Metadados do trabalho

Fatores De Motivação Para O Estudante Na Modalidade Ead Em Contexto Anterior A Pandemia Da Covid-19

Hyder Aragão; Rosa Amélia Dantas; Lenira Ferreira Ribeiro

Educação a Distância (EaD) é uma modalidade de ensino-aprendizagem regulamentada pelo Decreto-Lei nº 2.494, de 10 de fevereiro de 1998, do Ministério da Educação. Este trabalho faz um recorte de um momento anterior a pandemia da Covid-19 e tem como objetivo analisar os principais fatores que motivam os estudantes na escolha da graduação na modalidade EaD, visto que o levantamento do MEC mostra, no período de 2007 a 2017, uma variação de 226% de aumento de ingressantes nos cursos superiores nessa modalidade. A pesquisa foi desenvolvida a partir da perspectiva da motivação para a aprendizagem, sendo analisada também a evasão dos cursos nesta modalidade, ressaltando a importância da tecnologia de informação e comunicação e seus avanços. A metodologia utilizada foi pesquisa descritiva de revisão de literatura e foram analisados os avanços da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996). No período anterior a pandemia de Covid-19 a pesquisa apontou como principais fatores de motivação na escolha da graduação na modalidade EaD, a conciliação entre tempo de trabalho e estudo, a dificuldade de acesso a escolas universitárias físicas, e as facilidades de acesso a TIC entre a população jovem.

Palavras‑chave:  |  DOI:

Como citar este trabalho

ARAGÃO, Hyder; DANTAS, Rosa Amélia; RIBEIRO, Lenira Ferreira. Fatores de motivação para o Estudante na Modalidade EaD em contexto anterior a pandemia da Covid-19. Anais do Colóquio Internacional Educação e Contemporaneidade, 2021 . ISSN: 1982-3657. Disponível em: https://www.coloquioeducon.com/hub/anais/67-fatores-de-motiva%C3%A7%C3%A3o-para-o-estudante-na-modalidade-ead-em-contexto-anterior-a-pandemia-da-covid-19. Acesso em: 16 out. 2025.

Fatores de motivação para o Estudante na Modalidade EaD em contexto anterior a pandemia da Covid-19

A educação a distância não é uma novidade na educação e seu surgimento está associado à criação da escrita, pois a partir daquele momento passou a ser possível ao indivíduo se comunicar com alguém que não estivesse no mesmo espaço e no mesmo momento que ele (MAIA, 2007). Para Moore e Kearsley (1996 apud NISKIER, 1999), didaticamente falando das fases desta modalidade de ensino, tem o momento em que surgem os cursos por correspondência, como o curso de taquigrafia a distância em 1720, e com o desenvolvimento dos meios de transportes a comunicação passa a se ampliar no mundo.

Outro marco na história desta modalidade de ensino é o advento da tecnologia com a criação de mídias como televisão, rádio, telefone, entre outros. A partir dessas novas mídias, surgem e crescem as universidades abertas, primeiro na Europa (Open University Britânica em 1969) e depois se expandindo pelo mundo. Na etapa seguinte, surge a educação online com a utilização do microcomputador e multimídias, momento marcado pelas redes de computadores, tecnologias da informação e comunicação (MAIA, 2007).

Neste momento as universidades passam a chegar às cidades onde não existe a possibilidade de construir um campus físico e isso significa um número muito maior de pessoas com acesso ao ensino, não apenas no nível universitário, como esta pesquisa se propõe a analisar. Pode-se definir como a interiorização das universidades com um ganho gigantesco para toda a sociedade que antes não acessava (FAVERO; FRANCO, 2006).

Na América Latina, por volta dos anos 60, foram criadas a Universidade Aberta da Venezuela e a Universidade Estadual a Distância da Costa Rica. No Brasil, registros de 1891 dão conta do surgimento desta modalidade de ensino pela oferta de cursos de datilografia por correspondência com publicações nos classificados do Jornal do Brasil.

