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O Ensino-Aprendizagem Da Compreensão Escrita Em Língua Espanhola Como Le Pelo Ambiente Virtual De Aprendizagem Da Plataforma Moodle

Valéria Jane Siqueira Loureiro

Neste trabalho trataremos do desenvolvimento da compreensão leitora em espanhol como língua estrangeira partindo do uso e da criação de material didático digital oferecido no Curso de Compreensão Leitora em Língua Espanhola à Distância (CCLE) para os estudantes da UFS pela plataforma Moodle do CESAD/UFS. Na teoria sócio construtivista se parte do principio que os estudantes se ajudam com o conhecimento que cada um tem e com a colaboração oferecida pelo professor nas atividades colaborativas desenvolvidas no meio virtual que leva o aluno a alcançar a competência da compreensão escrita em língua estrangeira. Uma prática de ensino de línguas que se ajuste às necessidades do alunado passa pela mediação do uso das TDIC. A inclusão das tecnologias no material didático se ajusta à realidade dos estudantes empregando um novo recurso para a aquisição consciente e autônoma da leitura.

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LOUREIRO, Valéria Jane Siqueira. O Ensino-Aprendizagem da Compreensão Escrita em Língua Espanhola como LE pelo Ambiente Virtual de Aprendizagem da Plataforma MOODLE. Anais do Colóquio Internacional Educação e Contemporaneidade, 2023 . ISSN: 1982-3657. Disponível em: https://www.coloquioeducon.com/hub/anais/532-o-ensino-aprendizagem-da-compreens%C3%A3o-escrita-em-l%C3%ADngua-espanhola-como-le-pelo-ambiente-virtual-de-aprendizagem-da-plataforma-moodle. Acesso em: 16 out. 2025.

O Ensino-Aprendizagem da Compreensão Escrita em Língua Espanhola como LE pelo Ambiente Virtual de Aprendizagem da Plataforma MOODLE

1. APRESENTAÇÃO

Este artigo trata de relatar a proposta do Curso de Compreensão Leitora em Língua Espanhola à Distância (CCLE) que foi oferecido para os estudantes da comunidade interna da graduação da Universidade Federal de Sergipe (UFS). O curso visa à utilização da modalidade à distância no processo de ensino/aprendizagem da língua espanhola, com o propósito de desenvolver a habilidade leitora dos estudantes para capacitá-los para as provas de línguas dos vários concursos de acesso aos programas de pós-graduação.

O curso se trata de um projeto de extensão universitária que objetiva desenvolver as estratégias de leitura que ajudem na compreensão de textos escritos, ampliando o conhecimento do vocabulário específico e de estruturas sintáticas próprias da língua estudada levando os alunos a também familiarizar-se com as diferentes variedades de registros das línguas a partir da utilização dos vários gêneros textuais.

As atividades postadas na plataforma virtual MOODLE procuram levar à compreensão da língua espanhola por meio da leitura de textos direcionados aos diversos temas de forma assíncrona entre os estudantes. O curso ofertado aos estudantes de graduação da UFS tem por objetivo capacitar os participantes nas línguas por meio do desenvolvimento da habilidade leitora. Para isto, os textos se direcionam, às diversas áreas de conhecimento, apresentando subsídios para a compreensão textual.

A leitura coloca o leitor de língua materna em contato direto com a cultura que sustenta a língua estudada. Essa experiência vai muito além da aprendizagem de novas palavras e estruturas gramaticais, pois exige do leitor um processo de comparação entre diferentes formas de comunicação. Nesse processo de aquisição de uma segunda língua, o espaço da leitura ganha uma dimensão pedagógica fundamental para a aprendizagem do novo idioma, dado que os diferentes elementos culturais entram em jogo: como o nacional, o regional, o racial, de gênero, entre tantos outros.

