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Histórias De Vida E Experiências Formativas Dos(As) Professores(As) Do Curso E Licenciatura Em Química Da Universidade Estadual De Feira De Santana

Karolyne Mota Gomes Falcão

RESUMO: Este texto apresenta reflexões sobre as histórias de vida e experiências formativas de professores(as) que atuam no Curso de Licenciatura em Química da Universidade Estadual de Feira de Santana- UEFS. Trata-se de um recorte da pesquisa  de mestrado intitulada: “Química começa nas estrelas: histórias de vida e experiências formativas dos(as) professores(as) do curso de licenciatura em química da Universidade Estadual de Feira de Santana- UEFS” no Programa de Pós-Graduação do mestrado em educação da referida instituição, a qual encontra-se em desenvolvimento, cujo objetivo é compreender como as histórias de vida e as experiências formativas dos(as) professores(as) do Curso de Licenciatura em Química da Universidade Estadual de Feira de Santana contribuíram para a sua prática docente. Como percursos metodológicos optamos por uma abordagem qualitativa de pesquisa e nos inspiramos na perspectiva (auto)biográfica-histórias de vida e escolhemos como dispositivos de pesquisa a entrevista narrativa. E nos embasamos no aporte teórico de Josso (2004), Nóvoa (2014), Macedo (2010), Souza (2006), Larrosa (2002), entre outros. Conclui-se que as histórias de vida se constituem em um processo reflexivo, experiencial e formativo ao possibilitar ao sujeito olhar para si em diferentes tempos e espaços, sendo possível reconstituir-se constantemente.

 

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FALCÃO, Karolyne Mota Gomes. Histórias de Vida e Experiências Formativas dos(as) Professores(as) do Curso e Licenciatura em Química da Universidade Estadual de Feira de Santana. Anais do Colóquio Internacional Educação e Contemporaneidade, 2023 . ISSN: 1982-3657. Disponível em: https://www.coloquioeducon.com/hub/anais/630-hist%C3%B3rias-de-vida-e-experi%C3%AAncias-formativas-dos-as-professores-as-do-curso-e-licenciatura-em-qu%C3%ADmica-da-universidade-estadual-de-feira-de-santana. Acesso em: 16 out. 2025.

Histórias de Vida e Experiências Formativas dos(as) Professores(as) do Curso e Licenciatura em Química da Universidade Estadual de Feira de Santana

A  finalidade desse texto constitui-se em apresentar as reflexões de uma pesquisa em desenvolvimento no âmbito do Programa de Pós-Graduação do mestrado em Educação  vinculado ao Grupo de Estudos e Pesquisas em Currículo e Formação do Ser em Aprendizagens – FORMARSER da Universidade Estadual de Feira de Santana/UEFS, na qual discute-se sobre as histórias de vida e experiências formativas de professores(as) que atuam no Curso de Licenciatura em Química da UEFS.  

As itinerâncias formativas que mobilizaram a realizar a pesquisa sobre as histórias de vida de professores (as) que atuam no Curso de Licenciatura em Química da Universidade Estadual de Feira de Santana- UEFS foram decorrentes das vivências experienciadas durante o processo de formação inicial, isto é,  no curso de licenciatura em Química com os(as)  professores(as) do referido curso  que de algum modo inspiram os licenciandos a  desejarem  atuar como professores(as) de Química.   

Como estes(as) professores(as) se tornaram formadores no curso de Licenciatura em Química? Quais compreensões sobre ser professor(a) esses professores(as) carregam na sua prática profissional? Estes questionamentos foram fundamentais para compreender como as histórias de vida e experiências formativas contribuíram para a prática docente destes(as) professores(as) e como inspiram os licenciandos em Química desejarem atuar como professores de Química.

A pergunta que norteia a pesquisa é: Como as histórias de vida e as experiências formativas dos(as) professores(as) do Curso de Licenciatura em Química da Universidade Estadual de Feira de Santana contribuíram para a sua prática docente e inspiram os licenciados em Química desejarem ser professor(a) de Química?

