Metadados do trabalho

Mal Estar Docente E Condições De Trabalho: Identificação De Problemas E Estratégias De Enfrentamento

Fernanda Almeida; Tayná Santos Santana

RESUMO

 

O presente artigo teve por finalidade refletir sobre como as condições de trabalho atuam sobre a saúde docente. Diante disso questionou-se: como os professores que atuam na rede municipal de ensino de Feira de Santana percebem a influência das condições de trabalho em sua saúde? O objetivo foi analisar a perspectiva dos professores acerca das suas condições de trabalho e a influência destas na percepção de saúde. Tratou-se de uma pesquisa qualitativa. Adotou-se a entrevista semiestruturada como instrumento de produção de dados. Os sujeitos foram quatro docentes, pedagogos, concursados. Nos resultados concluiu-se que os professores referiram situações que impactam na percepção de saúde, uma vez que o trabalho docente envolve múltiplas interações, com estudantes, familiares, colegas de trabalho, gestão escolar e secretaria municipal. Decisões tomadas por gestores da administração municipal, estadual e federal interferem diretamente na (des)valorização social e econômica do trabalho e do trabalhador docente. As consequências de tais decisões demandam dos docentes ações e atitudes individuais para encontrarem formas de lidar, resistirem e, também, ações enquanto categoria para reivindicar melhorias, ações institucionais, para diminuir as situações que impactam a percepção de saúde/doença e que podem contribuir para a sensação de mal.

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Como citar este trabalho

ALMEIDA, Fernanda; SANTANA, Tayná Santos. MAL ESTAR DOCENTE E CONDIÇÕES DE TRABALHO: identificação de problemas e estratégias de enfrentamento. Anais do Colóquio Internacional Educação e Contemporaneidade, 2021 . ISSN: 1982-3657. Disponível em: https://www.coloquioeducon.com/hub/anais/90-mal-estar-docente-e-condi%C3%A7%C3%B5es-de-trabalho-identifica%C3%A7%C3%A3o-de-problemas-e-estrat%C3%A9gias-de-enfrentamento. Acesso em: 16 out. 2025.

MAL ESTAR DOCENTE E CONDIÇÕES DE TRABALHO: identificação de problemas e estratégias de enfrentamento

1 INTRODUÇÃO

 

As instituições escolares são de extrema importância para a formação de crianças, adolescentes, jovens e adultos, pois proporcionam à sociedade o acesso ao conhecimento socialmente produzido e historicamente acumulado, além de oportunizar aos estudantes o desenvolvimento de competências, habilidades, atitudes e valores. O processo educativo envolve diretamente professores e estudantes, em interação direta. Envolve também outras relações interpessoais com colegas de trabalho, chefia, secretaria de educação, com as famílias, de modo que desse complexo emaranhado algumas questões surgem e, se não forem cuidadas, podem impactar negativamente a vida profissional e pessoal do professor, podendo causar o mal estar docente que é uma forma de adoecimento docente contemporâneo, segundo Esteve (1999).

O contexto contemporâneo tem imposto aos profissionais da educação diversos desafios que podem refletir na necessidade de se adequar ao uso das novas tecnologias, por exemplo, em tempos de pandemia por coronavírus, exigindo não só uma nova postura docente, como tambem acarretando uma grande preocupação por parte dos docentes, pois não foram preparados para exercer sua profissão conforme as exigências de domínio de plataformas de vídeo conferência, uso de aplicativos, edição de vídeos, produção de conteúdos on line, acompanhamento do desenvolvimento estudantil de forma remota, atividades síncronas e assíncronas, avaliação da aprendizagem, só para citar alguns dos desafios mais recentes.

O mal-estar é uma forma de adoecimento que pode acometer profissionais em função do exercício da sua função. No contexto da educação, objeto deste estudo, percebe-se que o mal estar tem impacto sobre a vida do professor nos aspectos físico, psicológico e social no cenário da prática docente. Sendo um mal que ocorre com frequência, pode ser causado, dentre outros fatores, pela indisciplina dos alunos e a falta do acompanhamento familiar, pela desvalorização social do papel docente, pelo excesso de trabalho e baixa remuneração causando insônia, ansiedade, depressão, cansaço mental, irritabilidade, sintomas que acometem esses profissionais com impacto tanto na vida social, quanto na comunidade escolar ou familiar. O mal estar pode ser analisado nos aspectos micro e macro, como afirma Assolini (2016):

As causas do “mal-estar” relacionadas ao plano macro dizem respeito a fatores sociopolíticos, como o número excessivo de alunos nas classes, o excesso de exigências políticas colocadas sobre o trabalho dos professores, o esquecimento das reais condições de trabalho e de formação docente, por exemplo. No plano micro, os fatores que geram “mal-estar docente” dizem respeito às atividades relacionadas diretamente ao local de trabalho, nomeadamente a indisciplina dos alunos. A indisciplina é causa principal do “mal-estar”, porque propicia a inviabilização do planejamento das aulas, a sua efetivação, propriamente dita e a relação professor/aluno. (ASSOLINI, 2016, s/p)

 

A temática é relevante, uma vez que, é notório o aumento do número de docentes que apresentam problemas de saúde decorrentes das suas atividades laborais, assim como também é possível perceber que poucas medidas foram criadas na legislação brasileira visando à melhoria dessas condições de trabalho, apesar de vários estudos apontarem o crescente número de agravos à saúde docente.

