Metadados do trabalho

Recursos Tecnológicos: Aprendizagem Docente Em Tempos De Pandemia

Robson Andrade de Jesus; Silvânia da Silva Costa

Durante o ano letivo 2020, em meio à pandemia de Covid-19, o Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Sergipe promoveu a ação de extensão “Bate-papo pedagógico: experiências didáticas remotas e recursos tecnológicos”, sendo caracterizado como um curso de curta duração no qual houve a tentativa de apoio a docentes e licenciandos em meio ao ensino remoto emergencial. O presente estudo busca mensurar contribuições dessa iniciativa para a formação docente a partir do ponto de vista dos participantes, evidenciando elementos da aprendizagem docente (SHULMAN, 2004). Para tanto, a pesquisa realizou-se em duas etapas, a partir de formulários respondidos por docentes e graduandos que foram participantes de tal experiência didática, e, relatos de alguns desses sujeitos. O curso mostrou-se contributivo para aprimoramento da aprendizagem docente, sendo espaço de troca, reflexão e compartilhamento de ideias e práticas pedagógicas.

Palavras‑chave:  |  DOI:

Como citar este trabalho

JESUS, Robson Andrade de; COSTA, Silvânia da Silva. RECURSOS TECNOLÓGICOS: APRENDIZAGEM DOCENTE EM TEMPOS DE PANDEMIA. Anais do Colóquio Internacional Educação e Contemporaneidade, 2021 . ISSN: 1982-3657. Disponível em: https://www.coloquioeducon.com/hub/anais/52-recursos-tecnol%C3%B3gicos-aprendizagem-docente-em-tempos-de-pandemia. Acesso em: 16 out. 2025.

RECURSOS TECNOLÓGICOS: APRENDIZAGEM DOCENTE EM TEMPOS DE PANDEMIA

1.      Introdução

 

Em decorrência da pandemia causada pelo novo coronavírus, as aulas presenciais foram suspensas nas instituições de ensino. Em meio a tantas mudanças, o ensino remoto emergencial ganhou evidência no quadro nacional, visto a necessidade do distanciamento social e, ao mesmo tempo, a importância de firmar o elo entre o colégio, estudantes e suas famílias. Os conteúdos passaram a ser ministrados e disponibilizados de forma on-line, podendo ser acompanhados de forma síncrona ou assíncrona, em todas as disciplinas, seguindo cronogramas de acordo com a realidade local.

O Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Sergipe (CODAP/UFS), desde o final de março de 2020, vem se adaptando à atual realidade em busca de garantir condições mínimas para que os estudantes possam ter possibilidades de contato com as propostas de seus diferentes componentes curriculares. Desta forma, o CODAP/UFS, mesmo no ensino remoto, acaba sendo um laboratório de recursos humanos propício para uma variedade de pesquisas que possam ser realizadas por professores do ensino fundamental e médio, professores universitários, estagiários e outros” (RESOLUÇÃO N° 31/2008/CONSU/UFS).

Após enfrentar e superar desafios no modelo remoto de ensino, e, diante de tantas dificuldades no manuseio tecnológico, o CODAP/UFS passou a oferecer formação para técnicos, corpo docente da própria instituição, e à comunidade acadêmica em geral. Uma das ações relevantes nesse processo foi o curso de curta duração “Bate-papo pedagógico: experiências didáticas remotas e recursos tecnológicos”, ação de extensão promovida por docentes durante o período de 28 de agosto de 2020 a 11 de setembro do mesmo ano, perfazendo um total de dezesseis horas, distribuídos em quatro encontros.

Tendo como objetivo apresentar alguns recursos tecnológicos utilizados pelos docentes do CODAP/UFS durante o ensino remoto emergencial, o curso promoveu, por meio de diálogos entre proponentes e participantes uma partilha, na qual todos puderam interagir e trocar experiências múltiplas, contribuindo no sentido de incorporar tais recursos à prática educativa. A ação, cadastrada no Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas (SIGAA) e divulgada amplamente, contribuiu para formação inicial e continuada de estudantes e docentes, visto que o público contava com a participação de licenciandos e licenciados.  

