É preciso que a educação esteja ‒ em seu conteúdo, em seus programas e em seus métodos ‒ adaptada ao fim que se persegue: permitir ao homem chegar a ser sujeito, construir-se como pessoa, transformar o mundo, estabelecer com os outros homens relações de reciprocidade, fazer a cultura e a história [...] uma educação que liberte, que não adapte, domestique ou subjugue.
Paulo Freire, 1980
Essa epígrafe nos convida a refletir sobre os planos de ensino, conteúdos, métodos e prática pedagógica dos docentes de História que atuam em classes de Educação de Jovens e Adultos (doravante EJA) e sobre a relevância do trabalho pedagógico voltado para formação de sujeitos conscientes de seu papel na sociedade, capazes de assumir uma postura crítica e atuante dentro do contexto social, político e econômico no qual estiverem inseridos, pois, tanto o professor quanto o aluno precisam ter compreensão de suas relações com o mundo, encarando-o não como uma realidade estagnada, mas sim como uma realidade em constante movimento. Dessa forma, o ensino de História estimula os alunos a refletirem sobre a realidade na qual estão inseridos, aprendendo a identificar limites e possibilidades de mudança.
Tais reflexões nos remetem a uma viagem ao tempo com a finalidade de analisarmos o contexto histórico e as lutas pela configuração de políticas públicas em reconhecimento da educação como direito de sujeitos coletivos. A Educação de Jovens e Adultos, ao longo dos anos, tem sido vista apenas como uma modalidade de ensino com propostas pedagógicas destinadas a jovens e adultos, em sua maioria, trabalhadores do campo e da cidade. Por falta de políticas públicas que contemplassem suas reais necessidades, os sujeitos da EJA ao longo da história foram invisibilizados e tiveram seus direitos negados, impossibilitando-os de conquistar sua cidadania.
Atualmente no banco de dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) tem crescido o número de pesquisas sobre a Educação de Jovens e Adultos que apresentam propostas de formação continuada para professores que atuam ou vão atuar nesta modalidade. Tais pesquisas se debruçam sobre a importância da relação entre teoria e prática, sobre os saberes necessários para o trabalho docente e sobre as metodologias, os recursos didáticos e as estratégias consideradas adequadas para a educação de pessoas jovens, adultas e idosas.
A prática docente na Educação de Jovens e Adultos deve atender as especificidades dos sujeitos. Nesse contexto, o ensino de História assume um papel relevante e como tal deve ser repensado de modo a ressignificar a forma como os conteúdos são apresentados em sala de aula, a dinâmica do ensino e as decisões sobre o que é relevante do ponto de vista dos alunos aprender e como o professor deve ensinar.
Consideramos o ensino de História como uma ferramenta indispensável para formação dos sujeitos, na medida em que pode auxiliar os estudantes na compreensão dos fatos históricos em determinado tempo e espaço, ampliando o seu universo cultural e a concepção de mundo e sociedade. Dessa forma, a História torna-se para os alunos um instrumento de leitura de mundo.
Para Cruz e Souza (2013), o conhecimento produzido no espaço escolar lança mão daquilo que os historiadores se debruçam anos a fio estudando e traduzindo dos conhecimentos humanos ao longo do tempo, pois são os professores, em conjunto com os seus educandos, que se apropriam de uma parcela desse conhecimento acadêmico e reelaboram, dando a eles uma nova roupagem e leitura própria.
A partir desse entendimento, o presente estudo se propõe a fazer uma reflexão acerca do ensino de História a partir da prática pedagógica de professores que atuam na EJA, bem como, analisar as das principais dificuldades enfrentadas pelos mesmos no trabalho desenvolvido junto a jovens, adultos e idosos. Sendo assim, é importante considerar que a proposta para o ensino de História nas turmas da EJA deve ser construída de forma que venha a nortear o fazer pedagógico de acordo com as especificidades dos alunos que compõem essas turmas, no que tange à escolha dos conteúdos contemplados pelos educadores que atuam nesta modalidade. Tendo em vista que esses conteúdos devem ser problematizados a partir da realidade escolar, torna-se necessário contextualizar as informações de acordo com o contexto social dos educandos, reconfigurando o currículo, através do diálogo com as experiências de vida, profissional e cultural dos jovens, adultos e idosos, utilizando uma prática pedagógica que considere a leitura de mundo na perspectiva da educação popular.
Entende-se que a prática docente na Educação de Jovens e Adultos deve atender as especificidades dos sujeitos. Nesse contexto, o ensino de História assume um papel relevante por trazer significados que dão sentidos a vida dos seres humanos. A relação dos professores com os saberes que ensina, depende do entendimento e o conhecimento sobre o assunto. Dessa forma, compreende-se que a práxis pedagógica é uma ação que faz relação intrínseca entre a teoria e a prática, entre a subjetividade e a objetividade, em suma, significa a realização do processo de ensino por meio do uso de diversas estratégias, métodos e bases teóricas. É uma atividade que reflete a postura docente e a cultura organizacional da escola e de seus mantenedores. Assim como, a relevância do professor ser um pesquisador.
Posto que, o ato de pesquisar precisa estar presente no cotidiano de todos(as) professores(as), pois a partir da pesquisa os (as) docentes conseguem definir objetivos, analisar e organizar os conteúdos que serão propostos para uma determinada turma, levando em consideração a realidade dos educandos, tendo em vista que “[...] a prática pedagógica reflexiva tem como característica principal o não rompimento da unidade entre teoria e prática, propiciando um caráter criador à prática social que define e orienta a ação pedagógica” (MAIA; SCHEIBEL, 2016, p. 12).
Considerando o conhecimento sobre prática pedagógica, ensino de História e refletindo sobre as ações metodológicas, o papel do educador e a qualidade do ensino na EJA, entendemos que a prática docente depende do conhecimento que o professor mobiliza e constrói durante seu trabalho cotidiano. Portanto, evidencia-se a importância de pensarmos sobre a situação da Educação de Jovens e Adultos no cenário brasileiro atual e a necessidade de uma formação inicial e continuada que proporcione aos educadores conhecimentos e novos saberes que busquem ressignificar sua prática pedagógica.
