É notório que o componente curricular “matemático”, possui uma gama de contribuições e utilizações nas diversas situações do cotidiano, como ressaltado por (Ramos, 2017, pg. 16): “a Matemática, por sua universalidade de quantificação e expressão, como linguagem, é a Ciência que ocupa uma posição de destaque em nosso cotidiano”; no entanto, ainda apresenta-se uma certa “rejeição”, por parte dos estudantes, que a conceitua como sem utilidade e de difícil compreensão; por vezes questionando qual a funcionalidade da mesma na vida diária. E por entendermos que a escola possui um papel social que perpassa os muros da escola, não restringindo-se a mera transmissão dos conteúdos científicos aos seus estudantes, e estes por vezes desvinculados do fator utilitário no cotidiano dos mesmos.
Neste sentido, procurou-se realizar uma sequência didática abordando conceitos inerentes a educação matemática financeira escolar com alunos do 2 º ano do ensino médio numa escola pública da rede estadual de Alagoas, no período referente ao 1º semestre do ano letivo de 2021, por preencher os requisitos de vinculação e funcionalidade a vida cotidiana dos estudantes, e por pertencer a um dos temas transversais proposto pela BNCC (Base Nacional Comum Curricular) a ser implantado nas escolas a partir de 2020; pois os conteúdos explorados tendem a exercer um papel significativo na construção e no pleno acesso a cidadania, afinal num país capitalista, ao qual estamos inseridos, é crucial o desenvolvimento da capacidade racional e consciente de lidar com seu dinheiro. Em consequência disso, quando avaliamos o ensino que propomos, não buscamos verificar somente se os alunos aprenderam os conteúdos programáticos, mas se eles sabem argumentar, e expor sobre esse conteúdo; pautados em Sasseron, (2013), no tocante aos objetivos girarem em torno do:
Planejamento e da implementação de um ensino capaz de fazer os alunos compreenderem os conhecimentos científicos à sua volta, os adventos tecnológicos e saber tomar decisões sobre questões ligadas às consequências que as ciências e as tecnologias implicam para a sua vida, da sociedade e para o meio ambiente (Sasseron, 2013, p.42).
Convém salientar que para o entendimento das atividades sugeridas, compreendemos que Educação Financeira na escola se difere de Matemática Financeira, pois o termo “Educação Financeira na escola se refere ao ensino de conhecimento financeiro, de compreensão, capacidade, comportamentos, atitudes e valores que permitam aos alunos tomar decisões financeiras seguras e efetivas” (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (Organisation for Economic Co-operation and Development-OCDE, 2011, p.3); enquanto que Matemática Financeira “é o ramo da Matemática Aplicada que estuda o comportamento do dinheiro buscando quantificar as transações que ocorrem no universo financeiro, sendo que as principais variáveis envolvidas nesse processo de quantificação financeiras são juros, capital e tempo” (Santos, 2005, p. 157). Para tanto, fomos ao encontro da perspectiva de educação financeira escolar conforme apresentada por Silva e Powell (2013):
À Educação Financeira Escolar constitui-se de um conjunto de informações por meio do qual os estudantes são introduzidos no universo do dinheiro e estimulados a produzir uma compreensão sobre finanças e economia, por meio de um processo de ensino e de aprendizagem que os torne aptos a analisar, fazer julgamentos fundamentados, tomar decisões e ter posições críticas sobre questões financeiras que envolvam sua vida pessoal, familiar e da sociedade em que vivem (Silva; Powell, 2013, p. 12-13).
O nosso país atravessa um momento de forte instabilidade econômica, política e social, que se agravou ainda mais com o advento da pandemia instaurada pela COVID-19. A inflação com seus índices crescentes e economia brasileira num ritmo lento. O número crescente de brasileiros endividados. O tema deste trabalho não poderia ser mais atual e ter vindo numa hora tão propícia. A imprensa nos entope com informações sobre economia, taxas percentuais e criação de novos impostos. Para tanto, neste trabalho buscamos analisar uma sequência didática, envolvendo situações econômico-financeiras com foco na educação matemática crítica, desenvolvidas por intermédio do uso de recursos tecnológicos no período das aulas remotas.Neste sentido, nos apoiamos nas ideias de Bauman (2008) onde salienta o papel da imprensa como uma forma de estar induzindo a sociedade em relação ao consumismo.
