A Ilíada e Odisseia de Homero são consideradas como os primeiros registros que refletem a essência e os pressupostos sobre mentoring a partir da relação construída entre Mentor, Ulisses e seu filho, Telêmaco, os três principais personagens das histórias. Mentor era o nome de um conselheiro a quem foi confiada a responsabilidade de cuidar de Telêmaco, filho do rei Ulisses, quando o rei foi para a Guerra de Tróia. A relação geracional de aprendizagem entre o sábio Mentor e o jovem Telêmaco permaneceu por vários anos, período em que foi orientando e apoiado a desenvolver-se a nível pessoal e de vivências práticas. A partir dessa história, o termo Mentor perpassou séculos como sinônimo de guia experiente, conselheiro sábio e protetor.
No contexto de religiões, a exemplo do hinduísmo, budismo e judaísmo, há em geral a figura do discípulo que recebe orientações religiosas e morais de gurus, monges e rabinos. Porém, essa relação constituía-se a partir de uma hierarquia, em que o mentor, pessoa mais velha que representava a sabedoria, dizia o que deveria ser feito para o noviço, a quem cabia escutar, aceitar e atender aos conselhos do mentor.
Já na atualidade, durante os anos 1970, no contexto norte-americano e europeu, programas de mentoring institucionais voltados para o desenvolvimento profissional começaram a ser estruturados. Desde então, o conceito de mentoring tem evoluído e atualmente consiste em uma aliança de aprendizagem e parceria em que mentor e mentorando refletem, aprendem e se desenvolvem sinergicamente, desconsiderando-se qualquer precedência hierárquica determinada por idade, conhecimento, cargo ou qualquer outro fator.
Desde então, o termo mentor passa a ser utilizado para designar, em geral, a relação entre um jovem mais experiente e um jovem iniciante, um sábio, um conselheiro. Uma relação na qual o mentor provê orientação, instrução e encorajamento para o desenvolvimento da competência e caráter do jovem.
No tempo dos homens, e não mais dos deuses, a Odisséia de Homero abre a senda para construção deste artigo que tem como objetivo compreender a importância do Projeto Mentoria no acolhimento dos calouros na Universidade Tiradentes. Para alcançar esse objetivo, inicialmente analiso as referências internacionais para construção do Projeto Mentoria da Unit, sobretudo, a partir do Projeto da Universidade de Burgos (Espanha). Em seguida, tenciono as estatísticas educacionais da Unit, tendo em vista o impacto do Projeto Mentoria-Unit/SE nos cursos de Arquitetura, Direito, Engenharias (Ambiental, Civil, Produção, Mecatrônica, Elétrica e Petróleo), Enfermagem, Nutrição e Odontologia.
Este artigo, parte da premissa de que a evasão na educação superior é um fenômeno internacional, sendo universal e complexo quando avaliado os diversos fatores que compõe o evento. A perda de alunos afeta os sistemas educacionais, sejam públicos ou privados, e constitui-se como grande desafio para todas as Instituições de Ensino Superior - IES, considerando as perdas sociais, acadêmicas (cérebros), econômicas (sociedade) e financeiras (IES). Para Dias (2010), estudar os fatores que levam à evasão nas Universidades e apontar alternativas para minimizá-la é relevante e estratégico. Segundo Lobo (2007), são raríssimas as IES brasileiras que possuem um programa institucional de combate à evasão, idiossincrasia de um sistema que propõe aumentar o percentual de matrículas líquida e bruta no ensino superior para os próximos anos.
Atualmente, o problema, portanto, não é entrar na universidade, mas, permanecer e ter sucesso no percurso formativo. Coulon (2008), mostrou que os estudantes que não conseguem se afiliar a seu novo universo fracassam, o sucesso universitário passa pela aprendizagem de um verdadeiro “ofício de estudante”.