Nessa perspectiva, o ato de ensinar exige do professor compromisso político e competência técnica para enfrentar os diversos desafios encontrados em sua profissão, portanto, o docente precisa ter domínio sobre seu campo de conhecimento, respaldado por bases teóricas que lhe possibilitem estabelecer um diálogo produtivo com seus pares de profissão, bem como com os estudantes que estão sob sua responsabilidade, uma vez que, o processo de ensino e aprendizagem exige a troca de experiências e o compartilhamento de ideias para que o educando possa ser construtor de aprendizagem a partir de sua própria experiência.
Tavares (2018) enfatiza que o ensino de História pode possibilitar ao aluno a construção da leitura de mundo, contribuindo para uma visão crítica, reflexiva e transformadora. Para isso, é necessário repensar a relação entre conhecimento, alunos e formação dos professores, pautada em um ensino que valorize a educação sensível e criativa, refletindo sobre as ações, atitudes e ideias dos alunos, posto que a Educação de Jovens e Adultos é uma modalidade de ensino que contempla uma diversidade de contextos que implica no fazer pedagógico, na postura e no ato político do educador, bem como na especificidade de seus sujeitos que são diversos e diferentes.
Para Capucho (2012), a diversidade de espaços, contextos e sujeitos exige o desenvolvimento de práticas pedagógicas múltiplas, o que leva à indagação dos (das) profissionais que atuam nesse segmento educacional. Sendo assim, a EJA requer dos educadores um olhar diferenciado para atender às reais necessidades de aprendizagem dos diferentes sujeitos que estão presentes em sala de aula, além da formulação de propostas políticas e pedagógicas ajustáveis aos diversos contextos nos quais se efetiva a prática de domínio de temas emergentes e pertinentes às realidades e necessidades dos educandos, bem como a seleção e a organização dos conteúdos de cada área de conhecimento e a metodologia adequada para cada faixa etária que a EJA engloba.
Haja vista os aspectos acima apresentados, a escola deve organizar espaços e tempos para favorecer a aprendizagem tanto dos educandos quanto dos docentes, visto que, ensinar exige dedicação, recursos, fontes de informação, saberes múltiplos e capacidade para mobilizar e negociar redes de significados. Pensar na prática de ensino da Educação de Jovens e Adultos na produção do conhecimento é considerar não só a formação do professor, mas também a experiência e os saberes que são construídos a partir de suas vivências, como aponta Monteiro (apud TAVARES):
O saber escolar é heterogêneo e plural por ser formado pelos saberes dos sujeitos envolvidos, professores e alunos, saber da experiência. Enfatiza que o saber escolar tem como referência o saber da academia, mas com configurações próprias, sendo, então, um saber diferenciado e com certa autonomia curriculares. (MONTEIRO APUD TAVARES, 2018, P. 113).
O estabelecimento da relação entre teoria e prática depende do conhecimento e da criticidade dos sujeitos e para que isso aconteça é necessário um investimento em pesquisa, leitura constante, formação contínua para os docentes, bem como o reconhecimento dos saberes trazidos pelos estudantes, uma vez que a prática sem reflexão não tem eficácia para o ensino e a aprendizagem.
O ato de ensinar exige do professor uma consciência crítica para lidar com os diferentes conhecimentos e conteúdos, principalmente quando se trata do ensino de História. De acordo com Freire (1996), ensinar exige respeito aos saberes dos alunos. O autor reforça a ideia de que os saberes ensinados devem ter relação com a vida dos discentes, fazendo com que tenham uma visão crítica da sociedade em que vivem. Para isso, é preciso que a escola considere os saberes que são socialmente construídos por eles na prática comunitária e problematize tais saberes com o ensino dos conteúdos programáticos, promovendo uma discussão sistemática com problemas do cotidiano.
Segundo Libâneo (2013), a escolha dos conteúdos deve levar em conta não só o contexto histórico, mas também a cultura dos educandos. O que se espera do sistema educativo, portanto, é um investimento contínuo em pesquisas que ofereçam suporte para práticas docentes, trazendo contribuições significativas para o processo de ensino e aprendizagem. Desse modo, ao debruçar-me sobre a realidade do ensino de História na Educação de Jovens e Adultos no meu cotidiano profissional deparei-me com as seguintes indagações: Até que ponto o ensino de História na EJA tem possibilitado a formação de sujeitos críticos? Quais as dificuldades encontradas pelos professores de História que atuam na EJA?
Considerando-se que a Educação de Jovens e Adultos exige propostas pedagógicas que busquem a valorização dos saberes, da cultura e das vivências dos sujeitos que têm conhecimento e experiências acumuladas e que devem ser respeitados em sua peculiaridade, cabe ao professor oferecer condições para que jovens, adultos e idosos, com sua diversidade histórica, socioeconômica, étnica, de crença e de gênero, tenham oportunidade de receber uma formação que leve em conta seus interesses e condições de vida.
A educação de jovens e adultos requer flexibilidade no currículo no sentido de atender às demandas dos estudantes. Portanto, cabe à escola elaborar propostas pedagógicas que considerem as diferentes necessidades dos educandos no processo de aprendizagem, desenvolvendo atividades diversificadas e apropriadas à realidade dos sujeitos envolvidos.
De modo geral, a metodologia utilizada pelo professor reflete o sentido e o significado que este atribuiu aos conteúdos inseridos em sua prática pedagógica. Assim, a metodologia utilizada nas aulas de História para as turmas de Educação de Jovens e Adultos deve buscar aproximar os conteúdos programáticos da realidade dos educandos, facilitando a compreensão do seu contexto histórico, tornando a aprendizagem mais significativa.
Trabalhar na Educação de Jovens e Adultos de modo contextualizado e criativo torna-se um dos maiores desafios assumidos pelos docentes em sua prática pedagógica. Nesse sentido, uma das dificuldades dos professores que atuam na EJA é saber diferenciar o ensino regular da educação destinada a pessoas jovens, adultas e idosas, uma vez que a EJA exige um ensino adequado para sua realidade, pois os estudantes não são mais crianças e buscam um ensino diferenciado que esteja de acordo com suas especificidades.
De acordo com Oliveira, um dos principais problemas na Educação de Jovens e Adultos é a dificuldade de compreensão por parte do docente de que o trabalho nessa modalidade de ensino exige uma prática pedagógica diferente daquela utilizada no ensino regular. Dessa forma, ainda é muito recorrente encontrar professores na EJA que, ao organizarem os conteúdos,
[...] a serem trabalhados e os modos privilegiados de abordagem dos mesmos seguem as propostas desenvolvidas para as crianças do ensino regular. Os problemas com a linguagem utilizada pelo professorado e com a infantilização de pessoas que, se não puderam ir à escola, tiveram e têm uma vida rica em aprendizagens que mereceriam maior atenção, são muitos. (OLIVEIRA, 2007, p. 88).