Educação a Distância, no Brasil, é uma modalidade de ensino-aprendizagem regulamentada, pelo Decreto-Lei nº 2.494, de 10 de fevereiro de 1998, do Ministério da Educação, artigo 80 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Os cursos nesta modalidade são mediados por tecnologias, onde professores e alunos podem estar em ambientes diferentes, separados em relação ao tempo e espaço e que funciona como alternativa de administração e organização de tempo de estudos, pesquisas e trabalho, com aulas e materiais das disciplinas, disponibilizados pela internet (MAIA, 2007).

Com o avanço da tecnologia e ampliação do acesso à internet no contexto anterior a pandemia de Covid-19, os padrões de oferta de cursos na modalidade a distância, no Brasil e nos demais países contemplam os variados níveis de ensino em todas as áreas do conhecimento, implementados e supervisionados em atendimento de políticas de educação vigentes.

A criação de cursos na modalidade a distância, reconhecidos pelo MEC, tem crescido de forma acelerada no Brasil, estimulada por programas do governo, e o censo da educação superior, divulgado em 2016 traz um total de 1.494.418 matrículas nos cursos de graduação oferecidos nesta modalidade, sendo 122.601 na rede pública e 1.371.817 na rede privada de ensino (BRASIL, 2017).

Entre os possíveis motivos apontados para esse crescimento encontram-se as vantagens como, comodidade e flexibilidade de horários, o reconhecimento pelo MEC na obtenção dos diplomas reconhecidos e validados pelo órgão (não existem diferenças entre os diplomas de graduação a distância em relação aos cursos presenciais) e as ofertas de bolsas de estudo, através de programas do governo (ProUni, UAB), dando acesso a cursos reconhecidos pelo MEC e com qualidade, através da tecnologia e inclusão digital (BRASIL, 2017).

Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) houve um aumento de 27,3% de alunos matriculados na modalidade a distância entre os anos de 2016 e 2017 e um levantamento do MEC mostra no período de 2007 a 2017 uma variação de 226% de aumento de ingressantes nos cursos superiores, enquanto nos cursos presenciais o aumento foi de apenas 19% para o mesmo período (BRASIL, 2017).

O aumento nas matrículas nesta modalidade reflete na democratização do ensino superior, quando expande a oferta de cursos e promove a interiorização do ensino, com programas de educação superior ofertados pelas redes pública e privada de ensino, permitindo que pessoas que residem em cidades onde não existem universidades possam cursar a graduação, através da utilização de tecnologias que permitem as práticas educativas (LAPA, 2008).

Entre os fatores determinantes do sucesso na realização dos cursos à distância está a motivação do estudante que precisa encontrar estímulos para realizar suas atividades escolares, conciliando seus horários com as demais atividades diárias e mostrando sua autonomia para definir local e momento adequado para a sua aprendizagem (ZANELLI, 2004). Stipek (1998) analisou o tema e sua relação com a aprendizagem na busca de explicar os principais fatores que influenciam o aluno na escolha da graduação na modalidade de ensino a distância.

Para atender aos objetivos deste estudo foi realizada uma pesquisa descritiva, a partir de uma revisão bibliográfica, de abordagem qualitativa e foram analisados os avanços da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996). Inicialmente foram levantados os estudos com as teorias sobre a motivação e em seguida a relação entre motivação e aprendizagem, passando pela ausência de motivação e consequente desistência dos alunos durante a realização dos cursos.

Segundo Turato (2005) a pesquisa bibliográfica, também considerada como uma revisão sistemática de literatura, é realizada a partir de um levantamento de trabalhos científicos já publicados sobre o tema de interesse, de abordagem qualitativa para posterior discussão desses trabalhos, incluído a análise de conteúdo do material selecionado. Importante ressaltar, que para esse levantamento é necessária uma reflexão sobre os trabalhos acadêmicos e “rigor metodológico na condução da revisão sistemática do material selecionado e analisado” (TURATO, 2005, p.512).

