Metadados do trabalho

A Pedagogia Da Desejabilidade Social

Luzinete da Silva Figueirêdo

A Pedagogia da Desejabilidade Social é a resposta dada pelos alunos concluintes do Ensino Médio oriundo da Escola Estadual Professora Simone Simões Neri – Inhambupe-BA, que pode ser ampliada para realidades maiores. A Pedagogia da Desejabilidade Social são os sonhos, os desejos dos jovens em serem grandes profissionais, em cursarem faculdade renomadas, adentrarem em cursos que exigem uma gama de conhecimentos que, infelizmente eles não dominam, não tiveram tempo e situação que os promovessem a esse domínio pois tiveram que trabalhar, estudar e sustentarem-se. Eles respondem aquilo que a sociedade e a família querem ouvir, respondem como se estivessem dizer o que os investimentos neles querem ouvir, porém a realidade da distância entre fala e situação de vida estão nas entrelinhas, nos suspiros e nos olhares que revelam o sonho de ser mais, de alcançar patamares que, infelizmente, ficam na esfera dos desejos. Assim a Pedagogia da Desejabilidade Social é a forma como os alunos dão o resultado a si e a sociedade que nele investiu, dos resultados dos tempos escolares. Falam o que os outros desejam ouvir, mas que não é a realidade vivenciada.

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Como citar este trabalho

FIGUEIRÊDO, Luzinete da Silva. A Pedagogia da Desejabilidade Social. Anais do Colóquio Internacional Educação e Contemporaneidade, 2023 . ISSN: 1982-3657. Disponível em: https://www.coloquioeducon.com/hub/anais/582-a-pedagogia-da-desejabilidade-social. Acesso em: 16 out. 2025.

A Pedagogia da Desejabilidade Social

A Educação como mecanismo de formação institucionalizada dos indivíduos na e para a sociedade traz consigo a responsabilidade de fazer com que os estudantes se percebam no processo e na sociedade em que estão inseridos e que, sobretudo, vão e podem atuar como atores de importância significativa no fazer e refazer social. Esse processo de compreensão de si e da sociedade em que se movem, foi sempre um aspecto em que meu olhar como professora ficou atento. Questões como eles se percebem? O que desejam para si? Como foi o caminhar ao longo dos anos no processo educativo escolar para eles? O que significou? Movida por estes questionamentos fui a campo entender os comportamentos dos alunos por meio de suas respostas às entrevistas realizadas.

Sendo professora do Ensino Médio e do Ensino Regular Fundamental II, com um período de 40 anos de sala de aula, me propus a entrevista-los e discutir o processo de aprendizagem escolar ao longo dos anos. Seguem aqui os resultados dessas entrevistas com um olhar de quem deseja saber mais, pois este é um recorte da minha Tese denominada “A Voz Da ‘Ralé’”: Como Se Percebem Os Jovens Dos Meios Populares Do Ensino Médio Frente Às Trajetórias E Expectativas De Escolarização Percorridas”, defendida na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias – ULHT, 2021, aprovada por unanimidade pela banca.

A Pedagogia da Desejabilidade Social é a resposta às conclusões de falas dos alunos, é a forma de compreensão que se teve dos movimentos e pensamentos dos alunos entrevistados durante a pesquisa empírica. Dessa forma, as explicações e considerações estão pautadas nas formas de pensar dos alunos das diferentes modalidades de Ensino Médio existentes na Escola Estadual Professora Simone Simões Neri na qual atuo atualmente. Como estes são os alunos diretamente ligados à minha prática docente, tornam-se o meu objeto de pesquisa a partir do questionamento: “Como se percebem os jovens dos meios populares do ensino médio frente às trajetórias e expectativas de escolarização percorridas?”.

Por se tratar dos resultados de uma pesquisa empírica, realizada junto aos jovens do Ensino Médio durante os três primeiros meses do ano em curso, reforçando a realidade pesquisada em 2020/2021, estrutura-se aqui o conceito da “Pedagogia da Desejabilidade Social”, o que é, como esta representa o comportamento dos jovens dos meios populares, bem como torna-se um alerta para que as práticas pedagógicas se tornem mais significativas para os envolvidos, ou seja, para professores, alunos, equipe pedagógica, e as organizações responsáveis pela educação nacional nas escolas públicas do país que atendem cerca de 81% dos jovens em idade escolar.

A Pedagogia da Desejabilidade Social.

 

Este estudo partiu da ideia de tentar perceber porque, ao longo dos anos em que trabalho como professora, sempre tive a sensação de que os meus jovens alunos não estavam ali completamente, era como se o corpo fardado estivesse, porém, a cabeça e o pensar não demonstravam uma relação com o saber, com o conhecimento, não tinha neles uma força de vontade para o domínio das novas aprendizagens, não se despertavam nas questões de interesse e busca pelo novo ou mesmo, pelo aprofundamento daquilo que já conheciam. Tratava-se de um distanciamento fechado em um não querer, não buscar e não ter avivado o caminhar tão próprio da juventude em relação ao novo.

