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Teoria Social De Pierre Bourdieu E A Democratização Da Educação

Maria Luziara Nascimento

O objetivo do artigo é compreender como a teoria de Bourdieu desafia a ideia de que a educação é um meio de mudança e igualdade social. Nesse sentido, o nosso problema a ser analisado é como a teoria de Bourdieu demonstra que a educação reproduz as desigualdades sociais. A escola representa para o autor um espaço de legitimação da cultura dominante. Nesse sentido, essa incorporação de uma cultura dominante não é posta como tal, mas é construída por mascaramento de uma cultura neutra que cabe ao papel pedagógico legitimado uma autoridade competente que transmiti conhecimento e não reforça desigualdades sociais. O artigo primeiramente procura apresenta o quadro teórico do autor para podermos entender sua abordagem e no segundo momento analisamos como a sua abordagem teórica possibilita mecanismo de análise para entendermos como as desigualdades sociais são produzidas no contexto das políticas públicas para a educação superior no Brasil. 

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Como citar este trabalho

NASCIMENTO, Maria Luziara. Teoria social de Pierre Bourdieu e a democratização da educação. Anais do Colóquio Internacional Educação e Contemporaneidade, 2023 . ISSN: 1982-3657. Disponível em: https://www.coloquioeducon.com/hub/anais/517-teoria-social-de-pierre-bourdieu-e-a-democratiza%C3%A7%C3%A3o-da-educa%C3%A7%C3%A3o. Acesso em: 16 out. 2025.

Teoria social de Pierre Bourdieu e a democratização da educação

A proposta de artigo compreende a perspectiva de analise da teoria de Bourdieu e o campo da educação.

Nesse sentido, o objetivo é compreender como a teoria de Bourdieu desafia a ideia de que a educação é um meio de mudança e igualdade social. Nesse sentido, o nosso problema a ser analisado é como a teoria de Bourdieu demonstra que a educação reproduz as desigualdades sociais.

Bourdieu, ao longo de sua obra mescla um conjunto de teorias, que são fundamentais para compreendermos seu arcabouço teórico. Nesse sentido, o autor trabalha com diferentes perspectivas conceituais.

Para Bourdieu o indivíduo não está limitado ao subjetivismo e nem tão pouco ao objetivismo, ou seja, o ator social não é apenas um ser que reproduz o espaço externo e também não é dotado de uma subjetividade autônoma. Assim, a compreensão é que há uma interação constante entre as estruturas, as representações e as práticas, que se moldam e se influenciam mutuamente.

Com objetivo de compreendermos o campo teórico de Bourdieu e sua analise sobre o campo da educação. O artigo primeiramente procura apresenta o quadro teórico do autor para que possamos entender sua abordagem e no segundo momento analisamos como a sua abordagem teórica possibilita mecanismo de análise para entendermos como as desigualdades sociais são produzidas.

  1. Formação do campo da teoria social de Bourdieu

A teoria social de Bourdieu compreende um conjunto de analise que o autor interpreta a partir de autores clássicos da sociologia.

Da perspectiva estruturalista o autor, rejeita a analise objetivista por não reconhecer as praticas sociais dos agentes envolvidos e que essas são resultados do sistema em que o sujeito está inserido, assim refuta também a perspectiva subjetiva que não considera a conduta social a partir do contexto de origem do indivíduo. Do campo da fenomenologia Bourdieu absorver a concepção de analise do objeto de estudo como um todo, desde como o objeto se comporta a como o pesquisador o interpreta, mas rejeita o descritivismo entendendo que esse ultimo é uma etapa da investigação. Do marxismo o autor faz uso das ideias de luta pela dominação. Do individualismo metodológico desconsidera que os fenômenos sociais são produtos exclusivos das ações individuais, para o autor a ação dos indivíduos são resultados do contexto que estão inseridos, ou seja, a estrutura opera através de constrangimentos, por isso, o autor considera que na pesquisa devemos manter a vigilância epistemológica sempre, para não comprarmos ideias as quais são nos impostas.