As dificuldades para distinguir os métodos de ensino da EJA da metodologia utilizada no ensino regular, bem como a dificuldade de fazer a transposição didática dos conteúdos e utilizar uma linguagem adequada para não infantilizar os alunos da modalidade em questão, configuram-se como um dos dilemas que as escolas brasileiras enfrentam. Por conta disso, os profissionais precisam de saberes necessários para atuar nessa modalidade de ensino, reforçando a importância da formação continuada para o aprimoramento da prática docente. Diante da experiência vivenciada no contexto escolar enquanto docente evidencia-se que o educador tem necessidade de adotar práticas educativas contextualizadas que promovam uma educação emancipadora, sobretudo quando se refere à modalidade de ensino da EJA.
Duarte, ao refletir acerca das contribuições de Paulo Freire para a educação, destaca que este,
[...] construiu novos conceitos no âmbito do ensino, de modo a desenvolver métodos que propiciassem uma educação crítica e questionadora da realidade. Freire concebe a educação como reflexão sobre a realidade existencial, sendo necessário o agir nas realidades vividas no dia a dia de cada indivíduo. Exatamente nessa situação de experiências do humano. (DUARTE 2012, p. 24).
A proposta pedagógica para Educação de Jovens e Adultos deve considerar a diversidade dos estudantes, os quais possuem ritmos próprios de aprendizagem. Dessa forma, torna-se imprescindível, a seleção adequada dos conteúdos, das atividades, dos procedimentos metodológicos e recursos bem como a incorporação de concepções que visem à problematização e sistematização de conteúdos em sala de aula, criando um ambiente propicio à dialogicidade e favorável à aprendizagem.
Na busca por conhecimentos que possibilitem aprofundar a compreensão sobre a problemática anteriormente apresentada, elegemos como objetivo geral: analisar a prática de ensino de História para Educação de Jovens e Adultos em três escolas do município de Milagres/Bahia. Este objetivo busca descrever o processo vivenciado pelos professores de escolas públicas da EJA no contexto atual.
Para aprofundar esse estudo, propomos como objetivos específicos: a) Refletir sobre o ensino de História na prática pedagógica dos professores da EJA; b) Investigar as dificuldades do professor da EJA no trabalho com conteúdos do ensino de História. Esta investigação é bastante significativa, pois proporciona um estudo sobre currículo e a organização dos conteúdos, formação de professores, o ensino de História na educação de Jovens e adultos, da necessidade da formação profissional com a finalidade de propor para escola um conjunto de proposições para melhorar o trabalho dos professores que atuam nessa modalidade de ensino.
No contexto atual da Educação de Jovens e Adultos, é necessário repensar sobre os entraves que interferem na aprendizagem dos educandos no ambiente principalmente o ensino de História e os conteúdos, os quais exige metodologia especifica para jovens e adultos, que considere o contexto social, político, econômico da realidade onde os educandos estão inseridos. Este trabalho está organizado por uma introdução onde destacamos o problema, objetivo geral e os específicos. Além disto, colocamos os procedimentos metodológicos com a abordagem utilizada, as estratégias, o sujeito e local de pesquisa, os instrumentos, as etapas e análise de alguns dos dados com as informações, e as considerações finais.
A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DE HISTÓRIA NA FORMAÇÃO DO ALUNO DA EJA
Refletir sobre um ensino de História crítico humanizado comprometido com a formação do sujeito implica pensar na relevância da fundamentação teórica e prática do professor para apropriação e mobilização dos saberes em sala de aula. Conforme aponta Nikitiuk (2012), o ensino de História oferece um horizonte de possibilidades para apropriação de saberes que favoreçam a construção do conhecimento e a interpretação dos fatos. Cabe ao professor sistematizar tal saber para facilitar a compreensão do contexto de modo que favoreça a aprendizagem do aluno. Para isso, o professor precisa possibilitar a problematização e sistematização do conhecimento em sala de aula, motivando e incentivando o aluno a pensar, refletir e fazer questionamentos sobre a produção do conhecimento. Vale salientar que a responsabilidade do professor na mediação do conhecimento é uma postura desafiadora, pois como advoga Freire (1996) o professor no exercício da docência, além de agir com liberdade, deve também respeitar a liberdade do aluno e incentivar a sua autonomia.
O ensino de História possibilita a construção do saber histórico através da relação interativa entre professor e aluno, desenvolvendo e transformando ações práticas, conscientes de seu papel enquanto professor pesquisador e produtor de conhecimento e não apenas um mero executor de saberes já produzido. Neste sentido, Freire (1996, p. 49) também faz uma consideração importante ao afirmar: “Me movo como educador porque primeiro me movo como gente”. Nessa perspectiva, o professor deve ser um profissional que pode desenvolver seu ofício baseado em ações que tenham como base a preocupação com seu comprometimento social e a responsabilidade diante do saber fazer, ao mesmo tempo em que tem consciência da condição que lhe é dada para humanizar o processo educacional, visando contribuir para a construção da cidadania. Sendo assim, torna-se imprescindível pensar sobre a importância do papel do professor na mediação dos conhecimentos que são mobilizados em sala de aula, pois, como aponta Pinsky e Pinsky (2016), a tarefa do professor é propiciar ao aluno uma aprendizagem prazerosa e consequente.
