A realização deste estudo, justifica-se pela necessidade de refletir sobre o sujeito histórico na função de coordenador pedagógico na escola suas relações com o trabalho neste século, suas atribuições enquanto profissional e como este profissional pode contribuir para mudança de paradigma neotecnicista que há nas escolas atualmente. Padrões que ora são impostos pelo sistema capitalista e que muitos coordenadores não conseguem se desvencilhar desse modo operandi ao qual se encontra.
Marx (2004) já alertava em seus estudos sobre a influência do sistema econômico e o modo de vida das pessoas e que para romper com essas contradições era necessário mudar o sistema econômico pela forma como os homens se relacionam com a produção material e intelectual. Sendo assim, mesmo com o domínio do sistema capitalista, segundo a teoria histórico-crítico a educação é um caminho possível para que haja transformação de pensamento dos sujeitos podendo mudar as realidades as quais vivem.
Neste contexto, o artigo busca na Teoria Histórico-Critica fundamentação teórica que subsidiará as reflexões e apontamentos de como o coordenador pedagógico sendo um sujeito que acompanha, medeia o processo ensino aprendizagem na escola pode trabalhar com seus professores saberes científicos que propiciem praticas educativas voltadas para a formação humana e não neotecnicista, voltada para uma pedagogia de resultados, de formação para o mercado de trabalho com finalidades de atender demandas econômicas.
A pergunta norteadora deste artigo é verificar de que forma o coordenador pedagógico, sendo um agente importante na formação dos docentes, tendo condições precarizada de trabalho e de formação pode mobilizar os diferentes saberes científicos dos professores afim de promover a emancipação de professores e consequentemente dos alunos ?
Dessa maneira, o objetivo geral deste estudo é analisar a importância do coordenador pedagógico na escola e sua relação com o trabalho na formação dos docentes, considerando a mobilização de saberes científicos para promover uma educação emancipatória e libertadora na escola. Os objetivos específicos são os seguintes: 1) refletir acerca de pressupostos gerais da Teoria Histórico-Crítica segundo Marx sobre o trabalho; 2) discutir o papel do coordenador pedagógico na trajetória docente e sua articulação com a promoção de um ensino com foco no desenvolvimento humano; 3) Discorrer acerca das contribuições deste profissional para articulação dos diferentes saberes científicos na escola como forma de romper com os padrões imposto pelo sistema capitalista.
A fundamentação teórica foi baseada no método dialético que na concepção de Gamboa (2007) esta perspectiva compreende o sujeito como um ser social que se constitui nas relações sociais e pode se inserir na sociedade como capital humano em uma perspectiva crítica, reflexiva e emancipatória. E dependendo da sua formação social terá condições de lutar contra a exploração instituída historicamente na nossa sociedade capitalista.
Os principais autores utilizados foram os seguintes: Marx (2004), Spirkine e Yakhot (1975), Perreira e Francioli (2011), Lopes (2012), Almeida (2014), Saviani (2008), Gamboa (2007), Marchesan e Almeida (2014), Marzari (2010), Rosa (2004), Kailer e Tozetto (2016).
O artigo está estruturado em três tópicos: no primeiro tópico traz algumas reflexões sobre a Teoria Histórico-Critica , a partir Marx buscando fazer uma relação à educação, o trabalho e o conhecimento, compreendendo o indivíduo como um ser social, capaz de se emancipar através da cultura e da mediação com o seu cotidiano, o segundo tópico discute o papel do coordenador pedagógico suas contradições em relação ao trabalho em uma sociedade em que o capitalismo impera e no último tópico, destaca-se as atribuições do coordenador e o seu papel na trajetória da formação continuada dos docentes e articulação dos saberes para a promoção de um ensino voltado para o desenvolvimento humano.
Pressupostos gerais da Teoria Histórico-Crítica segundo Marx sobre o trabalho
A Teoria social-crítica fundamentada no materialismo histórico-dialético de Marx, fornece categorias metodológicas indispensáveis para a compreensão das contradições existentes no sujeito produzidas pelo próprio desenvolvimento da sociedade. Ela propõe que o sujeito seja capaz de reconhecer–se como indivíduo e em suas múltiplas dimensões da vida humana seja no campo da família, ciência, arte ou da educação que pode promover transformações mediante a sua consciência, sendo um ser que se constitui nas e pelas relações sociais historicamente determinadas em uma perspectiva ontologia social do ser humano.