O consumismo está intrínseco na sociedade e tem o papel de organizar as relações entre as pessoas. Na modernidade líquida discutida pelo autor, tudo é muito instável e cheio de incertezas, “num mundo em que uma novidade tentadora corre atrás da outra em uma velocidade de tirar o fôlego, a alegria está toda nas compras, enquanto a aquisição em si, apresenta uma alta probabilidade de frustração, dor e remorso (Bauman, 2008, p.28).
Desta forma, entendemos que a formação de um cidadão crítico, atuante começa pelo desenvolvimento de sua capacidade de lidar com seu dinheiro. Indo de encontro ao que se predispõe uma educação imersa nos preceitos da Educação Matemática Crítica (EMC), onde predispõe o surgimento da matemática, como destacado por Silva (2015):
A partir da necessidade que o homem encontra em seu dia-a-dia e pode ser usada na resolução dos mais variados problemas, auxiliando no processo de tomada de decisões, assim, seus conhecimentos precisam estar voltados para a prática no cotidiano dos alunos, os quais estão inseridos em contextos sociais, políticos, culturais e também econômicos (Silva, 2015, p. 5).
Tendo em vista os conhecimentos voltados na EMC pontuados por Skovsmose (2001), estes devem contemplar as três categorias a seguir com a finalidade de proporcionar um conhecimento que abarque a dimensão crítica à alfabetização matemática:
O primeiro é o conhecimento matemático, que é o domínio dos conceitos, resultados e algoritmos matemáticos. Trata-se de conhecer os símbolos e as regras matemáticas e usá-los adequadamente. O segundo é o conhecimento tecnológico: a habilidade de aplicar a Matemática e construir modelos, estratégias de resolução de problemas ou algoritmos, com os conhecimentos matemáticos. O terceiro é o conhecimento reflexivo: competência de refletir e avaliar, criticamente, a aplicação matemática na situação-problema (Skovsmose, 2001, p.115-116).
Portanto, a educação matemática financeira nas escolas é importante, pois prepara os alunos para tomar decisões sobre questões relacionadas ao dinheiro. A capacidade de avaliar racionalmente as necessidades de compra é crucial para construir os bens pessoais. A educação financeira escolar, quando relacionada à matemática crítica, tem um papel crucial no desenvolvimento da cidadania.
Para tanto, acreditamos que a educação financeira instituída dentro do contexto escolar propicia aos estudantes o desenvolvimento de habilidades e competências matemáticas. Sendo assim, foi implementada uma sequência didática em uma turma do 2ª série do ensino médio com a temática educação financeira em meio a pandemia da covid-19, visando despertar no adolescente limite e autonomia diante de suas ações.
SEQUÊNCIA DIDÁTICA NO ENSINO DE EDUCAÇÃO FINANCEIRA DESENVOLVIDA COM USO DE RECURSOS TECNOLÓGICOS EM MEIO A PANDEMIA
Ao recorrer aos conceitos da Educação Financeira no ambiente escolar, uma possibilidade que surge em várias pesquisas, segundo (Negri, 2010 e Teixeira, 2015) apontam para sua abordagem através de atividades didáticas, e por nos encontrarmos em meio a uma pandemia, impossibilitando o desenvolvimento das atividades escolares de forma presencial, fazendo valer o decreto instituído pelo estado de Alagoas que instaurou o REANP (Regime Ensino de Aprendizagem Não Presenciais), através da portaria nº 4.904/2020, fazendo-se necessário algumas adaptações nos diversos departamentos, inclusive nas instituições educacionais, buscando alternativas viáveis para dar continuidade com ensino e aprendizagem, e neste sentido o estado de Alagoas, normatizou e implantou o Ensino Remoto Emergencial, devendo ser desenvolvido em todas as escolas estaduais. Esse processo exigiu uma nova reorganização na didática pedagógica.Assim, para atuar dentro dessas instituições de ensino formal, vimos nas SDs um recurso metodológico como uma possibilidade para o desenvolvimento da construção da aprendizagem dos discentes durante o ensino remoto utilizado nas escolas brasileiras. Desse modo, Brousseau (1986), compreende uma situação didática como:
Um conjunto de relações públicas explicitamente e ou implicitamente entre um aluno ou um grupo de alunos, num certo meio, compreendendo instrumentos eventualmente e objetos, e um sistema educativo (o professor) com um padrão de possibilitar a estes alunos um saber constituído ou em vias de constituição [...]. O trabalho do aluno deveria ter, pelo menos, em parte, características do trabalho científico propriamente dito, como garantia de uma construção efetiva de conhecimentos (Brousseau, 1986, p. 63).
