Metadados do trabalho

Acompanhamento Do Perfil Dos Ingressantes: Contribuições Para Avaliação Do Programa De Pós-Graduação Em Serviço Social Da Universidade Federal De Sergipe

Kathleen Pimentel dos Santos; Vera Núbia Santos

O texto resulta de pesquisa que analisou o perfil de ingressantes no mestrado em Serviço Social da Universidade Federal de Sergipe (UFS) entre 2011 e 2020, com intuito de trazer elementos para o processo de autoavaliação do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social (PROSS). A pesquisa exploratória, de abordagem quali-quantitativa, utilizou como procedimentos a pesquisa bibliográfica e documental e fundamentou-se no método materialista histórico-dialético. Com base em levantamento na página do PROSS, foram identificados ingressantes no período indicado e utilizada como fonte de coleta de dados a Plataforma Lattes para busca de dados nos currículos. Foram extraídas as seguintes informações: instituição de graduação, experiência em pesquisa e extensão, produção acadêmica e participação em eventos, conforme última atualização na plataforma. Observou-se que metade dos ingressantes havia participado de projeto de pesquisa anteriormente a entrada no PROSS e 25% envolveram-se em projetos de extensão. Com relação às produções, observa-se o registro em anais de eventos como mais comuns. Há predominância de ingressantes que estudaram em instituição de ensino superior pública e a maioria é do gênero feminino, uma marca histórica na profissão. Os resultados sugerem a necessidade do acompanhamento contínuo do perfil discente para a consolidação do PROSS.

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SANTOS, Kathleen Pimentel dos; SANTOS, Vera Núbia. Acompanhamento do perfil dos ingressantes: contribuições para avaliação do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal de Sergipe. Anais do Colóquio Internacional Educação e Contemporaneidade, 2021 . ISSN: 1982-3657. Disponível em: https://www.coloquioeducon.com/hub/anais/79-acompanhamento-do-perfil-dos-ingressantes-contribui%C3%A7%C3%B5es-para-avalia%C3%A7%C3%A3o-do-programa-de-p%C3%B3s-gradua%C3%A7%C3%A3o-em-servi%C3%A7o-social-da-universidade-federal-de-sergipe. Acesso em: 16 out. 2025.

Acompanhamento do perfil dos ingressantes: contribuições para avaliação do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal de Sergipe

  

O presente artigo apresenta os resultados do plano de trabalho “Perfil dos ingressantes do PROSS/UFS”, vinculado ao projeto de pesquisa intitulado “Perfil de estudantes da Pós-Graduação em Serviço Social da UFS (2011-2020)”. Tal projeto foi aprovado no Edital nº 01/2020/COPES/POSGRAP/UFS referente ao Programa de Iniciação Científica e desenvolvido no período de agosto de 2020 a agosto de 2021. Associado ao Grupo de Estudos e Pesquisas em Fundamentos, Formação em Serviço Social e Políticas Sociais, o projeto foi vinculado à linha de pesquisa Formação e Exercício Profissional do Serviço Social.

A pesquisa teve como objetivo realizar levantamento e análise de ingressantes no mestrado em Serviço Social da Universidade Federal de Sergipe (UFS), nas seleções que compreenderam o período de 2011 a 2010, caracterizando e analisando o perfil dos ingressantes do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social (PROSS) da UFS, a fim de viabilizar elementos para dotar o Programa de condições para implantar processos de autoavaliação que tenha como um dos focos o perfil de ingressantes.

De acordo com o Portal do PROSS/UFS, o mestrado em Serviço Social foi aprovado em março de 2011, durante a 124º Reunião do Conselho Técnico Consultivo de Educação Superior (CTC/ES) da CAPES, sendo o primeiro curso de mestrado em Serviço Social do estado de Sergipe. Seu propósito está na contribuição da formação de docentes, pesquisadores e assistentes sociais para o enfrentamento da questão social, estando assim, alinhado com o Projeto Ético-Político do Serviço Social. Sua implantação corresponde ao atendimento da demanda crescente de qualificação profissional para o mercado de trabalho – para além da graduação – e do prestígio social que consolidou o curso de graduação em Serviço Social da UFS, implantado em 1954.