Perreira e Francioli (2011) destacam que entender a sociedade em uma perspectiva materialista e dialética requer que o indivíduo conheça seus elementos e como trabalhar em prol da superação das desigualdades, considerando que esta concepção está ligada a natureza e, que o homem pode transformá-la e produzir seus próprios materiais de consumo. Vale destacar que o ser humano não é produto da natureza, mas sim da história humana.
Desse modo a premissa fundante da concepção materialista e dialética da história é o trabalho e é por meio dele que o homem produz os materiais necessários para sua sobrevivência, pois o homem faz sua história à medida que modifica os meios de produção e transforma a natureza, seguindo esses princípios o homem evolui, muda a sociedade buscando superar o idealismo e o objetivismo, a “naturalização” do que é socialmente produzido e a essencialização do ser humano. O modo de pensar é que o define na práxis social, que apreende o movimento do real em sua complexidade e enquanto totalidade.
A efetivação do trabalho tanto aparece como desefetivação que o trabalhador é desefetivado até morrer de fome. A objetivação tanto aparece como perda do objeto que o trabalhador é despojado dos objetos mais necessários não somente à vida, mas também dos objetos do trabalho. [...] A apropriação do objeto tanto aparece como estranhamento (Entfremdung) que, quanto mais objetos o trabalhador produz, tanto menos pode possuir e tanto mais fica sob o domínio do seu produto, do capital (MARX, 2004, p. 80-81).
Sendo o trabalho uma atividade “atividade vital” humana. A centralidade dessa atividade se torna problemática quando a inversão é transformada em alienação, meio de sobrevivência do indivíduo em que o mesmo precisa vender sua força do trabalho para garantir a sobrevivência, logo o que deveria criar o mundo, dignificar o ser humano, proporcionar a si e a sua espécie bem estar , às regras do capitalismo e do neoliberalismo contribuem para o aumento das desigualdades sociais, miséria humana para uma grande parcela da sociedade, principalmente a classe trabalhadora. Nessa relação quanto mais o trabalhador vende sua força do trabalho, pondo de si no objetos que cria, mais este se torna estranho a si e a condição humana.
Apesar de alguns autores afirmarem que Marx não tenha desenvolvido um estudo específico sobre Educação, Lopes (2012) afirma Marx compreende a educação funciona como um processo de emancipação, meio pelo qual o sujeito provoca transformação radical da sociabilidade, segundo ele ela tanto podem transformar como contribuir para manutenção da hierarquia social, de controle das classes dominantes sobre as classes dominadas, isto é, de dominação da burguesia sobre o proletariado. Como descreve abaixo:
Marx compreende a educação como uma forma de socialização, de integração dos indivíduos numa sociedades em classes. O modelo está concebido em infraestrutural – super-estrutural ( de relação recíproca), a escola faz parte da super-estrutura (tal como o Estado ou a família, por exemplo) e a educação é assumidamente um elemento de manutenção da hierarquia social, de controle das classes dominantes sobre as classes dominadas, isto é, de dominação da burguesia sobre o proletariado. As ideologias que estabelecem as regras são as das classes dominantes, dos ideólogos – produtos típicos das universidades burguesa (LOPES,2012).
Nesse sentido os sujeitos que fazem parte dessa comunidade precisam ter pleno conhecimento do seu papel enquanto agentes que ora podem ser de opressão ou de libertação. Eles precisam pensar dialeticamente para compreender em qual contexto estão inseridos e quais são as orientações que estão sendo determinadas pelos seus superiores (SME,CREs,SEDUC,MEC,OCDE) dentre outros e quais são as intensões para que possam por meio do ensino problematizar tudo que o mundo que o cerca, tomando por referência a última reforma educacional no país intitulada como BNCC (Base Nacional Comum Curricular), a qual atende a um neotecnicismo proposto pelo modelo econômico neoliberal.
Dessa forma o coordenador pedagógico, um sujeito histórico, que forma outro sujeito precisa desenvolver um pensar dialético, desenvolver saberes científicos e um caminho possível é o saber científico fundamentado no materialismo histórico-dialético que defende a superação da exploração da força de trabalho e das desigualdades sociais fixadas na sociedade capitalista. Como corroboram os autores abaixo:
É o materialismo histórico, um dos componentes fundamentais da filosofia marxista-leninista, que elabora a teoria geral e o método de conhecimento da sociedade humana como sistema, estuda as leis da sua evolução e a sua utilização pelos homens (SPIRKINE; YAKHOT, 1975, p. 10).