Todas estas contradições enfrentadas pelos docentes os levam a um processo de adoecimento pelo trabalho, ou seja, para o professor conseguir atingir os objetivos da produção escolar, precisa gerar enormes esforços de suas funções bio-psico-sociais, resultando em um processo denominado mal-estar docente (MENDES, 2011, p. 15).

 

Diante dessa realidade, faz-se necessário uma análise sobre o contexto atual das escolas e suas relações com a manutenção da saúde do profissional de educação, fator que justifica o desenvolvimento dessa pesquisa.

Desse modo, a presente pesquisa buscou respostas para a seguinte questão norteadora: Qual a perspectiva dos professores que atuam na rede municipal de ensino de Feira de Santana acerca da influência das condições de trabalho em sua saúde? Os objetivos principais do estudo se debruçaram em avaliar a perspectiva dos professores e as condições de trabalho que influenciam na saúde do profissional da educação, bem como analisar a perspectiva dos professores acerca das suas condições de trabalho e a influência destas na percepção saúde destes profissionais. Os objetivos específicos se constituíram em caracterizar a percepção entre o trabalho docente e a saúde referida pelos professores; identificar medidas tomadas pelos professores para diminuir o impacto de condições desfavoráveis de trabalho sobre a sua saúde.

Para fundamentar a escrita, a pesquisa se baseou nas produções de estudiosos como Assunção e Oliveira (2009), Cruz et al. (2010), Minayo-Gomez e Thedim-Costa (1997), Silva e Guillo (2015), Moreno-Jimenez et al. (2002), Gasparini, Barreto & Assunção (2006), Cruz e Lemos (2005), Gomes, Nunes e Pádua (2019), que investigam o tema abordado nesse projeto.

 

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

 

Trata-se de uma pesquisa qualitativa, uma vez que valoriza os aspectos sociais dos seus grupos sociais e profissionais, segundo Godoy (1995, p. 21), “um fenômeno pode ser melhor compreendido no contexto em que ocorre e do qual é parte, devendo ser analisado numa perspectiva integrada”. Em busca da consecução desses objetivos o pesquisador coleta dados e os analisa para, por meio disto, entender a dinâmica do fenômeno. Nesse estudo o foco é a saúde do corpo docente e as concepções que têm sobre a saúde-doença, assim como, conhecer algumas medidas de cuidados através de aplicação de questionário. A partir dele pude enviar aos cinco professores da rede municipal de uma cidade do interior da Bahia, lócus empírico dessa pesquisa.

            É importante informar que a proposta inicial era de realização de entrevistas semiestruturadas e observação, entretanto, a suspensão das aulas presenciais na rede municipal de ensino em função da pandemia causada por Coronavírus exigiu o redimensionamento da pesquisa e a escolha de nova forma de coleta de dados, deste modo, optei por aplicar questionário e enviar por e-mail e/ou por whatsapp, em função do avanço da pandemia causada por coronavírus SARS-CoV-2, que ocasionou a suspensão das atividades docentes presenciais.

 

3 CONTEXTUALIZANDO A RELAÇÃO ENTRE CONDIÇÕES DE TRABALHO E A SAÚDE DOCENTE

 

A atividade docente é complexa e envolve diversos desafios, tais como: o número elevado de alunos por sala, diversas imposições sociais, funções que excedem ao papel tradicional de educador, entre outros; essas situações adversas acabam por interferir na saúde do profissional de educação. Segundo Cruz et al. (2010, p. 148), “as condições decorrentes deste cenário, e as múltiplas exigências feitas ao papel do professor, cada vez mais tem sido associada aos problemas de saúde física e mental apresentados por estes trabalhadores”.

Diante deste cenário, percebe-se a necessidade de se observar as condições de trabalho impostas a esses profissionais, analisando os recursos disponíveis para o efetivo exercício das atividades, assim como as relações do processo de trabalho e de emprego.

Para Minayo-Gomez, Thedim-Costa:

Como campo de práxis, de produção de conhecimentos orientados para uma ação/intervenção transformadora, a Saúde do Trabalhador defronta-se continuamente com questões emergentes, que impelem à definição de novos objetos de estudo, contemplando demandas explícitas ou implícitas dos trabalhadores. É, portanto, uma área em permanente construção, configurada numa trama de relações que reflete – na dinâmica própria dos diversos atores sociais e das lógicas que direcionam sua ação – consciências e vontades individuais e coletivas (1997, p. 25-26).