Esse quadro demonstra que Bourdieu montou uma estrutura de analise que abrangesse para além dos modelos já existentes, buscando romper com tradições rígidas e dicotomias. Nesse sentido, rompe com correntes que seguem um modelo único de analise, a exemplo de uma investigação baseada apenas do ponto de vista dos agentes sociais, para ele o contexto social e as estruturas que cercam esses indivíduos são também fundamentais para compreensão do objeto estudado. Assim, a sua analise compreende que:

 

O esquema que leva à análise empírica é sistêmico. Deriva do princípio de que a dinâmica social se dá no interior de um /campo/, um segmento do social, cujos/ agentes/, indivíduos e grupos têm /disposições/ específicas, a que ele denomina/ habitus/. O campo é delimitado pelos valores ou formas de/capital/que lhe dão sustentação. A dinâmica social no interior de cada campo é regida pelas lutas em que os agentes procuram manter ou alterar as relações de força e a distribuição das
formas de capital específico. Nessas lutas são levadas a efeito /estratégias/não conscientes, que se fundam no /habitus/ individual e dos grupos em conflito. Os determinantes das condutas individual e coletivas são as /posições/ particulares de todo /agente/ na estrutura de relações. De forma que, em cada campo, o /habitus/, socialmente constituí do por embates entre indivíduos e grupos, determina as posições e o conjunto de posições determina o /habitus/ (THIRY-CHERQUES, 2006, p.31)
.

 

Esse modelo referencial de Bourdieu é fundamental para a construção de seus conceitos. E ao longo da sua obra reafirma sua analise a partir da compreensão que as estruturais sociais têm que ser investigadas a partir das praticas sociais, nesse sentido, distanciando-se de Lévi-Strauss que assimila a estrutura como um conjunto de padrão de regras. Bourdieu, entende que a estrutura é dinâmica, os sujeitos são condicionados e condicionantes na estruturação de um campo, ou seja, para ele essa relação tem capacidade generativa de reprodução criando assim o habitus no interior de cada campo.

Nesse sentindo, é fundamental compreendermos esses conceitos chaves no esquema de analise do autor.

1.1 Habitus

O conceito de habitus, é utilizado pelo autor para romper com o estruturalismo e também com a filosofia do sujeito (THIRY-CHERQUES, 2006). O conceito é aplicado como um sistema de disposições que os indivíduos articulam, a partir da sua posição social, como formas de pensar, agir, sentir, ou seja, como compreendemos e articulamos o mundo que nos cercam, “o habitus como sentido do jogo é jogo social incorporado transformado em natureza” (BOURDIEU, 2004, p.82). O habitus é incorporado de tal forma que não percebemos conscientemente.

Ele contém em si o conhecimento e o reconhecimento das /regras do jogo/ em um campo determinado. O habitus funciona como esquema de ação, de percepção, de reflexão. Presente no corpo (gestos, posturas) e na mente (formas de ver, de classificar) da coletividade inscrita em um campo, automatiza as escolhas e as ações em um campo dado, “economia” o cálculo e a reflexão. O habitus é o produto da experiência biográfica individual, da experiência histórica coletiva e da interação entre essas experiências. Uma espécie de programa, no sentido da informática, que todos nós carregamos (THIRY-CHERQUES, 2006, p. 34)

 

 

O processo de interiorização social do habitus é tão natural que incorporamos as práticas como fossem automáticas e não como formas de disposições que ao longo da construção do indivíduo são adquiridas. Ele é tanto incorporado pelo individuo quanto pela coletividade, também expressa a posição que cada agente ocupa na estrutura social.

 

1.3 Campo

 

O modo de compreender a estrutura social para Bourdieu é a construção do espaço social, esse espaço é constituído por campos, que são formas de compreendermos como as posições objetivas e subjetivas tanto dos indivíduos quanto da coletividade são constituídas, como também, procura entender como o habitus se reproduz no espaço social.

Segundo o autor, o campo é um espaço de disputas constantes, dentro do campo a disputas de forças que são as formas como os agentes são constrangidos e as lutas internas que se caracterizam pela posição que cada agente ocupa nesse espaço. O campo não é fixo, ele é moldado pelas posições e disposições ao longo da sua construção, cada campo é constituído por um conjunto de interesses seja dos agentes envolvidos ou das instituições que fazem parte do mesmo. A existência do campo é moldada a partir dos agentes e das posições que cada um ocupa.

Cada campo possui suas particularidades, como também sua finalidade. Esse espaço tem uma estrutura objetiva que pode ser analisada independente dos agentes que partilham esse grupo, podemos compreende-los como um recorte de um espaço social que tem seus próprios interesses, capitais, etc. O campo representa uma concepção especifica que é estruturada por um conjunto de relações no seu interior, nesse sentido, podemos falar do campo da educação, da economia, da política, etc, isto é, são autônomos, possuem seus agentes e habitus, esse ultimo funciona como estruturante e o campo estrutura o habitus.

O campo é um espaço de distinções, cada agente ocupa uma posição e essas são determinantes para definir como acessamos as coisas e como compreendemos o mundo social que nos cercam, isto é, os eventos que acontecem para além do campo, exemplo, o ensino, a politica e os aparatos culturais. Nesse sentido, o campo possui uma interioridade que é marcada pela diferença, mas também uma exterioridade como o meio social que não faz parte do seu campo.