Nos três primeiros encontros, abordou-se o uso dos recursos Google Meet (serviço de comunicação por vídeo do Google que serve para criar reuniões de modo prático e on-line), Google Forms (formulários do Google), Jamboard (Slides interativos), Canva (criação de design gráfico), além da produção de recursos audiovisuais e jogos para momentos síncronos e assíncronos, em situação de aprendizagem remota.

No último encontro do curso, os docentes e/ou licenciandos que se propuseram apresentaram alguma atividade utilizando um dos recursos abordados ou ainda outro de seu conhecimento, tornando a partilha ainda mais rica. Esse momento final buscou estimular os cursistas a colocarem em prática o que foi vivenciado no curso, fomentando a exposição de ideias vinculadas à sua área de atuação.

Vale salientar que o curso foi pensado num momento de muitas dúvidas e desafios impostos aos docentes, onde, em meio a uma pandemia, buscou-se atuar de forma pedagógica com seus alunos, sem muitas vezes conhecer alguns recursos tecnológicos que auxiliassem nessa tarefa. Quanto aos licenciandos, muitos atuariam em Estágios supervisionados e em programas, tais como o Programa de Iniciação à Docência (PIBID) e o Programa Residência Pedagógica (RP), de forma remota, junto a alunos da Educação Básica, tendo-se também as dificuldades impostas pela crise viral e consequente ensino remoto emergencial.

Considerando que o professor “constrói sua formação, fortalece e enriquece seu aprendizado” (ALVES et.al, 2006, p. 17), através de suas experiências, as situações que envolvem diálogo docente e compartilhamento de experiências são fontes ricas de conhecimento para o ensino, aguçando discussões, análises, promovendo o intercâmbio e favorecendo a construção de novos olhares. Assim, ao propor o curso, pensou-se num diálogo pedagógico e colaborativo no qual os recursos tecnológicos fossem contributivos para o conhecimento docente desses participantes.

Conforme o exposto, este estudo tem como objetivo mensurar as contribuições do curso “Bate-papo pedagógico: experiências didáticas remotas e recursos tecnológicos” para a formação docente. Isto é, busca-se reconhecer, do ponto de vista dos sujeitos, como a participação nesta ação de extensão foi um diferencial, numa perspectiva de (re)pensar o fazer pedagógico, trazendo recursos para a consolidação de propostas de ensino e buscando-se reconhecer elementos relativos às características da aprendizagem docente, segundo Shulman (2004), propiciados pela ação pedagógica formativa.

 

 

2.      Aprendizagem docente

 

Shulman (2004) aponta aspectos do desenvolvimento pessoal/profissional docente que se fazem importantes nos currículos de formação, seja inicial ou continuada, trazendo os seguintes elementos: Visão (estar preparado), Motivação (ter disposição), Compreensão (entender acerca de currículo, conteúdo, princípios pedagógicos e discentes), Prática (estar capacitado tanto sabendo, quanto sabendo “fazer”), Reflexão (aprender com a experiência) e Comunidade (agir como membro de uma comunidade profissional). Esse modelo proposto sustenta o que é chamado de aprendizagem docente, ou características do desenvolvimento do professor competente1, sendo os cinco primeiros relativos ao nível individual da análise, no qual nos deteremos neste estudo.

O elemento visão está ligado às concepções acerca do ensino e aprendizagem e aos processos envolvidos, em termos disciplinar e interdisciplinar. A motivação refere-se à vontade e ao esforço necessário para desenvolver e/ou mudar suas práticas. Entender o que deve ser ensinado, bem como saber de que forma fazer, encontra-se ligado à categoria prática. Acerca deste último, destaca-se que “Além de saber, ele precisa ser capaz de fazer, de se engajar nas práticas necessárias para transformar a visão e a concepção em ação”. (SHULMAN, 2004, p.262, tradução nossa).

A categoria da Compreensão inclui muitos dos elementos que compõem a base de conhecimentos necessários à docência, trazidas por Shulman (1997), entre os quais: Conhecimento disciplinar/ de conteúdo/ interdisciplinar; compreensão do currículo; conhecimento do conteúdo pedagógico; organização e gestão da sala de aula; avaliação de aprendizagens em sala de aula; comunidade competente e compreensão a respeito dos alunos em múltiplos aspectos.

Por fim, a reflexão, “chave para a aprendizagem e o desenvolvimento do professor competente” (SHULMAN, 2004, p.264, tradução nossa) é evidenciada como a capacidade de aprender com a experiência, aprimorando o seu ensino por meio de ponderações e análises de modo consciente e crítico.