Escutá-los, observa-los pararem diante de uma pergunta, pensar e depois responder, olhar nos olhos e perceber medos, tristezas e alegrias, escutar a voz, tremer ao descrever a sua própria vida, não é uma tarefa fácil o escutar, principalmente para quem acredita que a “educação muda pessoa, e pessoas mudam o mundo”, como já afirmava Paulo Freire. As respostas, todos os significados que vêm nelas imbuídos, são a grande razão pela qual, agora apresento a minha compreensão sobre o processo, tenta-se entender a percepção que os jovens dos meios populares têm sobre si, se esta é uma visão construída por eles para dar uma resposta à família e a sociedade, ou se estes representam um papel, são atores sociais que se vestem de alunos para corresponderem ao que desejam e esperam deles.

Como resultado desta investigação, a partir das falas dos jovens dos meios populares, apresento o que vou denominar de Pedagogia da Desejabilidade Social, por compreender que o processo educativo descrito pelos alunos, trata-se de um comportamento de longa de duração, envolvendo no mínimo onze anos de suas vidas, em que eles exercem a função de aluno, para que sejam aceitos, bem vistos, sejam alguém para a família e para a sociedade. Para a família, pois estas depositam suas esperanças nos jovens, e estes entendem que se estudarem podem ter uma vida melhor que as dos pais e, consequentemente, podem ajudá-los também. Para a sociedade, como respostas aos investimentos que neles foram realizados, para que tenha dele, o aluno, uma visão positiva, um olhar de crédito e não de mais um em quem não acreditam, assim, a possibilidade de arranjar um emprego é mais garantida.

Faz-se necessário melhor compreender a Desejabilidade Social, como esta foi diretamente ligada às vozes dos alunos, produzindo uma compreensão a qual denomino de Pedagogia da Desejabilidade Social. A Desejabilidade Social é um mecanismo, também considerado como um viés cognitivo, segundo o qual nós, seres humanos, temos a tendência mental de tomar decisões baseadas na maneira com que as nossas escolhas serão avaliadas pelas outras pessoas. Por sermos seres sociais, desejamos ser aceitos na sociedade em que vivemos ainda nos amparamos na aprovação social para fazermos nossas opções. Um viés cognitivo é caracterizado como uma falha no processamento das informações, dados e demais características do mundo que nos cerca, ou seja, este tem uma forte aparência lógica, de modo que à primeira vista faz todo sentido. Portanto, para Guedes (2015),

 

A desejabilidade consiste numa propensão que os sujeitos têm para responder, no contexto de avaliação psicológica, de acordo com o que é socialmente aceito ou tido como mais correcto, dada a necessidade de aprovação social. Trata-se de uma tendência dos sujeitos para atribuírem a si próprios os comportamentos e as atitudes com valores culturalmente aceitáveis e de acordo com as normas sociais, e para rejeitar ou ignorar em si mesmos a presença de atitudes/comportamentos com valores socialmente indesejáveis. (Almeida, & Freire, 2003[1]; Crowne, & Marlowe, 1960[2]; Ribas, Moura, & Hutz, 2004[3]; citados por Guedes, 2015)

 

Movidos pela busca da aceitação social, os indivíduos tendem a construir discursos que favoreçam a sua acedência no mundo em que vive, fugindo assim, de situações que não lhe favorece na vida em sociedade. Para Furnham[4] (1986), apud Guedes (2015), a Desejabilidade Social, é um termo que passou a ser usado para representar tendências de distorção de relatos para uma direção favorável, negando, assim, traços e comportamentos socialmente indesejáveis. Os indivíduos, por serem seres sociáveis, necessitam dessa estrutura para exercerem a sua representação, apresentarem o seu eu, de preferência, um eu positivo, um eu aceitável. Ainda em termo de definição,

 

Este termo tem sido usado referindo-se às características dos itens de um teste (Crowne & Marlowe, 19602), em que o respondente dissimula sua resposta real de forma a ser aceitável (Shultz & Chávez, 1994[5]). Seria, portanto, uma tendência a dar respostas que fazem com que o respondente seja apresentado de maneira positiva (Paulhus, 1991[6]), constituindo, desta forma, um componente indesejável na medição. A respeito, Paulhus6 (1991) enfatiza que a desejabilidade social corresponderia a todo um conjunto de fatores de distorção, que por sua vez estariam na dependência dos “papéis” apropriados para o contexto. (Gouveia et al., 2009).