 A pesquisa de natureza quanti-qualitativa considera que “o conjunto de dados quantitativos e qualitativos não se opõem. Ao contrário, se complementam, pois, a realidade abrangida por eles interage dinamicamente” (MINAYO, 2007, p. 22). Para construção do referencial teórico, utilizou-se pesquisa bibliográfica a partir da literatura referente ao objeto de estudo, através de artigos científicos, teses, dissertações e livros, o que permitiu a contextualização do objeto e suas mediações, fornecendo elementos para a compreensão da Educação Superior no Brasil; da pós-graduação brasileira, em especial do Serviço Social; dos processos políticos e econômicos aos quais estão inseridos a educação e do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da UFS.

Também foi realizada pesquisa documental para o levantamento de dados sobre o ingresso de estudantes no mestrado em Serviço Social da UFS, extraídas de páginas públicas de instituições e de pessoas. No primeiro momento, através do sítio eletrônico do PROSS e do Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas – SIGAA, foram obtidos dados sobre o resultado de seleções e a lista de defesas dos anos de 2013 a 2020, nas quais se pode verificar nome dos/as discentes, título do trabalho e data de defesa da dissertação. Também foi necessário solicitar ao PROSS a lista dos ingressantes dos anos de 2011 e 2012 que não se encontram disponíveis no SIGAA, a fim de examinar igualmente esses dois anos. 

Ainda na fase de levantamento, buscou-se por meio da Plataforma Lattes o currículo dos ingressantes seguindo a listagem feita anteriomente. Foram examinadas as seguintes informações: nome, anos de ingresso e saída do PROSS; instituição, ano de entrada e término da graduação; formação complementar (cursos de atualização, aperfeiçoamento e especializações); experiências profissionais, de monitoria, estágio e supervisão, de pesquisa e extensão e participação em eventos. Foram examinadas, também, as produções científicas, como produção de livros e capítulos, publicações em periódicos e anais de congresso, além de apresentações em eventos, antes, durante e após o PROSS. Destaca-se que as informações obtidas correspondem ao período do levantamento realizado entre os meses de janeiro/2021 e maio/2021, observando sempre a última atualização dos currículos nessa plataforma.

As pontuações e o panorama apresentados servem – e são necessários – para situar o objeto e o olhar do plano de trabalho ao qual se refere o relatório. Assim, comprometido com os objetivos do plano de trabalho e alicerçado pelo referencial aqui adotado, o trabalho segue a seguinte lógica: na primeira seção, foi realizada a contextualização do objeto de pesquisa, a fim de comprender o universo ao qual se insere a PROSS/UFS, verificando a literatura acerca da Educação Superior brasileira e a particularidade da pós-graduação, especificamente o Serviço Social. No segundo momento, serão expostos os resultados finais e as considerações do levantamento sobre os ingressantes do mestrado em Serviço Social da UFS. 

2 Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da UFS no contexto de expansão da pós-graduação (PG) brasileira e no desenvolvimento da educação superior

 

Pensar a pós-graduação em Serviço Social em seu momento atual é preciso localizá-la no processo de expansão da pós-graduação (PG) brasileira e no desenvolvimento da educação superior de modo geral. A proposta aqui não é aprofundar diversos temas, dadas as limitações próprias de um artigo, mas realizar considerações necessárias para servir de base das análises pretendidas. De certo, considera-se tardio o aparecimento da universidade no Brasil, ocorrida muito depois da chegada dos colonizadores portugueses (Moritz et. al 2011). A criação das instituições de ensino superior no país acontece por volta de 1808, permanecendo até os dias atuais. Mas até o início do século XX as atividades de pesquisa científica eram incipientes e estavam ligadas ao esforço individual do pesquisador ou de pequenos grupos de pesquisadores. (MORITZ et al, 2011)