Adequar a prática docente à necessidade de ensino para atender às demandas da sociedade no contexto atual que vivemos exige uma postura política, adaptação e percepção de que estamos sempre em processo de construção. Conforme adverte Freire (1996, p. 70), “[...] o sujeito que se abre ao mundo e aos outros, inaugura com seu gesto a relação dialógica em que se confirma como inquietação e curiosidade, como inconclusão em permanente movimento na História”. Daí a importância de o professor refletir sobre sua prática docente e de que forma contribuem para aprendizagem do aluno, pois, como defende Nikitiuk:
As práticas docentes para um novo currículo de História podem explorar as possibilidades renovadoras da histografia e da reflexão da didática. Pensamos então em uma aprendizagem como algo ligado à história de vida – e do lugar – que possibilita situá-los em um contexto e a uma história. Tal aprendizagem histórica pode fortalecer a tendência para o ensino que se preocupa com a formação do aluno – no sentido de amplo e pedagógico, capaz de promover a cidadania para agir e transformar, não apenas para atuar e reproduzir. (NIKITIUK (2012, P. 99)
Sendo assim, o professor é visto como responsável por favorecer a aprendizagem e o desenvolvimento intelectual do aluno e a sala de aula é concebida como espaço de construção do conhecimento e de formação social, portanto, espera-se que a prática docente favoreça uma aprendizagem significativa. Para tanto, é necessário que o ensino de História seja valorizado e que os professores dessa disciplina se conscientizem de sua responsabilidade social em auxiliar os alunos a compreenderem o mundo em que vivem. Afinal, conforme afirmam Pinsky e Pinsky (2016, p. 19-22), “[...] mais do que o livro, o professor precisa ter conteúdo. Cultura. [...] uma vez que, a “História é referência. É preciso, portanto, que seja bem ensinada”.
O professor precisa ter conhecimento sólido para desempenhar seu papel na sala de aula, ciente de que é preciso estar sempre atualizando seus conhecimentos, buscando “[...] conhecer novas linhas de pensamentos e dialogar com os colegas estratégias para melhor operacionalizar conteúdos em sala de aula” (PINSKY & PINSKY 2016, p. 22). Desse modo, o docente deve repensar sua prática para desenvolver o trabalho em sala de aula, atuando como agente de transformação, desafiando e estimulando seus alunos na busca constante de conhecimentos que tenham sentido e significado para sua vida prática. Sendo assim, o professor de História que atua na Educação de Jovens e Adultos, ao proporcionar diferentes oportunidades de discussões e reflexões acerca de conteúdos históricos e temas sociais, está contribuindo para a aprendizagem e a formação de alunos que vivem em tempos de grandes mudanças e inovações.
No processo de ensino e aprendizagem é relevante considerar a importância da prática docente como atributo que influencia na produção de conhecimento pelo aluno. Como argumenta Freire (1996, p. 57) “[...] ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua produção ou a sua construção”. O professor, enquanto mediador do conhecimento, deve promover o diálogo, oportunizando indagações, movendo a curiosidade dos alunos e construindo conhecimento, favorecendo, assim, a aprendizagem. Nesse contexto, o professor de História deve ter um olhar holístico, crítico e sensível para o processo de construção do conhecimento histórico. Conforme aponta Nikitiuk (2012, p. 24) “[...] ensinar história é aprender com o plural e o singular”. A autora faz reflexões que vão além da função do aprender e do ensinar diante de uma diversidade de saberes e contextos nos quais os sujeitos estão inseridos.
O professor de História, com seu jeito de ser, pensar, agir e ensinar, deve reinventar e transformar os diversos saberes em conhecimentos ensináveis, fazendo com que o aluno não apenas compreenda, mas assimile, aprenda, reflita sobre esses ensinamentos de variadas formas, numa reinvenção permanente (FONSECA, 2003). Portanto, o professor tem um papel fundamental na construção e (re) construção de saberes que são inerentes à formação do aluno, porém, é necessário adaptar-se às diferentes linguagens e, através de estratégias diversificadas, desenvolver práticas educativas que propiciem o aprendizado dos alunos. Além disso, deve estar ciente que é um eterno aprendiz e que é preciso renovar seu fazer docente constantemente. Nesse contexto, o professor de História que atua em turmas de EJA precisa perceber-se como um ser político, autônomo e comprometido com seu papel em sala de aula, considerando-se que ensinar exige uma relação intrínseca entre teoria e prática, pesquisa, apropriações de saberes e reelaboração de conhecimentos.
Compreende-se que o ensino de História deve contribuir para formação de um ser humano reflexivo, um leitor crítico que compreenda sua relação com o mundo em que vive. Segundo os PCNs (1998), a educação deve estar voltada para a formação ampla do sujeito visando seu desenvolvimento e por consequência da sociedade. É através da educação que as pessoas aprendem, renovam e reconstroem os saberes que são inerentes para sua vida prática. Esses aspectos exigem que o professor se atualize e se adeque as novas formas de ensinar, posto que, o conhecimento transmitido em sala de aula deve ser atraente e convidativo, adaptado a realidade dos educandos.
O professor ao trabalhar com diferentes linguagens no ensino de História, logo reconhece não só a estreita relação entre saberes escolares e a vida social do aluno, mas também a necessidade de re (construir) seu conceito de ensino e aprendizagem (FONSECA, 2003). Conclui-se que o professor assume um papel primordial no processo de ensino e aprendizagem dos conteúdos de História, pois tem a possibilidade de apresentar diversas leituras acerca dos acontecimentos que marcaram a história.
A história tem um papel central na formação da consciência histórica dos indivíduos, facilitando na construção de identidades, elucidação do vivido, intervenção social e nas práxis individual e coletiva como advoga (Fonseca,2003). Haja visto que ensinar exige uma postura política, uma vez que exige de nós, professores, posicionamento, criticidade e desejo para intervir na aprendizagem e desenvolvimento da autonomia de nossos estudantes. Essa autonomia consiste na liberdade de escolha e reflexão no que diz respeito aos conteúdos a serem trabalhados no ensino de História. Nesta perspectiva, faz-se necessário ressignificar o papel da escola, revendo seu sentido e o espaço que ocupa atualmente na vida dos alunos. Essas reflexões nos induzem a pensar nas políticas de formação de professores e no papel social da escola em promover saberes escolares e não escolares visando a formação acadêmica desses alunos.
Para tanto, é preciso promover a formação de professores (as) reflexivos (as), que façam da sala de aula um espaço de investigação, pesquisa, bem como de desenvolvimento para seus alunos, e dele mesmo, onde a construção do conhecimento ocorra de forma dialógica e participativa, fortalecendo a prática do ensino e aprendizagem. Nesse sentido, podemos recorrer ao escrito de Freire que trata de reflexões sobre a importância e a boniteza da função do professor autônomo, reflexivo, consciente e crítico, quando nos afirma que:
(...) sou professor a favor da docência contra o despudor. A favor da liberdade contra o autoritarismo, da autoridade contra a licenciosidade, da democracia contra a ditadura…sou professor a favor da luta constante contra qualquer forma de discriminação, contra dominação econômica dos indivíduos ou das classes sociais.... Sou a favor da esperança que me anima apesar de tudo.... Sou professor a favor da boniteza de minha própria prática, boniteza que dela some se não cuido do saber que devo ensinar, se não brigo por esse saber, se não luto pelas condições materiais necessárias ... (FREIRE ,1996. P. 63-64).