Ao desenvolver e aplicar a sequência didática, levamos em consideração as especificidades do currículo e das diretrizes nas quais o professor da turma cria condições para os alunos se desenvolverem em quatro aspectos, os quais estão apresentados na tabela a seguir.
Tabela 1 – Habilidades a serem desenvolvidas nos discentes.
aspectos |
Habilidades instigadas nos discentes |
primeiro |
pensem e considerem a estrutura do conhecimento: |
segundo |
Encontrem e comprovem suas afirmações e conhecimento construído: |
terceiro
|
Leiam e entendam criticamente o que lêem. |
Fonte: A autora, 2023.
Afinal, entendemos que ao nos deparamos com o estudo do aspecto econômico-financeiro, conectados aos conceitos da matemática financeira (que poderão ser ensinados nas instituições escolares desde o ensino fundamental menor até o ensino médio), irá favorecer para a tomada de decisões e servem de base para o entendimento de elementos pertencentes à educação financeira e quando estas são realizadas em grupo, pode contribuir para melhorar a compreensão e a socialização das informações.
Neste sentido, buscamos promover ações de atividades vinculadas a recursos tecnológicos, e que esses fossem acessíveis e de fácil utilização por parte dos alunos, aliando tópicos de educação financeira a tecnologia, com situações que favorecessem o surgimento de reflexões por intermédio de argumentos de conhecimentos prévios, como valores familiares, crenças, emoções e heurísticas. Para Borba (2004):
As tecnologias são produtos humanos, e são impregnadas de humanidade, e reciprocamente o ser humano é impregnado de tecnologia. Neste sentido, o conhecimento produzido é condicionado pelas tecnologias e, em particular, pelas tecnologias da inteligência, denominadas mídias por mim para enfatizar o aspecto comunicacional (Borba, 2004, p. 305).
Em meio aos vários desafios enfrentados durante o ensino remoto realizado na pandemia da COVID-19, apontamos o distanciamento e o uso de celular para manter o elo entre escola-aluno-professor, tornando-se uma ferramenta muito utilizada no processo de ensino e aprendizagem, no entanto, enfatizamos que anteriormente este utensílio era visto para muitos dos alunos como meio exclusivo para acessar as redes sociais, cabendo ao professor neste momento, direcionar as atividades investigativas.
METODOLOGIA
A presente pesquisa caracterizou-se numa abordagem qualitativa, utilizando sequências didáticas. Como estratégia de desenvolvimento do projeto, no primeiro momento foi usado o procedimento metodológico de pesquisa dos conceitos ligados à educação financeira, associado a ferramentas digitais a fim de expressar a importância de estudar a mesma, assim como diferenciá-la da matemática financeira. Nesta visão, Godoy (1995), apresenta:
A pesquisa qualitativa não procura enumerar e /ou medir os eventos estudados, nem emprega instrumental estatístico na análise dos dados. Parte de questões ou focos de interesses amplos, que vão se definindo à medida que o estudo se desenvolve. Envolve a obtenção de dados descritivos sobre pessoas, lugares e processos interativos pelo contato direto do pesquisador com a situação estudada, procurando compreender os fenômenos segundo a perspectiva dos sujeitos, ou seja, dos participantes da situação em estudo (Godoy, 1995, p. 58).