 

Trata-se de uma tendência presente nos sujeitos para atribuírem a si próprios atitudes ou comportamentos com valores socialmente desejáveis e para rejeitarem em si mesmos a presença de atitudes ou comportamentos com valores socialmente indesejáveis,

 

Neste sentido, em função do contexto e/ ou das caraterísticas da personalidade (traços de personalidade), alguns sujeitos tendem a responder aos itens dos instrumentos de acordo com o que consideram ser o mais correto, aceitável ou desejável, de modo a satisfazerem a sua necessidade de aprovação social e a manifestarem comportamentos condizentes com as normas e os valores da cultura vigente (modelos de Edwards, Marlowe-Crowne; ver Crowne & Marlowe, 1960[7]; Edwards, 1957[8]; Marlowe & Crowne, 1961[9]). (Almiro, 2017)

 

De maneira mais detalhada, porém, sendo um pouco redundante, mas de forma necessária por compreender que esta se aproxima um pouco mais do que se deseja para a definição que hora se propõe, a Desejabilidade Social,

 

Tem por base a tendência de cada indivíduo de procurar aprovação social e evitar críticas, de acordo com aquilo que é culturalmente aceitável (Beretvas, Meyers, & Leite, 2002[10]). Consiste na deturpação motivada e direcional que o indivíduo faz das suas caraterísticas (Paunonen & LeBel, 2012[11]). Essa deturpação poderá ser uma estratégia consciente e deliberada ou, inconsciente e motivada por uma necessidade intrínseca de aperfeiçoamento e manutenção do ego (Paulhus, 1984[12]). Em suma, é a tendência de um indivíduo para se comportar de maneira positiva, exagerando as suas virtudes e escondendo as suas falhas (Crowne & Marlowe, 19607). (Moreira, 2016, p. 18)

 

Ainda em busca de definir detalhadamente a Desejabilidade Social, esta

 

Pode ser considerada como um traço de personalidade, tornando-se um importante tema nas Ciências Humanas, em decorrência de sua influência potencial nas repostas dadas às pesquisas realizadas e mesmo nos relacionamentos interpessoais, uma vez que a desejabilidade social favorece uma busca de sincronia de opiniões, ideias, atitudes e valores, com ênfase no tradicionalismo e pertencimento grupal (Bernardi, 2006[13]; Furnham, 1986[14]; McCrae & Costa, 1983[15]; Nicholson & Hogan, 1990[16]; Paulhus, 1991[17]; citados por Gouveia et al., 2009).

 

Todas as definições são importantes para que seja melhor compreendida a Pedagogia da Desejabilidade Social, não se deseja aqui afirmar que os alunos são mentirosos e que suas falas sejam anteriormente montadas de forma que busquem convencer-se ou convencer sobre algo que não sejam, mas como estes tentam se ajustarem ao mundo em que vivem, buscando assim sua aceitação social. Se a Desejabilidade Social é o uso de mecanismo de resposta que os indivíduos utilizam por serem estes considerados como corretos, aceitáveis ou desejáveis, de modo a satisfazerem a sua necessidade de aprovação social e a manifestarem comportamentos condizentes com as normas e os valores da cultura vigente, a Pedagogia da Desejabilidade Social segue esse mesmo processo.

A Pedagogia da Desejabilidade Social pode ser compreendida, em uma definição inicial, como sendo um comportamento ou posicionamento em relação à escola, adotado pelos jovens dos meios populares, considerado como correto, aceitável ou desejável, de modo a satisfazerem a sua necessidade de aprovação social, manifestando comportamentos condizentes com as normas e os valores da cultura vigente. Trata-se de um comportamento, aqui compreendido como inconsciente e motivado por uma necessidade intrínseca de aperfeiçoamento e manutenção do ego, de ser aceito, bem visto pela família, pela comunidade, ser compreendido como alguém que merece respeito por ter concluído seu papel social de estudante.

Ir para a escola não representa necessariamente aprender, mas tem grande valor social, é o momento de ser visto como aquele que segue as regras sociais, ser respeitado como estudante, aquele no qual se pode depositar boas esperanças, ou seja, a comunidade respeita porque é estudante, quer alguma coisa na vida, está buscando algo melhor para si. Os jovens que não estudam, ou evadem a escola durante o processo, são considerados vadios, ou “e-vadio”, abandonou, é vadio, termo pejorativo que denota pouco valor aos estudos, em uma linguagem popular: não quer nada. Esta não é a melhor das visões que se pode construir para si, mas buscar caminhar segundo as normas familiares e sociais vigentes, estudar e conclui o Ensino Médio para “ser alguém na vida”.

Pedagogia da Desejabilidade Social no contexto da Inclusão Escolar

 

Os jovens dos meios populares são inseridos no contexto escolar desde os três anos como estabelece a Constituição Federal, alguns chegam mais tarde, depende da comunidade na qual vive, dependendo se esta tem escola de Educação Infantil ou não. As escolas são espaços de formação social e socialização do saber sistematizado, para isso são pensadas e estruturadas de forma a atender as necessidades de aprendizagem e humanização dos indivíduos que por ela passam. Os jovens dos meios populares estão inseridos nessas estruturas que não garantem efetivamente esta humanização, esta aprendizagem e desenvolvimento de habilidades que lhes promovam o sucesso desejado, tanto quanto o desempenho aceitável socialmente.