A prática docente e a formação do (a) professor (a) de História são categorias que exigem um exercício de reflexão intensa e ao mesmo tempo desafiadora, pois é necessário pensar na complexidade do universo docente que nos instiga a ir além do que se sabe e do que se vivencia. Cabe a escola abrir espaços para proporcionar aos professores momentos de reflexão sobre a prática pedagógica. Assim como cabe ao professor acreditar no poder transformador da Educação e numa busca constante para aprimorar seu saber docente e sua prática pedagógica.” Uma escola reflexiva é uma comunidade de aprendizagem, e um local onde se produz conhecimento sobre educação” (Alarcão, 2011, p.41). A escola é uma instituição que a sociedade construiu para transmitir conhecimentos sistematizados aos indivíduos.
Entretanto, vale ressaltar que a educação é uma prática milenar e a escola é uma instituição secular, contudo, pensar a educação, nos faz pensar sobre a escola. No Brasil por muito tempo a escola era para poucos. Tal situação começou a mudar no século XX, após a Proclamação da República, ainda assim, por muito tempo a escola atendia apenas uma pequena parcela da população. A partir dos anos 20 e 30 com o projeto de modernidade, um dos fatores determinantes para o modelo de escola e educação que possibilitou a emergência dos saberes que definia os currículos escolares, a escolha de conteúdos, a forma de educar, a tomada de decisões e a sistematização dos conteúdos, principalmente de História. (FELDMANN, 2009). Sendo assim, a educação e a função social da escola, são conceitos que se modificam ao longo do tempo, perpassando por descompassos entre as determinações legais e a oferta escolar.
A constituição de 1824, por exemplo, previa, a educação gratuita para todos os cidadãos, mas não havia escolas para todos, muito menos gratuitas. Além disso, homens e mulheres negros (as), e pobres não eram considerados cidadãos.
Pensar na formação do professor no contexto político atual, torna-se relevante, especialmente no campo da História que exige aportes teóricos para mobilização dos conhecimentos históricos. Para tanto, é crucial refletir sobre a importância do ensino de História para formação da consciência crítica dos estudantes e do papel do professor de História como mediador desse processo de aprendizagem, fazendo uso de diferentes estratégias e linguagens para construção do conhecimento propicio para a formação dos sujeitos. Logo, entendendo que “as linguagens são formas e expressões de lutas, de experiências históricas. É um processo de re (construção) que requer um trabalho permanente de reflexão sobre o sentido do trabalho do professor e o papel do ensino de História na sociedade em que vive.” (FONSECA, 2009).
No contexto da sociedade contemporânea, surgem novas exigências que são acrescentadas ao trabalho do professor como se esse profissional resolvesse individualmente as demandas que são diversas e complexas, uma vez que, exige ações coletivas que apontem caminhos para enfrentamento de tais exigências. A prática reflexiva, enquanto prática social, só terá êxito se for realizada de forma coletiva, o que leva a necessidade de transformar as escolas em comunidades de aprendizagem nas quais os professores se apoiem e se estimulem mutuamente (PIMENTA,2012). Tal compromisso revela um grande valor estratégico para criar condições que permitam mudança tanto institucional quanto social. Muito se fala na importância do papel social do professor de História na formação do aluno, entretanto é preciso pensar nas condições de trabalho desse profissional em seu ambiente de ensino, na precariedade das políticas públicas, além disso, na conjuntura de fatores que permeiam a sociedade atual entrelaçada por crise política, valores e atitudes, e de incertezas.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Os procedimentos metodológicos da pesquisa enquadram-se em uma abordagem qualitativa, na busca de significados condizentes com a ótica dos pesquisados sobre uma realidade educacional em que estão inseridos. Minayo (2013, p. 22), explica que a “pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que correspondem a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos a operacionalização de variáveis”. [...] Abordagem qualitativa aprofunda-se no mundo dos significados das ações e relações humanas, um lado não perceptível e não captável em equações médias e estatísticas. Essa abordagem tem como fonte direta de dados o local de estudo, o que possibilita compreender o contexto, entender as ações que ali ocorrem e as circunstâncias nas quais são produzidas, conforme aponta Bogdan e Biklen (1994).
Segundo Silveira e Córdova (2009), a pesquisa de abordagem qualitativa não se preocupa com número, mas, sim, em aprofundar na investigação do objeto em estudo, visando a compreensão do contexto social, utilizando métodos que buscam explicar o porquê das coisas. Esta abordagem se preocupa apenas com aspectos da realidade que não podem se quantificados, centrando-se na compreensão e na dinâmica das relações sociais. (GERHARDT; SILVEIRA 2009)
Considerando-se que a definição do processo metodológico de uma pesquisa não é uma tarefa simples, uma vez que impõe ao pesquisador que reflita sobre suas escolhas quanto à natureza, à abordagem, aos objetivos, assim como sobre os procedimentos metodológicos e técnicos utilizados no processo de investigação, compete ao mesmo elaborar um plano de pesquisa que atenda a seus interesses, considerando o objetivo da pesquisa e o problema a ser pesquisado, escolhendo a abordagem mais adequada, respeitando os pressupostos de procedimentos de coleta e análise de dados. Assim, a metodologia é uma estratégia que busca estudar, compreender e avaliar os vários instrumentos disponíveis para a efetivação de uma pesquisa acadêmica a partir de uma problemática que pretende fornecer respostas e/ou indicar caminhos para os desafios apontados pelo campo empírico. Portanto, a metodologia conduz o caminho a ser percorrido pelo pesquisador e a prática investigativa utilizada na realidade pesquisada (MINAYO, 2001).
Em relação à abordagem adotada nesta investigação, trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa que visa interpretar os fatos considerando o contexto histórico e social dos participantes, buscando respostas acerca do objeto de estudo em consonância com os objetivos, correlacionando-os com os estudos teóricos e as reflexões oriundas do campo empírico
Esse tipo de pesquisa aplica-se ao estudo da História, das relações, das representações, das crenças, das percepções e das opiniões, produto das interpretações que os seres humanos fazem de como vivem, constroem seus artefatos e a si mesmos, sentem e pensam. E, por se tratar de um estudo que busca tomadas de decisões coletivas como possibilidades de produção de novos significados e possíveis mudanças no contexto escolar, essa investigação pode ser considerada uma pesquisa colaborativa.
