Metadados do trabalho

Educação Financeira Em Livros Didáticos De Matemática Dos Anos Iniciais Do Ensino Fundamental: Um Estudo Da Coleção Bem-Me-Quer

Fernanda Oliveira da Silva; Abimael Ouro

O objetivo do trabalho é analisar atividades que abordam a educação financeira nos livros didáticos de matemática dos anos iniciais do ensino fundamental da coleção Bem-Me-Quer, aprovada pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD/2023). Caracteriza-se metologicamente por uma abordagem qualitativa de pesquisa com contornos quantitativos, a partir da análise documental de atividades sobre educação financeira em duas categorias, questões diretas e indiretas. Apresenta tanto a caracterização geral dos livros didáticos do 1º ao 5º ano como as análises referentes às noções financeiras presentes nas atividades da coleção e sua articulação com as habilidades indicadas na Base Nacional Comum Curricular. Destacam-se como resultados principais: a presença significativa de 176 questões sobre a educação financeira, em diferentes seções, com prevalência de questões indiretas em detrimento de questões diretas, o que representa a exiguidade de atividades que apresentam a finalidade central de introduzir as noções de finanças e economia. Dada a relevância da temática para formação dos sujeitos, há a necessidade de promover o trabalho contínuo com os conceitos financeiros e o desenvolvimento do pensamento crítico referente as finanças, a partir das atividades dos livros didático em todos anos do ensino fundamental.

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SILVA, Fernanda Oliveira da; OURO, Abimael. Educação Financeira em Livros Didáticos de Matemática dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental: um Estudo da Coleção Bem-me-Quer. Anais do Colóquio Internacional Educação e Contemporaneidade, 2023 . ISSN: 1982-3657. Disponível em: https://www.coloquioeducon.com/hub/anais/621-educa%C3%A7%C3%A3o-financeira-em-livros-did%C3%A1ticos-de-matem%C3%A1tica-dos-anos-iniciais-do-ensino-fundamental-um-estudo-da-cole%C3%A7%C3%A3o-bem-me-quer. Acesso em: 16 out. 2025.

Educação Financeira em Livros Didáticos de Matemática dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental: um Estudo da Coleção Bem-me-Quer

 Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD, 2005) a educação financeira pode ser definida como um processo pelo qual os cidadãos compreendem os produtos, conceitos, os riscos financeiros, a realização de escolhas financeiramente conscientes e desenvolvem habilidades que permitam entender as vantagens e desvantagens frente ao consumo, através da interação com informações e instruções a respeito do mundo financeiro.  Assim, o sistema educacional passa a se configurar como uma função social direcionada ao pleno desenvolvimento de habilidades financeiras que promova o livre e responsável exercício da cidadania e criticidade da sociedade brasileira, tornando-se necessário a inserção de uma educação financeira no contexto escolar que transcenda ao modelo bancário de ensino, trazendo à tona a concepção de uma educação estruturada para desenvolvimento da leitura e análise crítica de contextos socioeconômicos, os quais os indivíduos encontram-se inevitavelmente introduzidos, e usada como uma temática relacionada diretamente com as vivências dos educandos e construtora da cidadania (OLIVEIRA; PESSOA; VIEIRA, 2019).   

  Powell e Silva (2013) apontam que a educação financeira escolar se caracteriza por ser um conjunto de informações pelas quais os educandos são inseridos no mundo do dinheiro e incentivados a compreendera respeito das finanças e economia, por meio do processo de ensino que os torne capazes de analisar, exercer críticas fundamentadas, tomar decisões acertadas sobre as questões financeiras, englobando a vida familiar pessoal e em sociedade. Em estudo desenvolvido por Assata et al. (2017), investigou-se seis diferentes grupos beneficiados pela educação financeira, sendo um deles crianças que estão começando a educação escolar na pré-escola até a conclusão do ensino fundamental, com idade entre 3 e 10 anos, grupo esse foco do presente trabalho. Apontou-se que a educação financeira nas instituições de ensino se encontra em fase de atenção devido ao reconhecimento do seu papel vital em oferecer aos indivíduos ferramentas para melhor adentrar em suas vidas financeiras. Pare eles a educação financeira pode ser concebida como um guarda-chuva mais amplo que abriga o ensino de mecanismos para avaliar as tomadas de decisões financeira, durante a escolarização primária e as séries posteriores.

  De acordo com Oliveira, Pessoa, Vieira (2019), no que diz respeito a historicidade da inserção da Educação Financeira nas escolas em território nacional e, consequentemente, nos livros didáticos, em 2010, com a criação da política pública intitulada Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF), houve a promoção do projeto Educação Financeira nas Escola, centrando-se no desenvolvimento de materiais didáticos focalizados em atividades de educação financeira para o ensino fundamental. O propósito dessa iniciativa focou em apresentar questões problemas que possibilitam a interdisciplinaridade com outras áreas de conhecimento, interpretando a educação financeira como prática direcionada à compreensão dos conceitos matemáticos e suas aplicações em resoluções de operações básicas associada ao desenvolvimento de cidadãos ativos e autônomos financeiramente, ou seja, que estejam mais preparados para lidar com as armadilhas do consumo. 