As Políticas Públicas são o elemento norteador e definidor das estruturas educacionais. Fica a cargo delas a elaboração das diretrizes e políticas de investimentos que fazem acontecer as diferentes modalidades de educação pública ao longo do país. Estas políticas não correspondem às necessidades de formação dos jovens a quem buscam atender, não se adequam a realidade em que estes estão inseridos. As Políticas Educativas implantadas estão distantes do processo de educação necessário para os alunos que adentram os muros escolares a partir do processo de inclusão escolar fomentado no país. O sucesso que os jovens desejam alcançar ao concluírem o Ensino Médio, não é uma realidade no cotidiano dos mesmos.

Se em tempos passados a educação não era para todos, somente destinada a uma minoria, atualmente todos tem direito a adentrar os espaços escolares, buscarem conhecimento e desenvolvimento de habilidades que até o momento não dominam. Esse é o papel da escola, esse é o papel social da escola, as estruturas são preparadas para ofertarem o desenvolvimento desses saberes tão significativos para a vida em grupo, para o trabalho, no constante processo de produção das sociedades globalizadas. Distanciar-se dessa realidade, é colocar-se fora do contexto social em que todos são cobrados em relação a um posicionamento de preparação para adentrar o mercado produtivo e assim, garantir o poder de compra, tão representativo nos tempos atuais.

Os jovens dos meios populares incluídos nesse cenário escolar desenvolveram um processo adaptativo ao longo dos anos de estudos buscando corresponder, mesmo que seja só no discurso, corresponder a demanda do que a sociedade quer e deseja dele, a este comportamento que denomino de Pedagogia da Desejabilidade Social, expressa nas falas dos mesmo ao longo da investigação: “Meu sonho é ser dentista e trabalhar logo para fazer a minha vida porque nem sempre vamos depender de nossos pais”, “Profissionalmente eu pretendo ser Psicóloga”, “Eu quero ser Engenheiro Mecânico”, “Eu quero ser Professora, Dançarina, Nutricionista”, “Eu quero ser Engenheiro Civil. É pra mim alcançar algo meió no futuro, alcançar meus processos na frente, ser algo maior”, “Eu quero ser... como é de construção? Sim, Engenharia Civil. Eu quero ter dinheiro para fazer faculdade”, “Quero ser Médica Veterinária. É a minha meta”.

Se a Pedagogia consiste no conjunto de métodos que asseguram a adaptação recíproca do conteúdo informativo aos indivíduos que se deseja formar, a Desejabilidade diz respeito aos desejos articulados pelos alunos nas falas, meio pelo qual expressam seus sonhos, seus desejos de conhecimento, de profissões que lhe venham assegurar uma melhor qualidade de vida. Estes desejos são as manifestações do eu para corresponder ao que a família e a sociedade cobram, indiretamente, deles, ou seja, o aluno vai expressar, manifesta o desejo por aquilo que a sociedade espera dele, ou aquilo que a sociedade quer que ele deseje, ainda que ele tenha conhecimento que não tem elementos necessários para atingir esse objetivo fim.

Nesse contexto, ainda que o aluno tenha conhecimento que não domina, ou não é detentor dos elementos necessários para atingir o objetivo final, expresso em vários momentos nas diferentes vozes, quando afirmavam que o mais importante que aprendeu na escola foi ler e escrever, como pode ser visto a seguir:

 

“Aprendi várias coisas, principalmente que a gente tem que respeitar um ao outro para poder subir na vida”, (FG2)

“Aprender mais e mais, prá lá na frente ser algo na vida”, (FG18)

“Foi ler e escrever. De importante mesmo. Que é o essencial, é fazer o nosso nome”, (FG11)

“Foi importante aprender a ler e a escrever”, (EJA4)

“Tratar as pessoas com educação no falar, no escrever”, (EJA3)

“Foi a ler, porque a pessoa sem saber ler não é ninguém não”, (EC2)

“A ler, a escrever a ter uma boa relação com as pessoas”, (EC3)

“Aprender a ler é o essencial. Novos amigos tem tudo a ver – respeitar os outros e ter as atitudes certas, respeitar”, (EC4)

“A leitura e a escrita, me preparando”, “Aprender muitas coisas, nada específico, nada mais importante”, (EP2)

“Eu acho que foi a leitura”, (EP6)

 

Mesmo que o aluno entenda que não é portador dos elementos necessários para atingir o objetivo, ele manifesta no discurso o desejo de ser alguém na vida, portanto, compreendo este comportamento em relação à escola, à aprendizagem, ao conhecimento e às perspectivas futuras pós Ensino Médio como a Pedagogia da Desejabilidade Social, pois, ainda que o aluno não tenha as aprendizagens necessárias, expressa no discurso a Desejabilidade Social, ou seja, responde na teoria o que a sociedade quer e espera dele. Assim, ao distorcer a sua realidade, eles utilizam-se de respostas que consideram serem corretas, aceitáveis ou desejáveis, buscando satisfazer a sua necessidade de aprovação social, manifestando comportamentos condizentes com as normas e os valores da sociedade da qual faz parte, isentando-se assim da sua condição de fracasso, de oprimido, de excluído, dos desacreditados.