 

Apesar de amplamente discutido na atualidade, esse é um problema antigo. No Brasil, o processo educacional começou na época do descobrimento, nessa fase a educação ficava a cargo dos padres jesuítas, “O processo de aprendizagem, chamado de escolarização desenvolveu-se no século XVI sob a tutela da igreja […] cabendo ao próprio clero a responsabilidade do ensino docente” (CRUZ et al., 2010, p. 149). No transcorrer dos anos, a atividade docente foi sofrendo transformações, deixou de ser papel exclusivo do clero, adaptando-se à evolução dos processos de trabalho e da sociedade na qual está inserida, sob influência das reformas educacionais e dos modelos pedagógicos baseados em políticas do estado.

Segundo Silva e Guillo:

No Brasil as políticas educacionais implantadas nas últimas décadas, tomando como marco inicial a nova LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei nº. 9394/96), resultaram em mudanças substanciais nos sistemas de ensino e na compreensão das características do trabalho docente. As escolas passaram a organizar-se no sentido das demandas por maior atendimento, aumentando matrículas, turmas, número de alunos e modalidade de ensino. Essa nova forma de organização culminou na ampliação das tarefas assumidas pela escola e consequentemente nas funções do trabalho docente (2015, p. 2).

 

Esse aumento na carga de trabalho docente provoca uma degradação na qualidade do ensino oferecido e expõe o profissional ao risco de doenças físicas, psicossociais, a exemplo da síndrome de Burnout, que no “docente se caracterizaria por uma exaustão dos recursos emocionais próprios, em que são comuns atitudes negativas e de distanciamento para com os alunos e a valorização negativa de seu papel profissional” (MORENO-JIMENEZ et al., 2002, p. 12-13).

Fatores como: a relação com alunos, baixo nível de motivação, jornada de trabalho, conflito e ambiguidade de papéis, clima organizacional e estrutura do local de trabalho, influenciam diretamente na saúde do docente. Segundo Gasparini, Barreto & Assunção (2006, p. 2680), “Estudos realizados em outros países indicam que há uma relação direta entre o aumento de fatores estressantes no trabalho e níveis elevados de fadiga, alterações do sono, problemas depressivos e consumo de medicamentos”. Percebe-se que algumas pesquisas vêm sendo desenvolvidas ao longo dos anos sobre essa temática, embora ainda exista muitas questões a serem analisadas, há trabalhos que se destacam nesse cenário, como o de Helga Reinhold.

[...] publicou, em 1985, um estudo sobre as fontes e os sintomas de estresse ocupacional em professores brasileiros, apontando a precariedade das condições de trabalho como a principal causa dos eventos estressores que ocorrem nesses profissionais. Anteriormente, a tendência entre os professores era de apresentar, ou melhor, registrar em seus pedidos de afastamentos ou em suas fichas de saúde, problemas de ordem física, especificamente, problemas de distúrbios da voz como a calosidade das cordas vocais e disfonia, que foram documentados em pesquisas da década de 90 (TENOR, CYRINO & GARCIA, 1999 Apud Cruz et al, 2010, p. 150-151).

 

Outros fatores, também, são apontados como contribuintes para tal situação, o volume de trabalho, a expectativa social de excelência, condições precárias para o desenvolvimento das atividades concernentes ao ofício e a falta de segurança no ambiente escolar. Segundo Gasparini, Barreto e Assunção (2006, p. 2680), “A violência no Brasil tornou-se uma situação social grave e esse contexto tem repercussões importantes no trabalho, sendo uma fonte importante de estresse nas escolas”. Vale ressaltar que o aumento da violência escolar não se restringe ao Brasil, é um fenômeno mundial.

A educação brasileira, desde a década de 1990, vem passando por reformas que visam promover a equidade social, estendendo o seu acesso a todos, com uma política de universalização do ensino, fazendo com que as escolas se organizem por demandas, ampliando o número de matrículas, aliando a gestão escolar a critérios de eficácia, produtividade e excelência. A LDB n. 9.394/96 aumentou o número de dias letivos de 180 para 200, estabeleceu uma gestão democrática da educação, e evidenciou que o trabalho docente não se limita ao ambiente escolar. Nota-se o aumento das exigências apresentadas ao docente, uma maior responsabilização deste profissional, aliados ao corte de gastos e a contenção de recursos, o que tem efeito direto sobre as condições laborais e a qualidade da educação (ASSUNÇÃO e OLIVEIRA, 2009).

Observa-se que essa intensificação do trabalho docente, aumenta a exposição da categoria a diversas doenças decorrentes da sua atividade profissional, impondo um ambiente de tensão, sobretudo ao gênero feminino, que costuma acumular o trabalho com as atividades domésticas.

Segundo Silvia e Guillo:

[...] o professor dispõe de estratégias de enfrentamento para adaptar-se à realidade. Este enfrentamento leva ao esgotamento dos recursos emocionais e como consequência a deterioração profissional, pessoal e problemas de saúde, principalmente, profissionais do gênero feminino que, além da jornada de trabalho escolar, possuem outra jornada de trabalho doméstico. Essa realidade tem sido apontada em pesquisa [...] a qual destaca que os professores do gênero feminino apresentam maior chance de adoecerem que os professores do gênero masculino (2015, p.3).