É importante destacar que, as pesquisas sobre Histórias de vida dos(as) professores(as)  no Brasil, especificamente, acerca da formação de professor(a)  têm apontado reflexões a respeito das trilhas dos caminhos da abordagem das histórias de vida no campo da educação, e, especialmente, nos interessa as histórias de vida e a formação dos (as) professores (as) em Química. 

 Concordamos com Ribeiro (2007, p. 09), ao destacar que é  “necessário saber mais sobre as vidas dos professores, suas aspirações, suas necessidades para que se possa contribuir efetivamente com suas formações”, uma vez que, nos interessa as experiências formativas dos(as) professores(as) do curso de Licenciatura em Química da UEFS acerca das suas compreensões sobre formação.     

Ainda segundo Ribeiro (2007), a autora destaca o número reduzido de pesquisas desenvolvidas sobre o Ensino de Química e sobre a complexidade dos processos de formação de professores que nos estimula a pensar nas diferentes dimensões (políticas, sociais, afetivas, epistemológicas, éticas).

Assim, compreendemos que a pesquisa, a qual estamos desenvolvendo além de se inserir nesse debate sobre os cursos de formação inicial de professores, especificamente, o curso de licenciatura em Química, também se propôs a  reflexionar sobre a formação dos(as)  professores(as) de Química no ensino Universitário e como suas experiências formativas vivenciadas ao longo do processo formacional e como influenciaram a sua prática docente e as dos(as) licenciados(as). 

Nossas inspirações teórico-metodológicas buscam caminhar com aportes conceituais pautados na abordagem qualitativa por entendermos que a referida abordagem é, antes de mais nada,  compreender o fenômeno em sua totalidade sem perder suas particularidades com destaca Minayo (2010, p.22) “responde às questões  particulares, enfoca um nível de realidade que não pode ser quantificado e trabalha com um universo de múltiplos significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes”. 

Conforme compreensão de André e Gatti (2008, p.5), as quais destacam que:

 

[...]a pesquisa qualitativa busca, antes, compreender a situação, descrevê-la em suas especificidades, revelar os múltiplos significados dos participantes, deixando que o leitor decida se as interpretações podem, ou não, ser generalizáveis com base em sua sustentação teórica e sua plausibilidade.

 

Nos inspiramos na perspectiva (auto) biográfica- Histórias de Vida, a qual segundo Josso (2006), contempla as narrativas de histórias de vida e valorizam aspectos particulares da existência como a felicidade, os conhecimentos sobre o mundo, o conhecimento de si e dos outros, o sentido da vida e o desenvolvimento da nossa capacidade de observação ou dito de outro modo da nossa atenção consciente. E optamos por escolher como dispositivo a entrevista narrativa que de acordo com Souza (2006, p. 137), “a narrativa de si e das experiências vividas ao longo da vida caracterizam-se como um processo de formação e conhecimento”. Por compreendermos que a entrevista narrativa possibilita e privilegia a escavação em profundidade das histórias de vida dos participantes da pesquisa. 

 

 

1 O Curso de Licenciatura em Química da Universidade Estadual de Feira de Santana, BA

 

O curso de Licenciatura em Química da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), foi implementado no ano de dois mil e onze com oferta semestral para trinta vagas, na modalidade presencial no turno noturno. O argumento para a criação do referido curso sustentou-se em decorrência da carência de professores com formação inicial qualificada em Química no município de Feira de Santana e em regiões circunvizinhas.        

É importante contextualizar mesmo que com uma breve síntese como se deu a “criação da   de uma universidade, sob a chancela estadual, na cidade de Feira de Santana” (SANTOS, 2016, p. 24), no estado da Bahia, em meados dos anos de 1968. 

 

O fato de a UEFS permanecer a uma rede de instituições impõe de modo mais dinâmico no conjunto das políticas públicas de educação executadas durante o período militar, especificamente na Bahia, investigando as práticas dos sujeitos envolvidos na implementação do campo universitário no interior baiano (SANTOS, 2016, p. 24).