 A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), em sua última versão no ano de 2018, inclui a educação financeira como temática para ser introduzida nos currículos escolares e nas propostas pedagógicas no nível do ensino fundamental de todas as instituições de ensino brasileiro. Desse modo, implica

o estudo de conceitos básicos de economia e finanças, visando à educação financeira dos alunos. Assim, podem ser discutidos assuntos como taxas de juros, inflação, aplicações financeiras (rentabilidade e liquidez de um investimento) e impostos. Essa unidade temática favorece um estudo interdisciplinar envolvendo as dimensões culturais, sociais, políticas e psicológicas, além da econômica, sobre as questões do consumo, trabalho e dinheiro (BRASIL, 2018, p.267).

 Assim, a partir da inclusão de assuntos a respeito dessa temática em um documento de caráter normativo como parte dos objetivos de aprendizagem, o saber financeiro adquire uma nova roupagem, o que anteriormente se configurava como discussão reservada aos gerenciadores da família, por acreditarem na ausência de arranjos mentais que tornasse possível a compreensão de tal assunto pelas crianças. Contemporaneamente, situa-se em fase inicial de expansão e reconhecimento em escala nacional, pois, de acordo com Zero (2019) a educação financeira se tratava de uma temática “tabu” para o universo escolar, restrita aos adultos, economistas e especialistas. Assim, a sociedade se encontra em processo de percepção da importância e necessidade do ensino financeiro nas escolas para uma aprendizagem mais efetiva sobre a organização financeira. Nesse sentido, é possível perceber o processo de inserção de atividades de educação financeira em livros didáticos, como na Coleção Bem-me-quer analisadas.  

 No que diz respeito ao material didático disponibilizado para as escolas, o livro didático é uma ferramenta amplamente utilizada por professores e alunos, constituindo, por vezes, o único material a que os estudantes têm acesso, ou por falta de outros recursos, ou por fragilidade na formação de professores para o trabalho pedagógico com a temática (COSTA; ALEVATTO, 2010). Existem registros de livros no Brasil desde 1820, no período imperial, época marcada por uma educação que objetivava privilegiar a elite, a qual apresentava a Europa como referência cultural, assim, os livros didáticos eram trazidos de fora do país.  Os livros eram destinados exclusivamente aos professores com a finalidade de sanar as deficiências apresentados por eles e usados como mecanismo de controle dos ensinamentos a serem transmitidos aos educandos, conteúdos esses guiados a atender aos interesses do Estado. Em meados de 1930 fortaleceu-se a movimentação de desenvolvimento de livros em território nacional devido a intencionalidade de perpetuar ideários de fortalecimento do sentimento de nacionalismo e a crise de 1929 que provocou o aumento dos preços de importações de livros (ZACHEU; CASTRO, 2015).

 De acordo com o Ministério da Educação (BRASIL, 2021) o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) iniciou-se em 1937, com outra denominação, Instituto Nacional do Livro (INL), recebendo a atual nomenclatura apenas em 1985, o qual se caracteriza por ser o mais antigo dos programas voltado a distribuição de obras didáticas para a rede pública de ensino básico, cujo fornecimento para todas as séries se deu de forma gradativa no decorrer dos anos tendo como exceção a educação Infantil. O PNLD trouxe mudanças para o sistema de produção de livros, sendo elas, a indicação do livro didático pelos professores e a sua reutilização, o que provocou a abolição do livro descartável e o aperfeiçoamento das técnicas de produção. Assim, o Programa Nacional do Livro Didático apresenta a finalidade de democratizar o acesso a obras didáticas de qualidade para todos os alunos da educação básica.

 Diante dessas considerações e apontamentos, a pergunta norteadora que norteou esta pesquisa foi a seguinte: De que forma a Educação Financeira é trabalhada nas atividades encontradas em uma coleção de livros didáticos de matemática adotada por 2 escolas públicas de Aracaju-SE? Para responder essa questão, adotamos uma abordagem qualitativa de pesquisa com contornos quantitativos e utilizamos a análise documental (CRESWELL, 2007; LIMA JUNIOR; OLIVEIRA; SANTOS; SCHNEKENBERG, 2021) como procedimento para seleção, estudo e interpretação dos dados sobre o tema, encontrados na coleção “Bem-me-quer” (RUBINSTEIN; FRANÇA; OGLIARI; MIGUEL, RESENDE, 2021) de livros didáticos de matemática. Nesse contexto, reiteramos a pertinência dessa produção, uma vez que contribui para a expansão do quantitativo de estudos científicos que abordam a Educação Financeira, bem como sua discussão e análise para as práticas educativas nas escolas de educação básica. No que diz respeito ao percurso metodológico adotado, entende-se que,

Os procedimentos qualitativos apresentam grande contraste com os métodos da pesquisa quantitativas. A investigação quantitativa emprega diferentes alegações de conhecimentos, estratégia de investigação e métodos de coleta de análise de dados. Embora os processos sejam similares, os procedimentos qualitativos se baseiam em dados de texto e imagem, têm passos únicos na análise de dados e usam estratégias diversas de investigação (CRESWELL, 2007, p. 183)

 No caso da pesquisa em questão, esta baseia-se, como afirma Creswell (2007) em “dados de texto e imagem” dos livros didáticos a serem problematizados e analisados, portanto, em uma abordagem qualitativa de investigação. Quanto à análise documental, Lima Junior, Oliveira, Santos e Schnekenberg (2021, p. 38) indicam que: "é uma metodologia de investigação científica que utiliza de procedimentos técnicos e científicos para examinar e compreender o teor de documentos de diversos tipos, e deles, obter as mais significativas informações, conforme os objetivos de pesquisa estabelecida."