O século XX marca o desenvolvimento da educação superior no país, e notadamente da pesquisa. No início da década de 1950, aparecem as estratégias e condições promotoras da pesquisa na universidade brasileira, com a criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em abril, e da Fundação de Capacitação de Pessoal de Nível Superior, atual Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), em julho do mesmo ano: 1951. Os anos seguintes apontam para uma série de marcos regulatórios que permeiam a educação superior (Moritz et. al 2011). De acordo com Morosini (2009), a partir de 1960, e mais notamente com a Reforma Universitária (1968), o modelo de Instituição de Ensino Superior (IES) passa a ser a universidade, configurando-se como instituição promotora do conhecimento, via pesquisa, pelo reconhecimento de que o conhecimento-pesquisa é indissociável ao ensino. A autora destaca que a expansão e regulação do sistema de educação superior deu-se na década de 1990, a exemplo da Lei nº 9.394/96, que representa as Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

Dito isso, importa saber que a construção, implantação e desenvolvimento da Pós-Graduação (PG) acompanham as nuances desses processos, mas alcançando sua legitimidade e particularidade. Moritz et. al (2011) ao mencionar Ribeiro (1980), refletem como a pós-graduação apresentava naquele momento um “saldo positivo” mesmo em meio as descontinuidades dos processos que envolvem a educação superior brasileira. Essa condição se verifica nas avaliações qualitativas e quantitativas que ocorrem mundo a fora, a exemplo da sua 22º posição entres os 30 países que detinham 98% da produção cientifica do mundo, segundo o site Estadão (2010). Seu impulso data da década de 1960 – assim como ocorre na educação superior como um todo – que é considerado por muitos estudiosos por estar relacionada ao desenvolvimento do sistema de ciência e tecnologia do país.

A PG oferta cursos e programas voltados a concorrentes graduados que respondam as exigências das instituições, e está compreendida em stricto e lato sensu. De acordo com Martins (2003) apud Moritz (2011), já no início dos anos 1990, o número de cursos na pós-graduação marcava 1.500, com abrangência de todas as áreas de conhecimento. Segundo o Sistema de Informações Georreferenciadas da Capes (GeoCapes), no ano de 2013, o Brasil possuía o total de 4.570 Programas de Pós-graduação. Sua maior concentração estava na Região Sudeste (44%), seguida pela Região Sul (22%), as demais posições estavam distribuídas da seguinte maneira: Região Nordeste (20%), Região Centro-Oeste (8%) e Norte (6%). Pelos dados apresentados é perceptível a consolidação e expansão da Pós-Graduação brasileira, ainda que haja disparidades entres as regiões.

Dados atuais (julho de 2021), extraídos no site da CAPES por meio da Plataforma Sucupira, informam existirem 4.632 Programas de Pós-Graduação e 7.054 cursos de Pós-Graduação avaliados e reconhecidos no país, sendo assim distribuídos os Programas: 42,96% na Região Sudeste, 21,43% na Região Sul, 20,79% na Região Nordeste, 8,61% na Região Centro Oeste e 6,19% na Região Norte. As disparidades entre as regiões mantém-se historicamente, o que deve ser compreendido nos vários aspectos sociais inerentes a essa “distorção” na educação superior.

Situar a Pós-Graduação em Serviço Social dentro desse contexto é se atentar aos processos que constituem o Serviço Social, e das relações amplas e contraditórias da sociedade capitalista ao qual está inserido. O processo de institucionalização do Serviço Social enquanto profissão detinha uma formação tecnicista e pragmática em detrimento da dimensão intelectual. A grande aproximação com a dimensão investigativa da profissão se deu com o movimento de Reconceituação latino-americano, que tinha como pressuposto o questionamento do conservadorismo profissional, em virtude da nova dinâmica que se gestava na sociedade, nos anos 1960. O acirramento da miséria e da exclusão social demandava uma transformação das práticas profissionais, de modo que se estabelecesse um compromisso com a classe trabalhadora.

Essas mudanças na prática impulsionaram uma reformulação no campo da formação profissional. Dentro desse processo de renovação, a pós-graduação foi um dos principais marcos que impulsionaram o desenvolvimento da produção de conhecimento do Serviço Social, que “significou, por si só, a convalidação [...] do campo do Serviço Social como área de estudo e pesquisa” (SPOSATI, 2007, p. 17). A implantação da pós-graduação em Serviço Social surgiu a partir da década de 1970, com a criação dos primeiros cursos nas Universidades Católicas de São Paulo e do Rio de Janeiro, em 1972. Oito anos depois é instituído o primeiro curso de doutorado na PUC-SP.