Para Godoy (1995, p.23) uma abordagem qualitativa pode ser realizada a partir de uma pesquisa documental, um estudo de caso ou uma etnografia que apontam diretrizes para uma boa condução da pesquisa bibliográfica, destacando como critérios importantes a escolha dos documentos, as formas de acesso a eles e a condução da análise.

Para delinear o perfil do estudante de graduação na modalidade de Educação a Distância, o chamado aprendiz virtual, antes da pandemia de Covid-19, do ponto de vista da motivação para escolha e realização do curso, foram realizadas buscas por artigos publicados sobre o tema através do Portal Scielo Brasil, Associação Brasileira de Educação à Distância (Abed), repositórios de trabalhos científicos e periódicos disponibilizados por instituições de ensino e no portal do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Educacionais Anísio Teixeira (Inep), dados do Censo do Ensino Superior, além de Anais de Congressos na área de Educação.

Chama atenção que os autores pesquisados neste estudo não abordam o papel da mobilização que é definida através da ideia de desejo e sentimento interno e remete a definição de sentido. O desejo, portanto, é o que impulsiona a mobilização e ao encontro do sentido de aprender (CHARLOT, 2021). Importante fazer um paralelo entre motivação e mobilização do ponto de vista da origem do estímulo desses estudantes, sendo a motivação impulsionada por algum fator externo e a mobilização um desejo interno deste aluno.

A motivação é um impulso, uma força interior ou exterior (intrínseca ou extrínseca), capaz de levar uma pessoa a fazer algo ou tomar uma decisão, ou seja, um impulso no comportamento que é capaz de induzir a realização de uma tarefa, ou alcance de um objetivo desejado (KNAPIK, 2016). Ainda segundo Knapik (2016) a motivação tem relação com os fatores emocionais e sociais além de biológicos que vão direcionar o indivíduo ao desfecho do cumprimento de seus objetivos.

Segundo Zanelli (2004), os conceitos e teorias sobre motivação humana foram surgindo ao longo do tempo e como resultados de estudos de vários teóricos (Maslow, Herzberg, McGregor, entre outros) que estudaram o comportamento humano, na sua maioria analisaram o contexto organizacional. Maslow (1954 apud ZANELLI, 2004) ressalta a existência de uma hierarquia de fatores com base nas necessidades humanas para explicar a motivação do indivíduo em busca de suprir essas necessidades.

Existem diversas teorias que abordam a motivação com diferentes enfoques, porém sempre buscando observar o comportamento do indivíduo analisando de que forma as pessoas se sentem motivadas e quais os mecanismos utilizados neste processo. Na área da psicologia, Maslow (1954 apud ZANELLI, 2004) traz o conceito de motivação relacionando a autorrealização, segurança e necessidades fisiológicas. Para McClelland (1972 apud ZANELLI, 2004) a motivação está relacionada ao desempenho do indivíduo nas organizações na busca incessante do alcance das metas empresariais e da manutenção do estado motivacional de líderes e de seus colaboradores.

Para Mercado (2007), para manter estudantes e tutores motivados e obter sucesso no ensino a distância faz-se necessário um bom planejamento e o desenvolvimento de programas bem elaborados e com material didático adequado, além de uma equipe de tutores bem qualificados que assegure uma interação e mantenha os estudantes comprometidos pois, estando motivados, torna-se mais fácil superar os possíveis obstáculos inerentes a esta modalidade de ensino.

O tema da motivação surge no meio escolar, independente da modalidade de ensino, com papel importante na qualidade do ensino e da aprendizagem, pois, o alcance dos desafios escolares guarda relação direta com a motivação dos estudantes e professores envolvidos no processo, exigindo esforços e estratégias nas habilidades requeridas (GUIMARÃES, 2004).