Sendo assim pensar dialeticamente é compreender as mudanças que ocorrem na natureza, no homem e na sociedade no decorrer da história. Não ver o mundo como algo fixo, imutável, mas sim ter uma visão de que tudo está em constante movimento e transformação. Ainda na obra na obra “Manuscritos Econômicos Filosóficos”, Marx (2004) traz o conceito de onilateralidade, que é compreendida como uma formação humana oposta à formação unilateral provocada pelo trabalho alienado, pela divisão social do trabalho, pela reificação, pelas relações burguesas. Nesse sentido essa formação se dá pela apropriação plena do ser humano pelo ser humano, um “vir a ser” humano expresso pela ideia de pessoa humana como ser natural universal, social e consciente: onilateral.
Após um deleite sobre os pressupostos da Teoria Histórico-crítica sobre o trabalho enquanto categoria fundante no mundo contemporâneo, o próximo tópico deste artigo, traz uma breve reflexão sobre a prática profissional do CP em diálogo com os mais variados saberes na escola, para romper com as influências do capitalismo da escola.
O coordenador pedagógico em diálogo diferentes saberes científicos na escola como forma de romper com os padrões imposto pelo sistema capitalista.
Este tópico tem como proposta compreender como a Tendência Histórico-Crítica pode contribuir para o trabalho concreto do coordenador pedagógico nas escolas em uma de suas atribuições mais importantes que é a formação continuada de professores, no sentido de mobilizar saberes científicos para a superação da escravidão moral e intelectual imposta pela classe dominante. Para isso é preciso que este profissional esteja sempre atualizado teoricamente em relação a novas propostas metodológicas. Neste aspecto, segundo algumas revisões bibliográficas é o método da reflexão dialética, ao qual propõe ao professor a desenvolver saberes que vão conduzi-lo a práxis de fato contrapondo a padrões paradigmáticos que são ditados pelo capitalismo no sentido de preparar o sujeito para o mercado de trabalho sem que faça uma análise crítica sobre sua condição enquanto trabalhador, em uma posição de objetificação.
Apesar do contexto precário de trabalho ao qual o coordenador pedagógico de escolas, principalmente públicas, estão inseridos, com demandas de urgência e emergência proposta pelos seus superiores “organismos de controle” secretarias, ministério da educação dentre outros.com interesses diversos de controle social sua atuação é de suma importância para estabelecer um diálogo crítico.
Outro aspecto importante a ser mencionado aqui é o senso comum :” muitas pessoas acreditarem que o trabalho do CP seja puramente técnico e burocrático”, contudo é um grande engano, pois envolve alto grau de pensar por meio de problemas de aprendizagem em movimento constante de dialogicidade . A grande diferença que pode impactar fortemente é o diferencial nesse processo que ora pode fortalecer a vitalidade projetiva de professores e alunos ou alienar e promover na escola um espaço de tensão.
Mediar o conhecimento é uma das capacidades mais importantes das atribuições para exercer o ofício de coordenar para ensinar e aprender. Dessa forma a formação continuada é um processo permanente e constante de aperfeiçoamento dos saberes necessários à atividade dos professores. O coordenador pedagógico também precisa estar em constante processo de formação para mediar o conhecimento com e entre esses sujeitos. Quando se fala aqui, em saberes, estes, são conhecimentos teóricos/científicos levem os professores a utilizar buscarem teorias de ensino que não sejam produtivistas , neotecnicistas as quais alienam os alunos e que os preparam somente para a venda da força do trabalho, mas que promovam transformações no meio ao qual vive, ou seja compreender o meio ao qual está inserido as contradições, a historicidade e sua totalidade.
Saviani (2008) ao discorrer sobre a teoria da pedagogia histórico-crítica, ele faz uma alusão metafórica da “curvatura da vara”, em que ele destaca que até o momento a educação aos moldes da pedagogia tradicional está em uma linha reta, de forma tradicional e cartesiana. No entanto, para que a emancipação humana seja efetivada a educação não pode apenas formar para o trabalho é necessário que haja uma incorporação entre a educação e a forma como se vai trabalhar, pois o profissional mais qualificado é o que vai mais longe; mas também é preciso que o sujeito entenda qual o seu lugar no meio social. Que não somente obedeça à classe dominante; não se deixe alienar por tudo o que vê na televisão ou na internet; pois o maior interesse das mídias é mostrar o que você não se precisa saber.