Dados internos das unidades da Universidade Tiradentes apontam que a maior taxa de evasão acontece principalmente nos 1º e 2º períodos dos cursos, fenômeno universal e já apontado por diversos autores, como Bardagi & Hutz, 2012; Hausmann, Schofield, & Woods, 2007; Teixeira et al., 2008.
A caracterização do evento em questão conduz as seguintes indagações de pesquisa: Qual o importância do Projeto Mentoria no acolhimento dos calouros da Unit? Quais são as referências internacionais para construção do Projeto Mentoria da Unit? O que revelam as estatísticas educacionais da Unit sobre o a atuação do Projeto? Como a Unit buscou acolher e afiliar os estudantes no primeiro ano dos cursos visando melhor relacionamento e retenção?
O estudo tem como marco temporal o período de 2017, ano que foi criado o Projeto Mentoria, até seis semestres depois da implantação do projeto 2019, ano em que já se dispõe de dados que possibilitam analisar os impactos do projeto na retenção e permanência dos alunos iniciantes dos cursos de Arquitetura, Direito, Engenharias, Enfermagem, Nutrição e Odontologia. A escolha desses cursos se deu, tendo em vista, que esses são os cursos com maior número de alunos evadidos da instituição.
Por gerar interpretações diversas, na literatura verifica-se certa confusão em relação aos múltiplos significados de mentoring. Por vezes, alguns autores optam por não traduzir as expressões mentorship e mentoring, utilizando o termo “tutoria” como sinônimo de mentoria.
Em meio a essa polissemia, neste artigo considera-se o termo mentor, mesmo considerando as proximidades semânticas entre os termos “preceptor”, “tutor” e “mentor”, é importante esclarecer o significado de cada uma dessas palavras, especialmente quando são traduzidas de idiomas diferentes.
O termo “preceptor” é usado para se referir ao profissional que contribui para minimizar a lacuna entre teoria e prática no âmbito do processo de ensino-aprendizagem do estudante. Já o termo “tutor” atua como um guia, ou seja, um facilitador no processo de ensino-aprendizagem centrado no aluno, tendo um papel importante como avaliador, podendo trabalhar individualmente ou com um pequeno grupo de alunos. No caso do termo “mentor”,
[..] tal designação supera a orientação para além do “aprender a aprender”, centrando-se não apenas nos objetivos do curso, mas também em assessorar o estudante na busca pelo desenvolvimento interpessoal, psicossocial, educacional e profissional, em uma relação de reciprocidade e multifacetada na qual o ganho não é apenas unilateral (FRANZOI; MARTINS, 2020, p. 4).
A grande diferença do papel de mentor é que ele não desempenha papel clínico, nem de avaliador, mas de indutor de raciocínio crítico-reflexivo, incentivando o estudante a desenvolver habilidades para resolução de problemas pessoais e profissionais em busca de conhecimento próprio e de sua independência. No caso específico de mentoring estudantil entre pares, este é visto como uma relação de apoio entre pares na qual o orientador e o orientando têm similaridades em termos de idade e status; no caso, ambos são estudantes.
Destina-se a apoiar “os pares em problemas de natureza emocional, nas dificuldades acadêmicas e na integração social – ambos compartilham opiniões, planos pessoais e problemas do dia a dia” (FRANZOI; MARTINS, 2020, p. 4). Os principais benefícios de uma relação de mentoring estudantil entre pares, no caso dos alunos mentorados, são o apoio recebido dos pares no início da vida acadêmica e a aquisição de novos conhecimentos, enquanto para os alunos-mentores são citados gratificação pessoal e “melhora das habilidades de liderança, comunicação e gestão, além de relatos de menores níveis de ansiedade e de estresse durante a transição dos alunos para o ambiente acadêmico e clínico” (FRANZOI; MARTINS, 2020, p. 4).
Dessa maneira, verifica-se que, além de constituir-se como uma intervenção estratégica para melhorar a transição à vida acadêmica, o mentoring estudantil apresenta-se como uma oportunidade de desenvolvimento de habilidades e de competências pelos estudantes, tanto mentores quanto mentorandos, requeridas no contexto de prática profissional, principalmente habilidades organizacionais, de comunicação efetiva, de abordagem relacional, confiança, compreensão e entusiasmo.