Entre os teóricos neste tema está Robbins (2005) que diz que a motivação possui direção, intensidade e permanência como propriedades que a regem. A direção irá indicar o foco, a intensidade mostrará se existe satisfação no alcance do objetivo ou se será feito de forma obrigatória e por fim a permanência, além de trazer a motivação como específico, direcionado a um objetivo e não como comportamento generalizado, ou seja, o indivíduo pode apresentar motivação para determinada tarefa e não apresentar para outra.

Para abordar a motivação em relação ao processo de aprendizagem, Leffa (2001) analisou os comportamentos dos alunos em relação ao interesse pelas tarefas, do ponto de vista do esforço, persistência e manifestações, sendo uma das palavras mais usadas no contexto escolar para explicar o sucesso ou, na sua ausência, o insucesso no ensino-aprendizagem.

Um dos pontos determinantes para a manutenção do aluno nos cursos é a realização do feedback por parte dos tutores. Segundo Leffa (2001 apud CUNHA, 2006), entre os desafios da modalidade de ensino a distância está o conceito de “professor presente” onde o aluno se sente acompanhado e têm o retorno de suas contribuições nos chats, fóruns e entrega de atividades no ambiente virtual, evitando o sentimento de vazio por parte do aprendiz.

A cultura de feedback por parte dos tutores também é importante para a redução da evasão escolar e consequentes perdas de recursos das instituições, que podem levar inclusive ao fechamento de cursos. Faz-se necessário desenvolver uma política de combate à evasão escolar e evitar frustrações dos alunos por não atendimento de suas expectativas, falta de habilidade em usar as TIC e falta de tempo para realizar as atividades das disciplinas (BITTENCOURT; MERCADO, 2014).

Uma alternativa apontada por Romão (2009) é a adoção de postura proativa por parte dos tutores para assegurar uma influência positiva e empática com disposição para escutar as expectativas e as dificuldades dos alunos. Cabe ao tutor perceber que o ritmo da realização do curso está reduzindo e os prazos deixando de ser cumpridos e, neste momento, demonstrar atenção e retorno imediato aos alunos.

 

Um pouco da história da Educação a Distância

 

Mundialmente a educação a distância está cada dia mais presente na sociedade, através da criação de cursos nas diversas áreas e diferentes níveis de formação (BERNARDO, 2004). No Brasil, esse aumento é paralelo ao surgimento de instituições que são criadas para atender a demanda de alunos matriculados e de professores que desenvolvem suas atividades, criam cursos, disponibilizam materiais e ministram aulas a distância a partir do desenvolvimento de novas tecnologias e trabalhos científicos sobre o tema (CARMEN; JOÃO, 2007).

O apoio do Governo Federal no incentivo ao crescimento da modalidade de cursos à distância pode ser observado através da criação da Universidade Aberta do Brasil (UAB) permitindo mais acesso para os diversos grupos populacionais (MUGNOL, 2009).

Segundo Mugnol (2009), atualmente, a educação a distância está disseminada no mundo inteiro e em todos os níveis com a utilização de diferentes tecnologias, sendo que nos cursos presenciais de graduação são autorizados a oferecer até 20% (vinte por cento) dos créditos em disciplinas nesta modalidade, através da Portaria n. 4059, dez. 2004 da Lei de Diretrizes e Bases.

Outro destaque é para as empresas que na sua maioria oferecem cursos à distância no desenvolvimento de suas equipes, muitas com universidades corporativas formando equipes, desenvolvendo conhecimentos, habilidades e atitudes em harmonia estratégica com a missão e visão de futuro da instituição (BELLONI, 2002).

No Brasil, semelhante aos demais países, o ensino a distância surgiu inicialmente com cursos por correspondência, evoluindo também para a utilização das mídias como o rádio e televisão e posteriormente, internet, só recentemente surge a UAB (Universidade Aberta do Brasil).