O trabalho do sujeito histórico na sociedade capitalista é um elemento de luta social contra a exploração e os interesses do Capital. O CP deve promover um trabalho crítico e voltado para emancipação crítica e intelectual dos professores e alunos, pois considera-se a necessidade urgente de romper com a lógica gerencialista nas escolas, em que o foco é o resultado, sem considerar a aprendizagem em todo o percurso dos estudantes.
As contradições sociais que existem na escola e na comunidade, devem ser problematizadas e ser parte do currículo nas instituições educativas, em que o CP e os professores trabalhem de forma coletiva e colaborativa, articulando saberes e conteúdos científicos que levem os estudantes a produzirem novos conhecimentos e desenvolvam seu pensamento científico, e tenham uma formação voltada para o desenvolvimento humano.
No último tópico deste estudo, são analisadas as principais contribuições do papel profissional do CP na construção da trajetória docente e suas ações de articulação na realidade escolar, com o objetivo de promover um ensino com foco no desenvolvimento humano.
O papel do coordenador pedagógico na trajetória docente e sua articulação com a promoção de um ensino com foco no desenvolvimento humano
O homem é um ser social que desenvolve sua historicidade e potencialidades através do trabalho, pelo qual é capaz de transformar a natureza, garantindo assim sua sobrevivência biológica, adquirindo novos repertórios culturais e cognitivos ao pertencer a um determinado grupo. O trabalho é uma atividade essencialmente humana, e que é mediada por instrumentos criados pelo próprio homem e que são desenvolvidos socialmente. Neste percurso de atendimento as suas necessidades básicas, o homem transforma a si mesmo (VYGOSTKY, 2001).
Neste sentido, o desenvolvimento intelectual acontece a partir do meio social, para o individual. Conforme o pensamento de Vygostky (2001), o homem desenvolve suas funções psicológicas superiores relacionadas ao pensamento abstrato, a memória, sua atenção voluntária, processos de associação e cooperação e entre outras características, características inerentes somente aos seres humanos. O desenvolvimento acontece no âmbito interpessoal para o intrapessoal, sempre por meio da mediação. Em termos gerais, o sujeito se apropria da cultura, a partir dos movimentos de interação social que ocorrem em sua realidade.
Quando o coordenador pedagógico está na escola, ele tem um objetivo de trabalho definido e precisa articular os saberes dos professores em processos de formação continuada que alinhem possibilidades de transformação tanto no campo educacional, quanto na qualidade da formação que é oferecido aos estudantes. Na concepção de Verdinelli (2007), a obra de Vygostky contribui para o processo de superação de visões dicotômicas na relação entre ensino, aprendizagem e desenvolvimento.
Ao trazer para o trabalho do CP, a perspectiva histórico-cultural, destaca-se sua atividade como transformadora, em que este profissional irá contribuir para a mudança da realidade presente na escola, criando possibilidades para o futuro. Neste sentido, contribuindo para o processo de construção social e histórica da consciência. Diante disso, a formação continuada dos professores, e a atuação do CP é uma atividade criativa e deve partir de uma realidade específica, propondo a sua transformação. É importante destacar que a criatividade da atividade acontece por meio da troca e compartilhamento dos sujeitos, produzindo assim algo novo (ROCHA, 2017).
Mediante as características dinâmicas da realidade escolar, Rosa (2004) analisa o papel do Coordenador Pedagógico:
O coordenador pedagógico é responsável pela formação continuada dos professores na escola, procurando atualizar o corpo docente, buscando refletir constantemente sobre o currículo, atualizando as práticas pedagógicas dos professores estando sempre atento às mudanças existentes no campo educacional (ROSA, 2004, p. 143).
Almeida (2014) contribui com este diálogo ao afirmar que a função do CP é gerenciar e coordenar as atividades relacionadas ao processo de ensino e de aprendizagem, tendo como objetivo primário que o aluno permaneça na escola e se desenvolva integralmente. A partir daí, compreende-se que as funções do CP são essencialmente formadoras, articulatórias e transformadoras para superar os desafios que se apresentam no cotidiano escolar.