  Desse modo, escolheu-se utilizar a análise documental, objetivando examinar de forma minuciosa as atividades de educação financeira encontradas no livro didático de matemática dos anos iniciais do ensino fundamental da coleção Bem-me-quer. O desenvolvimento do trabalho se deu a partir de cinco etapas: na primeira, a seleção da coleção de livros, que se deu em encontros do Grupo de Estudos e Pesquisa Criança, Infância e Educação – GEPCIE/UFS, composto por professores e estudantes da UFS e docentes da educação básica da rede municipal e estadual de Aracaju, e por serem aprovados pelo PNLD. Optou-se por selecionar os livros didáticos escolhidos pelos professores da educação básica que participam do referido grupo de pesquisa. Pois, desse modo, fomenta-se a relação entre escola e universidade, entre pesquisa científica e práticas educativas. Com esse critério, a coleção Bem-me-Quer foi selecionada.

 Na segunda etapa, a leitura e sumarização dos dados. A partir da observação atenta dos livros, foi possível sumarizar as informações sobre o quantitativo de questões referente à educação financeira nas diferentes seções, como também, a identificação das habilidades da BNCC (BRASIL, 2018) indicadas do 1º ao 5º ano. Na terceira etapa, análise preliminar, procurou-se desenvolver uma visão geral da coleção em questão, e foi possível identificar informações sobre a formação acadêmica dos autores dos livros, a organização e distribuição dos capítulos e seções e a relação com a Base Comum Curricular (BNCC).

 Na quarta e quinta etapa, desenvolveu-se uma análise e interpretação detalhada a respeito das atividades, a partir do quantitativo de capítulos e questões referentes à educação financeira. Desse modo, elencou-se todas as tarefas que se relacionavam com a temática. A análise dos livros direcionou-se à criação de duas categorias de análise, nomeadas como questões diretas e indiretas: as diretas, referem-se aquelas questões que o livro destaca alguma habilidade da BNCC (BRASIL, 2018) com relação à educação financeira ou se encontra em algum tópico do livro exclusivo para trabalhar a temática; já as indiretas, envolvem as questões que o livro não apresenta a indicação de habilidades da BNCC (BRASIL, 2018), detendo-se no uso de valores e notas monetárias, para exemplificar a explicação de algum assunto não necessariamente vinculado a educação financeira em si.

 Após a caracterização das atividades do livro nessas duas categorias, desenvolveu-se um critério de seleção, que diz respeito à escolha dessas tarefas analisadas na subseção deste texto (Quantitativo De Questões, Tanto Diretas Quanto Indiretas, Por Seção Do 1º Ano Ao 5º Ano). Desse modo, a seção “Atividades” presente no livro foi selecionada, devido à especificidade de apresentar questões diretamente vinculadas a educação financeira, cujo foco principal está em trabalhar assuntos referentes à educação financeira, bem como a presença, no livro, das habilidades da BNCC referentes às questões financeiras.  

 Nesta seção, tem-se a caracterização geral da coleção “Bem-me-Quer”, a indicação do quantitativo de questões diretas e indiretas, conforme categorias de análise elencadas e a apresentação e análise de tarefas de cada um dos 5 volumes, que envolvem a educação financeira.

  Caraterização Geral da Coleção Bem-me-Quer       

 A coleção de livros didáticos selecionada é intitulada de “Bem-me-quer, é publicada pela Editora Brasil, fundada em 1943. Foi selecionada por sua aprovação no PNLD/2023. Os livros didáticos dessa coleção têm como autoras Cléa Rubinstein, Elizabeth França, Elizabeth Ogliari, Vânia Miguel e Edite Resende, todas graduadas em Matemática ou Ciências com habilitação em matemática e professoras da educação básica.

 A coleção está em consonância com a Base Comum Curricular (BRASIL, 2018) em todos os anos iniciais do Ensino Fundamental e com Plano Nacional de Alfabetização (BRASIL, 2019) do primeiro ao terceiro ano. Os livros estão divididos em capítulos. Os capítulos apresentam relação direta com unidades temáticas (Números, Álgebra, Geometria, Probabilidade e Estatística e Grandezas e Medidas) indicadas na BNCC.

 O manual do professor se estrutura a partir de uma fundamentação teórico-metodológica que pontua sobre os princípios pedagógicos e a avaliação formativa, também sugere propor atividades em contextos significativos com uma variedade de materiais e a realização da avaliação formativa, a ser realizada de forma processual, formativa, cumulativa, contínua e diagnóstica.  Além disso, discute a matemática nos anos iniciais do ensino fundamental e destrincha cada unidade temática da BNCC (BRASIL, 2018). Esse manual também dispõe de uma ficha de autoavaliação, indicações de sequências didáticas e sugestões de distribuições bimestral e semanal dos conteúdos a serem trabalhados em sala de aula. Nesse contexto, enfatiza que essa distribuição deve ser interpretada apenas como uma sugestão, sendo função do professor realizar as adaptações necessárias de acordo com as características e objetivos propostos para cada turma.