Em relação às opções teóricas, trata-se de um estudo assentado nos conceitos de tática e estratégia, segundo Certeau (1994). Tais categorias podem ser utilizadas para compreender as iniciativas da Unit em conter a evasão entre os estudantes iniciantes. Nesse contexto, a estratégia da Unit, ao lançar mão de um conjunto de políticas institucionais de permanência, nesse caso o Projeto Mentoria, é concebido como possuindo um lugar próprio, manifestando-se como uma estratégia instituição de contensão da evasão. Entidade que se constitui como uma autoridade, engajada no trabalho de sistematizar, possuindo uma estrutura de elaboração pré-determinada e, além do mais, exigindo um dispêndio de tempo e de espaço que a tornaria pouco afeito a mudanças e readequações. Nas palavras de Certeau (1994),
Chamo de estratégia o cálculo (ou a manipulação) das relações de forças que se torna possível a partir do momento em que um sujeito de querer e poder (uma empresa, um exército, uma cidade, uma instituição científica) pode ser isolado. A estratégia postula um lugar suscetível de ser circunscrito como algo próprio e ser a base de onde se podem gerir as relações com uma exterioridade de alvos ou ameaças (os clientes ou os concorrentes, os inimigos, o campo em torno da cidade, os objetivos e objetos da pesquisa etc.) (CERTEAU, 1994, p. 99).
A tática, por outro lado, por não possuir um lugar próprio, age dentro do campo do inimigo, permitindo ações rápidas que visam responder necessidades dinâmicas. Opera na ordem do contingente, do fragmentário, sendo capaz de responder a uma necessidade de maneira ágil e flexível. Baseada no improviso, uma tática se infiltra, existe nas brechas, nas rachaduras do sistema, se reagrupa para responder as oportunidades que identifica. Ainda de acordo com Certeau,
(...) chamo de tática a ação calculada que é determinada pela ausência de um próprio. Então nenhuma delimitação de fora lhe fornece a condição de autonomia. A tática não tem lugar senão o do outro. E por isso deve jogar com o terreno que lhe é imposto tal como o organiza uma lei de uma força estranha. Não tem meio para si manter em si mesma, à distância, numa posição recuada, de previsão e de convocação própria: a tática é movimento “dentro do campo de visão do inimigo”, como dizia Von Büllow, e no espaço por ele controlado (CERTEAU, 1994, p. 100).
Para o autor, a tática não tem capacidade de se colocar em movimento por conta própria, muito menos dirigir-se a realização de um projeto global, atuando “golpe a golpe”, astuciosamente, à mercê das oportunidades que vão surgindo e sem conseguir jamais cria-las. Diferentemente da estratégia, a tática é míope, realizando-se na distância do embate corpo a corpo, sendo determinada por uma ausência de poder. Ela “se introduz, por surpresa, numa ordem” (CERTEAU, 1994).