Ao ressaltar a relevância e pertinência da pesquisa colaborativa no ambiente escolar, Gasparotto e Menegassi (2016) afirmam que a pesquisa colaborativa apresenta resultados significativos no tocante à formação continuada de professores e ao processo de ensino-aprendizagem, visando à intersecção entre academia e escola no sentido de promover conhecimento e autoavaliação de novas práticas por meio da ação e da reflexão. Sendo assim, a pesquisa colaborativa enquanto instrumentalização do processo de investigação é uma ação que permite a inserção do pesquisador nos lócus da pesquisa não apenas como um mero observador ou para falar daquilo que está ou não adequado, mas como alguém que na coletividade se propõe a refletir, discutir a (re) construir ações através de uma produção coletiva para intervir e superar as dificuldades encontradas no espaço escolar
Na perspectiva de uma pesquisa colaborativa, a coprodução de saberes entre
professores, estudantes e o pesquisador visa a construção de conhecimentos que contribuam para reflexão da atuação docente e para a busca por possíveis mudanças nas práticas de ensino. Para a realização deste estudo, utilizou-se como instrumentos de coleta e produção de dados a aplicação de um questionário com perguntas semiestruturadas para quinze estudantes, cinco professores e um coordenador, sendo que os últimos participaram de cinco rodas de conversa, técnica que abre espaço para que os sujeitos envolvidos no processo da pesquisa estabeleçam o diálogo e interações no contexto escolar, ampliando suas percepções sobre o outro.
As rodas de conversas foram organizadas por roteiros que orientavam as discussões referentes a questões empíricas, embasadas por referenciais teóricos relacionados a temática da Formação de professores, ensino de História e Educação de Jovens e Adultos.
A pesquisa foi realizada em três escolas da rede pública de Milagres - Bahia, uma cidade que se encontra na região semiárida do centro sul baiano, no vale do Juguriçá. O município é composto por uma estimativa de onze mil habitantes (IBGE, 2010). O município tem três escolas que oferecem a modalidade EJA, contendo um total de vinte três professores e três coordenadores, e como qualquer outro município brasileiro apresenta problemas sociais e educacionais, agravados por uma política de educação pública desprovida de projetos que contemplem a inclusão e o respeito à diversidade
ANÁLISE E DISCUSSÕES DOS RESULTADOS
Para efeito desse trabalho serão apresentadas algumas reflexões a partir das narrativas que emergiram das rodas de conversa com os professores sujeitos da investigação. Durante as rodas de conversa com os professores refletimos acerca da realidade da Educação de Jovens e Adultos a partir das nossas experiências vivenciadas no âmbito escolar. Foram relatados os desafios enfrentados em sala de sala de aula decorrentes das experiências do ensino de História na EJA. Ao dialogarmos sobre a educação e o lugar da EJA; o papel do professor nesta modalidade de ensino e, quais aspectos da prática docente contribuem para aprendizagem efetiva dos alunos, os professores argumentaram que além do domínio de conteúdo a criatividade e o uso da metodologia adequada favorece a relação professor aluno. Durante as rodas de conversa ficou explícito que os professores têm consciência do seu papel na formação do educando, e quanto a experiência e a criatividade do professor podem despertar o interesse e do aluno. A percepção das professoras a respeito da prática pedagógica e dos fatores que alimentam a aprendizagem tanto do professor quanto do aluno está ligada à um conjunto de saberes. Tais saberes docentes são variados e heterogêneos e se resumem em um conjunto de conhecimentos unificados. Para Tardif,
Os saberes profissionais também são temporais no sentido de que os primeiros anos de prática profissional são decisivos na aquisição do sentimento de competência e no estabelecimento das rotinas de trabalho, ou seja, na estruturação da prática profissional. Ainda hoje, as maiorias dos professores aprendem a trabalhar na prática, às apalpadelas, por tentativa e erro. [...] essa aprendizagem, frequentemente difícil é ligada àquilo que denominamos sobrevivência profissional, quando o professor deve dar provas de sua capacidade, ocasiona a chamada edificação de um saber experiencial, que se transforma muito cedo em certezas profissionais, em truques do ofício, em rotinas, em modelos de gestão da classe e de transmissão da matéria. (TARDIF 2000, P. 14)
O professor é constituído por conhecimentos adquiridos durante sua trajetória acadêmica e profissional, procurando colocar em prática tais conhecimentos relativos a uma disciplina que ministra, apropriando-se de conteúdos alusivos à sua área de formação, buscando apoiar-se em certos saberes teóricos, pedagógicos e curriculares, apostando em bons resultados. Aprender e ensinar têm sido um dos maiores desafios para os professores que atuam na EJA, tendo em vista que a prática docente do profissional enquanto sujeito mediador e construtor do conhecimento exige praticidade, consciência política e reflexão crítica sobre como, para que, porque e o que ensinar na EJA.