 

 

3.      O CODAP/UFS e a formação docente

 

O Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Sergipe (CODAP/UFS), assim como os outroscolégios de aplicação vinculados às Universidades Federais no país, foi criado pelo Decreto-Lei nº 9.053, de 12 de março de 1946 (BRASIL, 1946), que determinava a criação de um Ginásio de Aplicação nas faculdades de Filosofia federais de todo o país, no intuito de mantê-los para a prática docente dos alunos matriculados no curso de didática. Assim, tais colégios possuem em sua história uma vinculação com a formação docente, configurando-se também como centro ativo de práticas e pesquisas educacionais.

Tendo como uma de suas finalidades “desenvolver de forma indissociável, atividades de ensino, pesquisa e extensão com foco nas inovações pedagógicas e na formação docente” (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2013, grifo nosso), o CODAP/UFS atua com um númerobastante considerável de licenciandos em Estágios Supervisionados ou em Programas de Iniciação à Docência, tais como PIBID e Residência Pedagógica. Ainda em conformidade com o Art. 4º da Portaria 959, de 27 de setembro de 2013, do Ministério da Educação (MEC), que dispõe de diretrizes comuns aos colégios de aplicação de todo o território nacional, há a “integração das atividades letivas como espaços de prática de docência e estágio curricular dos cursos de licenciatura da Universidade”.

Desse modo, os licenciandos, tendo como campo de atuação o CODAP/UFS, realizam diversas atividades tais como observação, regência, participação em eventos e projetos de ensino, pesquisa e extensão. É possível citar também outras ações na formação de professores, como a promoção de eventos, como o Encontro Sergipano de Educação Básica (ESEB) e o Seminário de práticas docentes e estágio, além de cursos de formação inicial e/ou continuada, como é o caso do curso “Materiais manipuláveis e o ensino de Matemática e Ciências” e o “Bate-papo pedagógico: experiências didáticas remotas e recursos tecnológicos” do qual esta pesquisa busca mensurar contribuições.

 

 

4.      Metodologia

 

O presente estudo, quanto à abordagem do problema, possui natureza qualitativa, tendo como sujeitos professores em formação inicial ou continuada que participaram remotamente do curso supracitado. Realizado em duas etapas, a pesquisa teve como instrumentos: questionários via Google Forms; e relatos obtidos de forma remota.

Na primeira etapa, houve aplicação de questionários junto aos participantes do curso “Bate-papo pedagógico: experiências didáticas remotas e recursos tecnológicos”. Tais questionários foram aplicados em dois momentos, um deles logo após a formação, e outro cerca de dez meses após sua finalização, na perspectiva de verificar como se deu a utilização de conhecimentos adquiridos no curso e suas contribuições para a prática docente, tendo-se como norte elementos da aprendizagem docente, elencados por Shulman (2004). Realizou-se, assim, uma análise do conteúdo direcionada, conforme Hsieh e Shannon (2005), uma vez que os conceitos advêm de teoria já existente.

Num segundo momento, foram coletados relatos com os participantes que se mostraram disponíveis, visando recuperar, por meio de reminiscências dos sujeitos que participaram daquela experiência didática e institucional, suas percepções e práticas utilizando recursos tecnológicos após a formação em questão. Tais relatos deram-se de forma a trazer um quantitativo de diferentes grupos de sujeitos que estiveram como participantes da ação de formação, entre eles, docentes da Educação Básica e Ensino Superior e licenciandos.

Na medida em que os relatos foram apresentados, houve explanação de aspectos da prática docente, sendo possível entender como o curso foi percebido por tais participantes. Salienta-se que a coleta de todos os dados ocorreu de forma remota, por meio de questionário on-line, na primeira fase da pesquisa, e, por meio de e-mail ou videoconferência, na segunda fase, de modo que os sujeitos se sentissem confortáveis para expressar suas percepções e relatos, conforme escolha do participante.

5.      Resultados e Discussão

 

Os dados apresentados, bem como as análises realizadas neste estudo têm como foco principal cinco participantes do curso “Bate-papo pedagógico: experiências didáticas remotas e recursos tecnológicos”, evidenciados por estarem presentes em todas as etapas da pesquisa, tendo respondido aos questionários e, de forma voluntária, enviado relato de experiências acerca de suas práticas após o curso.