Esta artigo também se assenta nos pressupostos da afiliação, nos termos de Coulon (2017), que sistematizou o conjunto dos dados que tinha coletado sobre os estudantes iniciantes na França e Brasil que, de fato, pode ser classificado segundo os três momentos assinalados por Van Gennep (1981). Quando se observam os primeiros meses que se seguem ao ingresso de um estudante universitário, ou quando o fazemos descrever, é fácil identificar as três fases apontadas por Van Gennep (1981). Em síntese, a afiliação pode ocorrer nesses tempos: do estranhamento (contato com novos contextos), da aprendizagem (processo de elaboração de estratégias) e da afiliação (vivenciar a graduação como ‘estudante profissional’):
1) Os novos estudantes experimentam um tempo de estranheza, ao longo do qual sentem-se separados de um passado familiar que eles devem esquecer. Em seu novo universo tudo lhes parece estranho: o ritmo das aulas não é mais o mesmo, as regras mudaram, as exigências dos professores também mudaram, ao ponto em que certos estudantes se perguntam o que realmente devem fazer;
2) Em seguida é o tempo da aprendizagem, frequentemente vivido de forma dolorosa, repleto de dúvidas, incertezas e ansiedades. O estudante não conhece mais a familiaridade de seu passado escolar e ainda não tem um futuro universitário ou profissional: ele está entre os dois. Uma aprendizagem complexa deve se realizar rapidamente pois ela condiciona a continuidade de seus estudos;
3) Enfim, chega o tempo da afiliação: os estudantes descobrem e aprendem a utilização dos numerosos códigos, institucionais e intelectuais, que são indispensáveis a seu ofício de estudante. Eles começam a reconhecer e assimilar as evidências e as rotinas do trabalho intelectual. Um estudante afiliado sabe ouvir o que não foi dito, sabe ver o que não foi designado. Ele sabe transformar as inumeráveis instruções do trabalho intelectual em ações práticas: ele descobriu a praticalidade das regras e começa a se tornar um membro competente, uma pessoa dotada da cultura exigida, que atribui o mesmo sentido às mesmas palavras e aos mesmos comportamentos. Essa nova competência, em processo de construção, se manifesta por meio de diversos marcadores de afiliação: “expressão escrita e oral, inteligência prática, seriedade, ortografia, presença de referências teóricas e bibliográficas nos trabalhos escritos, utilização espontânea do futuro anterior anunciador de uma perspectiva em construção.” (COULON, 2017, p. 1247). Ele começa a categorizar o mundo intelectual, no qual entrou alguns meses antes, da mesma maneira que os outros membros e, sobretudo, da maneira como os seus professores esperam que ele faça.
Por afiliação – conceito utilizado pela primeira vez em um artigo de 1985, Coulon –, designa, então, o “[...] processo pelo qual alguém adquire um estatuto social novo.” (COULON, 2017, p. 1247). Os estudantes que não conseguem se afiliar fracassam: o ingresso na universidade é em vão se não se faz acompanhar do processo de afiliação ao mundo intelectual em que entraram, frequentemente, sem saber verdadeiramente que estavam entrando. Ser afiliado, portanto,
[...] é ter adquirido a fluência que se funda na atualização dos códigos que transformam as instruções do trabalho universitário em evidências intelectuais. Uma das maiores razões dos abandonos e dos fracassos é o fato de o estudante não decifrar e, depois, incorporar esses códigos que chamei de marcadores de afiliação. A afiliação constrói um habitus de estudante, que permite que o reconheçamos como tal, que o insere em um universo social e mental com referências e perspectivas comuns e, como a permanência da categorização é a condição de todo laço social, com a mesma maneira de categorizar o mundo (COULON, 2017, p. 1247).
Em síntese, a partir do conceito de afiliação do pesquisador Alain Coulon (2008), compreende-se que é importante aprender o “ofício de estudante”, ou seja, assimilar códigos e rotinas do ensino superior. O autor, um dos principais representantes da Etnometodologia, se baseia na hipótese de que os estudantes que não conseguem afiliar-se à universidade fracassam, definindo a afiliação como o método através do qual alguém adquire um status social novo. Conforme sistematizado por Coulon (2008), às formas de afiliação, aponta a institucional, que consiste em compreender a dinâmica da universidade enquanto instituição dotada de regras e formas particulares de executá-las; “o aluno deve adaptar-se aos códigos do ensino superior, aprender a utilizar suas instituições e assimilar suas rotinas” (COULON, 2008, p. 32); e a intelectual, em que competências acadêmicas são usadas para apreender os conteúdos transmitidos em sala de aula e, assim, “navegar com facilidade na organização, exposição e utilização adequada dos saberes” (COULON, 2008, p. 239), a fim de passar pelas etapas necessárias até concluir o curso.