Existem várias alternativas possíveis para o aprimoramento da função do CP. Sobre isso, Almeida (2014) descreve algumas:
- A identificação das necessidades dos professores, e a construção de soluções coletivas para solucionar os problemas que se apresentam na realidade cotidiana;
- A colaboração deve ser estimular entre todos os profissionais da escola;
- O CP deve contribuir para que o professor reflita sobre sua prática pedagógica, possíveis problemas e assim contribuir para que o processo de ensino e aprendizagem seja constantemente melhorado e aprofundado, de forma permanente;
- Subsídios teóricos e práticos para que o docente possa realizar estudos aprofundados, e definir com clareza os objetivos e metas da aprendizagem, aferindo o diagnóstico dos resultados alcançados, e as principais mudanças que são necessárias na sala de aula.
Almeida (2014), afirma que estas obrigações exigem do CP a preparação adequada para o desenvolvimento do seu trabalho, e muitas vezes não possui a formação adequada, ou está imerso em atividades burocráticas no cotidiano escolar. Dessa forma, Kailer e Tozzetto (2016) destacam a amplitude requerida do CP para a sua formação, no intuito de enfrentar os problemas da realidade escolar:
Percebemos que não basta ao coordenador pedagógico ter experiência em sala de aula, é preciso obter saberes que envolvem a organização sistêmica da escola, teorias de currículo, políticas públicas na área de educação escolar, avaliação dos processos de ensino e aprendizagem, entre outros saberes que envolvem a atuação do coordenador pedagógico e que ultrapassam os saberes da experiência em sala de aula (KAILER, TOZZETTO, 2016, p. 14).
Marchesan e Almeida (2014) destacam que a função do coordenador é indispensável para o processo de tomada de decisões pedagógicas e não as administrativas. Em especial, o coordenador deve priorizar as questões relacionadas a sala de aula, e buscar articular os conhecimentos e atividades entre os sujeitos da comunidade escolar, promovendo assim um ambiente propício para a realização do que foi proposto no Projeto Político-Pedagógico (PPP) da instituição escolar.
Na perspectiva de Gadotti (2007) a escola é um espaço de construção das relações humanas. É importante entender que cada instituição educativa tem sua própria história, um público-alvo, sujeitos sociais advindos de diversos contextos e por fim, é um lugar de representações sociais. A partir da sua contribuição como instituição social, afirma-se a sua relevância para transformação social, no que concerne a formação de sujeitos críticos e criativos.
É sabido que vivemos em uma sociedade repleta de informações, e o professor é um profissional que é muito mais do que um mediador do conhecimento ou que propõe questionamentos aos estudantes. O trabalho do professor deve dialogar diretamente com o processo de construção e reconstrução do conhecimento, na trajetória da aprendizagem dos estudantes. E isso se faz através de um trabalho e organização pedagógica consistente. Para tanto, o professor precisa ter uma curiosidade aguçada, saber formular as perguntas que levem o estudante a construir novos significados e conhecimentos que impactem diretamente a sua realidade social. De modo geral, o professor é um construtor de sentido, colaborador e organiza a aprendizagem, considerando a autonomia e o desenvolvimento crítico do estudante (GADOTTI, 2007).
Dessa forma, Gadotti (2003) ressalta a necessidade de formar professores para desenvolvam uma educação humanizadora, plena e integral, não que apenas ensine conteúdo. A educação só tem sentido, quando ela contribui para o desenvolvimento humano do indivíduo.
Crianças envenenadas por médicos diplomados; recém-nascidos mortos por enfermeiras treinadas; mulheres e bebês fuzilados e queimados por graduados de colégios e universidades– ele pede aos professores que ajudem seus alunos a tornarem-se mais humanos, simplesmente humanos. E termina: ler, escrever e aritmética só são importantes para fazer nossas crianças mais humanas (GADOTTI, 2003, p. 13).
A sociedade atual trouxe muitas questões para a cultura profissional dos docentes. O conservadorismo do sistema educacional engessa a prática docente. O que chama atenção na reflexão de Gadotti (2003) é que para ele, a mudança deve partir do professor, considerando a produção de novos significados para seu papel na escola. Diante é importante e urgente uma redefinição da profissão docente e o investimento em políticas públicas de formação continuada para professores mais consistentes e efetivas.