Segundo Maia (2007), apenas em 1923, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro disponibilizou diversos cursos como português, Frances e radiotelegrafia, posteriormente, em 1939 através do Instituto Monitor surge essa modalidade de ensino por correspondência.

Posteriormente outras instituições, fundações privadas e não governamentais começam a adotar a modalidade oferecendo cursos supletivos com o envio de materiais para os alunos e permitindo que pessoas que não tinham acesso às salas de aula pudessem fazer cursos profissionalizantes.

Destacam-se também o Instituto Universal Brasileiro (1941), A Voz da Profecia (1943), SENAC, SESC, Universidade do Ar (1947), Projeto Minerva (1970), Telecurso (1977), entre outras iniciativas responsáveis pela disseminação dos cursos na modalidade de educação a distância no Brasil, e com o avanço da tecnologia e sua aplicação na educação esse processo vem evoluindo a cada dia (BELLONI, 1999).

Segundo Castro (2004), o papel da tecnologia é fundamental quando se trata de educação a distância e a partir da expansão do acesso aos computadores e internet, a procura dos cursos de graduação, passou a crescer em comparação aos cursos presenciais. Junto com a internet, surgem os ambientes interativos, os chats, teleconferências e fóruns de discussão, enriquecendo as possibilidades de acesso à educação sem a necessidade de compartilhamento do mesmo espaço e ao mesmo tempo entre estudantes e professores.

Em relação ao comportamento do professor, com o surgimento da Educação a Distância, ele que até então desempenhava suas atividades na sala de aula presencial, passa por uma mudança significativa quando começa a atuar no ambiente virtual, nas plataformas de aprendizagem, se transformando em mediador da aprendizagem e estabelecendo uma rede de comunicação com recursos da tecnologia da educação (SANTOS, 2009).

Faz-se necessário também uma mudança de atitude do aluno que opta pela modalidade de educação a distância, pois, ele passa a ter mais autonomia na escolha do local e horário para estudar, realizar provas e trabalhos, participar dos fóruns de discussões, sendo necessário também manter-se motivado para dar sequência a seus estudos e cumprir os prazos pré-estabelecidos pelos tutores e buscar aprimorar seus conhecimentos buscando fontes confiáveis para estudos e pesquisas.

 

O estudante de Graduação à Distância – Aprendiz Virtual antes da pandemia de Covid-19

 

O aluno dos cursos na modalidade s distância é o indivíduo de uma nova sociedade com uma forma de aprender que requer acesso as tecnologias de informação (TIC). Sabe-se, porém, que este acesso não é igual para todos e existe a chamada “brecha digital” que define a dificuldade de acesso a essas tecnologias por motivos econômicos, de gêneros, políticos, entre outros, criando o chamado “abismo digital” (COLL; MONEREO, 2010).

Em relação à habilidade na utilização das TIC, Prensky (2001) define os nativos digitais em relação ao que ele chama de imigrantes digitais, comparando a geração que cresceu em torno dos textos impressos e aquela que tem contato com a tecnologia desde a primeira infância, como facilitador no desempenho e adaptação ao formato dos cursos não presenciais.

Segundo Coll e Monereo (2010), o novo educador deve adquirir novas habilidades e adaptar-se às metodologias de ensino saindo do modelo tradicional do ensino presencial para reduzir a “brecha digital” que separa as gerações analógicas e digitais. O professor tem o papel de facilitador da aprendizagem e para mediar a construção do conhecimento precisa da alfabetização digital para aprender a interagir com os estudantes e os recursos tecnológicos na mediação da aprendizagem.

Se, por um lado a modalidade de ensino a distância, permite o acesso aos alunos de forma universal, interiorizando a educação, ao permitir que com o uso da tecnologia o estudante escolha o espaço e tempo para realizar seus cursos, adaptando a sua realidade, existe o contraponto que é a necessidade de o aluno ser determinado, consciente e maduro o suficiente para conduzir seus estudos sem perder a motivação (MERCADO, 2007).