 

 

A criação e organização  do primeiro campus universitário do interior do estado da Bahia foi forjado em meio às angústias de uma  ditadura militar de estado, instalado no país, Brasil, desde 1969, pesavam em toda parte, inclusive em Feira de Santana, na Bahia,  e, também, em todo o restante do Brasil, e, como grande espectro rondava a América Latina (SANTOS, 2016, p. 31).  Desse modo, a implementação do campo universitário foi um esforço de intelectuais e políticos vinculados à cidade de Feira de Santana. 

Um aspecto a considerar no período de 1968 para a implantação do campo refere-se a localização privilegiada da cidade por ser próxima a capital, Salvador e se constituir como eixo de conexões rodoviários de grande porte, o qual contribuiu, sobremaneira, para a expansão de diversos setores da economia da cidade.   A cidade de Feira de Santana, possui 17 municípios, em 2019, a população estimada chegou a 616.279 habitantes, sua unidade territorial conta com 1.304,425 km2 e pertence ao Território de Identidade Portal do Sertão (IBGE, 2022).

 Mediante ao exposto, a UEFS é uma instituição pública e gratuita, mantida pelo governo do Estado da Bahia, sob o regime de autarquia e teve início de suas atividades em setembro de 1968  com a implantação da Faculdade  Estadual de Educação,  em 1976 a UEFS entrou em atividade no âmbito das relações de poder inerentes a instituição universitária e com os atores sociais na cena, a saber: professores, estudantes, corpo administrativo de  funcionários.   

Os primeiros cursos ofertados foram os cursos de Licenciatura de 1º e 2º graus em Letras – Inglês e Francês; Licenciatura Plena em Ciências, com habilitação em Biologia e Matemática e em Ciências 1º grau; Licenciatura Plena em Estudos Sociais, com habilitação em Educação Moral e Cívica e em Estudos Sociais 1º grau e os Cursos de Enfermagem, Engenharia de Operações Modalidade – Construção Civil, Administração, Economia e Ciências Contábeis, conforme o Plano de Desenvolvimento Institucional. (PDI, 2023-2027)

No contexto contemporâneo o campus universitário situa-se na Avenida Transnordestina, S/N, bairro Novo Horizonte, CEP: 44.036.900, Feira de Santana, Bahia, Brasil. A instituição congrega ainda o campus Avançado da Chapada Diamantina, em Lençóis,  no estado da Bahia, e outros prédios (Centro Universitário de Cultura e Arte – CUCA, Observatório Astronômico Antares; Horto Florestal; Clínicas Odontológicas; Chácara Xavante; Biblioteca Monteiro Lobato; Serviço de Assistência Jurídica(SAJ), situado no Fórum Felinto Bastos, o prédio dos Ex- Combatentes e CSU- (Centro Social Urbano), onde funcionam, além das atividades de ensino, pesquisa e extensão.  (PDI). Portanto, possui 47 anos de história na cidade, o qual oferta trinta e um cursos de graduação distribuídos em quatro áreas de conhecimento. Desta forma, vinte e nove cursos ocorrem semestralmente e dois em ocorrem anualmente, o qual quatorze cursos são Licenciaturas e dezessete são bacharelados. 

A  Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), é uma instituição pública de Ensino Superior gratuita  e se destaca-se por sua localização privilegiada, uma vez que  está  situada na cidade considerada como  Portal do Sertão da Bahia, a qual está circunscrita no entroncamento rodoviário Norte-Nordeste brasileiro, se tornando um ponto de  acesso que facilita a migração de professores(as), estudantes, funcionários(as) e terceirizados oriundos principalmente da cidade de Feira de Santana e de cidades circunvizinhas. 

O curso de Licenciatura em Química na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) foi implantado no primeiro semestre do ano de 2009 (PPC, 2020) e por ser um curso ainda recente na área de exatas e ter pouca procura de estudantes, uma quantidade reduzida de acadêmicos conseguem concluir o curso de graduação em cada semestre. 

Conforme o Projeto Pedagógico do Curso de Licenciatura em Química da UEFS (PPC,2020),  tem como objetivo formar de professores de Química para a rede pública e privada de ensino atendendo as necessidades do Estado da Bahia, podendo exercer as funções de Magistério no Ensino Básico (Fundamental e Médio) e atuar com as Secretarias Estaduais e Municipais nas áreas de Ensino, Pesquisa e Extensão.