Cada campo possui suas regras próprias, seus habitus e um conjunto de interesses próprios que estão em jogo nesse espaço, esses interesses é compreendido como capitais que podem ser econômicos, político, cultural e são importantes para que os agentes adentrem ao campo ou demarque sua posição, para isso, são usadas estratégias seja no plano simbólico ou lutas para ocupar esse espaço. A estrutura interna de cada campo tem seus conflitos seja pelos agentes que possuem os capitais do campo e os demais que estão em busca de uma posição, há uma relação de dominante, que nesse sentido, são aqueles que possuem os capitais necessários e de dominados que sofrem uma violência simbólica, essa não está explicita ou perceptível para quem sofre, ela é o resultado ações que se revertem a favor dos dominantes.

 

Essas lutas resultam da tendência de todo campo de se reproduzir. Por exemplo, o sistema de ensino é visto por Bourdieu como empreendimento da cultura de classes. Ele sustentou que a cultura escolar, dominada pela cultura burguesa através dos códigos comportamentais, linguísticos e intelectuais, reproduz as ilusões (illusio) necessárias ao funcionamento e à manutenção do sistema: as crenças compartilhadas em um campo (THIRY-CHERQUES, 2006, p. 38).

 

Para o agente pertencente a um campo a percepção de sua condição enquanto dominado não é algo consciente, pois a incorporação do habitus é um processo natural e que o indivíduo não entende como um sistema de reprodução que o limita no acesso a outros capitais.

            

  1.   Modelo educacional para Bourdieu

 

Para Bourdieu, pensar no processo educativo para camadas sociais com um poder econômico médio é um jogo de investimentos que não afeta outras dimensões da vida dessa camada social, diferente do investimento feito pelas camadas populares, segundo o autor, essas por não possuir capital econômico e cultural suficiente para seguir a lógica de garantia de diplomas procuram a formação com um prazo de formação curto. Já as estratégias utilizadas pelas camadas médias da sociedade visam reunir esforços para que ocorra ascensão social para a camada mais alta da sociedade, a estratégia dessa camada parte de uma construção de habitus, pois a mesma saiu das camadas populares e ascenderam a camada média através da escolarização e incorporaram mecanismos de investimento no processo educativo para adentrar e saber sobreviver no meio.

A escola representa para o autor um espaço de legitimação da cultura dominante. Nesse sentido, essa incorporação de uma cultura dominante não é posta como tal, mas é construída através de mascaramento de uma cultura neutra que cabe ao papel pedagógico legitimado uma autoridade competente que transmiti conhecimento e não reforça desigualdades sociais. Assim, através do seu papel legitimo de transmissor do conhecimento e neutro a escola estaria livre de qualquer suspeitar de ser reprodutora de desigualdades. Mas para Bourdieu, a partir dessa liberdade de transmissão de conhecimento e legitimação do papel neutro a escola usa dessa liberdade para reforçar as desigualdades sociais, ou seja, ao posso que a condução de conteúdos e métodos adotados pelas escolas não levam em conta as diferenças as desigualdades culturais entre os estudantes das diferentes camadas sociais, ou seja, que tem chances de sucesso nesse modelo escolar são aqueles que já incorporaram o modelo.

 

O argumento do autor é o de que a comunicação pedagógica, assim como qualquer comunicação cultural, exige, para a sua plena compreensão e aproveitamento, que os receptores dominem o código utilizado na produção dessa comunicação. Dito de outra forma, a rentabilidade de uma relação de comunicação pedagógica, ou seja, o grau em que ela é compreendida e assimilada pelos alunos, dependeria do grau em que os alunos dominam o código necessário à decifração dessa comunicação. Para Bourdieu, esse domínio variaria de acordo com a maior ou menor distância existente entre o arbitrário cultural apresentado pela escola como cultura legítima e a cultura familiar de origem dos alunos. Para os alunos das classes dominantes, a cultura escolar seria a sua própria cultura, reelaborada e sistematizada. Para os demais, seria uma cultura “estrangeira”. (NOGUEIRA E NOGEUIRA, 2002. p, 29-30.)

