A imagem, criada pelo devaneio sempre estará inserida em um espaço. A imagem (poética) que a mulher tem desses espaços está associada à relação identitária que ela estabelece com eles. Sobre a importância da constituição das imagens primeiras em relação à formação identitária do indivíduo, Bachelard (1993) escreve:

Mas, além das lembranças, a casa natal está fisicamente inscrita em nós. Ela é um grupo de hábitos orgânicos. A cada vinte anos, apesar de todas as escadas anônimas, reencontraríamos os reflexos da "primeira escada", não teimaríamos em permanecer num degrau um pouco alto. Todo o ser da casa se desdobraria, fiel a nosso ser. (BACHELARD, 1993, p. 2006-2007).

Na primeira imagem, no contato primitivo com a natureza, a criança e sua imaginação congeladas no espaço da casa não permanecem os mesmos, mas permanecem, tornando-se ela própria numa relação cada vez mais íntima da mulher com o espaço e a linguagem poética dele. A mulher narra que ao voltar de férias as crianças eram “sempre como visitantes”, e que “pouco a pouco a casa começava a ficar mais fria como um túmulo”, entretanto isso não diminui a sua relação com esse espaço. É como se o menor detalhe da casa nunca deixasse de ser os dela mesmo — da mulher.

Tratando da imagem primitiva da casa que persiste por meio do devaneio, Bachelard (1993) reitera:

A casa da lembrança se torna psicologicamente complexa. A seus abrigos de solidão se associam o quarto e a sala em que reinaram os seres dominantes. A casa natal é uma casa habitada. Os valores de intimidade aí se dispersam, não se tornam estáveis, passam por dialéticas. (BACHELARD, 1993, p. 206).

Ainda sobre a emergência em preservar essa primitividade, Bachelard (1993) esclarece:

Os escritores de "aposentos simples" evocam com freqüência esse elemento da poética do espaço. Mas essa evocação é sucinta demais. Tendo pouco a descrever no aposento modesto, tais escritores quase não se detêm nele. Caracterizam o aposento simples em sua atualidade, sem viver na verdade a sua primitividade, uma primitividade que pertence a todos, ricos e pobres, se aceitarem sonhar. (BACHELARD, 1993, p. 200).

   A dialética que envolve a mulher e espaços da casa se intensifica em alguns momentos, a título de exemplo, quando a narradora (testemunha) trata da morte no conto. E cada vez mais próxima da morte, a narradora externa:

No dia seguinte quando a temperatura baixava um pouco, ela resolvia se controlar, usar novamente as pernas, e dar uma volta. Havia até uma bengala que alguém esquecera por lá. Ela abria a porta que dava para um quarto, um pequeno quarto casualmente vago, mas que não estava mais vazio, via inúmeros caixões, pelo quarto todo, levantando-se e voando, e ouvia uma serra cortando madeira, devagar e obstinadamente. (O’BRIEN, 1974, p.158).

A morte, como evento que se aproxima é vista de maneira amena pela mulher no conto. Esse espaço vago precisa ser preenchido, e é pela memória que a construção narrativa sobre si própria é colocado em pauta. A morte é tratada pela mulher como elemento existencial que compõe a própria vida.

Desde que nascemos ocupamos um espaço, primeiro no útero de nossa mãe, mesmo antes de “virmos ao mundo” já ocupávamos.  Não se descarta o fato da imagem da morte ser também constituída em um espaço pela memória.

Para Stuart Hall (2001, p. 13) "se sentimos que temos uma identidade unificada desde o nascimento até a morte é apenas porque construímos uma cômoda estória sobre nós mesmos [...]”. É nos espaços da casa que a mulher se vê como tal, a sua identidade é o espaço com o qual ela mostra ter alcançado uma serenidade e plenitude face à morte por meio do devaneio poético. Sobre a casa como espaço fecundo de reflexão, Bachelard (1993, p. 289) complementa “O sonhador está feliz de ser triste, contente de estar sozinho e de esperar. Aí nesse canto medita-se sobre a vida e a morte, como acontece sempre no auge da paixão [...]”.

3. A cultura como campo de ação do ser: Instrumentos de (re)pressão à figura da mulher no conto A Casa de Meus Sonhos de Edna O’Brien

Desde o nascimento à velhice a sexualidade marca a constituição identitária do sujeito. Partindo da premissa que o ser humano é um ser sexuado por natureza pode-se afirmar que qualquer forma de inibir essa sexualidade inerente a ele é uma atitude repressiva e violenta.