 Nos livros, há a indicação ao aluno de como estão organizados, em seções para cada capítulo, como mostra o quadro 1 a seguir:

Quadro 1- Seções do livro e correspondente descrição

Seções

Descrição

Chegando ao x ano

Atividades variadas

Mostre o que você sabe

Momentos destinados a partilha de conhecimentos prévios

Para refletir em grupo

Propostas focadas em promover a diálogo entre diferentes alunos

Divirta-se

Sugestão de brincadeiras e jogos utilizando o que o educando aprendeu

Pensando sobre o jogo

Momentos para refletir sobre as aprendizagens adquiridas durante o jogo

Aprenda mais esta

Informações interessantes com intuito de despertar a curiosidade

Situações-problema

Preposição de problemas para o aluno resolver usando de diferentes estratégias e a possibilidade de criar novas situações

Defenda sua ideia

Contextos para os alunos criar suas ideias e expressar suas próprias conclusões

Atividades

Série de atividades com o objetivo de auxiliar na aprendizagem

Desafio

Seção destinada a atividades desafiadoras

Conviver fazendo a diferença

Momento para refletir sobre situações do cotidiano e planejar ações possíveis de serem executadas nos espaços sociais

Trabalhando com gráficos e tabelas

Preposição de situações que exigem o uso de gráficos e tabelas para ampliação de seus conhecimentos

Encerrando x ano

Atividades diversas para verificar o que se aprendeu naquele ano

Fonte: Produzida pelo autor

 É notório que a coleção apresenta diferentes propostas de atividades que envolvem o trabalho de resolver problemas, de expressar ideias em grupo, de desenvolver a criticidade. No entanto, ao apresentar essa organização ao aluno, o livro não aponta a presença da seção “Pesquisando”, apenas é possível perceber a sua existência quando se é folheado o livro. Além disso, destaca-se como revelante para a exploração da educação financeira, a presença de tópicos específicos sobre essa temática em alguns capítulos dos livros didáticos do primeiro ao quarto ano dessa coleção. A exemplo disso, destaca-se a página 160, do livro do aluno, 1º ano:

Figura 1- página 170- livro do 1º ano

Fonte: Livro didático do 1º ano- Coleção Bem-me-quer

O tópico intitulado Nosso Dinheiro, na p. 170, presente no quinto capítulo, apresenta as notas e moedas usadas no Brasil e explica a sua funcionalidade, o que demostra a preocupação de desenvolver conhecimentos a respeito das nações financeiras. 

Quantitativo de Capítulos que apresentam Educação Financeira

 

            Na Tabela 1, apresenta-se o quantitativo de capítulos em cada volume da coleção Bem-me-Quer.

Tabela 1. Quantitativo de capítulos por ano que apresentam questões de educação financeira

Ano

Capítulos

1 º ano

1

2º ano

6

3º ano

6

4º ano

4

5º ano

5

Fonte: Produzida pelo autor

 Observa-se o maior quantitativo de capítulos no 2º ano e 3º ano do ensino que apresentam atividades envolvendo educação financeira, os quais se encarregam de trabalhar sobre números, adição, medidas de tempo, comprimento e massa. Em seguida, o 5º ano com 5 capítulos, trabalhando sobre frações e percentagens, números naturais e decimais, medidas de comprimento, superfície e volume. O 4º ano com 4 capítulos, no contexto do trabalho com números, adição e subtração e divisão. Por fim, 1º ano do ensino fundamental se encontra com o menor quantitativo de capítulos, com apenas 1 capítulo, o qual se trata sobre medidas.

 Questões Diretas e Indiretas sobre Educação Financeira

 Como já enfatizado na seção de introdução, categorizam-se as atividades analisadas em questões direta e indiretamente relacionadas à educação financeira. Assim, no gráfico 1 apresentaremos o quantitativo de questões diretas e indiretas.

Quadro 2. Quantitativo de questões diretas e indiretas relacionadas à educação financeira

Ano

Questões diretas

Questões indiretas

Total

1º ano

15

0

15

2º ano

13

14

27

3º ano

16

30

46

4º ano

28

25

53

5º ano

0

31

31

Fonte: Produzida pelo autor

 As questões diretas estão evidentemente vinculadas à educação financeira, cuja finalidade está direcionada, a partir da disposição de habilidades especificamente indicadas sobre educação financeira e atividades presentes em tópicos focalizados em trabalhar saberes do mundo financeiro, a desenvolver conhecimentos conceituais financeiros, como a compreensão sobre o sistema monetário do Brasil, compra, venda e troca, consumo ético e responsável. Pois, de acordo com Mundy (2018) o ensino de educação financeira deve abordar conceitos como o endividamento, tipos de créditos e as situações que são adequadas a utilizar, importância de efetuar pagamentos, juros empréstimos, como também, precisa abranger atitudes e comportamentos, além de conhecimento e habilidades. A exemplo de questões diretas, destacam-se o desafio da página 26 do livro do 2º ano:

Figura 2- Desafio da página 26- livro do 2º ano

Fonte: Livro didático do 2º ano- Coleção Bem-me-quer

 Esse desafio propõe ao aluno a decomposição uma mesma quantia de dinheiro de diferentes formas, desafio este diretamente vinculado à educação financeira, na medida que exige do aluno a capacidade de reconhecimento e a identificação das diferentes cédulas e moedas encontradas/utilizadas no Brasil (BNCC, 2018).Tratando-se das questões indiretas, como apresentado anteriormente, elas se destacam por propor problemas que não apresentam a intencionalidade educativa direcionada a trabalhar conceitos referentes à educação financeira, a exemplo disso, destaca-se a quarta questão da página 35 do livro do aluno, 3º ano:

Figura 3- Atividade da página 35- livro do 3º ano

Fonte: Livro didático do 3º ano- Coleção Bem-me-quer

 Essa questão se faz presente no capítulo 2, intitulado “Localização e Caminhos”, a qual tem como objetivo fazer com que os alunos entendam a respeito de lateralidade. Para isso, utilizou-se das cédulas, situação essa que não implica a resolução de problemas de educação financeira, já que não envolve circunstâncias que implicam a resolução de problemas de transformações dessas quantias e, muito menos, a reflexão sobre a utilização do dinheiro. Assim, embora haja a indicação e cédulas na questão, é uma atividade focalizada em trabalhar outros conhecimentos matemáticos.

 Outrossim, devido ao conhecimento fragilizado sobre educação financeira por parte dos docentes, existe a possibilidade de que não vejam possibilidades do trabalho com a temática em questões indiretas. Pois, segundo Carvalho (1999, p.23 apud Oliveira; Stein, 2015, p. 09), “[...] os professores, sujeitos potenciais da mediação que subsidia essa educação para o consumo, não estão, eles próprios, preparados para a realização dessa função [...], faltam lhes tanto o instrumental matemático para lidar com as situações do cotidiano econômico”.

 Além disso, notou-se a presença de questões diretas do 1º ano ao 4º ano, o que pode indicar uma preocupação em trabalhar continuamente em um processo progressivo os assuntos relacionados à educação financeira. Já no 5º ano, há ausência de questões diretas, isto é, de questões que apresentam a finalidade pedagógica guiada a formar saberes financeiros. Isso pode ser justificado pela falta de uma habilidade específica sobre educação financeira no próprio documento da Base Comum Curricular (BRASIL, 2018) para esse ano. Isso se destaca como fator preocupante, na medida em que a concretização de determinado conhecimento necessita de um trabalho contínuo de retomada e de reapresentação dos conceitos em diferentes momentos e em circunstâncias diversas (LORENZATO, 2019). Embora não haja indicação específica no documento curricular brasileiro, a necessidade de aprofundar os conhecimentos sobre o tema existe. Assim, nota-se que há um rompimento do processo progressivo de formação financeira dos educandos devido o deficit de atividades direcionadas a aprendizagem da gama de saberes financeiros no livro do 5º ano do ensino fundamental dessa coleção.

 A partir desse quadro 2 é possível perceber que, em todos os anos, com exceção do 1º e 4º ano, há a prevalência de questões indiretas em detrimento das questões diretas vinculadas à educação financeira, caracterizando-se por apresentar majoritariamente atividades que utilizam das cédulas e valores para contextualizar a preposição de outros conhecimentos matemáticos, sem finalidade pedagógica central de formar sujeitos que se apropriam e utilização os conceitos financeiros. Pode-se considerar essa situação como uma possível dificuldade para a internalização das noções financeiras, já que segundo Lorenzato (2019) a aquisição de conceitos não é linear, necessitando um trabalho continuo de apresentação de conceitos de diferentes maneiras equivalentes, a partir do estabelecimento de qual aprendizagem específica se pretende consolidar.

 Quantitativo de Questões, tanto Diretas quanto Indiretas, por Seção do 1º Ano Ao 5º Ano

Quadro 3. Quantitativo de questões diretas e indiretas por seção do 1º ano ao 5º ano

Seções

1º ano

2º ano

3º ano

4º ano

5º ano

Total

Atividades

9

14

33

21

15

92

Desafio

0

7

1

5

0

13

Situações-problema

0

4

7

20

15

46

Divirta-se

1

0

1

1

0

3

Pensando sobre o jogo

4

0

1

2

0

7

Defenda sua ideia

1

2

3

2

3

11

Para refletir em grupo

0

0

0

1

1

2

Trabalhando com gráficos e tabelas

0

0

0

0

0

0

Pesquisando

0

0

0

1

1

2

Fonte: produzido pelo autor

 É possível perceber que na maioria dos anos letivos, como, o 1º, 2º, 3º e 4º ano, há a prevalência de questões diretas e indiretas na seção de Atividades em detrimento das outras seções, restringindo-se ao 5º ano a maior presença de questões na seção situações-problema em comparação a seção atividades, como também, nota-se que em nenhum livro todas as seções elencadas são trabalhadas com relação a educação financeira, o livro que apresenta maior quantitativo de seções trabalhadas é o 4º ano com 8 seções, em seguida, o 3º ano com 6 seções, o 5º ano com 5 seções e o 1º e 2º ano com 4 seções.