Assim, pelo prisma da interdisciplinaridade pregada pela Linguística Aplicada, este projeto de curso de espanhol busca salientar como questões culturais que podem auxiliar as práticas letradas nas aulas de língua espanhola. Diante desse contexto, percebemos a importância da prática docente que vise práticas letradas ainda na graduação para a ampliação das experiências dos graduandos e futuras atuações no trabalho.

Diante disso, esse curso de leitura em espanhol na modalidade à distância tem como objetivo geral desenvolver a motivação para leitura nos estudantes da graduação e pós-graduação da UFS. Ao mesmo tempo, evidenciar a importância da formação inicial do estudante de letras espanhol e letras português/espanhol, no sentido da consolidação das diferentes modalidades de ensino conforme o público e principalmente conforme o nível de estudos, no nosso caso, Graduação da UFS (comunidade interna). Assim, esse projeto pretende contribuir com a conscientização sobre o ato de ler nos estudantes, o desenvolvimento por leituras em língua estrangeira e o desenvolvimento da habilidade de leitura de textos verbais e não verbais em língua espanhola.

Essa é ação de extensão qualitativa onde se explora o campo do saber através de uma pesquisa bibliográfica, observação e coparticipação de aulas de espanhol como língua estrangeira na graduação e pós-graduação da UFS. A metodologia aplicada ao trabalho ocorre da seguinte maneira: Primeiro ocorre a realização da leitura de textos teóricos e produção de fichamentos que embasem o a ação e execução para o ensino do curso proposto como extensão. Realizamos reuniões semanais para discutir textos referentes à questão leitura, de letramento crítico, práticas letradas, diferentes estratégias e metodologias de ensino; elaboração de materiais didáticos em língua espanhola que busquem as práticas letradas entre outros para aplicação junto dos estudantes da comunidade interna da UFS que participam do projeto do curso.

Este projeto pode ser expandido para a Educação Básica, pois a compreensão escrita é uma habilidade que deve ser desenvolvida no processo de ensino-aprendizagem tanto de língua materna (português) quanto de língua estrangeira (espanhol). Esta orientação está presente nos documentos que direcionam o ensino de línguas no Brasil que são os PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental) e as OCNEM (Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio). O Parâmetro Curricular Nacional para o Ensino Fundamental afirma que os únicos exames formais em Língua Estrangeira (vestibular1 e admissão a cursos de pós-graduação) requerem o domínio da habilidade de leitura. (BRASIL-MEC/SEF, 1998, p. 20). Neste contexto, a aprendizagem de leitura em espanhol como Língua Estrangeira pode ajudar o desenvolvimento integral do letramento dos estudantes.

Nas Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio direcionam o ensino de línguas para o desenvolvimento da habilidade leitoraPara o ensino de língua estrangeira, as OCNEM, no que se refere à compreensão leitora, ressaltam que se deve  contemplar pedagogicamente as várias modalidades de leitura: a visual (mídia, cinema), a informática (digital), a multicultural e a crítica (presente em todas as modalidades) (BRASIL-MEC/SEF, 2006, p. 98). Portanto, a partir da documentação que rege o ensino no Brasil, PCN e OCNEM, o desenvolvimento da habilidade leitora com a inclusão de subsídios de suporte digital é uma necessidade para a formação dos estudantes que vivem na sociedade do conhecimento e da informação.

2. A Criação dos Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA)

A criação dos Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA) surge a partir de Tecnológicos Digitais de Informação e Comunicação (TDIC), que utilizam a comunicação por meio da Internet e nos ofertam uma gama de recursos, que variam desde o gerenciamento das atividades acadêmicas, como a criação de turmas e inscrição de alunos, o fornecimento de ferramentas para a comunicação entre os usuários, até a interatividade, como no caso da gamificação.

Os softwares, a exemplo da Plataforma MOODLE e o TELEDUC, foram criados com a finalidade de auxiliar na aprendizagem à distância. Desta forma, softwares como Moodle, promovem a interação fora da sala de aula.