Para Souza, (2012), o estudante na modalidade a distância precisa ter autonomia e saber definir suas prioridades, desenvolver as habilidades de pesquisa e leitura de fontes confiáveis, atender aos prazos estabelecidos pelos tutores e saber que, o estudo não presencial não significa o isolamento do estudante. É necessário também saber trabalhar em grupos, participar dos fóruns, chats, entre outros, é importante também demonstrar capacidade de gerenciamento de tempo e compromisso para evitar uma possível evasão por desmotivação.

 

 

O presente estudo foi realizado antes da pandemia de Covid-19, e teve como objetivo analisar os principais fatores que motivam os estudantes na escolha da graduação na modalidade de Educação a Distância. Os resultados encontrados através de pesquisa bibliográfica demonstram a existência de um consenso entre os autores estudados em relação aos fatores que motivam os estudantes de graduação nesta modalidade, na sua escolha.   

Entre os motivos encontram-se as dificuldades de acesso aos espaços físicos das universidades, principalmente em cidades do interior que não dispõem de faculdades e universidades, em algumas regiões do país, a necessidade de realização dos cursos em paralelo ao desempenho de atividades profissionais, a realização de um segundo curso de graduação por pessoas que fizeram a primeira graduação na modalidade presencial, o desenvolvimento de novas competências para o crescimento profissional, e a realização da graduação em idades mais avançadas por pessoas que não tiveram acesso ao curso superior quando mais jovens, além dos preços mais acessíveis que os cursos presenciais.

A Educação a Distância cumpre seu papel de permitir o acesso ao curso de graduação aquelas pessoas que não têm disponibilidade de realização do curso presencial, por diversos motivos. Existe também a questão financeira que nos cursos presenciais os valores cobrados na rede privada de ensino são elevados e inviáveis para uma camada da população. Entre outras vantagens como, a qualidade dos cursos, os valores menos elevados, existe a possibilidade de o estudante colocar em prática sua autonomia de definir o local e o momento mais adequado para realizar suas atividades do curso, outro fator importante a se levar em consideração é o diploma do curso feito à distância ter o mesmo reconhecimento que os diplomas dos cursos presenciais, fator relevante para o acesso ao mercado de trabalho.

Em relação a autonomia do estudante, chama a atenção a necessidade de ele não perder a motivação para os estudos e, disciplina e planejamento são fatores necessários para uma boa condução dos estudos e com isso evitar a evasão. Quanto aos índices da evasão entre os alunos, os autores citam entre outros motivos o desconhecimento do conteúdo do curso levando ao desinteresse no decorrer do curso, a frustração com a forma de condução do curso por algumas instituições, a ausência de feedback por parte de alguns tutores levando o aluno a sentir-se abandonado e as dificuldades de acesso e utilização das tecnologias de informação e comunicação (TIC). Os resultados dos estudos direcionam para uma necessidade de elaboração de políticas educacionais mais efetivas e voltadas para a educação a distância. A Lei de Diretrizes e Bases propõe perfil adequado do professor e perfil do aluno na educação a distância como requisitos necessários para o sucesso dos cursos na modalidade.

Concluiu-se ainda que curso de graduação na modalidade não presencial exige muita dedicação e compromisso por parte do aluno, da mesma forma que em um curso presencial, sendo que a diferença está na flexibilidade proporcionada no estudo a distância, permitindo mais autonomia do estudante. Sugerem-se novas pesquisas para a identificação das variáveis envolvidas tanto relacionadas a percepção das causas de evasão nos cursos, quanto às medidas adequadas a serem implementadas pelas instituições como treinamento específico aos tutores presenciais e a distância, desenvolvimento de materiais mais atrativos e cultura de feedback contínuo para os alunos sentirem-se permanentemente acompanhados durante os cursos.