 No livro do primeiro ano, as seções em que educação financeira e trabalhadas; Atividades, Divirta-se, Pensando sobre o jogo e Defenda sua ideia. Já no que diz respeito as habilidades apresentadas pela BNCC (BRASIL, 2018, p. 279), é proposto o reconhecer e relacionar valores de moedas e cédulas do sistema monetário brasileiro para resolver situações simples do cotidiano do estudante (EF01MA19), no livro didático do aluno na página 171, 1º ano:

Figura 4 - Atividade da página 171- livro do 1º ano

Fonte: Livro didático do 1º ano- Coleção Bem-me-quer

 Essa atividade solicita a identificação de quanto cada criança tem em moedas, o estabelecimento de uma relação de correspondência entre as imagens das cédulas e o valor escrito, através da ação de ligar as partes. Essa atividade envolve a identificação e reconhecimento das cédulas e moedas, o que se traduz na efetivação da habilidade de reconhecer e relacionar valores de moedas e cédulas do sistema monetário brasileiro para resolver situações simples do cotidiano do estudante (EF01MA19) proposta para o 1º ano segundo a BNCC dentro do livro didático.

 Além disso, percebeu-se como aspecto negativo a ausência de sugestões aos docentes direcionadas a uma abordagem inicial de relacionar as cédulas com o cotidiano infantil por meio da consulta de saberes prévios dos educandos, como, uma roda de conversa ou o levantamento de indagações, pois, não promover uma troca de conhecimentos prévios, na perspetiva de Lorenzato (2011, p.23) “seria fazer como um pedreiro que se põe apressadamente a construir paredes de uma casa sem ter preparado o alicerce”. Já como aspecto positivo, existe uma indicação complementar para os professores executar com os educandos, que propõe alguns jogos disponíveis em meios eletrónicos sobre o sistema monetário.

 No livro do segundo ano, há pouca variação de seções trabalhadas, restringindo-se apenas a seções de atividades, desafios, situações-problema e defenda sua ideia. Destaca-se a habilidade presente a BNCC (BRASIL, 2018, p.283) de estabelecer a equivalência de valores entre moedas e cédulas do sistema monetário brasileiro para resolver situações cotidianas (EF02MA20). No livro do aluno, pode-se observar à página 25 do 2º ano:

Figura 5 - Atividade da página 25- livro do 2º ano

Fonte: Livro didático do 2º ano- Coleção Bem-me-quer

 Essa atividade busca estimular o aluno a identificar valores a partir das diferentes notas, permitindo entender que as diferentes combinações entre cédulas e moedas podem formar um mesmo valor, o que pode promover o desenvolvimento da habilidade de fomentar equivalências. Há também como sugestão aos professores a consulta dos conhecimentos prévios dos educandos para iniciar a abordagem da temática através de indagações a respeito de seus conhecimentos e utilidades das notas, as situações que as utilizam ou observam as pessoas usarem e até mesmo sobre a realização de equivalências no dia a dia da criança, mecanismo esse importante para compreender a gama de saberes financeiros já pertencentes as crianças associada com uma interação diretamente relacionada com o cotidiano infantil, na medida que, de acordo com Lorenzato (2019 p. 9), “as atividades escolares devem ser um prolongamento das atividades vivenciadas antes ou fora da escola”, corroborando  também com a perspectiva de Hofman e Soares (2015 p.161), ao afirmar “Conceitos econômicos são construídos no transcurso da interação da criança com situações comerciais recorrentes em seu dia-a-dia.”

 No livro do terceiro ano há uma maior incidência de seções em comparação aos anos anteriores, fazendo-se presente a de Atividades, Desafios, Situações-Problema, Divirta-se, Pensando Sobre O Jogo e Defenda Sua Ideia. Aponta como habilidade da BNCC (BRASIL, 2018, p. 287) a capacidade de resolver e elaborar problemas que envolvam a comparação e a equivalência de valores monetários do sistema brasileiro em situações de compra, venda e troca (EF03MA24), que pode ser analisada no livro do aluno às páginas 19 e 20, do 3º ano, nas figuras 6 e 7:

Figura 6 - Atividade da página 19 - livro do 3º ano

Fonte: Livro didático do 3º ano- Coleção Bem-me-quer

Figura 7 - Atividade da página 20- livro do 3º ano

 

Fonte: Livro didático do 3º ano- Coleção Bem-me-quer

 A primeira questão, é solicitada a identificação do maior valor a partir da análise das cédulas presentes nas imagens; na segunda, é preciso analisar distintas representações de um determinado valor em forma de desenho; a terceira questão envolve o trabalho com o campo aditivo (adição e subtração) a partir da utilização das cédulas e moedas; a quarta propõe a resolução do pagamento de uma compra sem troco a partir do uso de uma quantidade específica de notas; e a quinta sugere a criação de um problema que envolva uma situação de comprar e a troca dessas elaborações entre colegas para a devida resolução e a posterior discussão.