Ao afirmar que os jovens expressam no discurso uma desejabilidade social afirma-se indiretamente que este não é o desejo íntimo do mesmo, mas da família e da sociedade que fazem parte do contexto de vivência dos mesmos. Esta afirmativa pode ser explicada, retomando ao que anteriormente denominei de contradição nas falas, pois eles desejam determinadas profissões, porém não descrevem atitudes que demonstrem caminhar para alcançar o que desejam, nesse contexto, estes são tão somente desejos para alimentar a situação de um olhar positivo que a sociedade possa ter sobre ele, falam o que esperam que falem para serem aceitos, assim respondem as expectativas que, indiretamente colocam sobre os jovens dos meios populares.

As escolas públicas no Brasil têm uma grande responsabilidade no processo de formação dos jovens estudantes que nelas são inseridos a cada ano, trata-se de um percentual bastante elevado distribuído pelas mais distantes regiões do país. Segundo o último Censo Escolar de 2022, foram registradas 35,76 milhões de matrículas nas 180,6 mil escolas de Educação Básica no Brasil. Destes, 48,1%, ou seja, quase a metade dos alunos, são atendidos pelas Redes Municipais de Educação. Apenas 19,1% dos alunos do país são atendidos pelas escolas privadas, configurando assim, a importância que as escolas públicas têm dentro do país. Está a cargo destas, a responsabilidade pela formação de qualidade dos estudantes para a vida.

Nesse contexto, os índices de aprovação são de 94,2% nas séries iniciais do Ensino Básico, somado a 88,1% das séries finais do Ensino Fundamental, e 83,4% no Ensino Médio. Às escolas públicas do país dominam o processo de formação nacional, sendo responsáveis por mais de 80% dos alunos em idade escolar. A Educação Infantil atende atualmente 8,9 milhões de alunos, deste total 71,4% são de responsabilidade das Redes Municipais de Ensino, sendo 10,5% em Escolas da Zona Rural. O Ensino Fundamental atende 26,9 milhões de alunos distribuídos por 109,6 mil escolas por todo país.

O Ensino Médio, parte final da Educação Básica conta com 7,5 milhões de matrículas no total, sendo 83,9% destas, responsabilidade da Rede Estadual de Ensino, 12,5 na Rede Privada e 3% na Rede Federal. Vale complementar que 95% destas matrículas são em escolas da Rede Urbana, e 41% destas escolas possuem de 500 alunos. A Educação Profissional é responsável pela formação de 1,9 milhão de estudantes, sendo 41,2% na Rede Privada, 38,3% na Rede Estadual, 18,7 na Rede Federal, e somente 2% na Rede municipal. Para que o processo de formação aconteça, a Educação Básica no Brasil conta com 2,2 milhões de docentes, 599 mil destes atuam na Educação Infantil, 1,4 milhão no Ensino Fundamental, 507,9 mil no Ensino Médio sob a gestão de 161,4 mil diretores.

Com base nos dados acima, de 2022, portanto bem recentes, é possível compreender não só a responsabilidade das políticas educacionais na formação do povo brasileiro, como a exigência que faz para a efetivação de uma educação de qualidade para todos. O Brasil já viveu a fase da exclusão escolar de longa duração, seguiu pelo processo de inclusão, os números acima confirmam essa etapa, pois as escolas estão cheias de alunos e professores. O momento atual busca pela formação de qualidade, uma formação humana eficiente, em que os jovens efetivamente venham desenvolver as habilidades necessárias para a vida.

Sugere-se que políticas públicas sejam implantas visando o desenvolvimento humano e tecnológico em longo prazo, que sejam estruturadas com base nas estruturas já existentes:

  • 180 mil escolas;
  • 47,9 milhões de alunos;
  • 2,2 milhões de professores licenciados e especialistas;
  • 161,4 mil diretores.