Quanto ao estudo da educação financeira baseou-se na definição de Educação Financeira Escolar de Silva e Powell (2013), uma vez que é desta instituição que trata a nossa pesquisa, comprometendo-se a desenvolver o pensamento financeiro dos alunos focando em três aspectos, envolvendo o meio social ao qual os mesmos estão inseridos:
- pessoal que foca as finanças pessoais;
- familiar, com ênfase no núcleo familiar. Ao mesmo tempo em que discute as problemáticas financeiras de uma família, também pretende estimular o estudante a participar da vida financeira de sua família, veiculando informações e ajudando na tomada de decisões;
- social, o foco está em temas e questões financeiras presentes na sociedade atual (Silva; Powell, 2013, p.13).
Nesse sentido, a pesquisa vai ao encontro da área da Educação Matemática, relacionados à etnomatemática, enfatizada pelo matemático D’Ambrósio (2008), ao discutir o ensino tradicional e a aplicação do conhecimento matemático nos diferentes contextos sociais a fim de promover atividades significativas a formação do indivíduo, considera o contexto natural, social, político, econômico, ambiental e cultural em que a Matemática se origina, se desenvolve, se situa e se difunde. Visto as atuais necessidades socioculturais, preveem a demanda de competências e habilidades matemáticas relevantes e significativas à formação do indivíduo, neste sentido, se faz oportuno uma educação que proporcione saberes que desenvolvam o pensamento crítico reflexivo frente a diversas situações do cotidiano. Destacamos os apontamentos de Pelicioli (2011) sobre a formação do cidadão:
Para que o indivíduo se torne um cidadão, é necessário agir e refletir sobre a ação, de modo que qualifique suas capacidades e promova o desenvolvimento da consciência sobre o que faz. Esse movimento pode ser implementado com atuações da escola em conjunto com ações governamentais, pois tais autoridades são responsáveis pela elaboração e aplicação de leis voltadas à formação das pessoas no sentido de sua cidadania (Pelicioli, 2011, p. 10).
Os procedimentos técnicos de caráter descritivos utilizados na pesquisa foram de encontro ao destacado por Gil (2008): “descrever as características de determinadas populações ou fenômenos”. Desta forma, partimos da análise e pesquisa em sites e livros, uso de ferramentas tecnológicas, construção de atividades pedagógicas, reflexões sobre a teoria e a prática com relação a Educação Financeira. As etapas que envolveram as atividades, alternam entre a estruturação, organização e construção de um conjunto de atividades que exploram a temática Educação financeira no Ensino Médio, a fim de contribuir com o senso de protagonismo.
A exploração da sequência didática relacionada a educação financeira se constituiu a partir dos pressupostos da educação matemática crítica (EMC); amparada no entendimento de Skovsmose (2008): que “argumenta as tomadas de decisão em situações reais onde a matemática está em ação, como é o caso das relações de consumo, não devem levar em conta apenas resultados obtidos matematicamente”; a sequência didática é composta por quatro momentos. Sendo desenvolvida através da modalidade de ensino remota via roteiros de estudos, como mostrado nas etapas a seguir:
a) 1ª fase: exibição e/ou indicação do vídeo por meio do google Meet (tendo em vista fornecer um panorama inicial sobre a matemática financeira e estimular o interesse dos estudantes para o assunto, será exibido o vídeo: Matemática nas finanças da série Matemática em toda parte, da TV Escola);
b) 2ª fase: aplicação de um questionário por meio do google formulário (a fim de identificar quais as dificuldades dos alunos com relação aos conteúdos matemáticos relacionados a educação financeira, assim como traçar um perfil dos conhecimentos que os alunos têm a respeito da educação financeira.