Contudo, faz-se uma retrospectiva crítica das respostas obtidas nos questionários aplicados, percebendo-se contribuições na formação docente e subsidiando um panorama geral do delineamento da pesquisa. Assim, realizou-se uma análise preliminar, realizada a partir de dados coletados a partir dos questionários, partindo-se para um estudo mais aprofundado e focado nas categorias da aprendizagem docente, segundo Shulman (2004), a partir dos relatos coletados.

 

5.1- Análise preliminar: um panorama inicial

 

O público-alvo do curso foi composto por docentes e graduandos, principalmente das licenciaturas, tendo-se um total de cento e quatro participantes inscritos e, destes, sessenta e cinco o concluíram. Os cursistas foram agrupados em categorias a depender de sua formação (em andamento ou concluída), vinculação com a docência e sua atuação (educação básica e ensino superior), conforme tabela 1, abaixo, na qual se destaca também o quantitativo de componentes dessas categorias elencadas.

 

Tabela 1: Quantitativo de participantes por categoria

Categorias de análise

Frequência absoluta

Frequência relativa

Docentes da Educação Básica

12

18,5%

Docentes do Ensino Superior

6

9,2%

Estudantes de licenciatura

28

43,1%

Demais graduandos

3

4,6%

Pós-graduandos

3

4,6%

Graduados e outros

3

4,6%

Não identificados

10

15,4%

Total

65

100%

Fonte: elaboração própria

 

Ressalta-se a escolha por categorias distintas para os estudantes de graduação vinculados às licenciaturas e os demais cursos superiores, pelo interesse nas contribuições do curso para o conhecimento docente. Salienta-se também que na categoria “Graduados e outros” encontram-se participantes com nível superior, mas que relataram não estarem atuando na docência, além de outros profissionais vinculados a colégios, mas que não atuam em sala de aula, tais como coordenadores e/ou orientadores pedagógicos.

Conforme descrito anteriormente, foi solicitado que os participantes do curso “Bate-papo pedagógico: experiências didáticas remotas e recursos tecnológicos” respondessem a um questionário on-line, logo após a realização da formação. Com um total de vinte e sete respostas, a distribuição percentual evidencia que a maior parte dos cursistas que responderam ao questionário inicial pertence ao grupo dos docentes em formação inicial ou continuada, correspondendo às categorias “docentes da educação básica”, “docentes do ensino superior” e “estudantes de licenciatura”, conforme é possível observar na Tabela 2, abaixo.

 

Tabela 2: Quantitativo de respostas a questionário no pós-imediato da formação

Categorias de análise

Frequência absoluta

Frequência relativa

Docentes da Educação Básica

7

25,9%

Docentes do Ensino Superior

5

18,5%

Estudantes de licenciatura

12

44,5%

Demais graduandos

1

3,7%

Pós-graduandos

1

3,7%

Graduados e outros

1

3,7%

Total

27

100%

Fonte: elaboração própria

 

A partir das respostas apresentadas é possível concluir que todos se mostraram satisfeitos com o curso, externando que suas expectativas, ao realizarem a inscrição, foram atendidas. Um docente do Ensino Superior relatou que: “Atendeu mais do que as minhas expectativas. Conheci diversos recursos tecnológicos”.

Muitas respostas também reforçaram a importância de adquirir conhecimentos sobre recursos tecnológicos, principalmente para o ensino remoto emergencial, imposto pela pandemia da Covid-19. Alguns ressaltaram ainda a troca de experiências e a reflexão promovida pelo curso como forma de ampliar possibilidades de trabalho para a prática docente. “Superou as expectativas. Reforçou as buscas de informação presentes nesse momento de trabalho remoto e promoveu reflexão de ações pedagógicas”, afirmou um dos participantes.

Percebeu-se também que muitos dos participantes já estavam pensando em utilizar nas suas futuras práticas conhecimentos aprendidos ou ampliados no curso para o ensino remoto emergencial. Tanto docentes, “O curso foi além de minhas expectativas, oportunizando a troca de recursos, estratégias e experiências para o ensino remoto emergencial”; quanto licenciandos, “Vou utilizá-la para meus alunos da terceira idade de projeto da UFS, creio que auxiliará muito em questão de aprendizado”, externaram tal pretensão. Houve ainda um docente que relatou já estar utilizando tais conhecimentos “Adorei o curso. Achei interessante a proposta e aprendi muito. Já pus em prática e usei o Google Forms (de forma mais avançada do que usava) e o Canva pela primeira vez”.