 Nota-se que as três primeiras questões estão parcialmente relacionadas a uma habilidade presente na BNCC (BRASIL, 2018, p. 287), pois se estruturam a partir da disposição das cédulas e moedas, sem a solicitação de elaborar e resolver situações que envolva compra, venda ou troca, restringindo-se unicamente ao trabalho com a identificação, equivalência e comparação das notas, assim como as questões 6, 7 e 8. Enquanto, somente a 4º e a 5º questão estão relacionadas totalmente à habilidade proposta, na medida em que a quarta solicita a resolução de um problema que envolve uma situação de compra; e a quinta, considerada a mais completa, engloba a elaboração, resolução e discussão de um problema que envolve uma das situações, a compra, pelo próprio educando. Tais questões se alinham com a perspectiva de Skovsmose (2000) sobre os cenários de investigações, os quais se caraterizam pelo convite aos alunos a formularem os problemas e procurarem as explicações, os engajando e os tornando responsáveis pelo seu próprio processo de aprendizagem. Como também, se aproxima da ideia de Cesar et. al. (2015) sobre a exposição de situações-problemas, as quais podem ser abertas e apresentar uma ou mais soluções possíveis, o que se estimula a criação de estratégias e de várias opções para que os alunos tenham a oportunidade de se engajar em um processo de criação de especulação, coleta, análise dos problemas.

 O livro do quarto ano apresenta o maior quantitativo de seções que trabalham a educação financeira. A habilidade referente à BNCC (BRASIL, 2018, p.291) busca promover a capacidade de resolver e elaborar problemas que envolvam situações de compra e venda e formas de pagamento, utilizando termos como troco e desconto, enfatizando o consumo ético, consciente e responsável (EF04MA25). À página 66 do livro do aluno do 4º ano, encontra-se:

Figura 8- Atividade da página 66- livro do 4º ano

Fonte: Livro didático do 4º ano- Coleção Bem-me-quer

 Essa primeira questão e como todas as outras que se sucedem, propõe um problema no qual o aluno deve identificar o valor do troco a ser repassado. Assim, tendo com base a habilidade elencada, percebe-se que o livro se detém exclusivamente a explorar situações que envolvam a compra e o troco, excluindo o trabalho com as diferentes formas de pagamento, venda, desconto, e, principalmente, o consumo com responsabilidade e sustentável, destoando-se a habilidade proposta. 

 O livro do quinto ano apresenta o trabalho com a Seção Atividades, situações-problema, para refletir em grupo e pesquisando. Como dito anteriormente, não há habilidade da BNCC e também não há a presença de um tópico dedicado ao trabalho com a educação financeira, como nos anos anteriores. Assim, o livro do 5º ano se detém a utilização das cédulas para auxiliar na formação de outros conhecimentos matemáticos, o que pode se estruturar como uma problemática, pois segundo Powell e Silva (2013), ao propor a organização de um currículo para a educação financeira, o qual  serve de orientação para o desenvolvimento do material, apresenta quatro eixos temáticos de conteúdos a serem essencialmente abordados em sala de aula, o primeiro diz respeito ao trabalho Noções Básicas de Finanças e Economia, o segundo trata da Finança Pessoal e Familiar, o terceiro sobre As oportunidades, os riscos e as armadilhas na gestão do dinheiro numa sociedade de consumo, o último eixo discute as dimensões sociais, econômicas, políticas, culturais e psicológicas, enfatizando a necessidade tais eixos temáticos serem explorados durante toda educação básica, não esgotando em um ano específico, como demostra a escassez desse trabalho no livro didático do quinto ano. A exemplo disso, a 4ª questão da página 105 do livro do aluno

Figura 9- Atividade da página 105- livro do 5º ano

Fonte: Livro didático do 5º ano- Coleção Bem-me-quer

Observa-se que objetiva verificar se alunos conseguem determinar a probabilidade de ocorrência de um resultado a partir da utilização das moedas, atividade essa que não busca trabalhar o sistema monetário ou outro conceito de educação financeira. É válido frisar que há algumas questões em que ficam mais evidentes a possibilidade de trabalhar com educação financeira, como a 4º questão, na página 63, no livro do aluno, 5º ano:

Figura 10 - Atividade da página 63- livro do 5º ano

Fonte: Livro didático do 5º ano- Coleção Bem-me-quer

 O objetivo dessa questão é trabalhar sobre o objeto de conhecimento Estimativa, havendo a possibilidade de discutir a diferença entre à vista e a prazo, as diferentes formas de pagamento, no entanto, o livro não faz nenhuma indicação aos professores sobre a oportunidade de se  trabalhar esses conceitos financeiros e, recai na problemática já citada anteriormente, da impossibilidade dos docentes fazer um trabalho interdisciplinar entre educação financeira e outros conceitos matemático devido ao ínfimo conhecimento financeiro Carvalho (1999 apud Oliveira; Stein, 2015).

Apesar da Base Comum Curricular não contemplar a disposição de habilidades em relação a educação financeira para o quinto ano e, consequentemente, o livro didático a coleção bem-me-quer, os autores Assata et al. (2017), ao analisar o grupo de crianças entre 3 e 10 anos, isto é, desde a educação infantil ao quinto ano do ensino fundamental, argumenta que a educação financeira nos anos inicias é importante, na medida que as crianças pequenas estão constantemente vivenciando experiências com as finanças, a partir de recebimento de mesadas,  presentes e podem estar cientes das transações financeiras de seus pais.