Nesse contexto a pós-graduação em Serviço Social acompanhava o desenvolvimento da pós-graduação e do ensino superior brasileiro, com destaque para o processo de ruptura com o conservadorismo que se gestava no interior da profissão e demandava um cariz teórico-metodológico crítico. De acordo com a CAPES (2016), o impulso a formação pós-graduada na área do Serviço Social se dá pela aprovação da revisão curricular encaminhada pela Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social (ABESS, hoje ABEPSS), em 1982. Soma-se a isso a consolidação da vertente crítica-dialética na formação profissional através do marxismo, o que caracterizou a maturidade intelectual do Serviço Social. Na análise de Tavares (2013, p. 9):

 

[...] graças a essa opção teórico-metodológica, a empreitada de se opor à hegemonia das classes dominantes, na academia, tornou-se quase unicamente do Serviço Social, tanto que o curso é, hoje, o refúgio de filósofos, economistas, educadores e de outros profissionais que querem uma ruptura radical com o legado positivista.

 

Considera-se que para garantir uma ação profissional qualificada que corresponda à realidade concreta é necessário superar a superficialidade, a partir da articulação entre teoria e prática, entre investigar e intervir. Dessa forma, a dimensão investigativa e a pesquisa estabelecem uma relação com a natureza interventiva do Serviço Social, à medida que realiza uma aproximação com os sujeitos sociais e o cotidiano da sua ação profissional, essencialmente após o Movimento de Reconceituação. Segundo Fraga (2010, p. 42), “a atitude investigativa é o fomento básico do exercício profissional do assistente social que se refere ao movimento de desocultamento do real”.

Para Guerra (2009, p. 8), a pesquisa em Serviço Social é um “processo sistemático de ações, visando investigar/interpretar, desvelar um objeto que pode ser um processo social, histórico, um acervo teórico ou documental”. Assim sendo, o processo de investigação realiza uma aproximação do profissional com a realidade em que pretende atuar, de modo a dar suporte para a sua intervenção profissional. A pesquisa também é essencial para o cumprimento das atribuições e competências profissionais, através da real apreensão das condições de trabalho dos assistentes sociais, como também por meio da apropriação dos objetos de intervenção, permitindo o desenvolvimento de respostas críticas e qualificadas as demandas. Para atingir tal feito, a dimensão investigativa deve estar sintonizada com o conhecimento da realidade numa perspectiva de totalidade, buscando ultrapassar a aparência do objeto e atingir sua essência.

A produção de conhecimento do Serviço Social tem seu cerne na universidade, sobretudo no âmbito da pós-graduação, que é a principal responsável por alimentar o próprio acervo teórico da profissão. A consolidação da pós-graduação em Serviço Social como promotora de produção de conhecimento permite que hoje se encontre uma razão progressiva quali-quantitativa de números de programas de pós-graduação. Até o ano de 2016, segundo a CAPES (2017), havia 34 Programas em funcionamento, tendo suas duas maiores concentrações nas regiões Sudeste (36,4%) e Nordeste (33,3%), seguidas pela região Sul (15,2%), Centro-Oeste (9%) e Norte (6%), respectivamente.

Na atualidade, conforme levantamento na página da CAPES por meio da Plataforma Sucupira, verifica-se a existência de 36 programas na área, sendo 16 somente de mestrado e 20 programas de mestrado e doutorado. Observa-se que na área de Serviço Social há somente programas com mestrado e doutorado acadêmico e a Região Nordeste possui programas nos nove estados, totalizando 12 programas: cinco programas com Mestrado e Doutorado nos estados do Piauí, Pernambuco, Alagoas, Maranhão e Rio Grande do Norte, e sete programas com Mestrado, nos estados de Sergipe, Paraíba (em duas instituições), Rio Grande do Norte, Ceará e Bahia (em duas instituições). Todas as instituições são universidades federais. No estado de Sergipe o programa é vinculado à UFS.

