Metadados do trabalho

Mídia, Educação E Decolonialidade: A Experiência Pedagógica Do Jornal Escolar Mídias E Diversidade

Luz Mariana Blet

Este estudo aborda a experiência pedagógica do jornal escolar Mídias e Diversidade, desenvolvido coletivamente com os alunos dos anos iniciais do ensino fundamental, do Marista Escola Social Lúcia Mayvorne, em Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. O presente trabalho visa abordar a realização do jornal escolar e o uso da mídia-educação sob uma perspectiva educativa emancipadora e decolonial. Para tanto, utiliza-se como principal embasamento teórico as obras de Ballestrin (2013), Hall (2000), Silva (2000) e Fantim (2006), sobre as perspectivas decoloniais na América Latina, os conceitos de cultura, identidade e mídia-educação, respectivamente.

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BLET, Luz Mariana. Mídia, educação e decolonialidade: a experiência pedagógica do jornal escolar Mídias e Diversidade. Anais do Colóquio Internacional Educação e Contemporaneidade, 2022 . ISSN: 1982-3657. Disponível em: https://www.coloquioeducon.com/hub/anais/503-m%C3%ADdia-educa%C3%A7%C3%A3o-e-decolonialidade-a-experi%C3%AAncia-pedag%C3%B3gica-do-jornal-escolar-m%C3%ADdias-e-diversidade. Acesso em: 16 out. 2025.

Mídia, educação e decolonialidade: a experiência pedagógica do jornal escolar Mídias e Diversidade

Introdução

 

 

Este trabalho aborda a experiência pedagógica desenvolvida por meio do Jornal Escolar Mídias e Diversidade e um olhar sobre a mediação com educandos e comunidade escolar do Marista Escola Social Lúcia Mayvorne. Nossas reflexões sobre esta experiência docente se apoiam nos conceitos de Ballestrin (2013), sobre as perspectivas decoloniais na América Latina, nas concepções de identidade propostas por Hall (2000) e Silva (2000) e nos debates sobre Práticas Midiáticas e Mediações Educativas, apresentados pela Professora Dra. Mônica Fantin (2006), da Universidade Federal de Santa Catarina.

As mídias possuem um papel fundamental na construção de significados e imaginários, neste sentido, as mediações pedagógicas no âmbito da mídia-educação têm como objetivo a construção de atitudes mais críticas e reflexivas por parte dos estudantes. O interesse nas pesquisas sobre o papel das mídias na educação não é um fenômeno recente, desde a década de 1980, Rezende e Fusari (apud FANTIN, 2011) desenvolviam estudos sobre recepção e comunicação na formação inicial, chamando a atenção para o papel da escola na produção de uma comunicação emancipatória.

Em relação ao contexto no qual se insere a mídia-educação, Fantin (2011, p. 28), ressalta que:

 

 

E embora ainda não haja consenso quanto ao uso e significado do termo mídia-educação, parece que os objetivos da educação para as mídias se aproximam e dizem respeito à formação de um usuário ativo, crítico e criativo de todas as tecnologias de comunicação e informação e de todas as mídias. A mídia-educação é uma condição de educação para a “cidadania instrumental e de pertencimento”, para a democratização de oportunidades educacionais e para o acesso e produção de saber, o que contribui para a redução das desigualdades sociais.

 

 

Considerando que mídia-educação, além de um conceito, é também uma prática pedagógica (RIVOTELLA, 1997) e, com o objetivo de compreender melhor a realidade na qual esta prática pedagógica foi desenvolvida, iniciaremos com uma breve contextualização sobre a instituição de ensino, sobre do território no qual ela está inserida e sobre a proposta da linguagem de Mídias e Diversidade.

O Marista Escola Social Lúcia Mayvorne (Lúcia), é uma escola de cunho social, pertencente ao Grupo Marista, localizada na comunidade do Monte Serrat (Maciço do Morro da Cruz) no Centro de Florianópolis, Santa Catarina, sul do Brasil.