O curso de Licenciatura Plena em Química na Universidade Estadual de Feira de Santana surgiu para suprir uma carência em Feira de Santana e regiões circunvizinhas no que diz respeito à formação de profissionais educadores em Química. O referido Curso visa atender as necessidades do Estado da Bahia quanto à formação de professores licenciados para exercer as funções de Magistério no Ensino Básico (Fundamental e Médio), bem como contribuir para atuar junto às Secretarias Estaduais e Municipais nas áreas de Ensino, Pesquisa e Extensão.

Apesar de ser um curso noturno, o qual   torna-se mais acessível, poucos profissionais da área conseguem concluí-lo devido às condições socioeconômicas e,  também, sócio pedagógicas referentes à proposta curricular/2009, e com isso além de gerar uma carência de professores de Química formados na área nas unidades escolares tanto públicas quanto privadas, mas também no ensino superior da região de Feira de Santana do estado da Bahia. 

O Departamento de Ciências Exatas propôs a criação do Curso de Licenciatura em Química da UEFS no turno noturno e aos sábados pela manhã e a sua implantação ocorreu no primeiro semestre do ano de 2011. O Curso ocorre semestralmente de forma presencial ofertando trinta vagas para os candidatos(as), possui um tempo de integralização de nove semestres com duração de quatro anos e meio e com uma carga horária de três mil e duzentos e noventa e sete (PPC, 2020). 

A justificativa do turno se deve ao fato de não influenciar no regime de trabalho de estudantes egressos do ensino médio e professores(as) não habilitados de rede privada e pública de ensino (PPC, 2020, p.40). A forma de ingresso ocorre por meio do Sistema de Seleção Unificada (SISU), sendo que cem por cento das vagas são preenchidas através da avaliação do desempenho dos candidatos no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) (PPC, 2020, p. 43).

O colegiado de Química permanente foi instituído no início do ano de 2014 ainda com a presença da coordenação pro tempore (PPC, 2020, p. 41). O curso foi reconhecido pelo Conselho Estadual de Educação através do parecer CEE No 380/2018 e o reconhecimento foi autorizado pelo Decreto No 18696 de 08 de novembro de 2018 (PPC, 2020, p. 42).

O Laboratório de Exatas (LABEXA) possui laboratórios de Química nas áreas de Química Geral, Química Inorgânica, Química Orgânica, Química Analítica e Físico-química que atendem demandas também dos cursos de Farmácia, Engenharia de Alimentos, Engenharia Civil, Biologia, Física e Agronomia. No Curso de Licenciatura em Química trinta e cinco docentes lecionam nesses componentes curriculares, o qual destes trinta e cinco, dezoito são efetivos com dedicação exclusiva, oito são efetivos com carga horária de quarenta horas e nove são substitutos.  Em relação a titulação desses professores Quanto à titulação acadêmica, vinte e dois são doutores, onze são mestres, um é especialista e um é graduado (PPC, 2020).

Nesse sentido, nos interessa reflexionar sobre o curso de licenciatura em Química da UEFS no tocante a formação docente, uma vez que os estudos Gatti (2013) no campo das licenciaturas e da formação oferecida aos licenciandos destacam que há pouco aprofundamento a respeito da formação pedagógica, ao enfatizar que as atividades curriculares expressas nas matrizes curriculares das licenciaturas são  difusas e, ainda sinaliza que pouco contribuem para a formação dos profissionais que irão atuar na educação básica. Assim destaca: 

A questão importante, no entanto, é que se oferece nesses cursos apenas um verniz superficial de formação pedagógica e de seus fundamentos que não pode ser considerado como realmente uma formação de profissionais para atuar em escolas na contemporaneidade. É observada uma redução da carga horária útil dos cursos de licenciatura – voltada a processos formativos profissionais, teóricos e práticos, de fundamentos e metodologias –, redução que se faz via um conjunto de atividades vagamente descritas nos currículos, como: atividades culturais, estudos independentes, atividades complementares, etc. Pode-se perguntar se a formação panorâmica e fragmentada, reduzida, encontrada nos currículos das licenciaturas é suficiente para o futuro professor vir a planejar, ministrar, avaliar ou orientar atividades de ensino na educação básica, lidando adequadamente com os aspectos de desenvolvimento humano de crianças, adolescentes e jovens, oriundos de contextos diferenciados, com interesses e motivações heterogêneos, comportamentos e hábitos diversos (GATTI, 2013, p. 39)