 

Identifica-se nesse cenário de desafios que múltiplas exigências e transformações constantes têm sido, cada vez mais, associadas aos problemas físicos e mentais apresentados por essa classe. Para Reis et al. (2006) Apud Cruz et al. (2010, p. 150), “ensinar é uma atividade altamente estressante que repercute no desempenho profissional do docente e na sua saúde física e mental”.

A dinâmica desenvolvida, no dia a dia, pelos docentes no exercício do seu trabalho, os colocam em uma condição de maior predisposição e agravos na condição física e desenvolvimento de transtornos mentais.

Para Cruz e Lemos:

O desgaste físico e emocional a que os professores estão submetidos em seu ambiente de trabalho e na execução de suas tarefas é bastante significativo na determinação de transtornos relacionados ao estresse, como é o caso das depressões, transtornos de ansiedade, fobias, distúrbios psicossomáticos e a síndrome da desistência (burn-out) (2005, p. 62).

 

O conceito de condições de trabalho pressupõe a oferta de um conjunto de recursos que viabilizam a realização da atividade profissional, o que inclui as instalações físicas, os materiais e os equipamentos disponíveis e outros tipos de apoio, conforme a natureza do trabalho, estas condições estão descritas no art. 206 da Constituição Federal de 1988 – CF/88, que atribui, também, a responsabilidade sobre estas, aos estados e municípios, contando com o apoio técnico e financeiro da União.

Conforme Gomes, Nunes e Pádua:

A precariedade das condições de trabalho pode promover, gradativamente, um processo de ruptura com a docência tanto em decorrência do adoecimento quanto do desencanto pela profissão. Nessa direção, é fundamental a adoção de políticas de cuidado para com a saúde do professor, as quais também podem ser compreendidas como uma das estratégias de valorização docente (GOMES, NUNES e PÁDUA, 2019, p. 292).

 

Apesar de todas as implicações, a relação entre a saúde docente e as condições de trabalho ainda constitui um campo pouco investigado, assim como o processo de precarização laboral. Nota-se a necessidade de estudos aprofundados sobre o tema, sobretudo quando nos deparamos com relatos de situações concretas de professores no exercício da profissão docente.

O mal-estar é desenvolvido em alguns profissionais da área de ensino de diversas formas, uma delas é o distúrbio psíquico que se dá devido ao estresse. Cruz et al (2010, p. 156), entende que  normalmente, o desânimo, a falta de motivação, o interesse e descaso em relação ao trabalho, foram e ainda tem sido tratados por muitas pessoas como "preguiça", "dissimulação" ou, ainda, com outros termos depreciativos. [...] aspectos que levam o indivíduo a lutar contra a síndrome de Burnout (à medida que não reconhece a sua existência), não percebendo que está se esgotando cada vez mais, ampliando o seu sentimento de desistência não só do trabalho, mas também da própria vida.

Paulo Schwalm (s/d, p. 07-08) aponta algumas ações para ajudar a desacelerar o mal estar porém não podem ser estabelecidas como conclusivas e únicas no processo de sua diminuição. Dentre elas, encontros com diversas dinâmicas, onde o principal objetivo é o envolvimento de todos na solução das questões encaminhadas. Promover um programa de saúde preventiva através de conversas com médicos, psicólogos, terapeutas, que permitam ao professor perceber pontos que aumentam a possibilidade de adoecer, gerando o afastamento escolar. Outra frente importante de combate ao mal estar docente está em praticar exercícios físicos, alimentar-se bem, fazer atividades prazerosas como assistir filmes, ler livros e outras que sejam do interesse e agrado pessoal do professor.

 

 

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS

 

A realização desta pesquisa permitiu aproximar da realidade e história profissional de vida de 05 (cinco) professores da Educação Básica, do Município de Feira de Santana, Bahia. Entretanto, um dos respondentes da pesquisa foi excluído por causa da inconsistência das respostas. Estas se mostraram evasivas e desconexas destoando dos objetivos da pesquisa.

 

4.1 Informações sociodemográficas

 

É importante ressaltar que aplicamos o questionário a um pequeno número de professores pois nosso principal objetivo foi o exercício da pesquisa para fins de realização de Trabalho de Conclusão de Curso. Essa escolha apresenta limites quanto ao tempo de desenvolvimento da mesma, bem como, ao alcance quanto ao número de respondentes. Desse modo, o critério de escolha dos respondentes foi: a) pequeno número de respondentes; b) o de conveniência em função do curto período de tempo; c) minimização das dificuldades vivenciadas durante o isolamento físico necessário pelo fato de estarmos em um período atípico em que a pandemia por COVID-19 ainda não foi controlada e cuja doença ainda não existia vacina.