Ambientes digitais de aprendizagem são sistemas computacionais disponíveis na internet, destinados ao suporte de atividades mediadas pelas tecnologias de informação e comunicação. Permitem integrar múltiplas mídias, linguagens e recursos, apresentar informações de maneira organizada, desenvolver interações entre pessoas e objetos de conhecimento, elaborar e socializar produções tendo em vista atingir determinados objetivos. (ALMEIDA, 2003, p.: 331).

A plataforma MOODLE se trata de um AVA à distância que disponibiliza ferramentas que favorecem o ensino na modalidade à distância de maneira participativa e colaborativa. Esse dispositivo tecnológico apresenta vários recursos que favorecem o ensino colaborativo e interativo. A utilização do Moodle (Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment), um software livre serve para auxiliar na aprendizagem, com base na concepção construtivista que tem fundamenta-se na construção da aprendizagem através da interação. O ambiente virtual visa à criação de cursos online, páginas de disciplinas, grupos de estudo e comunidades de ensino-aprendizagem, acessível em 75 línguas distintas em todo o mundo.

Este ambiente virtual de aprendizagem visa auxiliar os cursos relacionados à educação e administrar atividades pautadas na prática educacional construtivista: proporcionar a interação do professor com o aluno nas atividades desenvolvidas. A sua finalidade pé de auxiliar a construção do conhecimento na mente humana indivíduo, e não a postura tradicionalista educacional. O foco dos cursos disponibilizados é centrado no aluno e sua aprendizagem efetiva e o professor tem função de orientar o aluno na construção desse conhecimento. De tal modo, a Plataforma MOODLE disponibiliza wikis, diários, fóruns, chat, etc., para a prática colaborativa, interativa e comunicativa durante a execução de um Curso de Compreensão Escrita em Língua Espanhola.

3. Os Recursos Educacionais nos Cursos à Distância

Os recursos educacionais digitais estão à disposição do docente e são oferecidos de forma gratuita podendo ser utilizados para fins educativos, sem fins lucrativos. São muitos os recursos que podemos encontrar na internet quando nos referimos as aulas de idiomas. Entretanto, nos perguntamos: esses recursos são de conteúdo aberto? Podem ser reutilizados? Estão sob alguma licença?

Os recursos educativos abertos podem ser entendidos de diversas formar, não obstante tem práticas que caracterizam a definição de recursos abertos (SANTOS. 2012, p.1). Quando tratamos de educação aberta, são muitos os conceitos que podemos relacionar com essa prática. Citaremos alguns pontos que consideramos relevantes:

  1. Que o curso seja gratuito
  2. A possibilidade de reutilizar o objeto

Estas formas de aprender e ensinar modificam constantemente o cenário da universidade, pelo que consideramos que será necessário reconhecer formas digitais de linguagens, produção e recursos. É importante reconhecer como é a colocação do conteúdo, a produção dos mesmos. Quais os conteúdos digitais para trabalhar na área de línguas estrangeiras que estão sendo produzido? Como são aplicados?

Um exemplo de conteúdo aberto, também se relaciona às ações das políticas públicas levadas a cabo pelo Ministério da Educação (MEC) no Brasil, que é o Portal do Professor (http://portaldoprofessor.mec.gov.br/index.html), em que são apresentadas como um projeto com recursos de livre com acesso livre, só é solicitado um registro. As atividades e os projetos relacionados com o acesso a informação e ao conhecimento que o MEC realiza, como os projetos E-Proinfo, Proinfantil, E-Tec Brasil, Sistema de Universidade Aberta (UAB) não são vinculados a projetos específicos na área de Espanhol ou Inglês, no entanto os professores dessas línguas podem ser parte deles e participar nos projetos.