O Maciço do Morro da Cruz é um grande morro, composto por diversas comunidades, entre elas: Morro do Mocotó, Morro da Caixa da D’Água, Tico-Tico, Chapecó, Morro do Céu, Serrinha, Carvoeira, Caieira do Saco dos Limões, Horácio, Mariquinha, Nova Descoberta, além de parte dos bairros da Prainha, José Mendes, Saco dos Limões, Trindade e Agronômica.

Apesar de estar localizado no Centro de Florianópolis, o Maciço do Morro da Cruz, é considerado uma região “periférica” e grande parte da população que ocupa o território é de baixa renda. Por muito tempo, o local vem sofrendo com a falta de elementos básicos de infraestrutura urbana, ausência de investimentos públicos, representações estereotipadas e diversas formas de violência simbólica por ser um morro[1].

Esta representação através de estereótipos, que muitas vezes não condizem com a realidade, mas colaboram para torná-la pior, é denominada violência simbólica. A teoria de violência simbólica, proposta por Bourdieu e Passeron, pode ser compreendida da seguinte maneira, segundo Saviani (1983, p. 16):

 

 

toda e qualquer sociedade se estrutura como um sistema de relações de força material entre grupos ou classes. Sobre a base da força material e sob sua determinação, erige-se um sistema de relações de força simbólica cujo papel é reforçar, por dissimulação, as relações de força material.

 

 

Neste cenário, o Lúcia apresenta uma realidade bastante diversa, porém, concentrando a maior parte dos estudantes nas camadas C e D.  Questões como a ausência do Estado nas políticas públicas, a violência e a vulnerabilidade social atravessam constantemente o cotidiano destes estudantes.

Na instituição são atendidas crianças a partir de 6 anos de idade, adolescentes e jovens, nos períodos matutino e vespertino (Ensino Fundamental) e noturno (Ensino Médio) todos contemplados com bolsas de estudo integrais.  No Ensino Fundamental I, do 1º ao 5º ano, são atendidas 244 crianças, entre 6 e 11 anos, oferecendo Educação Integral em tempo integral. (BLET, 2019).

De acordo com o Projeto Político Pedagógico do Lúcia, a educação integral, compreendida como uma educação com foco na formação integral do sujeito, nas suas faculdades cognitivas, afetivas, corporais e espirituais (GUARÁ, 2006). Nesta perspectiva, além dos componentes curriculares do ensino regular, na educação integral as atividades são realizadas a partir de linguagens articuladoras. Estas atividades ocorrem no Prédio II-Integral (PII-Integral), localizado a aproximadamente 600m do prédio principal.

O PII-Integral tem como proposta ser um espaço inclusivo, acolhedor, no qual a diversidade de conhecimentos emerge a partir das diferentes linguagens articuladoras: Labirintos do Saber, Cons(ciências), Humanidades, Expressão Corporal e Cultural, Cultura e Movimento, Literarte, Brincriar, Inglês e Mídias e Diversidade. É possível relacionar a proposta do PII-Integral ao conceito de Ecologia dos Saberes, de Boaventura de Souza Santos (2014), o qual se configura como um processo de produção coletiva de conhecimentos que objetiva a emancipação social, e, neste caso a formação integral dos sujeitos.

As propostas e práticas pedagógicas da instituição buscam promover uma educação que fomenta o protagonismo de sujeitos marginalizados, contemplando problemas do mundo real destes estudantes, nesta perspectiva, é possível dizer que promove uma educação decolonial.

O conceito de decolonialidade foi proposto por um grupo de intelectuais latino-americanos, que visam problematizar as perspectivas eurocêntricas de ler e narrar o mundo, dando voz e visibilidade a povos historicamente subalternizados e silenciados (MATOS e SILVA JUNIOR, 2019).

De acordo com Ballestrin (2013) o conceito de decolonialidade faz um contraponto à tendência histórica de que o Sul apenas fornece experiências, enquanto o norte as teoriza e cria o conhecimento. Trazendo este conceito para o objeto deste estudo, uma prática educativa decolonial é aquela que propõe outras formas de ensino além do hegemônico e que promova o protagonismo dos alunos de um território periférico, historicamente marginalizados e silenciados.