 

3 Acompanhamento do perfil de ingressantes do Programa de Pós-Graduação de Serviço Social da UFS (2011-2020): contribuições para avaliação

O processo de avaliação realizado pela Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (CAPES) é considerado como um “sistema de avaliação que permitiu sistematizar o apoio oficial ao desempenho dos programas de pós-graduação, estabelecendo um padrão mínimo de qualidade acadêmica” (MORITZ et al., 2011, p. 2). Essa avaliação impulsionou o reconhecimento da pós-graduação brasileira no mundo acadêmico. O Sistema de Avaliação da Pós-graduação leva aos cursos de mestrado e doutorado a capacidade de potencializar seus pontos positivos e superar as deficiências que comprometem seu desempenho.

O papel da CAPES por meio do Sistema de Avaliação da Pós-graduação constitui-se como um instrumento para os programas de pós-graduação – ainda que haja críticas sobre suas limitações –, mas não deve estar sozinho. Considera-se que as unidades dos cursos acompanhem e construam instrumentos para seus programas. O conhecimento do perfil de seus ingressantes e egressos pelas informações sobre a trajetória do aluno durante o curso, suas produções, experiências profissionais quando egressos, a contínua ou descontinuidade com a comunidade acadêmica, pode potencializar melhorias na qualidade do PG e nos seus processos de autoavaliação. Este é o objetivo maior do presente texto, ao fornecer dentro dos seus resultados os dados dos ingressantes do Programa de Pós-graduação em Serviço Social da Universidade Federal de Sergipe.

Na página do PROSS/UFS foi feito um levantamento dos processos seletivos realizados, no qual se buscou a lista de inscrições homologadas, para conhecimento da procura do curso e os resultados finais das seleções, a fim de identificar o número de classificados. Importa destacar que as seleções para entrada nos anos de 2011 e 2012 não foram localizadas, por isso não entram no presente relatório. A Tabela 1 a seguir apresenta o número de inscrições homologadas e os resultados finais dos respectivos anos de seleções. No quantitativo geral foram identificadas 316 inscrições realizadas entre os anos de 2012 a 2019, o que representa um número expressivo de procura pelo Programa nesse período.

Tabela 1 – Oferta-demanda do PROSS (2012-2019)

Continua

Ano de seleção

Inscrições homologadas

Resultado final – classificação

2012

36

11

2013

39

13

2014

50

9

2015

36

13

2016

39

15

2017

45

17

2018

59

12

2019

12

13

TOTAL

316

90

Fonte: Pesquisa Documental/Elaboração: Grupo de pesquisa

 Nesse sentido, pode-se pensar que a oferta-demanda por qualificação no PROSS sinaliza a resposta às exigências do mercado de trabalho nos diversos espaços ocupacionais do assistente social e dos egressos da graduação, e principalmente pelo comprometimento dos docentes da graduação e da pós-graduação na pesquisa e produção acadêmica em Serviço Social, sob a orientação hegemônica do pensamento crítico marxista e na formação profissional orientada pela perspectiva emancipatória. Quanto a questão do abandono/ e ou desistência dos discentes classificados, é necessário uma pesquisa cuidadosa para analisar os fatores que influenciaram e influenciam, que não é o objeto deste relatório.

Tendo conhecimento do número de ingressantes no PROSS durante o período de 2012 a 2019, considerou-se necessário também identificar o número de defesas nesse período a fim de verificar possíveis abandonos. Utilizando-se da Página do PROSS e do Sistema Integrado de Gestão de Atividade Acadêmicas (SIGAA) foram identificados 81 defesas entre os anos de 2013 a 2020. O levantamento verificou o nome dos/as discentes, título do trabalho e data de defesa das dissertações. Nos anos de 2011 e 2012 não houve defesa de dissertação, uma vez que o Programa iniciou as atividades em 2011, e as primeiras defesas foram a partir de 2013, correspondendo ao período mínimo de dois anos para o término do curso de mestrado na instituição. A tabela  abaixo apresenta a quantidade de dissertações defendidas nos respectivos anos.