Neste cenário, Marchesan e Almeida (2014) destacam a necessidade de o CP ter uma gama diferenciada de conhecimentos, competências, habilidades gerais e específicas que contribuam para o processo de orientação e articulação das ações pedagógicos que acontecem no acompanhamento ao professor, assessoramento técnico e análises e práticas avaliativas gerais que fazem parte da organização da escola. A partir disso conclui-se que a atuação profissional do CP está além dos acontecimentos pedagógicos, deve também ter um direcionamento para a formação continuada dos professores, e esse espaço também é considerado um lugar de produção de novos saberes que irão impactar a realidade escolar e superar os desafios que surgem no cotidiano.
O CP tem o dever de assumir um compromisso com uma teoria crítica e com uma prática profissional que leve a práxis que contribua para o ensino voltado para o desenvolvimento humano, auxiliando os professores e sujeitos da comunidade escolar em ações coletivas, que levem os indivíduos a refletir e experimentar novos conhecimentos, através de um diálogo coerente com a realidade.
Na sociedade capitalista, existem muitas contradições e desigualdades sociais que impactam diretamente, a maneira como uma criança, um jovem ou até mesmo um adulto enxerga a escola, nos dias atuais. A motivação para aprender tem a ver com práticas de ensino e de aprendizagem mais instigantes, não padronizadas e que afetam diretamente a formação dos sujeitos sociais.
Quando uma criança chega à escola, ela não vem vazia, possui seus próprios saberes, sua cultura e desenvolve sua própria maneira de interagir com o mundo ao seu redor. O papel do professor neste cenário é promover o acesso, através da mediação, da valorização da interação e práticas educativas que fomentem a formação de conceitos científicos e cotidianos durante a formação da aprendizagem.
Nesse ínterim, o professor precisa do auxílio, assessoria e acompanhamento do Coordenador Pedagógico, no intuito de desenvolver atividades como o experimento didático, cursos e atividades contextualizadas que levem o docente a realizar a práxis educativa em uma perspectiva desenvolvimental, histórico e crítico, no intuito de levar o estudar a pensar, desenvolver seu pensamento abstrato para o concreto, promovendo assim uma formação plena dos estudantes.
Ao longo da realização deste estudo, compreende-se que ao olhar para realidade da escola, da sobrecarga de trabalho do CP, em uma perspectiva dialética, existem dois fatores impeditivos: excesso de atividades burocráticas e administrativas e a falta de preparação e formação para este profissional. No entanto, isso deve ser enfrentado através de um debate crítico nas instâncias superiores de educação, no âmbito local e por intermédio do desenvolvimento de políticas públicas de formação para minimizar este problema.
Em termos gerais, o CP é responsável por assessorar, gerenciar e promover atividades formativas para os docentes, com a finalidade de estabelecer um ambiente de trabalho colaborativo, em que se possa desenvolver uma formação continuada que contemple as demandas de formação dos estudantes do século XXI. A perspectiva dialética contribui a construção de práticas profissionais na área da educação, voltada para a construção de uma escola democrática e alinhada com o processo de emancipação e conscientização dos sujeitos sociais.
O trabalho do CP, tendo como a Teoria Histórico-Cultural, privilegia o desenvolvimento humano dos educadores, é preciso acolher sua trajetória profissional, e desenvolver atividades formativas que melhorem seu fazer pedagógico no intuito de promover uma educação transformadora, aumentando o repertório cultural, crítico, reflexivo e cognitivo dos estudantes. E assim, prepará-los para a vida em sociedade.
Primeiramente a Deus, aos estudisos e pesquisadores sobre o assunto : Profª Dra. Esperança F. Carneiro, Profa Dra. Beatriz A. Zanatta e ao meu orientador : Profº. Dr. José Carlos Libâneo, ao meu esposo Odilon José da Silva, aos meus filhos : Odilon José da Silva Júnior e Lara Ester da Silva Barros e a minhas amigas Elenice Rabelo e Vanusa Batista de Oliveira que sempre trocamos ideias e conhecimentos em busca de avançarmos na pesquisa e também de contribuirmos para uma Educação voltada para a formação humana.