Propostas com atividades de conteúdo aberto para trabalhar com o espanhol na sala de aula que tenham o apoio da Secretaria de Educação do estado são raras no Brasil. Pensamos que é importante formular e promover projetos desta natureza, e, sobretudo, para apoiar os professores. Neste momento, não só para facilitar o acesso - computadores, laboratórios de computação e os portais de acesso a rede – mas o que fazer com este acesso: Quais são as responsabilidades e as partes interessadas? Que formas de conhecimento estão sendo produzidos?

A pergunta é se a Internet e os portais educativos são as melhores portas de acesso e quais são as melhores maneiras de treinar nesta perspectiva, o ser humano perceptivo. A medida que o estudante é responsável pela sua própria aprendizagem, o professor também cai neste contexto, no que ambos são estudantes. O governo não é suficiente para equipar as escolas e os cursos de formação da conduta, se faz necessário que o professor esteja reconhecido como uma parte integral de uma sociedade cada vez mais interativa e conectada tecnologicamente. Iniciativas governamentais sobre a educação informal não deixam de aparecer na rede.

A primeira pergunta a responder é a caracterização dos portais que são de natureza educativa. É importante que os analisemos em termos do seu conteúdo e a forma de sua produção e difusão no âmbito escolar. Os docentes precisam desenvolver e criar materiais de aprendizagem digitais de conteúdo livre. Na criação de um material multimídia não é só o professor que possa trabalhar na preparação, pode (si) com uma equipe de técnicos. Há atividades simples que só podem ser desenvolvidas pelo professor e são realizadas atividades mais complexas que necessitam da ajuda de expertos técnicos. Segundo o que nos afirmam os autores Costa e Barros (2010, p. 88):

Os materiais didáticos são as ferramentas de trabalho do professor; sem eles, podemos afirmar, as possibilidades de desenvolvimento do processo de ensino/aprendizagem reduzem-se drasticamente. Trata-se, portanto, de um componente fundamental para o estudo da língua e sua escolha é um passo importante, já que se devem considerar requisitos coerentes com os propósitos do professor e da instituição, com os objetivos e necessidades dos alunos, bem como com as diretrizes apontadas pelas leis e pelos documentos que regem a educação brasileira (LDB, PCN, OCEM).

Assim, o primeiro passo é escolher o material didático a trabalhar constantemente, o professor tem que saber escolher os parâmetros de todos os recursos de rede que possui. Além disto, o professor deve saber utilizar o material escolhido. Neste sentido, as propostas pedagógicas são necessárias, não só para ensinar, senão para mostrar o recurso a tratar com ele como Leffa (2003, p. 26) que questiona a criação de materiais didáticos e como devem ser consideradas.

No momento da criação de material educativo é necessário se ter em conta os objetivos, justificativa, comparação, avaliação, as cores, no caso da língua estrangeira que deve considerar-se, pois este material contribuirá para a aprendizagem dos estudantes em língua estrangeira, entre outros. Por outra parte, o mais importante é considerar o acesso livre, que o seu conteúdo está aberto, como nos indica Santana, Rossini e Pretto (2012, p. 137), onde a colaboração e o trabalho em rede que sejam um estímulo para a introdução de uma lógica colaborativa essencial à educação presente no movimento software livre.

4. O Ensino de Línguas com os Recursos On-Line

Na atualidade a comunicação humana mediada por computador e a educação a distância está cada dia mais presente e em vários setores. Os cursos on-line para educadores, alunos e outros vêm se expandindo em diferentes modalidades, como nos afirma Teles (2009, p. 72) “nas últimas três décadas o aumento da comunicação humana mediada pelo computador para fins educativos levou a uma proliferação de tecnologias com o propósito de oferecer ambientes educacionais on-line”. Na oferta de cursos totalmente on-line ou semipresencial, se faz necessário que nós, profissionais da área de educação, nos adaptemos a esse novo cenário para que acompanhemos o desenvolvimento das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) e ofereçamos novas oportunidades aos nossos estudantes.