Importante atentar para a divulgação dos conteúdos e objetivos dos cursos de forma mais clara para assegurar que o aluno antes da matrícula tenha conhecimento mais preciso em relação ao conteúdo e metodologia do curso, evitando assim frustrações futuras.

Vale ainda salientar que tanto na modalidade de ensino em educação a distância como nos cursos presenciais, a motivação do aluno é fundamental para o bom desempenho no curso. Fatores internos como gostar do curso que escolheu se comprometer em cumprir os requisitos necessários, disciplina e o planejamento para os estudos são importantes e, além disso, questões externas como acesso e habilidade na utilização da tecnologia, existência de acompanhamento por parte dos tutores e demais fatores extrínsecos, atuarão em complementação aos intrínsecos. A postura dos tutores durante as disciplinas também fará a diferença na motivação ou na ausência desta nos alunos.

O estímulo inicial que motiva o aluno a se matricular precisa continuar existindo durante a realização do curso para que este não desista antes da conclusão. Alguns casos de evasão se dão pelo sentimento de abandono por parte dos alunos pela falta de interação com colegas e tutores no decorrer do curso, assim como, pela ausência de momentos presencias em alguns cursos.

A pandemia de Covid-19, declarada em 11 de março de 2020, pela Organização Mundial de Saúde (OMS), alterou o quadro de ensino no mundo e neste contexto faz-se necessária a realização de novas pesquisas que verifiquem o que ocorreu com a Educação a Distância neste período de pandemia, onde as aulas presenciais foram suspensas e as escolas passaram a funcionar de forma remota e comparar com os estudos sobre a modalidade no período anterior a pandemia.

Importante também direcionar os estudos no sentido de identificar os fatores que mobilizam os alunos na escolha e realização dos cursos na modalidade de Educação a Distância e sua Relação com o Saber que, segundo Charlot (2000) consiste na “relação do sujeito com o mundo, com ele mesmo e com os outros” ao invés de estudar apenas fatores relacionados a motivação externa recebida por esses alunos.

[1] Este trabalho foi elaborado inicialmente como TCC do curso de Docência do Ensino Superior em Educação a Distância na Escola Superior Aberta do Brasil (ESAB) em 2019 e revisado para esta publicação

BELLONI, M. L. Educação a Distância. Campinas, SP: Autores Associados, 1999.

BELLONI, M. L. Ensaio sobre a Educação a Distância no Brasil. Educação & Sociedade, ano XXIII, nº 78, abril/2002.

BERNARDO, V. Educação a distância: fundamentos. São Paulo/Escola Paulista de Medicina, 2004. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/232673965_Educacao_a_Distancia_Fundamentos_e_Guia_Metodologico. Acesso em: 10/12/2018.

BITTENCOURT, M. I.; MERCADO, L. P. L. Evasão nos cursos na modalidade de educação a distância: estudo de caso do Curso Piloto de Administração da UFAL/UAB. 2014.

BRASIL. Censo da Educação Superior. MEC/Inep, 2017. Disponível em: www.inep.gov.br. Acesso em: 03/12/2018.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Decreto n. 5.622, de 19 de dezembro de 2005. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/sesu/arquivos/pdf/portarias/dec5.622.pdf. Acesso em: 25/11/2018.

CASTRO, Alda Maria Duarte Araújo. Política de educação à distância: uma estratégia de formação continuada de professores. Natal: EDUFRN, 2004.

CHARLOT, B. Da relação com o saber: elementos para uma teoria. Porto Alegre, Artmed, 2000.

CHARLOT, B. Os Fundamentos Antropológicos de uma Teoria da Relação com o Saber. Revista Internacional Educon, Volume 2, n. 1, e 21021001, ISSN 2675-672, jan./mar.2021.

COLL, C.; MONEREO, C. Psicologia da Educação Virtual: Aprender e ensinar com as tecnologias da informação e da comunicação. Porto Alegre: Artmed, 2010.