Neste artigo, iremos abordar a experiência pedagógica na Linguagem de Mídias e Diversidade, referência do 3º ano do Ensino Fundamental, na educação integral, tendo como foco a elaboração de um Jornal Escolar sob uma perspectiva da educação decolonial.

 

[1] Em Florianópolis o termo morro é o mais utilizado para designar o que em outras regiões do país chama-se de favela ou comunidade. Ao pensar nestes territórios, a imagem que vem à mente da maioria das pessoas e, que é reforçada constantemente pela mídia hegemônica, é a da ausência. Ausência de infraestrutura, de ordem, de regras, de recursos. Esta é a representação hegemônica destes espaços urbanos populares, que são ricos em cultura, em diversidade e com práticas sociais peculiares, características que são sufocadas pela ideia de homogeneidade da ausência. (SOUZA E SILVA, 2009).

 

Mídias e diversidade e o Jornal Escolar

 

 

A Linguagem Articuladora Mídias e Diversidade foi pensada tendo como base a ciência da semiótica, com foco para a área de conhecimento da ciência das linguagens. Neste sentido, contempla, tanto a linguagem verbal, onde se encontra a Língua Portuguesa, como disciplina do componente curricular do Ensino Fundamental, quanto a linguagem não-verbal, na qual engloba a comunicação através de gestos, símbolos, ícones e índices. (BLET E CAVICCHIOLI, 2019).

O objetivo geral da Linguagem de Mídias e Diversidade está diretamente relacionado à definição de mídia-educação que “pode ser entendida a partir de três perspectivas: educar sobre/ para os meios (perspectiva crítica), com os meios (perspectiva instrumental) e através dos meios (perspectiva expressivo-produtiva)”  (FANTIN, 2011, p.30).

A Linguagem de Mídias e Diversidade tem como problema norteador compreender de que forma a mídia-educação – por meio da comstrução de um jornal escolar - pode auxiliar no processo de ensino-aprendizagem da língua materna, assim como, despertar um olhar crítico da cultura e da sociedade e valorizar as identidades dos educandos. (BLET E CAVICCHIOLI, 2019).

O conceito de cultura aqui utilizado é em relação a uma perspectiva pós-moderna, na qual é compreendido como um processo discursivo dinâmico, que não se limita ao território e história. Ou seja, remete ao diálogo entre o eu e o outro e é atravessado por disputas em torno da representação. De acordo com Kramsch (2017, p. 146) “é o significado que membros de
um grupo social dão às práticas discursivas que compartilham em um determinado
espaço e tempo, durante a vida histórica do grupo.”

Na mesma perspectiva, ao falar de identidade, devemos contemplá-las como sendo fluidas e em constante processo de transformação. Nunca como algo fixo ou homogêneo, mas sim, como fragmentadas, heterogêneas e construídas através do discurso (HALL, 2000).

O jornal escolar pode ser considerado um importante aliado no processo de ensino aprendizagem e pode ser utilizado pelos educadores como uma ferramenta que estimule a análise e leitura crítica da realidade. A utilização do jornal em sala de aula favorece a multidisciplinariedade e pode ocorrer de diversas formas, proporcionando ao educando um contato e reflexão permanente sobre o contexto que está inserido (CAVICCHIOLI, 2010).

Por meio da criação do Jornal Escolar ofereceram-se ferramentas para que os alunos desenvolvam sua criatividade, expressem suas vozes e ideias e estejam preparados para interpretar os conteúdos midiáticos aos quais estão expostos no dia-a-dia. 

Conforme Orozco (1991) o conceito de mediação é compreendido como o momento de encontro e interação dos meios de comunicação com a audiência. E é na mediação onde ocorrem as negociações entre os significados que o emissor deseja produzir e os que são produzidos pela audiência. O que irá definir se uma audiência será submissa ou não aos meios de comunicação é a capacidade de estabelecer diferentes leituras daquelas que o emissor determina (HALL, 2013).