A título de exemplo, trazendo elementos do Conto A Casa de Meus Sonhos, as lavanderias Magdalen são mencionadas como instituições cúmplices para onde essas mulheres “subversivas” são enviadas para expurgar seus pecados, como se vê a seguir:

A irmã sangrava naquela escada, logo então sua mãe, seu pai, um clérigo e dois outros homens importantes a interrogavam sobre sua vida privada [...]. Descobriram que a irmã mentira — tentava abortar por conta própria, mandaram-na à lavanderia Magdalen nos cinco meses restantes e ela teve o seu amargo confinamento por lá (O’BRIEN, 1974, p.150).

Ressalto que o medo sempre figurou como um dos grandes aliados da educação sexual cristã, como nos lembra Priore (2011, p. 12) “os castigos divinos estavam presentes nos discursos de ensinamento dos padres. Por exemplo, a nudez e a luxúria: a luxúria foi associada a uma profusão de animais imundos: sapos, serpentes ou ratos que se agarravam aos seios ou ao sexo das mulheres lascivas”.

Os tipos de violência abordadas contra a mulher no conto a Casa de Meus Sonhos vão desde a violência física às formas de abuso mais sofisticadas, perceptíveis no momento em que a mulher, ao se sentir ameaçada pelo pai de seus filhos em relação a custódia deles, vê na casa o seu lugar de segurança e proteção. Vejamos a seguir:

Na noite em que ela intimara o pai deles com uma ordem de custódia, dera a volta pela casa, e tirara os fones do gancho, e os observava onde ficaram, um pouco como animais entorpecidos, coisas pretas ou brancas, ou uma coisa vermelha, que morrera temporariamente. No momento da noite o marido veio e enfiou a carta ameaçadora por debaixo da porta do vestíbulo (ela lacrara a caixa do correio), e lá estava ela agachada e esperando. A carta dizia “Eles são meus e não seus, você vai virar um cadáver se levar essa à corte, você não ganha nada com isso a não ser uma humilhação obscena, você vai perder na certa, não posso demonstrar nenhuma compaixão por você, estou mesmo decidido a fazer tudo dentro da lei a fim de obter a custódia das crianças, sem exceção”. Ela a lera e relera e comprimira as mãos e imaginava como pudera casar-se com um homem assim (O’BRIEN, 1974, p.142).

Tanto os fones que foram tirados do gancho, quanto a caixa do correio que fora lacrada são compreendidos como personificações da própria mulher que ao se ver ameaçada vê nesses objetos a sua forma de recolhimento em relação a algo exterior que possa ameaçá-la.

A denúncia da violência, assim como a hipocrisia religiosa levadas a cabo pela sociedade Irlandesa é um traço marcante nos contos de Edna O’Brien. Há uma busca nos seus inscritos em abordar, por meio de suas personagens, questões que dizem respeito ao lugar ocupado pela mulher na Irlanda do século XX. Essa característica se faz presente também no conto A Casa de Meus Sonhos, no trecho supracitado faz-se notar o patriarcalismo que ditou a maneira como as pessoas constituíam e regiam suas famílias, o que ainda persiste por meio de um projeto (velado) de manutenção do status quo. Sobre o assunto, Hooks (2013) relata:

Como muitas meninas precoces criadas numa casa dominada pelos homens, compreendi com pouca idade o significado da desigualdade dos gêneros. Nossa vida cotidiana era repleta de dramas patriarcais — o uso de coerção, punição violenta e assédio verbal para manter a dominação masculina. (HOOKS, 2013, p. 161).

Tratando dos vários modos de “dominação” levados a cabo no linhame da história da humanidade, Santiago (2000) conta:

Desde o século passado, os etnólogos, no desejo de desmitificar o discurso beneplácito dos historiadores, concordam em assinalar que a vitória do branco no Novo Mundo se deve menos a razões de caráter cultural do que ao uso arbitrário da violência e à imposição brutal de uma ideologia, como atestaria o uso das palavras “escravo” e “animal” nos escritos dos portugueses e espanhóis (SANTIAGO, 2000, p. 11).

É recorrente que a autora explicite os conflitos — nada amistosos — que ocorrem entre religião e o comportamento sexual da maioria de suas personagens femininas. O conto A casa de meus sonhos de Edna o’Brien ganha forma de literatura de denúncia ao passo em que aborda, por meio da ficção, a hipocrisia nos padrões religiosos e patriarcais da Irlanda da Época.

 Saliento que a mulher do conto não é isenta de fatores externos aos que a constitui como tal, em contrapartida a mulher que fala é fruto de traços arbitrários — tendo em vista que toda ação humana é arbitrária — da própria autora que passa a representar não apenas a si, a mulher a qual Edna o’Brien dá voz, mas um grupo, uma representação que transgride (literalmente) as barreiras do indivíduo uno e estéreo as suas conjecturas espacial e temporal.