Percebe-se que os professores estão cientes de que não é possível renovar os conteúdos, a metodologia e a didática sem os meios necessários. Essas respostas nos dão indícios da consciência, do desejo e do interesse que eles têm pela oportunidade para aperfeiçoar seus conhecimentos e suas práticas como elementos eficazes no desempenho de suas práxis docente, tendo em vista que o trabalho docente é amplo e envolve diversas estratégias. Assim, conhecer o aluno, ter materiais didáticos adequados e refletir sobre sua autoformação são subsídios primordiais para obtenção de melhores resultados e melhoria da qualidade de ensino. Dessa forma, torna-se indispensável a busca incessante por saberes necessários à prática educativa e pela pesquisa como ferramenta imprescindível ao processo de ensino e aprendizagem, bem como a consciência do inacabamento, da busca do ser mais, da obrigação de refletir sobre o eu, o outro, o mundo e o contexto social no qual os sujeitos estão inseridos. Nesse sentido, Freire nos convida a seguinte reflexão:
Enquanto ensino continuo buscando, procurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade. (FREIRE 2002, p. 32)
A pesquisa é uma ferramenta para o professor descobrir novas maneiras de planejar, ensinar, organizar o conhecimento, avaliar e se relacionar com o aluno. Cabe ao professor assumir sua responsabilidade de socializar o conhecimento acadêmico fazendo adequação do mesmo à realidade do aluno, tendo em vista que tal postura é uma das melhores estratégias para atualizar o seu conhecimento e dos estudantes. Nesse caminhar exige-se diálogo, participação coletiva, momentos para partilha das ideias e socialização de conhecimento, pois diante do cenário atual da educação, principalmente em relação à precariedade das políticas públicas voltadas para a Educação de Jovens e Adultos, precisamos pensar nas possiblidades e também nos entraves que interferem na qualidade do ensino, entre outros aspectos que nos inquietam em relação às exigências para ensinar no contexto atual que vivemos, corroborando com o pensamento de Libâneo ao levantar os seguintes questionamentos:
Como ajudar os professores a se apropriarem da produção de pesquisa sobre educação e ensino? O que significa “qualidade de ensino” numa sociedade que caibam todos? Como potencializar a competência cognitiva e profissional dos professores? [...] como introduzir mudanças nas práticas escolares, partindo da reflexão na ação? Que ingredientes do processo de ensino e aprendizagem (e que integram, também, as práticas de formação continuada em serviço) levam a promover uma aprendizagem que modifica o sujeito e o torna construtor de sua própria aprendizagem? (LIBÂNEO (2013, P. 12)
Tais questionamentos nos direcionam a uma análise intensa e minuciosa dos mecanismos que estão ao alcance dos professores, servindo como ponto de partida para pensar na escola como um espaço de formação, aprendizagem e de intercâmbios de experiências e práticas docentes, possibilitando a busca de novas estratégias ou alternativas coerentes com a realidade da Educação de Jovens e Adultos.
Ao discutirmos sobre as novas exigências de formação de professores frente ao cenário contemporâneo e à necessidade de refletirmos sobre o ensino de História na turma da EJA, abordamos as possibilidades e dificuldades para ensinar e aprender História, considerando a forma como nós aprendemos durante o nosso processo de formação, mesmo sabendo que a História tem um significado relevante para formação do sujeito. Dialogando a respeito dos saberes necessários à prática educativa, discutindo sobre a necessidade de inserir tais saberes defendido na obra Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire (2011) em nosso cotidiano profissional, ressaltamos a importância do diálogo, da pesquisa do comprometimento com o ensino e aprendizagem, enfatizando a consciência do inacabamento, da busca do ser mais, refletindo sobre o eu, o outro e o mundo, e consideramos que o professor precisa se permitir ser pesquisador, uma vez que, a sociedade perpassa por mudanças constantes exigindo do professor conhecimento e adequação de conteúdos de acordo com o contexto social vigente.
Em relação a importância do Ensino de História na formação do aluno da Educação de Jovens e Adultos, os professores e ao coordenador relataram conforme estão apresentados no quadro abaixo
QUADRO 01: Percepção dos educadores sobre a importância do ensino de História na formação do aluno da EJA
PROFESSORES |
COORDENADOR |
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Fonte: Material produzido pela pesquisadora, 2020.
Os colaboradores concebem a importância da disciplina de História na formação da identidade e da consciência crítica dos alunos e entendem que o ensino de História permite que os alunos se percebam como sujeitos históricos, embora nas discussões e debates sobre o ensinar e aprender história e como dialogar na sala de aula em turma de EJA tenham sinalizado suas dificuldades e desafios para ensinar História.
Espera-se, que no ensino de História o professor como mediador do conhecimento, através do uso de recursos didáticos em sala de aula, explore os conhecimentos prévios dos alunos, motivando-os para o conhecimento histórico, estimulando suas lembranças e referências sobre o passado, tornando o ensino mais dinâmico e significativo para os discentes. Nesse sentido, a respeito da problematização do conhecimento histórico em sala de aula, Schmidt e Cainelli apontam que:,
Atualmente, a preocupação com a importância do conhecimento histórico na formação intelectual do aluno faz com que um dos objetivos fundamentais do ensino seja o de desenvolver a compreensão histórica da realidade social. Assim, compreender a história com base nos procedimentos históricos tornou-se um dos principais desafios enfrentados pelo professor no cotidiano de sala de aula. Esse desafio é um passo interessante na construção de uma prática de ensino reflexiva e dinâmica, podendo-se afirmar que ensinar História é fazer o aluno compreender e explicar, historicamente, a realidade em que vive. (SCHMIDT E CAINELLI (2009, P. 53)
O professor que ensina História deve priorizar as experiências dos alunos como ponto de partida para trabalhar em sala de aula, correlacionando com os conteúdos do livro didático, possibilitando aos discentes que se identifiquem como sujeitos da História e da produção do conhecimento histórico. Logo, cabe ao professor instigar e provocar os educandos, dando-lhes condições para que os mesmos possam aprender, entendendo o contexto histórico em que estão analisando e refletindo as relações dos diferentes grupos humanos no tempo e nos diferentes espaços. O professor de História deve estimular a aprendizagem dos educandos, facilitando a compreensão da realidade do mundo em que vivem.
Segundo Fonseca (2009, p. 91) “é necessário pensar na disciplina de História como perceber a diversidade, possibilitando comparações entre grupos e sociedades nos diversos tempos e espaços”. [...] A história é formativa, nos ajuda compreender o mundo. O ensino de História deve possibilitar aos alunos analisar as experiências sociais em constante processo de transformação de formas diversificadas. Daí está a importância de uma prática pedagógica que estimule o aluno a compreensão da História como um processo formativo constituído por múltiplas leituras e interpretações. De acordo com Schmidt e Cainelli a prática pedagógica do professor de História,
[...] ajuda o aluno a adquirir as ferramentas de trabalho necessárias para aprender a pensar historicamente, o saber-fazer, o saber-fazer bem, lançando os germes do histórico. Ele é o responsável por ensinar ao aluno como captar e valorizar a diversidade das fontes e dos pontos de vista históricos, levando-o a reconstruir, por adução, o percurso da narrativa histórica. Ao professor cabe ensinar ao aluno como levantar problemas, procurando transformar, em cada aula de história, temas e problemáticas em narrativas históricas (SCHMIDT e CAINELLI,2009:34).
Sendo assim, o ensino de História possibilita a construção do saber histórico por meio da interação dialógica entre professor e aluno, transformando sua prática em um ato político, consciente de seu papel como mediador, pesquisador, formador de opinião, produtor de conhecimento e não apenas como um mero transmissor de saberes existentes.