Neste sentido, para promover uma educação verdadeiramente emancipadora é fundamental que os alunos contem com uma formação crítica e reflexiva sobre os meios de comunicação, que possibilite a criação de diferentes leituras sobre as mensagens dos meios hegemônicos.

O Jornal Escolar Mídias e Diversidade é um projeto colaborativo, produzido coletivamente pelos alunos do 3° e 4º ano na linguagem de Mídias e Diversidade, e em 2019 foi desenvolvido com mediação da professora Luz Mariana Blet. Neste ano, as aulas de Mídias e Diversidade foram realizadas em uma sala de informática, composta por 10 computadores com acesso à internet, recursos multimídia, quadro branco e uma mesa central com cadeiras. Em 2019 o jornal contou com uma versão online, com publicações semanais, no formato de blog e uma versão impressa, distribuída aos alunos e comunidade escolar ao final do ano.

O objetivo da criação do jornal, assim como o da mídia-educação, é a formação de usuários ativos, críticos e criativos das mídias e das tecnologias (FANTIN, 2011). As mídias apresentam diversas definições, mas, pensando em um conceito relevante para o ensino e aprendizagem, a mídia pode ser definida como aquilo que intermedeia e que requer por um lado a criação de um conteúdo e por outro, alguém que receba e interprete esta comunicação (BATES, 2017).

No próximo tópico iremos descrever os processos de criação e a metodologia utilizada para produção do jornal escolar.

 

A coletividade como metodologia para criação do jornal escolar

 

 

O processo de produção do jornal foi realizado de forma coletiva e colaborativa, em sua maioria pelos alunos do 3º ano, os quais tinham no ano de 2019 a linguagem de Mídias e Diversidade como referência e, com participação dos alunos do 4º ano.

As notícias e reportagens do jornal foram todas escritas de forma colaborativa, utilizando a técnica do brainstorming para a criação dos títulos, leads e corpo dos textos.  O brainstorming, ou tempestade de ideias, é uma técnica utilizada em dinâmicas de grupo na área da comunicação, principalmente nas agências de publicidade, e tem como objetivo explorar as habilidades e a criatividade das pessoas. Na educação, a técnica pode ser utilizada como uma estratégia para desenvolver um assunto, por meio de perguntas realizadas pelo professor, que devem ser respondidas oralmente pelos alunos, com base nas suas ideias, experiências pessoais e vivências (FREITAS, 2022).

As turmas do 3º ano de 2019 caracterizavam-se pelo multiletramento. Sendo que, alguns alunos já eram alfabetizados e outros ainda estavam no processo inicial de alfabetização. A este respeito, trabalhar a escrita de notícias para um jornal escolar, tornava-se um grande desafio. A criação dos textos a partir de brainstorming, no qual a professora anotava todas as ideias dos alunos no quadro, para a partir disso criar coletivamente os textos, com o auxílio de diversos materiais pedagógicos (cadernos, quadro branco, computadores, celulares) foram as estratégias utilizadas para atender todas as crianças, contemplando suas diversidades culturais e sociais e respeitando suas diferenças em relação ao letramento da língua portuguesa.

A atuação da professora, neste contexto, ocorria a partir da perspectiva freiriana (FREIRE, 1991), baseada no diálogo e na escuta, que tem como característica o princípio da horizontalidade dos múltiplos saberes e, sendo ela, mediadora das diferenças entre a turma e, buscando sempre estimular a criatividade, fomentar espaços para que os educandos tenham voz, aprendam a respeitar as ideias dos colegas e exercitem o ato de criar em coletivo.

 

 

Escutar é obviamente algo que vai mais além da possibilidade auditiva de cada um. Escutar, no sentido aqui discutido, significa a disponibilidade permanente por parte do sujeito que escuta para a abertura à fala do outro, ao gesto do outro, às diferenças do outro. Isto não quer dizer, evidentemente, que escutar exija de quem realmente escuta sua redução ao outro que fala. (FREIRE, 1991, p. 135).