É válido ressaltar que a afiliação não é um processo que ocorre de forma homogênea, mas que comporta etapas que são vivenciadas de formas distintas e em tempos diferentes pelos estudantes. Com o objetivo de investigar como se dá a afiliação estudantil, buscando compreender suas particularidades, escolhemos como referência norteadora a etnometodologia. A etnometodologia, segundo Coulon (2008), se configura como uma ferramenta útil para conhecer a subjetividade dos atores, à medida que se interessa mais pelo “social se fazendo” do que pelo “social consolidado”, ou seja, a forma como os atores sociais constroem seu mundo familiar e cotidiano.
As exposições de Zago (2006), esclarecem que o estudo da afiliação com estudantes de origem popular é essencial para entender as transformações nas demandas e nas práticas educacionais, assim como identificar o novo perfil dos estudantes na sociedade contemporânea representa uma necessidade para a pesquisa e para as políticas em todos os níveis de ensino.
1.2 AS OPÇÕES METODOLÓGICAS
No tocante ao percurso teórico-metodológico, quanto à abordagem da natureza dos dados, esta investigação baseou-se em um estudo quanti-qualitativo (método misto), compreendido, aqui, como o caminho ao qual o pesquisador recolhe e analisa os dados, agrega os achados e faz inferências usando abordagens quanti-qualitativas em uma única investigação (TASHAKKORI; CRESWELL, 2007). Para Greene (2007), esse tipo de abordagem é uma maneira de ver ativamente o mundo social, considerando as múltiplas formas de diálogo e de compreensão dos significados e sentidos da permanência dos estudantes na graduação.
Nessa perspectiva, a pesquisa de métodos mistos é o tipo de pesquisa em que um pesquisador ou um grupo de pesquisadores combina elementos de abordagens de pesquisa qualitativa e quantitativa (p. ex., o uso de pontos de vista qualitativos e quantitativos, coleta de dados, análise e técnicas de inferência) para o propósito de ampliar e aprofundar o entendimento e a corroboração. Em síntese, a pesquisa de métodos mistos é: “[...] definida como aquela em que o investigador coleta e analisa os dados, integra os achados e extrai inferências usando abordagens ou métodos qualitativos e quantitativos em um único estudo ou programa de investigação” (TASHAKKORI; CRESWELL, 2007, p. 4).
A análise documental partiu da busca de informações e dados junto à Pró-Reitoria de Graduação e do setor de Fidelização da Unit, sobre as formas de acompanhamento dos estudantes dos cursos de graduação, configurando-se como fontes desta pesquisa: leis, portarias, decretos, projetos e programas institucionais, entre outros.
Após essa etapa, avançou-se para a apropriação dos resultados qualitativos por meio da análise de conteúdo que representa um “[...] conjunto de técnicas de análise da comunicação que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens [...]” (BARDIN, 2011, p. 15).
Bardin (2011) explicita que a análise de conteúdo tem diferentes fases. A primeira é a organização da análise, composta pela pré-análise, pela exploração do material e pelo tratamento dos resultados. As demais etapas são: codificação (escolha das unidades, enumeração e classificação); categorização (princípios, conjunto de categorias); inferência (polos de análise, processos e variáveis). Essa análise perpassou pela busca de sentidos das categorias e subcategorias encontradas nas respostas sinalizadas pelos sujeitos. Investigou-se os significados, as semelhanças e as diferenças dos estudantes acerca da permanência na graduação.
Os sujeitos desta pesquisa foram estudantes matriculados nos dois primeiros períodos dos cursos que apresentam a maior evasão da IES e são atendidos pelo projeto Mentoria. Os dados apresentados neste estudo foram cedidos do arquivo da Instituição.
Nesse contexto, pois implica colocar-se a ouvir histórias narradas, visto que
[...] a entrevista de pesquisa biográfica instaura assim um duplo empreendimento de pesquisa, um duplo espaço heurístico que age sobre cada um dos envolvidos: o espaço do entrevistado na posição de entrevistador de si mesmo; o espaço do entrevistador, cujo objeto próprio é criar as condições e compreender o trabalho do entrevistado sobre si mesmo (DELORY-MOMBERGER, 2012, p. 527).