  

Conforme Gatti (2013), os cursos de licenciatura, ainda tem uma organização curricular extremamente fragmentada e dividem-se em duas áreas, os componentes referentes à formação de conteúdo específicos e a de conteúdos pedagógicos, o que acaba comprometendo, de certo modo, a qualidade dessa formação, uma vez que dissocia aspectos que, por natureza, deveriam ser trabalhados de forma articulada

Isso traduz também a dinâmica curricular no âmbito desta formação que, apesar das críticas existentes a esse modelo que coloca a racionalidade técnica como pilares básicos, segue ainda muito presente nas proposições político-pedagógicas dos projetos dos cursos de licenciatura

Nesse sentido, torna-se imperativo compreender como os(as) professores(as) de Química que atuam no curso de Química da UEFS compreendem a formação do licenciando como suas experiências formativas vivenciadas ao longo do processo formacional influenciaram a sua prática docente e as dos(as) licenciados(as). 


 

2 A pesquisa (auto)biográfica e a formação docente


 

Ao compreender a pesquisa (auto) biográfica no contexto da educação, especificamente no campo da formação docente, faz-se necessário demarcar que a entendo como uma abordagem de pesquisa que se abre para um campo de possibilidades dos atores sociais se situarem e, ao mesmo tempo, compreenderem seus processos de construção de si e de suas experiências formativas em especial aos(as) professores(as) que atuam no curso de licenciatura em química da UEFS. 

Conforme Nóvoa e Finger (1988, p. 12) “os debates em torno da utilização do método biográfico no domínio das ciências da educação e formação de adultos são relativamente recentes.”, podemos afirmar que o método biográfico se torna uma possibilidade concreta da probabilidade de um novo conhecimento sobre o homem social. Assim, 

 

O método biográfico permite que seja concedida uma atenção muito particular e um grande respeito pelos processos das pessoas que formam; nisso reside uma das suas principais qualidades que o distinguem, aliás da maior parte das outras metodologias de investigação das ciências sociais. Respeitando a natureza processual da formação, o método biográfico constitui uma abordagem que possibilita ir mais longe na investigação e na compreensão dos processos de formação e dos sub-processos que o compõem. (NÓVOA e FINGER, 1988, p. 12- 13)

 

Assim, a pesquisa (auto) biográfica constitui-se abertura para a relação intrínseca entre formação e vida, os atores sociais ao narrar sobre a experiência vivida nos contextos histórico, social, político, cultural, estético, éticos, entre outros nos tempos e espaços permitem ressignificar suas individualidades. 

 

Na verdade, a relação entre pesquisa biográfica e formação é uma relação privilegiada e mesmo uma relação original, pois foi no quadro da formação que emergiu a ideia de que “fazer a sua história de vida”-  ou seja, construir uma narrativa de sua própria existência -podia, em certas condições, ter um efeito formador e abrir possibilidades de transformação. Reencontrando inspiração antiga nas histórias de vida como “arte formadora da existência” (DELORY-MOMBERGER, 2011, p. 49)

  

  Nesse sentido, ao reflexionar sobre a pesquisa (auto) biográfica e formação, tomando como centralidade o processo de caminhar para si a partir das suas histórias carregadas de sentidos e significados. Para Delory-Momberger (2011, p. 49) “a partir da narrativa pessoal, a corrente das histórias de vida traduz e transpõe no domínio da formação um processo mais geral, que é aquele da maneira pela qual os indivíduos se apropriem do mundo histórico, social, cultural no qual eles vivem”.