Apresento, a seguir, um quadro com as principais informações sociodemográficas a fim de delinear quem são as professoras e o professor, idade, cidade, formação, tempo de docência, carga horária semanal e a etapa ou nível de ensino. Isso nos revela a singularidade do exercício da profissão docente que permite aos seus profissionais uma gama de espaços e  formas de atuação, desde a primeira etapa, que é a Educação Infantil, passando pelo Ensino Fundamental e podendo ser desenvolvida também com a função de Coordenação Pedagógica e até, Psicopedagogia, como informado abaixo.

 

  1. Quadro de informações sociodemográficas

Nome[1]

Idade/Sexo

Cidade onde mora

Formação

Tempo de docência/carga horária semanal

Etapa ou nível de atuação

Fernanda Anjos

40 anos/ feminino

Feira de Santana.

Licenciatura em Pedagogia, Especialização em coordenação.

17 anos/40h

Educação     básica, Coordenação Pedagógica

Erílucia Araújo

38 anos/

Feminino

Feira de Santana

Licenciatura em Pedagogia, Especialização em Psicopedagogia

10 anos/40h

Psicopedagogia, Educação básica

Maria Pereira

50 anos/

Feminino

Feira de Santana.

Licenciatura em Pedagogia, Especialização

em EJA[2].

20 anos/60h

Educação básica

Zandonaide Pereira

35 anos/

Masculino

Feira de Santana.

Licenciatura em Pedagogia, Graduação em Teatro, Especialização em Coordenação.

1 ano e 6 meses/40h

Educação Básica Coordenação Pedagógica

Fonte: Elaborado pela autora. 2020

 

Chamou-me a atenção o nível de formação dos professores, todos especialistas, o que pode revelar uma preocupação com a qualificação docente e a busca por avanço vertical na carreira, caso o gestor municipal respeite a Lei 11738 de 16 de julho de 2008, também conhecida como Lei do Piso Salarial para os professores da Educação Básica em âmbito nacional.

 

4.2 Identificando problemas que impactam na percepção de saúde e as formas de enfrentamento adotadas pelos professores

 

Segundo Fernanda Anjos o mal-estar docente é visto de forma sistêmica e, por isso, não há um único aspecto a ser analisado pois todo o contexto vivenciado pela escola influencia diretamente.

Foi diagnosticada com bursite[3] no ombro direito por excesso de escrita e digitação, o estresse se faz presente pelo contexto da longa jornada de trabalho. Mesmo com tudo isso realizar o seu ofício com muito prazer considera o mal-estar docente Como “estresse ocupacional”, “depressão”, “frustração” ou algo similar, afirma que nunca vivenciou esse mal-estar.

Segundo a professora Maria Pereira:

[...] alguns sentimentos cansaço mental, fortes dores de cabeça, esquecimento, estresse, nervosismo, angústia e tristeza. Por causa do grande estresse a educadora se sentiu intolerante e sem paciência com a sua família, procurou tentar separar mentalmente toda carga relacionada ao seu trabalho não deixando influenciar sobre a sua vida familiar. (Sujeito da pesquisa)

 

É importante levar em consideração que esta professora, Maria Pereira, é a que tem maior idade, maior tempo de exercício da profissão e maior carga horária de sala de aula de todos os professores participantes da pesquisa. Isso pode justificar os sintomas e sentimentos descritos e o impacto deles sobre a percepção de saúde. Como forma de enfrentar o grande desgaste, a professora tenta separar a carga mental relacionada ao trabalho para não influenciar sobre a vida familiar. Além da carga mental há também uma carga física uma vez que a carga horária de trabalho semanal de 60 horas impacta fortemente de forma sistêmica na percepção de qualidade de vida e saúde da professora. 

Outra forma de enfrentamento aos problemas vivenciados acontece de forma coletiva com o apoio dos colegas de trabalho, com a Coordenação Pedagógica e a Direção escolar, no sentido de ajudar a resolver situações de conflito. Desse modo, há diversas formas de enfrentamento e elas demandam ações individuais, coletivas e institucionais.

No mesmo sentido do papel da gestão escolar para enfrentar os problemas vivenciados no ambiente escolar o professor Zandonaide Pereira alerta:

[...] a gestão escolar precisa estar atenta para garantir as condições mínimas que o trabalho e bem estar psíquico, relacionado individual e coletivo, seja entre estes e os estudantes. Certa vez, fui parar na emergência de um UPA após um dia inteiro com dor de cabeça, forte náusea e pressão alta. Por orientação médica foi a ingestão imediata de um ansiolítico tarja preta e repouso. (Sujeito da pesquisa)

Em suma, segundo este professor, o que motivou essa ida à emergência foi uma cobrança injusta de presença física quando na verdade, esta informação não havia ficado clara e a ausência não causaria um tipo de impacto mínimo, seja para as crianças quanto para a organização e planejamento das atividades. Em minha compreensão, as boas relações interpessoais com colegas de trabalho e gestão escolar são fundamentais para a percepção de apoio e de ambiente de trabalho satisfatório para o exercício profissional.