Tratando da constituição dos personagens na literatura como a própria maneira do autor de ver o mundo, o que incluem suas angústias que tangem suas vidas e vicissitudes, Monteiro (2011) diz:

É como se eles fossem tão óbvios e comuns que nos afetassem diretamente, porque sua vida é também a nossa, ao mesmo tempo que não é: muito iguais por serem diferentes, e muito diferentes por serem iguais Essa plasticidade relativa (ou reativa) é bastante incômoda, o que é comum na obra clariceana, mas é também um modo de fazer colidir, no plano da literatura, o que desejamos (personagens comuns, ou incomuns) com o que encontramos (personagens invulgares, ou vulgares), sem nunca nos deixar satisfeitos [...] (MONTEIRO 2011, p. 5).

Faço ressaltar a relação da mulher que, revisitando os cômodos da casa, narra as lembranças desencadeadas por eles sendo, também, uma vontade da autora de reviver suas próprias experiências de infância. A autora deixa claro em seu conto o aspecto “sufocante” da educação pautada no catolicismo, e sua influência desordenada na vida dos irlandeses.

Minha percepção em relação à personagem do conto revelou-me sua ligação com os locais onde ela viveu assim como o resultado final dessa ação, de projetar-se nesses espaços, e que é pelo devaneio oriundo do acolhimento e aconchego que os valores e a própria consciência são constituídos. É descrevendo os espaços que se confessa o desejo pelo permanente.

O sentimento de pertencimento estabelecido pela ligação da mulher em relação à casa se origina do devaneio que passa a ser considerado força capaz de marcar o homem em sua profundidade. A casa passa a ser vista como o princípio de maior força do devaneio.

Em suma, discuti os processos complexos pelos quais o sujeito se constitui, em especial os que envolvem a sua relação com os espaços, pois, ao se projetar neles se reconhece, ao passo que sanciona valores provenientes de experiências e vivências humanas ocorridas em seus espaços de acolhimento.

Fica claro o caráter subjetivo inerente às tomadas de decisões e ações de cada indivíduo, e que a subjetividade está inerentemente relacionada à percepção que cada indivíduo tem da espacialidade, a palavra nada mais é do que a descrição de imagens, uma percepção das coisas e não da realidade propriamente dita, já que a realidade não é percebida pelos indivíduos. A realidade só se estabelece por meio de uma constante e ininterrupta comunicação do homem com o exterior.

O’Brien, em seu conto A casa de meus sonhos apresentou uma temática de opressão relacionada às mulheres deixando uma mensagem de resistência que a fez representar e dar voz à mulher da Irlanda da época, a qual ressoa até os dias de hoje.

Mesmo sofrendo de um estado de deterioração mental a mulher no conto explicita a sua estreita relação com os espaços da casa de maneira subjetiva, assim como o quanto as suas ações projetadas nesses espaços constituem o seu próprio estado mental, degradado. Sendo a casa o meu “primeiro universo” esse espaço me permite sonhar, pois ele protege o sonhador, nele se abriga o devaneio. A casa me permite sonhar em paz.

Ressalto que ao passo em se projeta nos cômodos e objetos da casa a mulher passa a falar consigo mesma, o que só é possível por meio do devaneio, e que os sonhos que revisitam o passado podem ser bons ou não, dependendo do tempo ao qual ele transporta o sonhador. Reitero que ao revisitar a casa é inevitável que a mulher passa a sonhar com o passado que não pode ser revivido. Mesmo o mais simples dos objetos guarda consigo as memórias sendo o devaneio o seu meio de acesso. O devaneio é o modo de acesso a nós mesmos. 

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HEIDEGGER, M. Ser e Tempo (parte I). 15 ed. Editora Vozes: Petrópolis, RJ, 2005.

HOOKS, B. Ensinando a Transgredir: A Educação como A Prática da Liberdade. Nova York/Londres: Routledge. (1994).

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SIMÃO, M. Cultura como campo de ação: uma introdução à teoria da ação simbólica de Ernest Boesch. Caderno de Psicologia, Vol. 4, n. 1, p. 57-66, 1998.

MONTEIRO, R. (2011), “Parafusos, relógios e cartomantes: gênero e representação em A hora da estrela, de Clarice Lispector”. Em Tese, 17, 2:199-208

O’BRIEN, E. Uma Mulher Escandalosa. Rio de Janeiro: Editora Francisco Alves, 1982.

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