Dessa forma, o curso lançava sementes de ampliação de perspectivas da prática docente, por meio da reflexão e prática com recursos tecnológicos. Tais respostas motivaram novas indagações, na perspectiva de saber se realmente os cursistas conseguiriam colocar em prática elementos trazidos pela ação formativa em foco e se haveria de fato contribuições para a aprendizagem docente, a partir de Shulman (2004). Por isso, em maio de 2021, dez meses após a finalização do curso, foi enviado um novo formulário on-line contendo mais um questionário a ser respondido pelos participantes que concluíram a formação.

A proposta foi colher as reais contribuições da ação de extensão realizada para a prática docente, uma vez que, pelo tempo decorrido após a realização desta, os docentes já teriam tido experiências com seus alunos após o curso, bem como licenciandos que atuariam nos estágios, programas de iniciação à docência e/ou outros programas e projetos.

Apesar de o curso possuir momentos para orientação e prática (apresentação para os demais cursistas, de forma opcional), poucos participantes se propuseram a realizar apresentação para os demais colegas. Dessa forma, esse intervalo foi pensado para que se tivessem de fato experiências na prática docente que pudessem ser relatadas e trouxessem as contribuições efetivas da formação em questão.

Nesse segundo questionário teve-se um total de catorze respostas, classificadas nas mesmas categorias elencadas anteriormente, conforme é possível ver na Tabela 3, abaixo.

 

Tabela 3: Quantitativo de respostas a questionário meses após a formação

Categorias de análise

Frequência absoluta

Frequência relativa

Docentes da Educação Básica

5

35,71%

Docentes do Ensino Superior

3

 21,43%

Estudantes de licenciatura

5

 35,71%

Demais graduandos

0

 0%

Pós-graduandos

1

7,14%

Graduados e outros

0

0%

Total

 14

100%

Fonte: elaboração própria

 

Por meio deste segundo questionário aplicado, pôde-se observar unanimidade entre os entrevistados, com resposta positiva, tanto no sentido de utilizar ferramentas apresentadas no curso, quanto ao reconhecer que o curso foi contributivo para o conhecimento docente.

Dentre as contribuições, destacam-se a ampliação de conhecimento pedagógico, evidenciada por todos os participantes deste segundo momento, além do conhecimento de novos recursos e reflexão acerca de metodologias diferenciadas, sinalizados por 92,9% deste mesmo público. Quanto aos recursos apresentados no curso e sua utilização no pós-formação, houve, de modo geral, a citação de todos eles, obtendo-se o seguinte resultado, apresentado na Tabela 4, abaixo.

 

Tabela 4: Utilização de recursos após a formação

Recursos

Frequência absoluta

Frequência relativa

Google Formulários

14

100%

Canva

12

 85,7%

Jamboard

11

78,6%

Wordwall

6

 42,9%

Produção de recursos audiovisuais

7

50%

Fonte: elaboração própria

 

Conforme mencionado, a próxima etapa foi iniciada a partir da aplicação deste segundo questionário, pensando-se em obter maiores informações e uma explanação mais detalhada das práticas pós-curso e da contribuição atribuída à ação formativa realizada. Foram então requeridos relatos, fazendo-se um convite para tal participação.

Dentre os participantes que responderam ao questionário enviado dez meses após a formação, onze aceitaram conceder um breve relato acerca das experiências pós-curso e possíveis contribuições. No entanto, apenas cinco concretizaram a disposição para tal, sendo duas docentes da educação básica, uma docente do ensino superior e dois licenciandos.

Assim, na próxima seção serão evidenciados elementos da aprendizagem docente, segundo Shulman (2004), a partir das respostas aos questionários e trechos dos relatos concedidos pelos cursistas, realizando-se uma inter-relação a partir das explanações dos participantes.