Tabela 2 – Ano de defesa das dissertações do PROSS

 

2013

2014

2015

2016

2017

2018

2019

2020

TOTAL

8

14

9

11

6

12

10

11

Total geral

81 defesas

Fonte: Pesquisa Documental / Elaboração: Grupo de pesquisa

Observa-se, vinculando as duas tabelas, que o número de ingressantes do PROSS não está distante do número de defesas, isso indica que há um número baixo de desistência. Se os 90 classificados representam o número dos que ingressaram do PROSS, as 81 defesas representam os ingressantes que concluíram o curso e defenderam no prazo de 24 a 30 meses (como definido no regimento do programa). A alta procura do curso, indicado pelo expressivo número de inscrições, e a baixa quantidade de abandono podem indicar um saldo positivo para o Programa. Observe-se também que ingressantes dos anos de 2019 e de 2020 ainda não defenderam sua dissertação, o que também significa que há aproveitamento significativo do mestrado.

 A Plataforma Lattes foi estabelecida como a fonte pública para a extração dos dados dos ingressantes. Através dos currículos disponíveis na plataforma buscou-se caracterizar o perfil desses ingressantes. Dois currículos não foram localizados na plataforma, sendo um do ano de defesa de 2014 e outro de 2015. A falta dos dois currículos fez que o universo da pesquisa fosse 79 currículos dos ingressantes, não mais 81. As informações aqui apresentadas foram extraídas no período de janeiro/2021 a maio/2021, sendo fiéis aos dados disponibilizados na plataforma nesse período.

Dos 81 nomes de discentes ingressantes, 78 são do gênero feminino, o que representa um percentual de 96%, e somente três ingressantes são do gênero masculino, que representam 4%. A predominância feminina é uma tendência comum ao Serviço Social, visto que segundo o CFESS apud Lima (2014), 97% dos assistentes sociais no Brasil são mulheres. Essa característica tanto é presente desde o nascimento da profissão, quanto está dentro dos processos históricos e culturais que a constitui. A incorporação do Serviço Social às profissões chamadas “profissões femininas” está ligada ao do nascimento da profissão, pela ligação às doutrinas religiosas e o papel da mulher na sociedade burguesa, que atribuía a presença feminina a “docilidade, a meiguice, a compaixão e o dom de comunicação, convencimento e acolhimento” (CISNE, 2007, p. 47).

A primeira informação coletada através da plataforma Lattes foi a data de atualização dos respectivos currículos. A Plataforma Lattes tornou-se, em nível nacional, a plataforma padrão de registro do currículo de estudantes e pesquisadores, enfocando a sua trajetória acadêmica. Agências de fomento, universidades e institutos de pesquisa o aderiram, ratificando ainda mais sua importância (FERREIRA; OLIVEIRA; PITOMBEIRA, 2016). O gerenciamento das informações contidas na Plataforma Lattes é um instrumento fundamental tanto para as atividades de financiamento, quanto para a absorção de informações necessárias para a formulação e gestão de ciência e tecnologia.

Verifica-se que a integração e divulgação das informações dos pesquisadores, docentes, estudantes e profissionais ligados à ciência e tecnologia, traz benefícios tanto aos sujeitos envolvidos, como também para o desenvolvimento da comunidade científica, ao compor uma base de dados que “permitisse a seleção de especialistas e consultores, além da geração de dados estatísticos sobre a distribuição das atividades de pesquisa em ciência e tecnologia no país” (ESTÁCIO, 2017, p. 306).

Analisar essas questões permitiu observar que a manutenção dos currículos, e desse modo, a sua atualização, é também necessária e importante aos programas de pós-graduação e seus respectivos departamentos de curso, ao permitir o acompanhamento de seus egressos, verificando o que o programa tem contribuído para um segmento na carreira acadêmica, ou na inserção no mercado de trabalho, ou ainda na contemplação de financiamento de projetos futuros. Como indicado no gráfico abaixo, menos da metade dos ingressantes dos mestrados de Serviço Social da UFS atualizaram seus currículos no ano de 2021. Essa tendência não pode ser naturalizada, e deve ser observada pelo PROSS no sentido do devido acompanhamento quando se tornarem egressos.