Ao refletir sobre a pesquisa (auto) biográfica e formação, tomando como centralidade o processo de caminhar para si a partir das suas histórias carregadas de sentidos e significados. Para Delory-Momberger (2011, p. 49) “a partir da narrativa pessoal, a corrente das histórias de vida traduz e transpõe no domínio da formação um processo mais geral, que é aquele da maneira pela qual os indivíduos se apropriem do mundo histórico, social, cultural no qual eles vivem”.

Desse modo, as histórias de vida e formação nos convoca a pensar a formação, uma vez que há muitos sentidos e significados de formação, assim destaca Dominicé (2012, p. 19) “a formação não se limita nem a um diploma, nem a um programa, nem a uma lei. 

Os relatos de vida escritos, centrados sobre a perspectiva das experiências formadoras e fundadoras de nossas identidades em evolução, de nossas ideias e crenças meio estabilizadas, de nossos hábitos de vida e de ser com relação a nós mesmos, aos outros, ao nosso meio humano e natural, têm essa particularidade de ser territórios, por vezes tangíveis e invisíveis (JOSSO, 2008, p. 24).

 

Discutir e reflexionar acerca da formação no contexto do curso de licenciatura em química advém das itinerâncias formativas quando encontrava-me como estudante do curso de química na relação com os(as) professores(as) que atuavam no curso.   

Conforme Dominicé (2012, p. 21) “visto como um processo em constante movimentação no decorrer da vida adulta, a formação escapar à rigorosidade dos termos de verdade, de prova ou de objetividade que caracterizam, na maioria das vezes, o debate científico, com respeito à problemática epistemológica” 

Segundo Momberger (2012), a pesquisa biográfica percebe a relação singular que o indivíduo mantém, pela sua atividade biográfica, com o mundo histórico e social e em estudar as formas construídas que ele dá à sua experiência. A pesquisa (auto)biográfica faz o sujeito pensar na sua história e leva-o a passar por um processo de reflexão da sua própria identidade e com esta se constituiu ao longo da vida.

Para Dominicé (2012, p. 29) “interpretar uma narrativa de biografia educativa com a ajuda de um quadro teórico que coloca em evidência o movimento e amplitude de formação é uma maneira de valorizar a singularidade de uma história de vida. A história de cada um pertence a cada um”. Desse modo, reconhecer que a história de cada um pertence a cada um, como destaca Dominicé (2012), torna-se uma atitude da qual nos implica como sujeitos da formação. Nesta perspectiva, Delory-Momberger (2011, p. 51), a pesquisa biográfica busca:

 

Explorar os processos de construção do sujeito no seio do espaço social; mostrar como os indivíduos dão uma forma a suas experiências, como dão significado às situações e aos eventos de sua existência, como agem e se constroem nos seus contextos histórico, social, cultural e político.  

 

Desse modo, entendemos que a pesquisa (auto)biográfica, realça os processos de construção do sujeito social, ao passo que, os sujeitos da formação consideram sua existência e sua individualidade, a qual se realiza no âmbito da experiência singular e singularizante de um sujeito situado considerando as interações com a vida.    

Por meio da narrativa de vida, é necessário considerar a autobiografia como elemento mais relevante da estrutura da pesquisa. Para Pérez (2006), narrar a vida, escrever sua autobiografia é um exercício de autotransformação, ao considerar a escrita como uma experiência e como dispositivo de autoconstituição. Portanto, é o momento em que a autora e os participantes passam pela experiência de lembrar toda a sua trajetória de vida, refletir sobre suas ações e se auto constituir como indivíduos. 

De acordo com Bertaux (2010), a autobiografia é uma forma escrita e reflexiva e o sujeito que lança, solitário, um olhar retrospectivo sobre sua vida passada, a considera na totalidade e como uma totalidade. Mediante a reflexão sobre a vida passada é possível um indivíduo transformar a sua trajetória de vida e as pessoas com que se relaciona, especialmente se este permite se autoconstituir. 

Através da abordagem (auto)biográfica é possível “mediar estratégias que permitam ao professor tomar consciência de suas responsabilidades pelo processo de sua formação, através da apropriação  retrospectiva do seu percurso de vida” (PASSEGGI, 2006, p. 262). Por meio desta abordagem, torna-se possível a reflexão do professor a respeito da sua própria história de vida e analisar por meio dela práticas docentes que podem ser transformadas.