Espaços escolares, profissionais e alunos já fazem parte da realidade escolar, compete agora o investimento em políticas educacionais que melhorem a qualidade do ensino e uma efetiva relação com o saber. O saber está posto na escola, uma parcela dos estudantes se envolve e desenvolve interesse próprio, de forma acentuada nas escolas privadas, em menor número nas escolas públicas. Portanto, a reformulação das políticas públicas visando à construção e compreensão dos alunos em relação ao saber, é uma necessidade, já que se tem material humano, espaços físicos suficientes, é preciso focar na reestruturação e transformação das políticas pedagógicas. Para Charlot (2000),

 

A relação com o saber é o conjunto das relações que um sujeito mantem com um objeto, um “conteúdo de pensamento”, uma atividade, uma relação interpessoal, um lugar, uma pessoa, uma situação, uma ocasião, uma obrigação, etc., ligados de uma certa maneira com o aprender e o saber; e, por isso mesmo, é também relação com a linguagem, relação com o tempo, relação com a ação no mundo e sobre o mundo, relação com os outros e relação consigo mesmo enquanto mais ou menos capaz de aprender tal coisa, em tal situação. (Charlot, 2000, p. 81)

 

A promoção dessa relação com o saber junto ao aluno seria um dos caminhos possíveis para fazer com que estes compreendam a necessidade de uma aprendizagem efetiva, que lhe seja proporcionada o desenvolvimento das capacidades necessárias visando uma vida eficiente dentro da sociedade da qual faz parte, que a relação com o saber possa promover outras relações, consigo, com o outro, com o mundo em que vive, sendo esta uma relação de igualdade e não de subordinação e negação. Que as políticas públicas e as escolas não contribuam ou reproduzam a triste realidade que marca os jovens das escolas públicas no seu processo de inclusão, são muitos, são quase o total dos jovens de todo o país, que lhe deem a chance de viverem em um mundo menos desigual, pois se mais de 80,9% dos jovens são os dominados produzidos pelas escolas públicas, os 19,1% das escolas privadas serão supostamente os dominantes.

Nesse contexto, a Pedagogia da Desejabilidade Social seria aquela cursada pelos alunos com o objetivo de dar a resposta considerada socialmente aceita pela sociedade. É fazer o que a família e a comunidade esperam deles, uma forma de não ter a sua conduta associada a conceitos negativos. Assim, para os jovens dos meios populares, estudar é praticar a Pedagogia da Desejabilidade Social, sem que apresentem interesses verdadeiros pela aprendizagem, não reconhece um significado positivo para a escolarização, passa pelo percurso escolar sem construir uma memória afetiva, intelectual, uma relação com o saber que lhe proporcione mudanças e novos caminhos para a autoconstrução positiva. Mas ao mesmo tempo, a frequência e a aprovação escolar o colocam positivamente diante da sociedade, da família, e consequentemente nas estatísticas educacionais.

A vida em sociedade tem suas relações marcadas pelas cobranças, somos aquilo que a sociedade constrói, como ela nos enxerga, dá-se muita importância a forma como somos percebidos pela sociedade em que vivemos. Por outro lado, a sociedade cobra dos indivíduos um determinado comportamento que seja condizente aos valores vigentes em cada época. Estes valores não são homogêneos, mudam com o tempo e nas sociedades, o mundo capitalista globalizado em que vivemos o saber, o conhecimento é um capital cultural muito valorizado, as sociedades são analisadas pelo IDH, no qual, um dos aspectos considerados é o nível de escolaridade e anos de estudo e quanto maior este índice, mais bem vista é a sociedade.

O Brasil escolariza 81% dos seus alunos em instituições públicas, a realidade de aprendizagem, segundo OCDE (2019), do total de estudantes, 43% não alcançaram o nível considerado mínimo em nenhuma das áreas do conhecimento. No que diz respeito ao Letramento Matemático, 32% dos brasileiros atingiram o mínimo na disciplina no país, esta analisa a capacidade de formular, empregar e interpretar a matemática em uma série de contextos, o que inclui raciocinar matematicamente e utilizar conceitos, procedimentos, fatos e ferramentas matemáticos para descrever, explicar e prever fenômenos. A média dos integrantes da OCDE é de 76%, desta forma o Brasil no ranking está entre 69º e 72º (PISA, OCDE, INEP, 2018, ps. 10/40).

Em ciências, 45% dos brasileiros chegam ao mínimo, já a média da OCDE de 78%, a posição do Brasil no ranking está entre 64º e 67º. O Letramento Científico considera Capacidade de se envolver com questões relacionadas com a ciência e com a ideia da ciência, como cidadão reflexivo, estando disposto a participar de discussão fundamentada sobre ciência e tecnologia. Em relação ao Letramento em Leitura, 50% dos brasileiros chegam ao mínimo, conseguem identificar a informação principal de um texto médio, ou seja, apresentar capacidade de compreender, usar, avaliar, refletir sobre e envolver-se com textos, a fim de alcançar um objetivo, desenvolver seu conhecimento e seu potencial, e participar da sociedade. A média da organização de 77%, a posição do Brasil no ranking está entre 55º e 59º (PISA, OCDE, INEP, 2018, ps. 10).