A professora Erilúcia Araújo chama a atenção para a desvalorização social e econômica da profissão docente:

[...] a profissão docente não é apenas mal remunerada, temos desafios diários que acarreta muito, emocional, físico e psicologicamente. O fato de ser apaixonada pela profissão desenvolveu transtornos de ansiedade. Após a uma conversa com um neurologista ajudou a perceber o que estava acontecendo com o meu corpo e que estava desencadeando os problemas ansiedade, físicos e emocionais, psicologicamente. (Sujeito da pesquisa)

 

A partir da fala da professora Erilúcia fica claro que há outras questões mais amplas que impactam diretamente na sua percepção de saúde por causar sentimentos contraditórios: como o exercício da sua profissão, que lhe é tão importante, tem compromisso e dedicação, que tem a nobreza de formar as próximas gerações, pode ser tão mal remunerada e pode ter tão baixo reconhecimento do seu exercício profissional? Isso revela a necessidade de que as instâncias políticas e a sociedade de um modo geral valorizem mais a profissão docente e seus trabalhadores.

Outro fator a ser levado em consideração, na atualidade, é a pandemia de Covid-19. É inegável que a sociedade foi impactada, não apenas pelo número de vítimas da doença, algumas fatais, mas, também pela necessidade de adaptação gerada. Por causa da capacidade de contágio da doença medidas de afastamento social foram adotadas, e isso, e outros fatores referentes a esse momento, influenciaram de forma direta e indireta a profissão docente. “[...] estamos em processo intenso e caótico que nos impõe ações emergenciais  e reformulação das práticas de ensino-aprendizagem, sem tempo para pensar, nem se preparar” (AGUIAR, PANIAGO, CUNHA, 2020, p. 5).

Escolas foram fechadas, as aulas foram suspensas e depois migraram para o sistema de ERE (Ensino Remoto Emergencial), uma espécie de adaptação de elementos do ensino presencial, com atividades síncronas e de atividades de educação à distância com atividades assíncronas. Não é possível falar em EAD (Educação à Distância), propriamente porque essa é uma forma estruturada, totalmente planejada para funcionar por meio on line, com uso da internet e em um AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem). Todas essas mudanças de forma tão abrupta, alem de exigir adaptação por parte de professores, estudantes e suas famílias, tem ocasionado danos psicológicos causados pelo isolamento social e pelas incertezas quanto ao futuro. Em relação aos professores, diante dessas mudanças, a pesquisadora Garcia-Reis, afirma que:

Eles precisaram aprender e desenvolver outras configurações para suas aulas, sobretudo para manter a interação e promover a aprendizagem de seus alunos. A sociedade, como um todo, tem lançado seus olhares para esse trabalho e produzido discursos variados sobre as escolhas e modos de trabalhar desses profissionais. (GARCIA-REIS, 2021, n. p.)

 

O ensino remoto e a utilização de recursos tecnológicos para a consecução das aulas trouxeram novos desafios para o educador. Fernanda dos Anjos diz que além das dificuldades de adaptação ao ensino remoto e domínio de recursos tecnológicos, há também o problema de ajustar esse novo modelo de ensino ao número de turmas assistidas por cada docente.

Além de corroborar com a fala de Fernanda dos Anjos a professora Erilúcia acrescenta que:

Para trabalhar com o Ensino Remoto Emergencial tive que utilizar recursos tecnológicos próprios, adquirir equipamentos, pagar a internet com meu salário, e meu local de descanso se tornou meu local de trabalho. Agora tenho que lidar com a rotina da casa associada à rotina escolar, e somado a isso, o aumento do trabalho extraclasse e a preocupação em conseguir cumprir meu papel como educadora só causa mais desgaste. É preciso lembrar que toda essa mudança não causa impacto só no professor, atingem, também, nossos alunos que tentam encontrar um modo de acompanhar as aulas e muitos não tem os recursos necessários para participar, falta equipamento e internet. O ambiente escolar, como um todo, precisou se ajustar. Tenho sentido que o cansaço e a preocupação aumentaram e a falta de um prazo para o fim dessa situação gera um pouco de desânimo (Sujeito da pesquisa).

 

Na cidade de Feira de Santana as aulas da rede municipal de ensino dentro do ERE acontecem de forma assíncrona, as aulas são gravadas e postadas no Youtube ficando à disposição dos alunos e o WhatsApp é utilizado para estabelecer a comunicação entre pais, alunos e professores. Atividades são desenvolvidas em pacotes por período de tempo determinado e distribuídas aos alunos que as respondem à medida que as aulas são ministradas.

 A docente Maria Pereira afirma que:

Toda essa situação é muito desgastante. Temos que nos expor em vídeos, e vale ressaltar que trabalho não começa nem termina no vídeo. Agora o planejamento da aula ficou mais amplo, além de identificar o conteúdo, definir como apresentá-lo a turma, adotar um método que garanta uma maior assimilação e desenvolvimento do aluno, eu tenho que pensar em uma dinâmica audiovisual que viabilize os objetivos traçados. Depois preciso fazer um roteiro, gravar o vídeo, editar, fazer o upload, informar a turma sobre a disponibilização do material. E como agora os responsáveis pelos discentes tem um canal direto (whatsApp) para entrar em contato comigo não tenho mais horário de trabalho, a qualquer momento posso receber uma mensagem de um pai, mãe ou aluno querendo tirar uma dúvida. Fora todo o trabalho docente que já existia antes da pandemia, como elaboração e correção de atividades, por exemplo, continuam sendo executados. Me sinto de plantão 24 horas e isso tem se refletido em minha saúde (Sujeito da Pesquisa).