Além disso, nós, professores nos encontramos diante de uma nova prática de ensino na qual o computador, a internet e outros meios tecnológicos emergem durante o processo de ensino-aprendizagem e nos servem como recurso para o ensino de línguas. Sabemos que outro fator importante é que a nova geração de estudantes faz parte da geração Net, os chamados ‘digital natives’ e esses esperam do sistema de ensino e dos professores a inclusão de atividades que usem tecnologia em sala de aula. É exatamente isto o que Sharma e Barret (2007, p. 10) assegura sobre a inclusão da tecnologia no ensino “Learners today have high expectations when it comes to technology. Younger learners, the ‘digital natives’, are part of the Net generation and expect a language school to offer opportunities to use technology in their courses”[i].

A oferta do curso ocorreu a partir do momento que como professora de língua espanhola do Curso de Letras, percebi que os estudantes de vários cursos de graduação da Universidade Federal de Sergipe procuravam o Departamento de Letras Estrangeiras em busca da disciplina de português, espanhol e inglês instrumental. Estes estudantes tinham a necessidade de aprender as línguas para desenvolver estratégias de leitura que os ajudassem na compreensão de textos escritos tendo a familiarização com as diferentes variedades das línguas no mundo para realizarem tanto a prova de acesso aos cursos de pós-graduação, mestrado e doutorado, dos diversos cursos que a universidade oferece, quanto dos concursos públicos.

Os estudantes estavam se preparando para uma prova de língua instrumental de acordo com sua opção (português[ii], inglês e espanhol) onde tem que provar que possuem capacidade de leitura na língua escolhida. A proposta do curso teve por finalidade que os estudantes aprendessem as línguas por meio da leitura de textos direcionados às várias áreas de conhecimento apresentando subsídios para a compreensão leitora. Portanto, a decisão pelo trabalho colaborativo baseia-se na necessidade e expectativa dos estudantes e por não haver a possibilidade de oferta da disciplina na modalidade presencial, uma vez que muitos dos estudantes não têm a oportunidade de realizar o curso de maneira ou porque estudam ou porque trabalham no horário em que a disciplina é ofertada.

O curso foi realizado com grupos de 80 estudantes de vários cursos de graduação da instituição universitária, de diversas idades e formação acadêmica. Acredita-se que esses estudantes têm conhecimento sobre o uso da tecnologia, deste modo todos são letrados digitalmente, uma vez que, ser um letrado digitalmente pressupõe a realização de práticas de leitura e escrita diferentes das formas tradicionais de letramento e alfabetização, pressupõe assumir mudanças nos modos de ler e escrever os códigos e sinais verbais e não verbais, se compararmos as feitas no livro impresso, porque o suporte dos textos digitais é a tela que é digital.

Neste viés, acredita-se que esses estudantes sabem realizar essas práticas de leitura digital. Sabemos que o letramento digital acontece de forma natural para os estudantes, através do uso e da descoberta das ferramentas disponíveis, o tão conhecido ‘learning by doing’. Magda Soares (2002, p. 151) assegura “a hipótese é de que essas mudanças tenham consequências sociais, cognitivas e discursivas, e estejam assim configurando um letramento digital, isto é, um certo estado ou condição – do letramento – dos que exercem práticas de leitura e de escrita no papel”. Essa prática é transferida para a tela que assume o espaço de leitura, diferente do papel e é essa mudança e inserção no mundo virtual é o que condiciona a capacidade de letramento de cada aluno.

5. A Questão Textual na Compreensão Escrita Digital

No referencial teórico do projeto deste curso nos baseamos na comunidade de prática ou na teoria social de aprendizagem. Ao participarem do projeto do Curso de Compreensão Escrita de Língua espanhola os estudantes contam com a colaboração entre todos pertencentes da comunidade para um aprendizado contínuo e mútuo, sendo que cada um assume um papel importante no processo como um todo, convertendo as relações de prática ricas e complexas, pois se produzem a partir da interação das diferentes identidades.