O nível máximo é atingido por apenas 2% dos brasileiros em leitura e 1% em matemática e ciência, quando a da OCDE é 9%, 11% e 7% respectivamente. Observa-se que o Brasil alcançou um desempenho médio significativamente inferior ao desempenho médio dos países da OCDE nos três domínios avaliados. Diante desse contexto, é válido apresentar como se sentem os jovens estudantes do Brasil em relação bem estar, 65% afirmam que estão satisfeitos com suas vidas, a média da OCDE é de 67%. Ao serem questionados sobre se algumas vezes ou sempre se sentem felizes, 91% dos brasileiros afirmaram que sim, a OCDE 90%, já em relação se sempre se sentem tristes, somente 13% dos brasileiros disseram que sim, contra 6% da OCDE (PISA, OCDE, INEP, 2018, ps. 10/40).

É interessante reiterar que 77% dos estudantes nacionais afirmam que normalmente conseguem encontrar uma saída quando estão em situações difíceis contra 77% da OCDE. Somente 55% dos brasileiros afirmam que quando fracassam, ficam preocupados com a opinião dos outros, semelhante a 56% da OCDE. Já em relação a compreensão de que a inteligência é algo que não se pode mudar muito, empataram com 63%. Nesse contexto, os índices não colocam o país em uma situação confortável, ao contrário, afirma uma imagem negativa em relação a investimentos, desenvolvimento econômico e melhoria da qualidade de vida da população. A Educação é um cartão postal do país, muito se diz da realidade interna de uma nação, ao observar os índices de desenvolvimento da aprendizagem escolar (PISA, OCDE, INEP, 2018, p. 40).

A sociedade cobra uma performance dos jovens na sociedade, a escolaridade é uma dessas muitas cobranças, querem deles um sucesso como resultado dos investimentos que neles foram feitos, um resultado escolar de uma oportunidade que os alunos da atualidade tiveram e que muitos no passado não foram contemplados. Desejam deles um resultado, um sucesso que o jovem não adquiriu durante o tempo escolar, não teve o domínio de determinados conhecimentos e habilidades, e eles sabem disso, afirmam essa realidade para si, não para a sociedade. Ao contrário, para a sociedade, tanto quanto para a família, constroem um discurso que corresponde ao que desejam deles, assim demandam as expectativas que colocam sobre eles, cobranças baseadas nos investimentos que foram realizados ao longo dos anos de estudo.

As respostas dos jovens dos meios populares sobre o processo educativo, é compreendido e denominado de auto-engano, pois refletem uma distorção de resposta resultante de uma tendência inconsciente de fornecer auto-relatos positivos (Paulhus, 1991). Ou seja, Schwartz e Cols. (1997) definem este tipo de resposta como uma tendência inconsciente de apresentar-se como capaz e bem ajustado. Para Paulhus, (1991), identifica um segundo fator a quem denomina de manipulação da impressão, indica uma distorção de respostas devido ao seu falseamento intencional, isto é, os indivíduos optariam por mostrar-se mais socialmente adequados e desejáveis, demonstrando uma motivação à aprovação (Ellingson, Sackett & Hough, 1999). Assim, o manejo de impressão é altamente influenciado por circunstâncias nas quais a demanda por auto-apresentações positivas é alta (Meston & cols., 1998).

Nesse contexto, o ir para a escola durante anos seguidos, pode ser compreendido, como um caminho no qual a sociedade estabelece para que o jovem tenha valor social. Tem que ser aprovado, aprova-se; o índice elevado de repetência onera os cofres públicos, portanto, a aprovação tem que acontecer. Assim, os jovens vão repetindo praticas, repetindo tudo que elaboram, desejam e pensam para eles, porém, não existe neles um significado, uma representação positiva da educação no eu. É como se fosse uma roupagem que vestem para serem bem vistos, mas por dentro não tem grande significado. Cumprem-se assim etapas de representações sociais, praticam por longos anos a Pedagogia da Desejabilidade Social, que os incluem, pouco ensinam, pouco formam e, infelizmente, destas só restam os desejos insatisfeitos.

Se o papel das Ciências é o de desocultar as contradições, cumpre aqui, por meio das vozes dos jovens dos meios populares, configurar “quão dolorosa e perversa é a inclusão escolar, um conceito que romantiza a inserção de todos nas escolas, mas que oculta práticas segregativas por meio de supostas aprendizagens significativas”. Aprendizagens significativas para as leis, os textos oficiais, mas pouco relevantes para os que as recebem, para os que não as compreendem, para os que não conseguem fazer destas mecanismos propulsores para suas vidas tão difíceis. Se historicamente lhes foi negada a educação escolar (exclusão quantitativa), atualmente lhe negam a oportunidade de ir além do desejo, alcançar a esfera da realização, (exclusão qualitativa), (Teodoro, 2020).