CUNHA, A. L. Interação verbal em fóruns de discussão: a língua escrita em atividades colaborativas. 2006. Disponível em: http://www.abed.org.br. Acesso em: 20/11/2018.

FAVERO, R. V. M.; FRANCO, S. R. K. Um estudo sobre a permanência e a evasão na Educação a Distância. Novas tecnologias na educação. CINTED/UFRGS. Volume 4, Nº 2, dez. 2006.

GODOY, A. S. Pesquisa Qualitativa tipos fundamentais. Revista de Admin. Empresas. SP. V.38, n.3, p.20-29, 1995

GUIMARÃES, S. E. R. O Estilo Motivacional do Professor e a Motivação Intrínseca dos Estudantes: Uma Perspectiva da Teoria da Autodeterminação. Psicologia: Reflexão e Crítica, 2004, 17(2), p.143-150.

KNAPIK, J. Gestão de Pessoas e Talentos. Editora Ibpex, 2016.

LAPA, A. B. Introdução a Educação à Distância. Florianópolis. 2008. Disponível em: https://uab.ufsc.br/portugues/files/2012/04/livro-introdu%C3%A7%C3%A3o-a-EAD.pdf. Acesso em: 20/11/2018.

LEFFA, Vilson. “Análise automática da resposta do aluno em ambiente virtual”. In. Revista Brasileira de Linguística Aplicada, v. 1, n. 1, Belo Horizonte, 2001.

MAIA, C.; MATTAR, J. ABC da EaD. A educação a distância hoje. - 1ª Ed. – São Paulo: Pearson, 2007.

McCLELLAND, D. C. A Sociedade Competitiva – realização e progresso social. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1972.

MERCADO, L. P. L. Dificuldades na Educação à Distância online. In: 17° Congresso Internacional ABED de Educação a Distância. Anais eletrônicos. Curitiba, 2007. Disponível em: http://www.abed.org.br/congresso2007/tc/55200761718PM.pdf. Acesso em: 12/11/2018.

MUGNOL, M. A educação a distância no Brasil: conceitos e fundamentos. Rev. Diálogo Educacional. Curitiba, v. 9, n. 27, p. 335-349, maio/ago. 2009.

NISKIER, Arnaldo. Educação a distância: a tecnologia da esperança. São Paulo: Loyola, 1999.

PRENSKY, M. Digital Natives, Digital Immigrants. On the Horizon, MCB University Press, Vol. 9 Nº. 5, October, 2001. Disponível em: https://www.marcprensky.com/writing/Prensky%20-%20Digital%20Natives,%20Digital%20Immigrants%20-%20Part1.pdf. Acesso em: 11/12/2018.

ROBBINS, S. P. Comportamento organizacional. 11ª ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.

ROMÃO, E. S. O estudante da EaD em busca de laços: “tem alguém aí? Aracaju/SE, Junho, 2009. Disponível em: http://www.abed.org.br/congresso2009/CD/trabalhos/2462009174542.pdf. Acesso em: 11/12/2018.

 SANTOS, L. M. A. A inserção de um agente conversacional animado em um ambiente virtual de aprendizagem a partir da teoria da carga cognitiva. Tese de Doutoramento. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2009.

SOUZA, L. B. Educação Superior a Distância: O perfil do ‘‘novo’’ aluno Sanfranciscano. Revista Brasileira de Aprendizagem Aberta e a Distância, Volume 11, 2012.

TURATO, E R. Métodos qualitativos e quantitativos na área da saúde: Definições, diferenças e seus projetos de pesquisa. Revista de Saúde Pública, 39(3): 507-14, 2005.

ZANELLI, J. C.; ANDRADE, J. E. B.; BASTOS, A. V. B. Psicologia, organizações e trabalho no Brasil. Porto Alegre: Ed.: Artmed, 2004.

 

 

Encontrou algo a ajustar?

Ajude-nos a melhorar este registro. Você pode enviar uma correção de metadados, errata ou versão atualizada.