Ao discutir sobre entrevista narrativa, como uma das possibilidades de coleta de dados na pesquisa biográfica Delory-Momberger (2012), discute aspectos relacionados à finalidade de tal procedimento, destacando o papel da subjetividade, das experiências constitutivas da individualidade e de processos de individuação, mediante o exercício dialógico da escuta de disposições da “exterioridade social e interioridade pessoal” (2012, p. 526) dos tempos e espaços das biografias individuais e coletivas.
3. “PROGRAMA BASADO EN LA AYUDA ENTRE COMPAÑEROS/AS”: A EXPERIÊNCIA DA UNIVERSIDAD DE BURGOS NA UNIVERSIDADE TIRADENTES
O Programa Mentor: tutorías entre iguales, idealizado e desenvolvido junto à Universidad de Burgos, lançou no ano letivo de 2009/2010, o programa destinado a ajudar e orientar os alunos a iniciarem seus estudos em um dos diferentes graus. O aluno mentor se trata de um aluno de curso superior: “[...] supervisado por un/a profesor/a-tutor/a, oriente y asesore a un/a alumno/a o grupo de alumnos/as de nuevo ingreso –estudiante mentorizado– para lograr su integración académica y social, y contribuir al éxito de sus estudios universitários” (PROGRAMA MENTOR, 2010, p. 5).
A Universidad de Burgos, ao lançar mão do Programa Mentor, investiu na integração social e acadêmica dos estudantes iniciantes, considerando que é essencial para fortalecer a rede de apoio do estudante dentro da universidade e favorecer a adaptação e sucesso no ensino superior. Para Tinto (1975), integração acadêmica refere-se ao sentimento de fazer parte do ambiente universitário, ao contexto e às demandas inerentes a este, que incluem a satisfação com o desenvolvimento pessoal a partir das atividades vivenciadas pelo estudante, a afinidade com o curso e a qualidade e apoio recebido de docentes. Nessa perspectiva, o Programa Mentor se baseia em um sistema de tutorias: “[...] entre compañeros/as de la misma Titulación. Cada uno de los alumnos/as de primer año de carrera que se matriculen en el Programa a través de su inscripción en el Programa PAT-MENTOR tendrán asignado un/a alumno/a de cursos superiores” (PROGRAMA MENTOR, 2010, p. 5). O Programa Mentor tem por principal objetivo oferecer
[...] a los/as alumnos/as de nuevo ingreso de la Universidad de Burgos la orientación y asesoramiento necesario para facilitar su integración académica y social en la institución y contribuir al éxito en sus estudios. Potenciar la formación personal y profesional de los/as estudiantes-mentores desarrollando sus habilidades sociales, de organización, liderazgo, orientación, etc (PROGRAMA MENTOR, 2010, p. 8).
O propósito do programa mostra a iniciativa da Universidad de Burgos em integrar os estudantes iniciantes e com seus pares mais experientes, que pode influenciar na decisão de permanência ou abandono do curso, já que estudantes que se integram desde o início de sua jornada acadêmica apresentam maior chance de aproveitamento das oportunidades oferecidas pela instituição, tanto na formação profissional quanto no seu desenvolvimento psicossocial, comparado aos que enfrentam dificuldades nessa transição à universidade. Esse programa se desenvolve por meio de
[...] reuniones grupales e individuales, presenciales y virtuales, los estudiantes mentores se valdrán de su experiencia para ayudar a sus compañeros de nuevo ingresoalumnos mentorizados a resolver las dificultades que vayan surgiendo a lo largo del curso. El/la alumno/a-mentor/a tendrá a su vez asignado un profesor/a-tutor/a (de la misma facultad-escuela) que le guiará en todo el proceso realizando un seguimiento, sirviéndole de apoyo y consulta y evaluando su participación. Durante todo el Programa no existirán exámenes ni trabajos, simplemente se trata de mantener un compromiso entre el/la alumno/a-mentor/a y sus alumnos/as-mentorizados, ya que deberán asistir a reuniones donde se desarrollarán diversas temáticas vinculadas al ámbito educativo y académico en función de las necesidades de los estudiantes mentorizados. También se llevarán a cabo actividades, visitas y acompañamiento a diferentes lugares y servicios que mejoren la integración social de los alumnos de nuevo ingreso (PROGRAMA MENTOR, 2010, p. 6).