Segundo Momberger-Delory (2008, p. 19), todo o percurso da vida é um percurso de formação. Podemos compreender que ao longo da vida somos capazes de ensinar e aprender, por meio das nossas experiências que pode ser ao desenvolver uma pesquisa, na relação com o outro, nos ambientes profissionais, entre outros, estes são exemplos de ambientes e de  relações formativas, o qual expressam aspectos que podemos levar em consideração nos campos pessoais e profissionais.

Sendo assim, de acordo com Josso (2004, p.9), as narrativas dos(as) professores(as) permitem “explicitar a singularidade, e com ela, perceber o caráter processual da formação e da vida, articulando espaços, tempos e as diferentes dimensões de nós mesmos, em busca de uma sabedoria de vida". Narrar sobre si é pensar e refletir sobre o singular e o coletivo, por quem somos, por onde caminhamos, com quem nos relacionamos, e com isso, vamos conhecendo versões de nós em tempos diferentes.

De acordo com Scholze (2006, p.116), “o autonarrar-se se faz a partir das histórias que nos são contadas e que,  por outro lado, são contadas de nós”.  A narrativa é “um fenômeno e uma abordagem de investigação- formação, porque parte das experiências e fenômenos humanos advindos das mesmas” (SOUZA, 2006, p.136). 

As narrativas de vida não trata-se apenas dos acontecimentos marcantes, mas também na ordem temporal que são ordenadas e que não é necessário que ocorra de forma linear, ela passeia, salta adiante e depois retrocede de forma espontânea (BERTAUX, 2010, p. 95).

Implicada com os estudos e pesquisas das histórias de vida em formação, Delory-Momberger (2011, p. 47) destaca que “a corrente das histórias de vida em formação desenvolve-se então no momento em que os indivíduos têm, cada vez mais, dificuldades de encontrar seu lugar na história coletiva, quando eles são remetidos a si mesmos[...]e fazerem suas sua própria história”.

Compreendemos que as histórias de vida estão amplamente implicadas com a experiência com os sujeitos da formação, contudo, nem tudo que acontece com o sujeito poderá ser  considerado experiência de acordo com  Bondía (2002),  a experiência não é apenas o que se passa, inclusive pode se passarem muitas coisas e nada acontecer em termos de experiência.  Para Bondía (2002) a experiência não é apenas o que se passa. 

  

A experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer um gesto de interrupção um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: requer, parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes , suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço (BONDÍA, 2002, p. 22-23).

 

A experiência envolve dimensões que ultrapassam o simples acontecer está para além do que é instituído, do superficial. Como destaca Gomes e Paim (2021, p. 27) “a experiência é resultante não apenas de um processo interiorizado do Ser, mas de sua relação consigo mesmo e com o outro. Portanto, a experiência decorre de um processo intra e intersubjetivo”.

 

Na experiência, o implicar-se não compreende o envolvimento ou não do indivíduo com esta, mas ele está para a experiência como ela está para ele, de modo tal que, ainda que este queira esgueirar-se dela, não há como, pois já o teria marcado, seja de forma positiva ou negativa. Assim a experiência penetra, se inscreve no Ser, transpassa-o alterando e provocando movimentos que ora atraem, reflexivamente, para si, ora para os outros ou o mundo que o rodeia (GOMES e PAIM, 2021, p 31).

 

Larrosa (2002, p. 21), defende que a experiência em espanhol significa “ o que nos passa” e em português significa “o que nos acontece”, logo “a experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca". Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca.” A experiência extrapola os aspectos individuais, está no campo dos afetos, daquilo que afetou positivamente ou não o processo de vida e/ou formação. Dessa forma, pode-se afirmar então que a experiência é passageira e que pode ocorrer em diferentes tempos e espaços.

Josso (2004, p. 27), afirma que “o conceito de experiência se apresenta, então, como um conceito aglutinador dos projetos de conhecimento da formação no decurso da vida.” Assim, para ser considerada uma formação experiencial, é preciso que sejam forjadas ambiências formativas no qual o vivido toque o Ser da formação de modo que este seja afetado ou tocado, traduzindo o vivido em experiências. 