A Pedagogia da Desejabilidade Social diz respeito à construção do ser humano com direitos iguais, com oportunidades de aprendizagens significativas, tão significativas que estes não tenham que tão somente desejar, mas, sobretudo, serem. Serem o que quiserem e tiverem capacidade de ser, não se firmarem em um terreno de insatisfações que desenharam para eles, mas que possam buscar e alcançar o que almejam para si, que não seja necessário construírem “seres humanos desejáveis para si” tão somente para serem aceitos em uma sociedade que nunca os aceitou, acolheu e oportunizou efetivamente a sua construção. Para Souza, (2017, p. 170),

 

A concepção que um ser humano tem de si mesmo depende de sua vontade e é formada pela forma como o indivíduo é percebido pelo seu meio social maior. É isso que significa dizer que somos produtos sociais. Nos tornamos, em grande medida, aquilo que a sociedade vê em nós. (Souza, 2017, p. 170)

 

É a escola o palco no qual ocorre parte, se não toda essa construção social, o ser bem visto pelo mundo que o cerca e no qual está envolvido, é poder corresponder as perspectivas que foram neles depositadas, principalmente por aqueles a quem as chances foram retiradas, é ter oportunidade de falar, planejar, buscar e alcançar tudo o que deseja de bom para si, que os jovens não tenham que recorrer as drogas, ao mundo do crime, mesmo compreendendo que sua vida será ceifada em breve, como forma de viver brevemente o mundo que sabe que é de todos, mas que para ele não foi designado, a homogeneização lhes fora negada.  Souza (2017, p. 152) entende que,

 

É a ausência de processos de aprendizado coletivo e de sua institucionalização social e política que explica nossa abissal desigualdade e indiferença ao sofrimento. [...] São, afinal, processos de aprendizado coletivo que garantem uma economia emocional, moral e cognitiva, em alguma medida, efetivamente compartilhada e, portanto, um patamar comum para todos os indivíduos de todas as classes sociais. (Souza, 2017, p. 152)

 

Seria assim uma efetiva relação com o saber, que ao ser construída com todos, contribuísse para todos os indivíduos de todas as classes sociais, que as políticas públicas norteassem práticas educativas capazes de compreender e mostrar como a relação com o saber se constrói em relações sociais de saber. Políticas públicas que efetivamente buscassem diminuir as distâncias entre os “desejos e as vivências”, que os jovens dos meios populares fossem capazes de caminhar ao longo dos tempos escolares, construindo os sonhos e as aprendizagens, alicerces que embasassem suas práticas e realizações adultas, que alcançassem seus desejos para si, não desejos para outros.

 

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Ao ser inserido no mundo escolar desde muito criança ainda, os estudantes vão caminhar por longo tempo dentro do processo educativo, singrando os mares do conhecimento e das diferentes aprendizagens. Essa passagem para a escola tem como objetivo a formação do individuo para a vida em sociedade, para a formação para o trabalho entre tantas outras. Ao entrevistar os jovens alunos do Ensino Médio sobre seu caminhar nas escolas e em relação aos objetivos pós conclusão, foi possível observar que as expectativas iniciais, as que os moviam no inicio dos estudos vão se perdendo ao longo do caminho, as necessidades de sobrevivência vão substituindo os sonhos e os objetivos no processo de formação.

Ao falarem sobre a caminhada, as possibilidades de emprego, o sonho de frequentar uma faculdade parece que vão se tornando distante da realidade, ou seja, as necessidades básicas de comer, morar, vestir e poder ter um mínimo de lazer, tornam-se primordiais de tal maneira que a escolaridade tão desejada, sonhada vai sendo colocada em segundo plano. Quando o tempo passa e a conclusão do Ensino Médio chega, as vontades já se dissiparam para muitos, e o que lhes resta é estudar a noite, tentar aprender o que é possível, dominar o conhecimento necessário para que não seja totalmente excluído do trabalho, mas, sobretudo conseguir com muito esforço o diploma do Ensino Médio.

Não existe no processo de conclusão uma preocupação com a gama de conhecimentos adquiridos, mas sim a necessidade de mostrar a família e a sociedade que ele conseguiu o certificado, que ele terminou o Ensino Médio, ou seja, trata-se da prática da Pedagogia da Desejabilidade Social, aquela que inclui o aluno na escola, ele estuda por no mínimo onze anos, muda várias vezes de turno por conta do trabalho e do sustento, e ao concluir, ele se realiza, pois é a forma que encontra de corresponder aos que acreditaram e investiram nele, a família e a escola são os pontos principais e a si mesmo, pois afirmam que “sem estudo nós não é nada não”. A Pedagogia da Desejabilidade Social é a resposta da conclusão e não efetivamente da aprendizagem e formação com objetiva a escola.

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