Entretanto, não podemos negar que o professor enfrenta vários desafios e dificuldades no seu cotidiano, especialmente quando se trata de educação de pessoas, jovens, adultas e idosas. Neste contexto, prosseguimos com o diálogo sobre algumas dificuldades relacionadas ao ensino de História na educação de jovens e adultos.
Ao solicitar que fizessem um levantamento sobre as dificuldades relacionadas ao ensino de História nas turmas de EJA, os professores citaram: Falta de interesses dos alunos, dificuldades dos alunos compreenderem o contexto histórico, fazer a transposição didática de alguns conteúdos.
Em relação aos conteúdos de História que deveriam ser trabalhados nas turmas de EJA, as respostas foram bastante complexas. Falaram que deveriam ser os conteúdos políticos, filosóficos, religiosos, culturais e científicos, aproximando a realidade dos alunos. Em se tratando da Educação de Jovens e Adultos, faz-se necessário saber qual contexto dentro de cada conteúdo deve ser explorado em sala de aula, que se aproxime da realidade dos educandos. Percebe-se, a ausência de temas mais explícitos que estejam vinculados aos trabalhadores e sua realidade de exploração, sua cultura e sua luta por direitos, educação e cidadania. Além de temas que estejam voltados para História do tempo presente e a elementos que contribuam para a leitura do mundo, a partir das contradições sociais e econômicas e políticas, temáticas que possibilitam a compreensão da ordem e estrutura da sociedade atual. Conteúdos que darão sentido e significado para vida cotidiana dos estudantes trabalhadores.
A análise dos resultados das rodas de conversa nos aponta que a dificuldade encontrada nas salas de aula da EJA não está apenas no aluno, pois o professor também tem suas limitações que implicam no fazer pedagógico. Isso nos faz pensar sobre a mobilização do saber em sala de aula, da importância da formação docente, e da leitura como prática necessária no cotidiano do professor, bem como da relação intrínseca entre teoria e prática.
O professor como agente de transformação deve construir situações concretas para superação de algumas dificuldades de aprendizagem dos educandos através de uma prática pedagógica desenvolvida por ele no interior da escola. Essa superação deverá acontecer através da construção de um trabalho coletivo envolvendo todo corpo docente, posto que o educador deve almejar que sua prática pedagógica esteja voltada para a transformação e por isso deve buscar desenvolver um trabalho junto com seus pares para que as mudanças alcancem uma maior dimensão no contexto escolar.
As questões teóricas que foram discutidas sob a luz do universo empírico da pesquisa apontam que a partir das discussões obtidas nas rodas de conversa com os professores da EJA e da análise dos questionários respondidos por professores e alunos que participaram dessa investigação, percebe-se, que é necessário pensar na formação docente, nas dificuldades e desafios dos professores em ensinar História, bem como, na relevância do seu papel como mediador na aprendizagem dos educandos. Pois, entende-se, que é preciso agir e intervir na realidade visando à transformação, contudo, as metodologias de ensino precisam de atualizações constantes, investigação e a incorporação de diferentes fontes e recursos que facilitem no aprendizado dos educandos. A conclusão do estudo apontou reflexões que contribuem de forma efetiva para um plano de ação para elaboração da proposta de formação continuada para professores (as) de História que atuam em EJA, na medida em que concebemos o professor como agente principal na produção dos conhecimentos pedagógicos, responsável para adequar às transformações necessárias a sua prática. Dentre outros aspectos, os resultados da pesquisa apontaram que a partilha de experiências, a relevância do diálogo e seu real significado na prática contribuem para o aprendizado do profissional da educação. Conclui-se, também, que para melhoria da qualidade do ensino na EJA faz-se necessário que os professores estejam imersos em cursos de formação continuada, na busca de subsídios que garantam o fortalecimento do ensino e o direito de aprendizagem dos alunos que estudam nessa modalidade.
Muitos foram os que contribuiram para elaboração desse estudo. Agradeço aos participantes da pesquisa, aos colegas e professores a quem devo muito pelo incentivo, dicas que me estimularam ou ajudaram de uma forma ou de outra.Serei grata sempre pelo seus valiosos ensinamentos que me proporcionaram crescimento pessoal e profissional .Obrigada pelas observações que nortearam esse trabalho..Enfim, para todos os professores (as) que acreditam, atuam, pesquisam e colaboram para o desenvolvimento da Educação de Jovens e Adultos (EJA.Lutar e resistir sempre.Por fim, como diz a canção do grupo Aliados " Sonhar, viver e todo dia agradecer".É com essas palavras que finalizo agradecendo a Deus , o arquiteto do universo, meu senhor , e salvador pelo dom da vida. Pela fé e perseverança de vencer os abstáculos, pela sapiência concedia, pelo amparo nas horas de certezas e incertezas. E por ter norteado o caminho a seguir,concedendo força e energia com entusiasmo durante esta fase da vida.
Não entendo a existência humana, sem esperança, sem sonho, (PAULO FREIRE ,1997).
Tomando como base a teoria freireana é preciso esperançar e ir atrás, construir ações, jamais desistir! Esperançar é levar adiante e juntar-se com outros para dialogar e transformar com o propósito de fazer diferente (FREIRE, 1992). Assim, precisamos alimentar essa esperança com a convicção de que a mudança é possível, basta acreditar e lutar. Partindo desse pressuposto, (re) pensar a prática educativa e o que está sendo ensinado na disciplina História, refletir sobre a formação do professor, a qualidade do ensino e o aprendizado do aluno são aspectos importantes para reflexão sobre a prática pedagógica e o papel da escola. Para isso, torna-se oportuno promover um amplo debate que envolva questões políticas, pedagógicas e técnicas buscando a superação de problemas relacionados ao ensino e aprendizagem, tornando a escola um espaço de trabalho coletivo, de participação colaborativa e de aprendizagem. Assim, a partir do diálogo e das inquietações dos professores de História da EJA em relação aos desafios e dificuldades que são enfrentados pelos mesmos em seu cotidiano, evidencia-se a necessidade de elaboração de um plano de ação que possa nortear a implementação de uma proposta de formação continuada pautada em referenciais teóricos e metodológicos que atendam às especificidades do processo de aprendizagem dos (as) estudantes da EJA
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