c) 3ª fase: sugestão e desenvolvimento das atividades propostas, utilizando os grupos de WhatsApp e Google Classroom (com o objetivo de atender às especificidades as quais englobam o ensino remoto, as atividades foram desenvolvidas em grupos, onde cada grupo ficou a cargo de desempenhar uma das quatro atividades listadas a frente, sendo divididas mediante sorteio ou afinidade/ acesso aos recursos que foram utilizados em cada atividade. Para esta fase foi solicitado:
i) utilização do software -EXCEL= (criação de uma planilha de planejamento familiar, destacando os gastos, a partir de texto fictício disponibilizado pela professora). Adquirir educação financeira não é apenas aprender a investir e a ganhar dinheiro. É importante aprender a controlar ansiedades, evitar desperdícios, resistir às tentações e planejar o uso do dinheiro.
ii) produção de um jogo tabuleiro utilizando o software: powerpoint, contendo cartas relacionadas a educação financeira: poupança, investimento).
iii) elaboração de uma HQ utilizando um aplicativo de criação de histórias em quadrinhos (ex. COMIC), a partir do capítulo: capítulo três- Lição 2: Para que alfabetização financeira? -do livro “PAI RICO, PAI POBRE” de Robert Kiyosaki e Sharon Lechter, (2000).
confecção de um cartaz digital (utilizando o aplicativo CANVA), ou outro de sua preferência para responder a seguinte pergunta: matemática financeira é o mesmo que educação financeira? o que significa cada uma?
d) 4ª fase: coube a análise da contribuição relacionada às atividades propostas na sequência didática apresentada, fazendo uso de um questionário disponibilizado através do google formulário, contendo problemas voltados à educação financeira.
RESULTADO E DISCUSSÕES
No cenário educacional o que muito tem se visto são discentes com pouca motivação diante do processo de ensino e aprendizagem. Diante dessa situação, os profissionais da educação buscam meios que possam ser atrativos para tornar suas aulas mais dinâmicas e que chamassem a atenção dos mesmos. Essa situação, se torna mais desafiadora quando nos referimos a modalidade de ensino que constitui o nível médio, que contempla uma das etapas da educação básica.
Diante do contexto em discussão, pensamos ser necessário implementar uma atividade de cunho investigativa com problemáticas que partisse da educação matemática financeira (EMF) e educação matemática crítica (EMC) que pudesse estimular a construção do pensamento crítico dos estudantes em determinadas situações encontradas no componente curricular de matemática, já que a disciplina para muitos não desperta tantos interesses, ficando nítido a falta de conhecimento que eles apresentam acerca de determinadas habilidades.
Assim, esta atividade investigativa foi desenvolvida com o objetivo de fazer com que os discentes apresentassem suas hipóteses, argumentasse e que possam gerar novas situações-problemas diante do conteúdo em discussão, principalmente quando delimitamos nossos olhares sob a perspectiva da matemática financeira, temática está bastante relevante para o ensino de matemática.
O desenvolvimento da SD se constituiu em quatro etapas. Na primeira etapa, foi disponibilizado para os participantes vídeos que abordassem temas tais como: Matemática nas finanças da série Matemática em toda parte, da TV Escola. Com o intuito de motivar o interesse dos discentes para o assunto, instigando-os acerca de questões inerentes à educação financeira a qual pretendemos realçar no decorrer da SD .
A segunda etapa, aplicou-se um questionário com os discentes para testar o grau de conhecimento que ambos apresentavam em relação a matemática, quais critérios dentro do financeiro se apresentavam como mais importantes para suas vidas. Nesse sentido, o que podemos observar é que os dados apontam para um total de 80% ser necessário ter uma compreensão acerca dos juros que ganhamos ou pagamos a depender do tipo de compra que fazemos. Conforme, representado no gráfico 1 a seguir.
Gráfico 1: Resposta a uma das questões do questionário.
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Fonte: A autora, 2021.