Members of a community are informally bound by what they do together [...] and by what they have learned through their mutual engagement in these activities. A community of practice is thus differentfrom a community of interest or a geographical community, neither of which implies a shared practice.[iii] (WENGER, 1998, p. 2).

Como se trata de uma comunidade de prática que visa ao aprendizado de todos para desenvolver a habilidade de leitora em espanhol, os estudantes assumem a responsabilidade de participar para que o processo realmente seja eficaz. Os estudantes têm a responsabilidade de ler as instruções que são postadas sobre desenvolvimento de estratégias de leitura e colaborar realizando as tarefas de leitura propostas no curso da língua instrumental escolhida.

Para isto, se sabe que a partir do surgimento da Internet há a disponibilidade de um leque de gêneros digitais (e-mail, reportagens, bate-papo virtual, aulas virtuais, Facebook, Instagran, Google Classroom, blog, etc), que se tornaram práticas de linguagem diária na vida moderna. Desta maneira, esses gêneros, que saem do texto impresso para a internet, se tornando digitais, passam a ser uma ferramenta a mais para o professor de línguas.

Levando em consideração esta questão dos gêneros textuais, para começarmos o nosso projeto, temos que relativizar o conceito de texto com a inclusão dos gêneros digitais. Costa Val (1999) assegura que um texto é mais do que uma sequência de enunciados concatenados, e que sua significação é um todo, resultante de operações lógicas, semânticas (e pragmáticas) que promovem a integração entre os significados dos enunciados que o compõem.

Coscarelli (2002) propõe que a internet tem gerado muitas mudanças na sociedade e uma das mudanças é o aparecimento de diversos gêneros textuais, como o chat, o hipertexto. Segundo a autora, com esses novos textos, é necessário entrar na semiótica e aceitar o movimento e a imagem como parte do texto. Todo texto é produzido para ser recebido por alguém e possui uma intenção comunicativa.

É importante saber o que esses novos gêneros, como o hipertexto, exigem do autor e do leitor. Faz-se necessário conhecer as regras que devem ser relevantes para que os interlocutores alcancem seus objetivos na produção e recepção desses textos. Segundo Bazerman (2006, p. 23), os gêneros são os ambientes onde o sentido é construído. Eles moldam o pensamento formado e as comunicações realizadas na interação. É a realização concreta de um complexo de dinâmicas sociais e psicológicas. A sua observação desempenha um papel importante na análise sobre as bases comunicativas da ordem social.

Por outro lado, considerando os ambientes digitais, o texto pode ser definido como hipertexto: imensa superposição de textos, que se pode ler na direção do paradigma tradicional ou na direção do sintagma corrente paralelamente que se tangenciam em determinados pontos, permitindo seguir na mesma linha ou construir um novo caminho (MACHADO, 1993, p. 64). Ainda, como nos afirma Coscarelli (2002, p. 9), no hipertexto digital que se trata de um documento composto por nós conectados por vários links que se tratam unidades de informação, como textos verbais ou imagens, por exemplo, e os links são conexões entre esses nós.

6. A Experiência da Compreensão Escrita em Língua Espanhola eela Plataforma Moodle

No primeiro semestre de 2022 se propôs o curso de extensão universitária Compreensão Escrita em Língua Espanhola para a comunidade interna da Universidade Federal de Sergipe que se trata de um curso de língua espanhola para o começo no idioma, promovido pelo Centro de Educação Superior à Distância (CESAD) juntamente com o Departamento de Letras Estrangeiras (DLES), ambos da Universidade Federal de Sergipe (UFS).

O curso se realiza na modalidade à distância pela plataforma MOODLE e é ofertado para os estudantes da UFS de qualquer área de conhecimento com a finalidade de proporcionar a aprendizagem do espanhol para os que queiram adquirir o conhecimento da língua estrangeira de forma interativa e comunicativa, além de que não possuam a língua espanhola na sua grade curricular.