Entre as estratégias adotadas para auxiliar o processo de transição para a universidade, os programas de mentoring consistem em uma das principais intervenções aplicadas em diferentes contextos e países para acolher e apoiar novos universitários e remetem a um processo significativo de aprendizado mútuo (FRANZOI; MARTINS, 2020). Ou melhor, trata-se de uma parceria de aprendizagem recíproca em que uma pessoa experiente e empática – o(a) mentor(a) – orienta, apoia e influencia outra – o mentorado – em seu desenvolvimento pessoal e profissional, mediante interação revestida de camaradagem, confiança e compreensão. O programa, entre outros objetivos, busca facilitar
[...] al mentor el desarrollo de habilidades y proporcionar estímulos para el fomento de la reflexión, el diálogo, la autonomía, la crítica, etc.
Promover el desarrollo de actitudes y valores de compromiso, responsabilidad, respeto y solidaridad.
Ofrecer claves para su futuro y desempeño profesional.
Desarrollar competencias técnicas (saber), sociales, de participación (saber ser), metodológicas (saber hacer), de dirección y trabajo en grupo.
Orientar hacia la formación permanente.
Colaborar estrechamente con las diversas estructuras especializadas dentro de la Universidad.
Facilitar la transición de Bachillerato a la Universidad al alumnado de nuevo ingreso.
Promover el desarrollo de actitudes y valores de compromiso, responsabilidad, respeto y solidaridad.
Fomentar la participación en la vida universitaria y en el uso de sus servicios.
Proporcionar refuerzos académicos y ayudarles a superar las exigencias académicas.
Orientar el aprendizaje, anticipándose a las dificultades.
Mejorar la calidad educativa en la institución universitaria.
Mejorar sus habilidades sociales y comunicativas.
Aprender a realizar tareas de organización, dirección y gestión de grupos.
Adquirir nuevos conocimientos para su formación.
Desarrollar nuevas capacidades reconocidas a nivel laboral.
Conocer más ampliamente los servicios y funciones de la Universidad.
Sentir el Programa como una actividad de ayuda, voluntariado, compromiso…, potenciando de esta manera su desarrollo personal (PROGRAMA MENTOR, 2010, p. 8-9).
O Programa Mentoria desenvolvido na Unit se inspirou, sobretudo, na modelo da Universidad de Burgos, onde cada Professor Tutor acompanha 06 Alunos Mentores e cada Aluno Mentor acompanha 10 alunos Calouros.
Segundo a proposta de Perrone (2003), o autor que expõe 6 passos para o estabelecimento de um sistema formal de tutoria numa organização – não necessariamente universitária -: 1) Definir a mentoria; 2) Estabeleça uma estratégia de mentoria; 3) Selecione mentorado e mentores; 4) Proporcionar capacitação; 5) fidelizá-los; 6) Avalie o programa. Essas etapas coincidem com a Figura 7 Características dos programas de mentores nas universidades espanholas com a maioria daqueles que Casado-Munoz, Lezcano-Barbero e Colomer-Feliu (2015) identificaram na reflexão sobre o caminho percorrido em Burgos. No entanto, devido às características das universidades, considerou-se necessário definir mais três (números 6, 7 e 9) e desdobrar uma (relativa à seleção de pessoas mentorado e mentores), bem como contextualizar e ampliar a sua descrição.