Diante do exposto, a forma como o conhecimento é transmitido não confere a todos uma aprendizagem integral, pois a forma de transmissão já exige que o aluno tem habilidades previas para compreender o conteúdo ministrados, assim favorecendo aqueles que já pertencem a cultura que domina essa habilidade, seja no conhecimento prévio sobre linguagens, sobre obras de artes, etc. Aqueles que não tem próximo a cultura escolar a uma cultura familiar acabam por não ter oportunidade de sucesso escolar, pois não é apresentado um modelo que facilite sua assimilação. Então assim, a ideia de sucesso e fracasso escolar, segundo o autor, acontece por um modelo que privilegia e reforça a cultura dominante, pois esses já dominam os códigos necessários mesmo antes de sua inserção no espaço escolar, já aqueles que fracassam e são compreendidos como “dons desiguais” é o resultado de uma ação desigual na transferência do conhecimento.

O campo da educação através do seus habitus de comunicação do conhecimento favorece aqueles que dentro da estrutura do campo possuem as estratégias necessárias para acessar as melhores posições, ou seja, o sistema não é democrático pois não oferta as condições necessárias, gerando assim, agentes que dominam as estratégias por possuir os capitais necessários e aqueles que são dominados. Para melhor compreensão de como o campo da educação se reproduz, vejamos como as estruturas sociais, os agentes e as instituições operar.

2.1 O campo educacional brasileiro.

Inferimos aqui, a  partir de uma perspectiva da sociologia de Bourdieu, considerando o sistema de acesso à universidade pública no Brasil envolve dimensões estratégicas e, os agentes mobilizam-se conforme os seus interesses, articulando aquilo que está implícito no que desrespeito a regra geral, ou seja, a partir da adoção do Enem/Sisu o acesso ao ensino superior público, possibilitou que alunos de diferentes regiões usassem de estratégia de oportunidade de acesso independentemente da região de origem.

Assim, quais são as estratégias postas em jogo que os estudantes dispõem para acessar o ensino superior, tem de dispor de um conjunto de capitais para ingressar no campo da educação superior? Dessa forma, retornamos a discussão do que é campo, segundo Bourdieu, mas antes disso, vamos entender o espaço social. Para o autor ideia de espaço já pressupõe uma relação, essa relação é constituída a partir das diferenças.

 

“... todas as sociedades se apresentam como espaços sociais, isto é, estruturas de diferenças que não podemos compreender verdadeiramente a não ser construindo o princípio gerador que funda essas diferenças na objetividade. Princípio que é o da estrutura da distribuição das formas de poder ou dos tipos de capital eficiente no universo social considerado – e que variam, portanto, de acordo com os lugares e os momentos.” BOURDIEU, (1996, p.50)

 

O espaço social é uma forma de demonstrar na pesquisa o nosso recorte de análise, a partir das delimitações pertinentes ao estudo e o que identificamos a partir da observação do campo empírico. Assim, os campos são formas de compreendermos como os agentes, a coletividade e as instituições se relacional nesse espaço, considerando suas posições e as disposições. O campo é mutável, pois a uma constante relação de forças em disputas, quem ditas as regras, a distribuição de poder e os capitais do próprio campo Bourdieu, (1994). Se atendo que os elementos de cada campo são fundamentais para entendermos como esse se constituem, mas é importante distinguir que as formas de reprodução não são iguais. “Para que um campo funcione, é necessário haver paradas em jogo e pessoas prontas a jogar esse jogo, dotadas do hibutis que implica o conhecimento e o reconhecimento das leis imanentes do jogo, das paradas em jogo, etc.” (BOURDIEU, 1994, p.120).

Diante da concepção de análise do autor, aqui vamos abordar o campo da educação e suas transformações no que se refere ao ensino superior. Para Bourdieu e Passeron, a educação está relacionada a uma origem social e essa é herdada, assim, os caracterizando. Na obra os herdeiros, (2018), o debate desenvolvido no capítulo 1 é a origem social dos estudantes e como isso reflete na escolha dos cursos superiores. Para ele, o sujeito carrega uma bagagem incorporada a partir da sua origem social.

 

“Essa bagagem inclui, por um lado, certos componentes objetivos, externos ao indivíduo, e podem ser postos a serviço do sucesso escolar. Fazem parte dessa primeira categoria o capital econômico, tomado em termos dos bens e serviços a que ele dá acesso, o capital social, definido como o conjunto de relacionamentos sociais influentes mantidos pela família, além do capital cultural institucionalizado, formado basicamente por títulos escolares”. NOGUEIRA E NOGUEIRA (2002, p.20)

 

Os capitais articulados pelos sujeitos são fundamentais para entendermos como o acesso à educação se constitui, Bourdieu destaca que o capital cultural é fundamental, pois esse é incorporado no seio da família e está diretamente ligado a uma cultura “dominante” que entende de artes, possuem gostos específicos, domínio de uma linguagem culta e estão ligados ao mundo escolar. Nesse sentido, o capital cultura ganha uma notoriedade em relação ao capital econômico, pois considera que o impacto do capital cultural incorporado facilita no processo de aprendizagem dos estudantes.