 

5.2 – Elementos da aprendizagem docente evidenciados

           

Quanto aos elementos da aprendizagem, segundo Shulman (2004), é possível observar, desde o primeiro questionário, aspectos de mudança em relação à questão prática[...] aprendi muito. Já pus em prática e usei o forms (de forma mais avançada do que usava) e o canva pela primeira vez” interligada à categoria visão, como se nota nos seguintes depoimentos: “O curso foi importante para o desenvolvimento de novas ferramentas digitais, visto que estamos vivenciando uma pandemia e devemos adotar novos métodos.” e ainda “O curso foi extremamente relevante para que eu pudesse ampliar os métodos de ensino que comecei a desenvolver”, evidenciados a partir da perspectiva desses participantes no que se refere à adoção de recursos tecnológicos aliados a metodologias diferenciadas.

Referindo-se também a tais categorias, encontram-se presentes nos relatos uma perspectiva de ampliação do olhar docente, a partir da observação de diferentes contextos e objetivos pedagógicos ligados ao uso e aprimoramento das possibilidades didáticas a partir das ferramentas digitais dispostas no curso.

Será utilizada a seguinte denominação quando tratarmos dos cinco participantes que enviaram seus relatos: para os participantes docentes da Educação Básica, utilizaremos P1_EB e P2_EB, para o docente do ensino superior será empregado P1_ES e os licenciandos serão identificados como P1_L e P2_L.

O trecho a seguir, retirado de relato de docente da Educação Básica, evidencia algo muito interessante, no sentido de não necessariamente apenas conhecer um novo recurso, mas ampliar questões relacionadas à categoria visão, segundo Shulman (2004), a partir do diálogo com outros profissionais, [...] ver, na prática, o uso de diversos recursos tecnológicos voltados para o ensino remoto, bem como discutir com outros professores e compartilhar as experiências vividas por cada um. Eu já conhecia e usava muitos dos recursos apresentados, mas pude ver como eles podem ser adaptados para diferentes contextos e objetivos pedagógicos” (P1_EB). De forma geral todos os relatos mostravam uma ampliação na visão, à medida que as aprendizagens no curso associavam-se às concepções acerca do ensino e aprendizagem e aos processos envolvidos.

Em relação à importância desses espaços de formação enquanto propulsores de ampliação de conhecimentos para a prática docente, os relatos das participantes P1_EB e P2_EB convergem, pois o curso aqui elencado não foi pensado para ser um tutorial, mas sim como um ambiente que oportunizasse o diálogo pedagógico, corroborando-se com Shulman (2004) e Nóvoa (1997) que defendem que tanto na formação inicial quanto na continuada de professores, devem ser criados ambientes que propiciem o apoio, sustentação e refinamento da visão, prática, motivações e reflexões docentes, por parte de todos os membros envolvidos.

Desse modo, faz-se relevante a criação de espaços onde “a troca de experiências e a partilha de saberes consolidam espaços de formação mútua, nos quais o professor é chamado a desempenhar, simultaneamente, o papel de formador e de formando.” (NÓVOA, 1997, p. 26), como foi ressaltado por P2_EB quando relata que “Mesmo antes desse encontro, eu já havia participado de outras formações que não contavam com muitas exemplificações e, quando assistimos a vídeos como os veiculados no Youtube, falta-nos a oportunidade de perguntar e de trocar impressões” ( P2_EB).

O elemento prática, entendido por Shulman (2004) como estar capacitado, tanto sabendo, quanto sabendo fazer, encontra-se de forma clara nos relatos dos participantes P1_EB e P1_L, que podem ser vistos abaixo, onde eles especificam alguns recursos e como foram utilizados.

A respeito das aulas ministradas, a participante P1_EB citou que vem utilizando o jamboard para atividades colaborativas, divido a turma em pequenos grupos e após as orientações eles executam a tarefa proposta. [...] O mentimeter também é muito interessante, pois possibilita a interação com os alunos à medida que vou explicando o conteúdo, e desta forma, tenho noção do que eles estão entendendo ou não. Costumo usar o quiz (kahoot ou outro com mesmo propósito) geralmente no início da aula, para que possam relembrar o que foi discutido na aula anterior.” (P1_EB).

A partir de práticas realizadas na disciplina de estágio supervisionado, P1_L destacou que “Das ferramentas vistas durante o curso, a que utilizei com mais frequência foi voltada para atividades com jogos, como o WordWall. Podendo abordar jogos mais interativos e um diferencial para as aulas. [...] Outra ferramenta que gostei muito de conhecer foi o Jamboard [...] as aulas acabaram ficando mais interessantes” (P1_L).