Da análise dessas atividades do cincos volume , identificou-se a presença relevante de 176 questões sobre a educação financeira em diferentes seções, como, atividades, desafio, divirta-se, pensando sobre o jogo, situações-problema, defenda sua ideia e pesquisando, com predominância de questões indiretas, as quais buscavam discutir outros conteúdos matemáticos, como, adição e subtração, a partir da exclusiva demonstração das cédulas e valores, sem o devido trabalho com as noções básicas de finanças, economia e consumo consciente, em detrimento de questões  diretas que apresentam a principal finalidade de desenvolver o conhecimento financeiro, o que representa uma necessidade de incorporar no livro didático problemas matemáticos que busquem essencialmente promover a aprendizagem financeira, pois de acordo com Mundy (2018, p.14)

Em Matemática, problemas monetários podem oferecer um contexto no qual alunos receberiam lições sobre questões diretamente relacionadas. Por exemplo, estudantes avaliariam a publicidade de um perfume que teve seu preço reduzido. Poderia ser pedido a eles que calculem a porcentagem da redução, e o custo do mililitro. O anúncio também poderia suscitar discussões sobre o que é essencial e o que é supérfluo, e se produtos e serviços mesmo tendo tido redução de preço têm bom valor para o consumidor. (MUNDY, 2008, p. 14)

 De acordo com Skosomove (2000), as atividades podem estar situadas em uma situação de realidade ou uma situação de semi-realidade. As situações da realidade são baseadas em dados verdadeiros e fatos que os educandos vivenciam, enquanto as atividades situadas em situações da semi-realidade se estrutura a partir de um cenário artificial que não necessita de uma investigação empírica para a construção da questão, sem considerar a veracidade das informações no campo real. Assim, nota-se, a partir da análise das atividades dos livros e das imagens apresentadas anteriormente, que há a prevalência de questões direcionadas a situação da semi-realidade em detrimento das situações de realidade, o que denota a importância de inserir mais propostas de atividades que gerem uma relação direta com o cotidiano infantil, na medida que devem ser levados a refletir sobre as questões quem englobam o mundo das finanças a partir da própria realidade, pois, segundo Lorenzato (2019), o material didático deve ser baseado no cotidiano das crianças e inspirados em suas vivências.

 Como conclusão deste trabalho, retoma-se a questão norteadora: De que forma a Educação Financeira é trabalhada nas atividades encontradas em uma coleção de livros didáticos de matemática adotada por 2 escolas públicas de Aracaju-SE? Para responder essa pergunta, adotou-se uma abordagem qualitativa com contornos quantitativo, com base na análise documental para seleção e a interpretação dos dados encontrados dos livros didáticos de matemática dos anos iniciais do ensino fundamental da coleção Bem-me-quer.

 Nesse sentido, apesar da presença significativa de um quantitativo de 176 questões sobre educação financeira, percebeu-se exiguidade de atividades que apresentam a finalidade de  apresentar as noções conceitos de finanças e economia, as oportunidades e riscos financeiros a partir do consumismo e as relações do dinheiro e ética,  devido a prevalência de questões indiretas em comparação as questões diretas em todos os anos, com exceção para o  primeiro e quarto do ano, as quais se detém a explorar outros conhecimentos matemáticas a partir da utilização das cédulas.

 É valido frisar, a absoluta inexistência de questões diretas no quinto ano, o que se configura pela descontinuidade de aprendizagens dos conhecimentos específicos do mundo financeiro que se encontravam em processo de consolidação desde o primeiro ano ao quarto ano do ensino fundamental. Assim, faz-se necessário o desenvolvimento de um trabalho processual e continuo nas atividades dos livros didáticos no que diz respeito a educação financeira, para que sejam fomentadas a aprendizagens do mundo das finanças. Para além disso, destaca-se a predominância de questões em situações de Semi-realidade em comparação a questões em situações de Realidade, o que denota a necessidade de incorporar atividades que apresentem elementos, características e contextos que se aproximam do cotidiano infantil.

 Por outro lado, é notório a iniciativa das autoras em destacar as habilidades da BNCC referente a educação financeira e a criação de tópicos dedicado ao exclusivo trabalho com os conhecimentos das finanças e economia, o que representa o devido reconhecimento da importância da educação financeira como elementar para formação dos sujeitos e a preocupação de expansão da temática nos livros didáticos de matemática.

 Por fim, afirma-se a importância e a necessidade da ampliação de estudos dos conhecimentos a respeito da educação financeira em aspectos teóricos na formação inicial e continuada dos professores para subsidiar a sua prática em sala de aula voltada ao desenvolvimento das noções críticas e conceituas das finanças dos educandos a partir da utilização do livro didático. Ainda reforçamos a relevância desse trabalho para expansão dos conhecimentos matemáticos no que se refere a educação financeira e a necessidade da continuidade da análise de outras coleções de livros didáticos, com intuito de melhor compreender como a educação financeira é explorada em suas folhas, já que o livro didático é um dos principais mecanismos de ensino amplamente utilizado por professores em sala.

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