 

GRÁFICO 1

 

                Fonte: Pesquisa Documental / Elaboração: Grupo de pesquisa

 

A Tabela 3 aponta com mais detalhes a data de atualização dos currículos dos ingressantes em referência ao ano de defesa do mestrado. Constatou-se em alguns casos que a última atualização do currículo na Plataforma Lattes corresponde ao ano de defesa. Esta ação é notada em um currículo de 2015, dois currículos em 2019 e quatro currículos de 2020. Outros casos apontam para atualizações anteriores ao ano de defesa, indicando que após o ingresso no PROSS não houve nenhuma informação cadastrada, como em um currículo de 2013 que foi apenas atualizado em 2012 e dois currículos de 2016 que foram atualizados em 2015.

 

Tabela 3 – Atualização do Currículo Lattes

Ano de atualização/Ano de defesa

2013

2014

2015

2016

2017

2018

2019

2020

2012

1

0

0

0

0

0

0

0

2013

0

0

0

0

0

0

0

0

2014

1

0

0

0

0

0

0

0

2015

1

0

1

2

0

0

A pós-graduação em Serviço Social representa um espaço de grande importância para o reconhecimento e consolidação da profissão, conferindo maturidade intelectual a partir do fomento às produções científicas e alimentando o seu próprio arcabouço teórico. Diante disso, torna-se fundamental conhecer o perfil dos sujeitos envolvidos nesse espaço como forma de auxiliar na autoavaliação dos Programas de Pós-Graduação. Neste caso, a análise aqui desenvolvida está voltada para os ingressantes do PROSS/UFS.

O Currículo Lattes se tornou uma ferramenta importante no processo de desenvolvimento da ciência e tecnologia, inclusive, sendo utilizado por instituições envolvidas em pesquisas, uma vez que permite apreciar os dados acadêmicos dos estudantes e profissionais, de modo a facilitar o reconhecimento de perfil de pesquisadores. Por esse motivo, também se constitui como potencial instrumento para que coordenações de cursos de Pós-Graduação possam buscar elementos que forneçam a percepção e acompanhamento dos seus ingressos e do possível impacto do programa.

A partir da análise dos dados encontrados, percebeu-se que, entre os ingressantes do PROSS/UFS há uma tendência de não atualização dos currículos na plataforma, uma vez que menos da metade haviam sido atualizados em 2021. Tal resultado pode indicar que não há uma preocupação por parte dos acadêmicos em registrar as suas atividades nesse sistema, e/ou também, que não há aspectos novos na trajetória acadêmica desses estudantes, ou seja, não há continuidade nas produções e experiências após o PROSS/UFS.

Nota-se também uma articulação da participação dos discentes em projetos de pesquisas e extensão com o seu ingresso na pós-graduação, visto que a maioria dos ingressantes do PROSS/UFS já havia participado desse tipo de experiência na graduação. Percebe-se também que entre estes ingressantes há um maior quantitativo de egressos graduados em IES públicas, o que pode indicar a contribuição do tripé acadêmico das universidades públicas – ensino, pesquisa e extensão – no ingresso dos seus estudantes em cursos de mestrado e doutorado.

Outro ponto que merece atenção é que com relação às produções científicas, tem-se um quantitativo significativo de publicações em anais de eventos, o que pode apontar a importância dos eventos científicos em oportunizar a publicações de trabalhos acadêmicos, principalmente para os graduandos/as. O número menor de publicações em outros veículos, a exemplo de revistas científicas e livros, pode estar atrelado às taxas de publicação, geralmente altas, que podem se constituir em um fator limitante frente à realidade financeira dos estudantes.

Diante disso, compreende-se que os resultados desta pesquisa apontam aspectos essenciais para o PROSS/UFS que merecem ser objeto de análise, o que indica a necessidade de dar continuidade ao estudo do perfil dos ingressantes, mas também os incluindo nesse processo investigativo a partir de um contato direto, de modo a conhecer suas particularidades/subjetividades, como forma de somar a essas informações já colhidas.

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