Corroborando com as ideias de Kiyosaki e Lechter (2000) é necessário que os discentes apresentem um letramento financeiro no ambiente escolar. Assim, como outras temáticas os fundamentos financeiros devem ser ensinados aos educandos desde os primeiros anos escolares, logo este tema se faz importante na construção do sujeito devido ao seu alto investimento no setor comercial como também em outras esferas da indústria, de modo a fazer com que tenham uma vida financeira tranquila e equilibrada.
Já na 3ª fase da sequência, esta é subdividida em subfases. A subfases ( i), nela houve a construção de planilhas pelos estudantes, momento em que destacam os gastos desnecessários e necessários. Com a elaboração desta planilha fica evidente a importância de abordarmos conceitos relacionados ao planejamento familiar para uma vida mais equilibrada economicamente. Nesse sentido, podemos observar o resultado da atividade apresentada a seguir nas figuras 1 e 2.
Figura 1: Planilha planejamento familiar (gastos desnecessários).
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Fonte: Os discentes, 2021.
Como bem destacado por (Barichello; Cenci e Pereira, 2015): “A falta de planejamento financeiro familiar leva à uma má administração dos recursos financeiros, o que poderá resultar em gastos excessivos com aquisições desnecessárias, deixando para trás outras que teriam maior importância”.
Figura 2: Planilha planejamento familiar (gastos necessários).
Fonte: Os discentes, 2021.
Conforme mostrado na figura acima é importante termos consciência dos gastos necessários dentro de um planejamento familiar. No entanto, é perceptível que essa consciência que temos em relação aos gastos é estabelecida a partir dos fundamentos da matemática financeira implementada na disciplina de matemática com o objetivo de trazer esclarecimentos acerca do que podemos considerar como necessário ou não, e termos uma vida mais equilibrada em função dos gastos.
Quanto à subfase (ii) tivemos a produção da atividade investigativa direcionada à construção de um jogo contendo cartas relacionadas à educação financeira envolvendo poupança e investimento, de forma a explorar a dinâmica e a ludicidade dos conteúdos destacados.Como podemos evidenciar no desfecho da atividade exposta nas figuras 3 e 4.
Figura 3: Jogo no POWERPOINT.
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Fonte: Os discentes, 2021.
Para tanto, concordamos com a ideia do autor (Halfeld, 2004), quando afirma que “as pessoas poupam com dois objetivos básicos: consumir mais, em breve; enfrentar o declínio que a natureza impõe à capacidade produtiva do homem após certa idade”.
Figura 4: Uma das perguntas contida no Jogo no POWERPOINT.
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Fonte: Os discentes, 2021.
A figura acima mostra uma das questões elencadas no jogo em relação ao investimento, quais conhecimentos devemos ter e quais devemos saber. Diante do exposto, ressaltamos a importância do conhecimento acerca dos juros em determinado investidor.
No que diz respeito a subfase (iii) foi construída uma história em quadrinho (HQ) através do app COMIC, como sugestão. Podendo ser utilizado outros aplicativos diante da afinidade dos discentes com esses apps. Assim como solicitamos também a confecção de um cartaz digital.
Neste seguimento apresentamos a conclusão da atividade investigativa a partir das figuras 5 e 6, como uma possibilidade de expor de forma criativa-tecnológica o conteúdo abordado.
Figuras 5 e 6: História em Quadrinho.
Fonte: Os discentes, 2021.
Segundo (Huston, 2010) “a alfabetização financeira possui duas dimensões: o entendimento, que representa o conhecimento financeiro pessoal ou também denominado, educação financeira”, e, portanto, desenvolvê-la no âmbito escolar poderá contribuir diretamente para o gerenciamento das finanças pessoais e familiares.
Ainda nesse momento, que constitui a subfase (iii) instituída dentro da terceira fase, foi solicitado aos discentes a construção de um cartaz com informações acerca da distinção existente entre matemática financeira e educação financeira. Como pode ser evidenciado na figura 7.
Figuras 7: Cartaz (diferença entre matemática financeira e educação financeira).
Fonte: Os discentes, 2021.
Aqui podemos constatar a diferença estabelecida pelo discentes a partir de todo percurso metodológico como base no desenvolvimento da SD a partir da temática discutida durante a implementação da sequência.