O modelo apresentado serviu de inspiração para implantação do Projeto Mentoria, que surgiu em 2017, inserido em um programa institucional intitulado Programa Retenção e Relacionamento do Grupo Tiradentes. Dentro do escopo do programa, na Unit em 2017, implantou-se o Projeto Mentoria, com objetivo de fortalecer relação aluno – IES no primeiro ano acadêmico, a partir do relacionamento entre pares, estudantes, com foco na maior identificação e integração com a comunidade e vida universitária.
Além disso, o projeto estimula o desenvolvimento de habilidades técnico-científicas e relacionais de estudantes de graduação por meio da integração e apoio entre pares.
O Projeto Mentoria busca
acompanhar os alunos matriculados nos primeiros e segundos períodos dos cursos de graduação, considerando os possíveis obstáculos a serem enfrentados na adaptação ao novo contexto universitário. O Projeto Mentoria constitui iniciativa no âmbito de seu Programa de Retenção e Relacionamento, objetivando: 1. Acompanhar os primeiros passos dos alunos; 2. Estimular a formação de grupos; 3. Instigar a busca por melhor aproveitamento acadêmico; 4. Orientar sobre funcionamento da Instituição; 5. Diminuir o anonimato acadêmico (UNIT, 2018, p. 156).
O Projeto Mentoria parte do pressuposto de que o envolvimento com os grupos de pares, por exemplo, tem sido apontado como um dos fatores mais decisivos na adaptação, no sentimento de pertencimento à instituição e no desenvolvimento dos estudantes durante o período de frequência universitária, facilitando tal processo ao viabilizar o compartilhamento de expectativas, interesses e problemas; ou dificultando-o, uma vez que a ausência de relações sociais entre os estudantes tende a frustrar as expectativas deles em relação às mudanças na vida social após o ingresso na universidade. Nesse sentido, os vínculos afetivos, identificação grupal e busca de integração social são considerados importantes aspectos de adaptação ao novo contexto, deixando a saliência do papel profissional em segundo plano neste momento inicial.
OPERACIONALIZAÇÃO DO PROJETO
Segundo o Edital de Mentoria, com publicação semestral, “[...] o aluno mentor deverá cumprir uma carga horária de 10 (dez) horas semanais, para isso receberá Bolsa de Estudos no valor de R$ 200,00 (duzentos reais), bolsa de 60% de desconto no Unit Idiomas e certificado de participação no projeto” (UNIT, 2021, p. 1). O perfil esperado do aluno mentor consiste na: “[...] boa capacidade de comunicação, articulação e liderança; conhecer os processos acadêmicos; ser proativo; ter atuação em atividades de extensão e eventos institucionais” (UNIT, 2021, p. 1). Em relação às atribuições, o aluno mentor deverá elaborar e executar
[...] em conjunto com o Orientador, o Plano de Trabalho para o grupo de discentes que lhe for designado; Participar das reuniões convocadas pelo Orientador; Elaborar o Relatório mensal das atividades desenvolvidas sob sua responsabilidade, com inserção de fotos comprobatórias das atividades; Submeter-se a programas de formação, capacitação e/ou atualização para os quais for convocado; Apresentar, ao término da bolsa, Relatório Final de Atividades; Fomentar a integração e fortalecer os vínculos entre os discentes e a instituição através do relacionamento entre pares; Estimular o desenvolvimento de atividades acadêmicas, científicas, culturais e esportivas (UNIT, 2021, p. 1).
Ainda de acordo com o documento, cada professor orientador terá 10 mentores, e cada mentor, por sua vez, terá no mínimo 15 calouros. Como resultado, tem-se um total de 150 calouros por professor orientador.
Considerando-se o Projeto Mentoria um espaço de construção de parceria colaborativa e recíproca em prol da integração acadêmica de estudantes, com enfoque nas relações de apoio e aprendizado mútuas estabelecidas entre pares de estudantes.
Em síntese, é possível afirmar que o Programa Mentoria desenvolvido na Unit, desde 2017, é um importante aliado na retenção de alunos, partindo do acolhimento e acompanhamento dos ingressantes dos cursos de graduação da Universidade Tiradentes.
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