 

 

Durante todo o processo de criação do jornal o conceito de educar sobre, com e através das mídias foi vivenciado na prática. Em relação a isso, é possível destacar como alguns assuntos foram desenvolvidos nas aulas:

  • Técnicas de linguagem, Jornalistica: aulas teóricas sobre entrevista e reportagem; criação coletiva de questionário para entrevistas (escrita no caderno, no Word e no Google Forms); aulas práticas de aplicação de entrevista e reportagens; fotografia e filmagem de entrevistas e reportagens;
  • Histórias em Quadrinhos: aulas teóricas sobre história das Histórias em Quadrinhos e charges; pesquisa, leitura crítica e recorte de tirinhas de jornais e revistas; aulas práticas de criação de tirinhas (no papel); aulas práticas de criação de tirinhas utilizando programas específicos para isso na internet; compartilhamento das tirinhas produzidas pelos alunos no site do jornal online;
  • Fotografia: leitura crítica de fotografias de jornais; aulas sobre técnicas fotográficas; aulas práticas de fotografia; momentos de livre-expressão fotográfica entre os alunos; seleção coletiva de fotografias produzidas para ilustração das notícias;
  • Audiovisual: exibição de filmes de diversos gêneros; aulas teóricas sobre cinema, gêneros audiovisuais, técnicas de filmagem; criação de roteiros de filmes de animação; produção de cenários e personagens para filmes; filmagem de filmes de animação; apresentação dos filmes à comunidade escolar; criação de matérias para o jornal sobre os filmes; elaboração de sinopses; divulgação no jornal online dos filmes produzidos pelos alunos.

Em relação à utilização de diversas tecnologias e mídias e na educação cabe ressaltar a importância de um conhecimento prévio do professor sobre a funcionalidade e poder de cada mídia, para que a escolha seja apropriada e potencialize o processo de ensino-aprendizagem:

 

 

as mídias diferem em termos de seus formatos, sistemas de símbolos e valores culturais. Essas características específicas são cada vez mais consideradas potencialidades das mídias ou tecnologias. Assim, diferentes mídias podem ser usadas para ajudar os alunos a aprenderem de diferentes maneiras e alcançarem resultados diferentes, portanto também individualizando mais a aprendizagem (BATES, 2017, p. 273).

 

 

Neste processo a docente buscou utilizar as diversas potencialidades das mídias, aproveitando a riqueza de cada uma e compreendendo que cada aluno reage de forma diferente e obtém resultados diferentes na aprendizagem.

 

 

Distribuição do Jornal Escolar e mediação com alunos e comunidade

 

 

Ao término de cada trimestre é realizada uma mostra no PII-Integral, chamada Vivendo Arte, com a finalidade de compartilhar com as famílias os processos e aprendizados realizados naquele período. A último mostra Vivendo Arte do ano de 2019 foi escolhida como data para a distribuição do Jornal Impresso e para realizar uma mediação com alunos, pais e comunidade escolar.

Durante todo o ano letivo, as atividades realizadas para o jornal foram sendo publicadas no Jornal Online, no formato de blog posts. Conforme descrito anteriormente, os textos, fotos e vídeos foram criadas e selecionados coletivamente pelos educandos com mediação da professora. As postagens no blog, para fins de organização e controle, foram realizadas pela professora e, imediatamente, acessadas pelos alunos e discutidas em grupo.

O Jornal Online tem visibilidade pública, permitindo assim, que alunos, pais e professores possam acompanhar as publicações e interagir com as mesmas, a partir de comentários, assim como qualquer outro interessado. O link para acesso foi compartilhado com as famílias, diversas vezes durante o ano, tanto nas agendas dos educandos, assim como nas reuniões de entrega dos boletins.