Por fim, a 4ª fase da SD foi constituída mediante aplicação de um questionário para os participantes deste estudo, com base nas atividades propostas, com questões relacionadas à educação financeira. Assim, achamos ser necessário apresentar umas das questões que compõem este questionário bem como as respectivas respostas obtidas, como mostrado na tabela 2.
Tabela 2: Resposta a uma das questões do questionário.
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Fonte: Os autores, 2023.
Nesse viés, foi perceptível que a educação matemática financeira é pouco discutida no contexto educacional, chegando aos discentes como algo quase que desconhecido por muitos. Partindo desse pressuposto, a implementação da sequência didática aplicado a uma turma do ensino médio foi de suma importância para a construção desse conhecimento. Assim, os participantes puderam conhecer a temática em discussão e desenvolver todas as atividades solicitadas em cada etapa da SD.
Em suma, cabe ressaltar que o objetivo da aplicação do questionário após implementação da SD foi verificar se o conhecimento adquirido promoveu o surgimento de habilidades e competências no intuito de analisar, avaliar, criticamente, as situações financeiras que se apresentam em sua vida.
Este artigo procurou analisar o entendimento da Educação Financeira Escolar recomendada por Silva e Powell, (2013) e alicerçado nas concepções da Educação Matemática Crítica, sugerida por Skovsmose, (2001), aplicada a uma sequência didática nos pressupostos de TSD de Brousseau, (1986), com objetivo de proporcionar aos discentes do ensino médio de uma escola estadual de Alagoas uma melhor compreensão dos elementos pertinentes ao letramento financeiro, no intuito de favorecer uma compreensão da educação financeira (EF), sobretudo, proporcionar ações, reflexões e conhecimentos sobre a relevância de uma vida financeira equilibrada.
De acordo com essa perspectiva em relação ao entendimento de EF aplicado no âmbito escolar, podemos apreender que seu propósito de maior relevância está voltado a auxiliar os alunos no entendimento e capacidade em gerir seus gastos de forma consciente, como também contribuir no desenvolvimento de um pensamento crítico-reflexivo relacionado a situações que envolvam tomadas de decisões que englobam o dinheiro.
Com base na sequência didática desenvolvida, percebeu-se que mesmo apresentando algumas dificuldades inerentes ao contexto ao qual estava inserido (REANP), entre elas a falta de conectividade por parte de alguns dos alunos; foi possível abordar de forma dinâmica a educação financeira através de atividades que exploraram a educação financeira associado a uma ferramenta digital, favorecendo o interesse em participar e contribuindo para despertar o senso crítico por parte dos alunos envolvidos.
Compreendemos que mesmo não sanando totalmente o entendimento dos conceitos voltados à educação financeira, acredita-se que foi possível contribuir para o surgimento de uma sensibilidade e produção de significados que os estudantes devessem possuir para compreender sobre educação financeira e tomada de decisão. Por entender que o conhecimento voltado a educação financeira seja capaz de contribuir para os indivíduos no sentido de fazerem escolhas inteligentes relacionadas ao dinheiro, nas transações financeiras e no consumo consciente, promovendo o bem-estar desses indivíduos que optam por estudar esta temática e aplicar em suas vidas, associando a conotação de educação financeira na escola; este é um conhecimento necessário ao exercício da cidadania e à economia familiar.
Neste sentido, enfatizamos a relevância de realizar atividades vinculadas com o contexto dos estudantes e que possibilitem acessar os conhecimentos prévios dos mesmos, e que estes “novos” saberes agreguem e contribuam para o seu dia a dia, podendo favorecer para uma aprendizagem com mais significado.
A Deus, pela minha vida, e por me dar a sabedoria para tomar as decisões certas, a coragem para enfrentar os desafios, e a paciência para perseverar até o fim.
E por fim eu agradeço a todos que me ajudaram a enriquecer o meu processo de aprendizado: familiares, amigos e ao estimado orientador.
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