 

O universo docente sempre exigiu o desenvolvimento de novas competências formativas por parte dos professores, em seu papel de mediadores do conhecimento, e em uma sociedade marcada por constantes mudanças e acometida de uma pandemia o desafio ficou ainda maior. No sistema de aulas não presenciais o docente precisa ter:

Conhecimento do conteúdo, necessário para desenvolver uma prática pedagógica em que se oportuniza condições para que o aluno aprenda; conhecimento pedagógico [...]; conhecimento dos  alunos e da aprendizagem [...]; a relação professor/aluno que se enquadra  na dimensão do amor, da afetividade[...] nesse formato de aulas não presenciais, essa relação é fundamental (PANIAGO, 2017 apud AGUIAR, PANIAGO, CUNHA, 2020, p. 7).

 

Diante desse cenário o professor precisou repensar toda a sua prática pedagógica e seu saber docente, mobilizar novos recursos e estratégias didáticas fundamentado nas transformações sociais e evoluções tecnológicas. Outro aspecto importante a ser levado em consideração são as mudanças psicológicas que o isolamento pode causar, o número de pessoas com crise de ansiedade e depressão aumentou consideravelmente e isso atingiu, também, o profissional docente. Segundo Zandonaide Pereira:

Estávamos acostumados a lidar com várias pessoas no dia a dia. O contato humano era constante. A todo o momento tínhamos alunos, colegas de profissão, pessoas ao nosso redor, diálogos eram estabelecidos, conhecimentos eram trocados, havia um sistema de troca, um calor humano envolvido na minha atuação profissional. Agora me vejo falando com a câmera do celular, digitando conversas que preferia proferir pessoalmente, poder olhar “olho no olho”. Sinto falta dessa troca, percebo que essa situação, a rapidez que a mudança de cenário aconteceu mexeu com meu psicológico, há momentos de tristeza e uma intensa preocupação, me preocupo com o agora, com a possibilidade do ensino híbrido e das novas adaptações que serão necessárias até que possamos voltar ao “normal” (Sujeito da Pesquisa).

 

Todo esse cenário traz preocupações que não se restringem, apenas, a ministração de aulas on line, há, também, a possibilidade do desenvolvimento de novas doenças em decorrência do momento vivido, o agravo das doenças já existentes, a possível contaminação com a Covid-19, o bem-estar familiar e a manutenção da renda. É preciso levar em consideração que embora as escolas estejam fechadas, os professores não pararam suas atividades e houve um aumento, considerável, na carga de trabalho.

Por fim, retomamos Gomes, Nunes e Pádua (2019) quando alertam que a precariedade das condições de trabalho pode contribuir para o adoecimento docente e para o desencanto pela profissão de modo que não bastam às ações individuais por parte dos professores, é fundamental a adoção de políticas públicas que impliquem em cuidado para com a saúde do professor, sendo essas e outras estratégias de valorização docente.

 

 

[1] Os nomes dos sujeitos da pesquisa são fictícios a fim de preservar suas identidades.

[2] EJA (Educação de Jovens e Adultos).

[3] A bursite é uma inflamação das bursas que são pequenas bolsas que ficam entre ossos, músculos e tendões. E não afeta só os ombros. Essa lesão pode atingir e incomodar quadril, joelhos, pés e cotovelos, causada pelo envelhecimento e por uso repetitivo de determinadas articulações.  Disponível em: https://saude.abril.com.br/medicina/o-que-e-bursite-e-qual-seu-tratamento/

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

 

Trata-se de uma pesquisa qualitativa, uma vez que valoriza os aspectos sociais dos seus grupos sociais e profissionais, segundo Godoy (1995, p. 21), “um fenômeno pode ser melhor compreendido no contexto em que ocorre e do qual é parte, devendo ser analisado numa perspectiva integrada”. Em busca da consecução desses objetivos o pesquisador coleta dados e os analisa para, por meio disto, entender a dinâmica do fenômeno. Nesse estudo o foco é a saúde do corpo docente e as concepções que têm sobre a saúde-doença, assim como, conhecer algumas medidas de cuidados através de aplicação de questionário. A partir dele pude enviar aos cinco professores da rede municipal de uma cidade do interior da Bahia, lócus empírico dessa pesquisa.

            É importante informar que a proposta inicial era de realização de entrevistas semiestruturadas e observação, entretanto, a suspensão das aulas presenciais na rede municipal de ensino em função da pandemia causada por Coronavírus exigiu o redimensionamento da pesquisa e a escolha de nova forma de coleta de dados, deste modo, optei por aplicar questionário e enviar por e-mail e/ou por whatsapp, em função do avanço da pandemia causada por coronavírus SARS-CoV-2, que ocasionou a suspensão das atividades docentes presenciais.