Josso (2004, p. 38), destaca que “os processos de formação dão-se a conhecer, do ponto de vista do aprendente, em interações com outras subjetividades”. Portanto, compreender a formação enquanto fenômeno experiencial de sujeitos “envolvidos/implicados nas dinâmicas curriculares, retroativamente, configura-se em atos de currículo e este, nessas circunstâncias, numa proposição formativa relativamente dependente de como a formação pode ou não configurar como qualificada” (Macedo, 2016, p. 56).   

Conforme Josso (2004, p. 39), “começamos a perceber que o que faz a experiência formadora é uma aprendizagem que articula, hierarquicamente: saber-fazer e conhecimentos, funcionalidade e significação, técnica e valores num espaço-tempo [...]”

De acordo com Barbosa (2006, p. 333), pode-se dizer que as histórias de vida dos professores aparecem  como um elo da realidade vivida, aspirações e a articulação de um processo considerado retificador da instrução na sociedade. Sendo assim, por meio da narrativa da nossa própria história é possível analisar experiências que passamos ao longo da vida e a experiência segundo Larrosa (2002, p. 21), “ é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca”.

As histórias de vida adotam uma variedade de fontes e procedimentos que podem ser agrupadas em documentos pessoais (autobiografias, diários, cartas, fotografias, entre outros) e as entrevistas biográficas que podem ser orais ou escritas (SOUZA, 2006, p. 137). Esse tipo de abordagem (auto)biográfica auxilia na compreensão de narrativas ou documentos pessoais dos(as) professores(as), para tanto, a presente pesquisa utilizará como dispositivo a entrevista narrativa que torna-se elemento fundamental para compreender as histórias de vida.

 

    

 

 

A partir das discussões e reflexões apresentadas no texto sobre as histórias de vida e experiências formativas de professores(as) que atuam no Curso de Licenciatura em Química da Universidade Estadual de Feira de Santana- UEFS é fundante conhecer as histórias de vida dos(as) professores(as) a partir de suas narrativas para compreender suas itinerâncias e por meio delas saber o que influenciou na sua escolha pela docência,  o que constituiu a sua identidade, como este professor(a) ensina, aprende, inspira os graduandos do referido curso. A pesquisa permite também a refletir sobre a baixa procura e interesse pela área de graduação, o que pode ser uma justificativa para a carência dos(as) professores(as) de Química na região de Feira de Santana, Bahia.

Para tanto, apesar da pesquisa se encontrar em andamento, esta possui como pergunta norteadora: como as histórias de vida e as experiências formativas dos(as) professores(as) do Curso de Licenciatura em Química da Universidade Estadual de Feira de Santana  contribuíram para a sua prática docente?

A pesquisa sustenta-se na abordagem (auto)biográfica que permite uma metodologia embasada em entrevistas, as quais contribuem  na compreensão de narrativas e por meio desta abordagem é possível compreender as histórias de vida dos professores(as) do curso deste referido curso.

Por meio da narrativa de vida é necessário considerar a (auto)biografia como perspectiva  fundante mais relevante da pesquisa. As histórias de vida e formação nos convocam a pensar a formação destes professores(as) e como estes se constituíram ao longo de sua trajetória pessoal e profissional.

Ao reflexionar sobre alguns estudos de teóricos  como: Josso (2004), Nóvoa (2014), Macedo (2010), Souza (2006), Larrosa (2002), entre outros, é possível compreender a experiência como elemento formacional, a formação enquanto fenômeno experiencial e as narrativas de si como um processo de formação e conhecimento.

Conclui-se que as histórias de vida se constituem em um processo reflexivo, experiencial e formativo ao possibilitar ao sujeito olhar para si em diferentes tempos e espaços, sendo possível reconstituir-se constantemente.

A pesquisa encontra-se ainda em  desenvolvimento por isso não apresenta resultados acerca das histórias de vida e formação docente dos professores(as) que atuam no Curso de Licenciatura em Química da UEFS.

 

 

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