Tais participantes ainda expõem uma perspectiva para além da pandemia, “Todas as experiências relatadas foram no ensino remoto, mas acredito que será benéfico o uso desses recursos no ensino presencial também, de modo que o celular será um aliado e enriquecerá as aulas, desde que as escolas ofereçam o acesso à internet” (P1_EB), ressaltando que a temática abordada no curso não se limita a um período em específico, mas que, a partir de reflexões críticas podem trazer benefícios e possibilidades para o ensino-aprendizado.

É possível ver que os participantes também associaram questões práticas a um movimento de reflexão, estando conectado aos outros elementos da aprendizagem docente evidenciados. Quando perguntados acerca das contribuições do curso, ressaltou-se que “promoveu reflexão e ações pedagógicas''. Nesse sentido, corroborou-se com o segundo questionário 92,9% aplicado, no qual os participantes assinalaram a reflexão acerca de metodologias como ponto contributivo do curso.

Foi possível notar também que vários participantes alegaram querer utilizar as ferramentas apresentadas, ressaltando que seria viável e interessante em termos de aprendizagem, pensando-se em seu respectivo público (estudantes da educação básica e ensino superior), trazendo aspectos relacionadas à categoria motivação para implementar práticas relativas às temáticas abordadas no curso. Inclusive foi muito comum associar o aprendizado de novas ferramentas à motivação e prática. P2_L expôs que quando eu acabar agora minha graduação eu tenho muitos recursos [...] sinto-me empolgado e preparado para propor aulas diferenciadas” (P2_L).

 É perceptível tanto nos questionários quanto nos relatos, realizados cerca de dez meses após o curso, que de fato muitas das ferramentas presentes no curso foram utilizadas, havendo ainda em alguns casos a procura por outros recursos. “Desta forma, por ter participado do curso, eu aprendi novas ferramentas e a partir destas, busquei aprender outras também” (P1_L).

Já a categoria compreensão, na qual estão contidos vários elementos definidos por Shulmam (1987) como base do conhecimento necessária para a docência também sofreram impactos positivos com a participação no curso em questão, pois a partir das ferramentas apresentadas pode-se aprimorar, principalmente no ensino remoto emergencial, questões relacionadas à organização, gestão e avaliação da aprendizagem na sala de aula (remota).

No trecho de relato de P1_ES, percebem-se vários elementos da aprendizagem docente, entre eles a compreensãoParticularmente, a partir das descrições e aplicações de diversos recursos tecnológicos abordados no curso pude não só ter condições de orientar os alunos estagiários (na atuação de regência em aulas remotas), como também fiz uso de determinadas ferramentas, como por exemplo, o Jamboard, em minha prática docente.”(P1_ES), tendo-se também ampliação do conhecimento docente, associada à prática.

Destacam-se também nos relatos a importância dada ao compartilhamento de experiências, ideias e práticas entre docentes, reforçando a relevância de comunidades de aprendizagem docente, para a formação inicial e continuada. Além disso, um trecho de relato pertencente à P2_EB cita como algo positivo do curso “os relatos, testemunhos e experiências” ( P2_EB) de docentes da educação básica, mesmo público do participante em questão, reforçando as ações do CODAP/UFS como salutares e representativas.

6. Conclusões

 

Objetivando mensurar as contribuições do curso “Bate-papo pedagógico: experiências didáticas remotas e recursos tecnológicos” para a formação docente, por meio do ponto de vista dos sujeitos, foram perceptíveis, a partir dos dados coletados tanto no pós-imediato do curso, quanto em respostas posteriores, elementos relativos à aprendizagem docente trazidos por Shulman (2004), no que se diz respeito ao nível individual da análise: visão, motivação, compreensão, prática e reflexão.

O curso “Bate-papo pedagógico: experiências didáticas remotas e recursos tecnológicos”, portanto, caracterizou-se como espaço de troca e reflexão docente, ampliando o repertório pedagógico e promovendo um momento de compartilhamento de ideias e práticas pedagógicas, a partir de ferramentas que visam auxiliar em diferentes momentos didáticos.