 

3 CONTEXTUALIZANDO A RELAÇÃO ENTRE CONDIÇÕES DE TRABALHO E A SAÚDE DOCENTE

 

A atividade docente

5. CONSIDERAÇÕES FINAS

 

Esta pesquisa teve por objetivo avaliar a perspectiva dos professores acerca das condições de trabalho que influenciam em sua percepção de saúde. Foi possível analisar a partir dos depoimentos que as condições de trabalho têm impacto direto na percepção de saúde dos educadores. Também em suas falas foi possível identificar medidas tomadas de forma individual e pessoal para diminuir o impacto dessas condições desfavoráveis sobre a própria saúde. Ainda assim, são necessárias ações institucionais e políticas a fim de melhorar as condições de trabalho, de remuneração e de reconhecimento da importância do professor e do seu trabalho para a formação das futuras gerações.   

A realização da pesquisa foi acompanhada de muitos desafios em função da pandemia de corona vírus SARS-COV-2 trazendo algumas dificuldades adicionais para realizar as entrevistas de forma presencial. Desse modo, a fim de minimizar os impactos fizemos uso de Tecnologias Digitais: WhatsApp e e-mail de modo que fosse possível aplicar o questionário aos educadores. Por fim, consegui, de forma rápida e eficaz, compreender a percepção dos docentes e realizar as reflexões sobre saúde docente, sobre como as condições de trabalho causam mal estar nos professores e, em última instância, interferem na percepção de saúde, ou falta dela.

É fundamental destacar o aumento do nível de cansaço, stress em decorrência do acúmulo de trabalho na vida do docente uma vez que o avanço da pandemia causada pelo corona vírus SARS-COV-2, tem demandado a transformação do ambiente doméstico em ambiente laboral, dificuldades na organização dos horários de trabalho e interações domésticas, o cuidado com os filhos, a realização de atividades de manutenção da vida, tais como, alimentação, limpeza, mercado. Isso sem falar no atraso da política de imunização da população, por parte do governo, com uma politização do tema e uma série de acusações de práticas pouco republicanas na condução do combate à pandemia.

Do ponto de vista didático os professores se ressentem de não terem tido o apoio necessário para a compra de equipamentos tecnológicos, para o custeio do pacote de dados de internet, para a formação continuada que permitiria maior e melhor desempenho no que se refere a preparar aulas para os estudantes da rede municipal de ensino da Cidade de Feira de Santana, Bahia.

É importante também salientar a constante pressão do município sobre a opinião pública para convencê-la de que o retorno ao ensino presencial era possível e seguro, mesmo com os trabalhadores da educação da rede municipal estarem sem a vacinação completa. Situação que se agrava com o surgimento de novas cepas de vírus, variantes cujo poder de contágio e letalidade se mostra ainda mais poderosos.

            Ao final desta pesquisa observo a necessidade da realização de estudos robustos, realizados por pesquisadores experientes a fim de identificar o impacto de quase dezoito meses de pandemia e seus efeitos tanto sobre a saúde docente quanto da saúde de crianças e adolescentes, sobretudo ao pensarmos o quanto o processo educativo é relacional e a falta que faz a ausência de contato físico, além do medo da morte por covid-19, num cenário de mais de meio milhão de pessoas mortas diretamente pela covid-19 neste período.

            Se o adoecimento docente ou, pelo menos, a percepção de agravamento na análise das condições de trabalho se agravaram com a pandemia, não podemos deixar de considerar os elementos que historicamente vem impactando na saúde e adoecimento docentes, com reflexos na vida cotidiana, tanto na vida privada quanto no ambiente laboral docente.

O tema “saúde docente e as condições de trabalho” permitiu articular conhecimentos ao longo da prática pedagógica, de modo que o mal estar docente precisa ser visto de forma sistemática pois acarreta desafios diários, agravos físicos, mentais, transtorno de ansiedade, nervosismo, síndrome de Burnout e distúrbios psíquicos de um modo geral. O presente estudo constatou que, em comum, a maioria dos educadores da referida pesquisa foi diagnosticada por problemas relacionados ao tema desta pesquisa.

 Por fim, é importante destacar que, embora os achados da pesquisa sejam bastante úteis para a compreensão das situações que envolvem a pressão, o mal-estar e até o adoecimento de professores, esse número de respondentes não é suficiente, nem tem a pretensão de traçar um panorama da situação dos professores da rede desse município. Logo, o principal objetivo desta pesquisa foi o exercício acadêmico de aprender a realizar uma pesquisa científica.

 

REFERÊNCIAS

 

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______.  Constituição (1988). Emenda Constitucional nº 53, de 19 de dezembro de 2006. Dá nova redação aos arts. 7º, 23, 30, 206, 208, 211 e 212 da Constituição Federal e ao art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 20 dez. 2006. Seção 1, p. 5.

 

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