A proposta da extensão universitária se tratou de una iniciativa da profª Dr.ª Valéria Jane Siqueira Loureiro do Departamento de Letras Estrangeiras e contou com a participação de vinte (20) estudantes da graduação do curso de Licenciatura em Letras (espanhol e português/espanhol) que pertencem ao projeto de pesquisa em “Novas tecnologias e a construção/uso do Material Didático” coordenado pela professora, esta pesquisa pertence ao grupo de pesquisa em “Elaboração e Análise de Materiais Didáticos para o Ensino de Línguas Estrangeiras/Adicionais” (GEMADELE).

Neste curso que é ofertado a distancia pela plataforma Moodle, além da oferta de um curso desenvolvimento da destreza da compreensão leitora em espanhol, se objetivou a formação inicial dos estudantes do curso de Licenciatura em Letras. Por isto, os vinte (20) estudantes do projeto de pesquisa foram tutores tendo a função de monitorar e interagir com os estudantes do curso e ao mesmo tempo elaborar as atividades das aulas para o curso a distancia, procura o aperfeiçoamento na formação acadêmica no que se refere à prática docente na língua espanhola.

Daí que a finalidade este curso é criar, a través das propostas de atividades e tarefas elaboradas e publicadas ao longo do curso pelos tutores como espaço de recursos abertos para os alunos que estudam o espanhol como língua estrangeira no curso de extensão da UFS, assim como para outros tutores que queiram usar as propostas com os seus grupos de estudantes.

As atividades e tarefas elaboradas e postadas pelos tutores serão colocadas em prática na plataforma Moodle com os alunos do referido curso de espanhol. As atividades propostas para o curso tiveram a supervisão da coordenadora que orientou os tutores no planejamento, elaboração e execução no curso. A elaboração dos recursos objetiva que haja a comunicação e interação entre os tutores e os estudantes. A interação com os tutores tem a finalidade de que possam dar orientação para os estudantes da língua estrangeira, espanhol, corrigindo, avaliando, entre outras práticas.

A metodologia empregada nas aulas do curso é a comunicativa com o enfoque intercultural, quer dizer, as atividades e tarefas combinam a integração de elementos das habilidades comunicativas (compreensão e/ou escrita) com os aspectos culturais dos diferentes países que falam o espanhol como língua oficial.

Desta maneira, além da contribuição de proporcionar atividades que ajudarão os estudantes a que realizem o curso de espanhol no processo de desenvolvimento da destreza da compreensão escrita que se propõe ao longo do período, os tutores passam pela experiência da prática docente de criação e elaboração de material didático à distância em espanhol como língua estrangeira na plataforma Moodle, levando a que se alcance a interação entre tutores e alunos e alunos entre si, se vinculando desta forma o grupo e o projeto de pesquisa para o qual o grupo de tutores se vinculam sob a orientação das coordenadoras do curso

 

[i] Tradução nossa: Os alunos de hoje têm grandes expectativas quando se trata de tecnologia. Os alunos mais jovens, os “nativos digitais”, fazem parte da geração Net e esperam que uma escola de línguas ofereça oportunidades de utilização da tecnologia nos seus cursos.

[ii] A língua portuguesa em exame como compreensão escrita como língua estrangeira é obrigatória para estudantes que não são brasileiros.

 

[iii] Tradução nossa: Os membros de uma comunidade são informalmente vinculados pelo que fazem juntos [...] e pelo que aprenderam através de seu engajamento mútuo nessas atividades. Uma comunidade de prática é, assim, diferente de uma comunidade de interesse ou uma comunidade geográfica, sem que nenhuma delas implique uma prática compartilhada.

Pensamos que é importante pensar especificamente na formação de professores quando se trata de ensino à distância e não apenas focar direta e persistentemente na distância ou na liberdade os estudantes tem quando aprendem nestes contextos. Achamos importante levar em conta conceitos como interação e comunicação para quem cria materiais educativos utilizando recursos online, bem como pensar na autonomia e na avaliação na forma como colocamos os recursos em prática para que as interações possam ocorrer de forma eficaz, e a partir daí refletir sobre a importância da REA.