A partir dos relatos dos participantes que vivenciaram o curso e após a formação atuaram em propostas didáticas, seja enquanto docente, ou atuando em programas de Iniciação à Docência, ou ainda em estágios supervisionados, pôde-se perceber que o curso atuou muitas vezes como um alicerce, trazendo uma segurança maior para atuar remotamente, assim como para buscar outros recursos tecnológicos.

Assim, a ação formativa se mostrou eficiente contribuindo para um novo repensar acerca da atuação junto aos discentes, sobretudo em meio ao ensino remoto emergencial, imposto pela pandemia da Covid-19, que destacou a utilização de recursos tecnológicos, independente do percurso trilhado pelos docentes e licenciandos. O curso foi sempre citado pelos participantes como sendo relevante para o conhecimento docente, sendo significativo frente aos novos panoramas evidenciados na situação pandêmica, mas que poderão contribuir além desse momento.

Ampliando-se o olhar sobre o curso em questão, ficaram ressaltadas contribuições ao apresentar recursos que eram novidades para a grande maioria dos participantes, fomentando a reflexão sobre processos de gerenciamento dos tempos e espaços de aprendizagem e, assim, oportunizando a ampliação de elementos da aprendizagem docente.

Por fim, o CODAP/UFS confirma-se como ambiente de experimentação e inovação pedagógica na educação sergipana, atuando desde o início da pandemia, em meio às incertezas e desafios, e trazendo para a comunidade conhecimentos adquiridos e aprofundados nessas experiências didáticas. Por meio do curso “Bate-papo pedagógico: experiências didáticas remotas e recursos tecnológicos”, ação de formação docente voltada para práticas pedagógicas significativas, concedeu suporte a docentes e licenciandos no que se diz respeito ao conhecimento de recursos que possibilitem uma maior interação com os discentes, facilitando a atuação no ensino remoto emergencial e proporcionando espaços de reflexão e (re)construção pedagógica.

[1] Um professor competente é membro de uma comunidade profissional e está preparado, disposto e capacitado para ensinar e aprender com suas experiências práticas. (SHULMAN, 2004, p. 259, tradução nossa).

[2] O CODAP/UFS é um dos 17 colégios de aplicação espalhados pelo Brasil e única escola pública federal de Sergipe.

[3] Considerando-se o número de estagiários e licenciandos vinculados aos Programas PIBID e Residência Pedagógica que atuaram entre os anos 2014 e 2018 tem-se uma média anual de aproximadamente 262 estudantes das mais diversas licenciaturas realizando práticas pedagógicas no CODAP/UFS.

Referências

 

ALVES, Denilce de Castro (et. al.). Interdisciplinaridade e Formação de Professores. 45 f. Trabalho de conclusão de curso de Pedagogia – Formação de Professores para as Séries Iniciais do Ensino Fundamental – Projeto Professor Nota 10. Centro Universitário de Brasília – UniCEUB, Brasília, 2006.

 

BRASIL. Decreto-lei nº 9.053, de 12 de março de 1946. Cria um ginásio de aplicação nas Faculdades de Filosofia do País. Rio de Janeiro, RJ: Presidência da República [1945]. Disponível em: http://legis.senado.leg.br/norma/534091/publicacao/15637142. Acesso em: 05 mai. 2021.

 

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Portaria nº 959, de 27 de setembro de 2013. Disponível em: https://nditeste.paginas.ufsc.br/files/2013/10/Portaria-959-de-27-de-setembro-de-2013.pdf. Acesso em: 05 mai. 2021.

 

NÓVOA, A. (coord). Os professores e sua formação. Lisboa-Portugal, Dom Quixote, 1997.

 

SHULMAN, Lee S. Knowledge and teaching: foundations of the new reform. Harvard Educational Review, v. 57, n. 1, p. 1-22, 1987.

 

_________, Lee S.; SHULMAN, Judith H. How and What Teachers Learn: a Shifting Perspective. Journal of Curriculum Studies, v.36, n.2, p.257-271, 2004.

 

UFS. CONSU. Resolução nº 31/2008/CONSU. Disponível em: https://www.sigrh.ufs.br/sigrh/public/colegiados/filtro_busca.jsf. Acesso em: 05 jun. 2021.

Encontrou algo a ajustar?

Ajude-nos a melhorar este registro. Você pode enviar uma correção de metadados, errata ou versão atualizada.