Para a mostra Vivendo Arte a sala de Mídias e Diversidade foi decorada com um “varal” com os jornais impressos e as cadeiras foram organizadas em um formato “cineminha”. Pais e alunos sentaram-se para uma apresentação do jornal online, enquanto folhavam também o jornal impresso, além de assistir, em um telão, aos filmes e entrevistas produzidos pelos alunos.

O jornal impresso foi criado a partir da diagramação dos mesmos conteúdos publicados no jornal online. Apesar de que os conteúdos já haviam sido publicados no meio online e eram conhecidos pelos alunos, a reação tanto dos pais, quanto dos alunos ao receber o jornal impresso foi bem diferente: os familiares ali presentes se interessaram, de fato, em ler o jornal, manifestaram reações positivas ao ver os seus filhos naquelas fotografias, as crianças reagiram com emoção orgulho ao se verem representadas no jornal através de seus textos, desenhos e fotografias.

Tais reações reforçam a importância do papel da educação e do empoderamento dos estudantes em relação às mídias, principalmente das crianças e jovens das periferias, como uma forma de possibilitar uma mudança nos padrões de representação destes territórios e dos seus moradores, os quais, na maioria das vezes, aparecem nos meios de comunicação somente, relacionadas a temas como tráfico de drogas, violência e pobreza.

Em um mundo onde as crianças já nasceram no contexto das novas mídias e tecnologias e, para as quais, o acesso à internet é mais comum do que a jornais impressos, a mídia impressa ainda tem um importante papel de legitimidade: ver-se em um jornal impresso exerce mais representatividade que ver-se em um blog post.

 

 

Os estudos contemporâneos na área da educação, que adotam uma perspectiva decolonial, defendem que a educação deve contemplar a realidade, valorizar as identidades e diferentes potencialidades dos sujeitos subalternizados, proporcionar espaços de fala e escuta.

Neste trabalho, abordamos a experiência pedagógica do Jornal Escolar Mídias e Diversidade e como esta prática de mídia educação dialoga com as perspectivas da decolonialidade. Durante todo o percurso a docente buscou mediar o processo de ensino-aprendizagem da língua portuguesa, por meio da realização de atividades de leitura e escrita, contemplando os múltiplos saberes e letramentos dos educandos e, oferecendo estratégias para o desenvolvimento da escrita entre os estudantes ainda não alfabetizados.

Por meio da educação para as mídias, tanto em um aspecto crítico – o de interpretação dos conteúdos midiáticos, quanto no técnico – o do uso das tecnologias comunicativas, estimulando sempre a capacidade criativa dos educandos, criaram-se espaços para novas formas de representação e de identificação dos estudantes.

Diante do exposto acima, é possível afirmar que na Linguagem de Mídias e Diversidade, os meios de comunicação foram abordados tanto como uma ferramenta pedagógica como um objeto de estudo e os processos foram tão importantes quanto os conteúdos abordados e produtos criados, promovendo, assim, uma aprendizagem crítica, significativa e empoderadora. Neste sentido, o Jornal Mídias e Diversidade pode ser considerado uma semente para a construção de um pensamento decolonial entre os estudantes.

BALLESTRIN, Luciana. América latina e o giro decolonial. Revista Brasileira de Ciência Política, nº11. Brasília, maio – agosto, 2013, p. 89-117.

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BELLONI, Maria Luíza. O que é mídia-educação. 2.ed. São Paulo: Autores Associados, 2005.

 

CAVICCHIOLI, Gabriela Spagnuolo. O jornal na sala de aula: uma proposta de mídia-educação em busca da cidadania. Universidade Estadual de Londrina, 2010.

 

CAVICCHIOLI, Gabriela Spagnuolo. BLET,Luz Mariana. Projeto Mídias e Diversidade. Marista Escola Social Lúcia Mayvorne, 2019.

 

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FREITAS, Eduardo de. Tempestade de ideias no ensino (Brainstorming). Disponível em: http://educador.brasilescola.uol.com.br/orientacoes. Acesso em 30 jul. 2022.

 

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