Não podemos pensar a autonomia do aluno como um processo individual, pois ela se constrói a partir do outro, ou seja, a partir da interação com o outro, seja do tutor, seja dos colegas do curso e até com os próprios materiais do curso. Pensar que os alunos matriculados em cursos à distância já possuem autonomia por terem optado por essa modalidade de ensino a distância é, em muitos casos, um erro que precisa ser analisado desde o início de qualquer curso para evitar falta de motivação ou o abandono estudantil do curso. Portanto, é importante organizar uma reunião presencial no início do curso para esclarecer quaisquer dúvidas que os futuros alunos possam ter sobre o curso.

Os fatores determinantes da autonomia também estão relacionados com a interatividade, que é o maior desafio dos cursos online, porque a interatividade construtiva requer tanto um plano de trabalho organizado como uma abordagem metodológica abrangente definido pela colaboração. Todos esses elementos também estão reunidos em um plano de aula que leva em consideração as necessidades do aluno, seu perfil, seu conhecimento do AVA, suas competências digitais e suas crenças, pois levando em consideração todos esses fatores, podemos projetar um plano de trabalho que permite uma interação verdadeiramente eficaz e, portanto, uma autonomia que apoia a formação responsável de cada aluno no seu próprio processo de aprendizagem.

No curso básico de espanhol que oferecemos na plataforma MOODLE, o objetivo ao criar atividades e recursos para os alunos é justamente conseguir a interação, permitindo que todos, tutores e alunos membros, trabalhem de forma colaborativa para que isso leve a qualquer comunicação na língua estrangeira que aprendem, no nosso caso o espanhol. Porém, por enquanto, o curso está disponível para alunos da UFS e conforme nossa proposta REA, qualquer usuário que queira acessar o curso poderá fazê-lo de forma livre e gratuita. Além disso, todos os materiais disponíveis serão licenciados pela Creative Crommos.

Gostaria de agradecer à Pró-reitoria de extensão (PROEX) da Universidade Federal de Sergipe (UFS) que através do Edital N° 03 PROEX PIAEX/UFS de 18 de janeiro de 2023 - projetos de extensão em programas institucionais para o ano de 2023, possibilitou a pesquisa e a execução do curso de extensão universitária “Compreensão Leitora em Língua Espanhola à Distância (CCLE)”. Meus agradecimentos ao Centro de Educação Superior à Distância (CESAD) por disponibilizar o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) dos cursos da Educação à Distância (EaD) para a oferta e execução da ação do curso de extensão à distância que é uma ação vinculada ao projeto de extensão e ensino (PJ131-2023) “A importância do ato de ler - No mundo da leitura na leitura do mundo em língua espanhola como língua estrangeira” PIAEX 2023. Muito obrigada aos estudantes do curso de Licenciatura em Letras Espanhol e Português- Espanhol que fizeram parte do curso atuando como tutores d para os participantes que estudaram no nosso curso.

[1] Tradução nossa: Os alunos de hoje têm grandes expectativas quando se trata de tecnologia. Os alunos mais jovens, os “nativos digitais”, fazem parte da geração Net e esperam que uma escola de línguas ofereça oportunidades de utilização da tecnologia nos seus cursos.

[2] A língua portuguesa em exame como compreensão escrita como língua estrangeira é obrigatória para estudantes que não são brasileiros.

[3] Tradução nossa: Os membros de uma comunidade são informalmente vinculados pelo que fazem juntos [...] e pelo que aprenderam através de seu engajamento mútuo nessas atividades. Uma comunidade de prática é, assim, diferente de uma comunidade de interesse ou uma comunidade geográfica, sem que nenhuma delas implique uma prática compartilhada.

REFERÊNCIAS

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