Quando o estudante pertence a uma camada social alta, segundo Bourdieu e Passeron, (2018), esse apresenta capital cultural diferenciado, pois o espaço de acesso a obras artísticas, literárias, etc., e a circulação nos meios sociais disponíveis para essa camada faz com que o sujeito já tenha anteriormente acessado um conjunto de aparatos intelectuais antes de ingressar no ensino superior, diferente dos alunos de origem humilde. Para aqueles que possuem uma inserção cultural no modelo cobrado pelo ensino, a vantagens que proporcionam a compreensão necessário para atingir outros níveis educacionais, enquanto, as camadas sociais que não possuem o acesso a esse modelo de capital cultural o acesso é algo distante. Para o autor, a origem social e os capitais que os sujeitos possuem são fundamentais para compreendermos como o modelo educacional promove distinções. Assim, a educação que buscam nas disciplinas formas de avaliar as aptidões estão diretamente ligadas ao modelo de uma cultura “dominante”, desfavorece aqueles que não participam do mesmo jogo.

Diante do exposto, voltamos para o acesso à educação superior pública no Brasil, podemos questionar se a origem social está diretamente ligada a escolha do curso e o perfil do estudante que migra, com objetivo de compreender se a democratização possibilitou uma equidade entre acesso e origem social. De modo que, possamos analisar quais capitais são articulados pelos estudantes que se deslocam para fazer uma graduação.

Devemos nos atentar para a relação como a ideia de democratização é posta pela a estrutura de acesso as universidades. O Estado e um instituição que está inserida dentro do campo da educação, é responsável por criar medidas que atenda a ideia de democratização, ou seja, as políticas públicas são elementos que atende a demandas inter/nacional possibilita a inserção de novos estudantes, ou seja, o Estado uso do seu poder legítimo para estabelecer as novas regras de ingresso ao ensino superior. Mas quais são as medidas adotadas para os diversos agentes de camadas sociais que possuem capitais diferentes adentre a universidade consiga compreender o modelo de comunicação pedagógica das instituições?

Considerando essa perspectiva de uma cultura dominante que prevalecem para além de mecanismos adotados para democratizar, a contribuição de Bourdieu destaca é que o campo da educação não é neutro e sofre influência da estrutura social, favorecendo aqueles que possuem os capitais necessários para se manter numa posição de dominação.

Por fim, não deixamos nos induzir que a abordagem de Bourdieu sobre a educação é suficiente para a compreensão aqui estudado, a limitações, e resgatando o que o próprio autor coloca, os campos são mutáveis e se reproduzem de diferentes formas dependendo do espaço social que estão inseridos.  Mas, vejamos a análise do autor, pela ótica do acesso ao ensino superior, quais são os cursos escolhidos pelos estudantes de diferentes origens sociais, o capital social, econômico e cultural e suas influencias e como o habitus acadêmico é incorporado.  

Diante do exposto, o artigo propõe um debate sobre as políticas publicas para educação superior no Brasil e o ideal de democratização. Nesse sentido, essa proposta visa questionar a partir da análise de Bourdieu que o acesso a educação mesmo com um conjunto de políticas estabelecidas para que haja uma distribuição mais justa ainda tem um longo caminho a ser percorrido, pois para se falar em democratização precisamos revisar o modelo de educação existente.

BOURDIEU, P (1930-2002). A distinção: crítica social do julgamento. São Paulo: Edusp; Porto Alegre, RS: Zouk, 2007. 151p – 161p.

BOURDIEU, P. Questões de sociologia.  Edições: Sociedade Unipessoal, Lda., Lisboa, 2003.

BOURDIEU, P. Razões e práticas: sobre a teoria da ação. Campinas: Papirus; 1996. p. 48-52.

BOURDIEU, P. Os herdeiros: os estudantes e a cultura/ Pierre Bourdieu, Jean-Claude Passeron; tradução Ione Ribeiro Valle, Nilton Valle. – 2. Ed. – Florianópolis: Editora da UFSC, 2018. 171p

NOGUEIRA, C. M. M; NOGUEIRA, M.A. A sociologia de Pierre Bourdieu: Limites e Contribuições. Revista: Educação & Sociedade, ano XXIII, no 78, Abril/2002, p. 15-36

THIRY-CHERQUES, H. R.Pierre Bourdieu: a teoria na prática. Revista de Administração Pública, v. 40, n. 1, p. 27-55, 2006.

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