[1] Graduada em Letras – Língua Portuguesa pela Universidade Estadual de Goiás (2001), Pedagogia pela Universidade do Vale do Acaraú, Sobral (2013) e Mestranda em Educação pela Universidade Pontifícia Católica de Goiás (PUC-Goiás), e-mail para contato: mbfbarroslara@hotmail.com
[2] Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Católica de Goiás (PUC-Goiás), e-mail para contato: esperancacarneiro@outlook.com
[3] Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Católica de Goiás (PUC-Goiás), e-mail para contato: beatrizapzanatta@gmail.com
ALMEIDA, Edna Gonçalves de. O papel do coordenador pedagógico na elaboração do plano de trabalho docente e suas intervenções. 2014. 26 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização) - Curso de Especialização em Coordenação Pedagógica, Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, 2014. Disponível em: https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/47217/R%20-%20E%20-%20EDNA%20GONCALVES%20DE%20ALMEIDA.pdf?sequence=1&isAllowed=y#:~:text=Orientar%20o%20professor%20na%20elabora%C3%A7%C3%A3o,considerando%20a%20natureza%20e%20as. Acesso em: 10 mar. 2022.
CARDOSO, Miriam Limoeiro. Do concreto ao abstrato. Aula gravada no Programa de Mestrado em Planejamento Educacional. Rio: Fundação Getúlio Vargas, por José Kuiava, mai. 1985. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/219714/do%20abstrato%20para%20o%20concreto.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 28 mar. 2022.
GADOTTI, Moacir. A escola e o professor: Paulo Freire e a paixão de ensinar. São Paulo: Publisher Brasil, 2007. Disponível em: https://www.mpma.mp.br/arquivos/CAOPEDUCACAO/LIVROS/Paulo_Freire_e_a_Paix%C3%A3o_de_Ensinar.pdf. Acesso em: 12 abr. 2022.
GADOTTI, Moacir. Boniteza de um sonho: ensinar e aprender com sentido. Rio Grande do Sul: Feevale, 2003.
GAMBOA, Silvio Santos. A concepção de homem na pesquisa educativa: algumas constatações. In: Pesquisa em educação: métodos e epistemologia. Chapecó: Argos, 2007, p. 141-151.
KAILER, Priscila Gabriele da Luz; TOZETTO, Suzana Soares. A formação inicial do Coordenador Pedagógico. In: ANPED SUL: REUNIÃO CIENTÍFICA REGIONAL DA ANPED, 11., 2016, Curitiba, Paraná, Anais [...], Curitiba, Paraná: ANPED SUL, 2016, p. 1-15. Disponível em: http://www.anpedsul2016.ufpr.br/portal/wp-content/uploads/2015/11/EIXO6_PRISCILA-GABRIELE-DA-LUZ-KAILER-SUSANA-SOARES-TOZETTO.pdf. Acesso em: 10 mar. 2022.
LOPES, Paula Cristina. Educação, Sociologia da Educação e Teorias Sociológicas Clássicas: Marx, Durkheim e Weber. 2012. Camões - Repositório Institucional da Universidade Autónoma de Lisboa, Departamento de Ciências da Comunicação (DCC), Artigos/Papers. Disponível em: http://hdl.handle.net/11144/191. Acesso em: 22 fev. 2022.
MARCHESAN, Claudia; ALMEIDA, Siderly do Carmo Dahle de. Coordenador pedagógico: em busca de sua identidade. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO NO MERCOSUL, 16., 2014, Cruz Alta - Rio Grande do Sul, Anais [...], Cruz Alta: Unicruz, 2014, p. 1-11. Disponível em: https://www.unicruz.edu.br/mercosul/pagina/anais/2014/DIREITO%20A%20EDUCACAO/ARTIGO/ARTIGO%20-%20COORDENADOR%20PEDAGOGICO%20EM%20BUSCA%20DE%20SUA%20IDENTIDADE.PDF. Acesso em: 10 mar. 2022.
MARX, K. Manuscritos econômico-filosóficos. Tradução de Jesus Ranieri. São Paulo: Boitempo, 2004.
MARZARI, Marilene. Ensino e aprendizagem de didática no curso de Pedagogia: contribuições da teoria desenvolvimental de v.v. Davydov. 2010. 278 f. Tese (Doutorado) - Curso de Doutorado em Educação, Pontifícia Universidade Católica de Goiás – Puc/Go, Goiânia, 2010. Disponível em: http://tede2.pucgoias.edu.br:8080/handle/tede/693. Acesso em: 08 mar. 2022.
Paulo: Publisher Brasil, 2007. Disponível em: http://www.acervo.paulofreire.org/xmlui/bitstream/handle/7891/2773/FPF_PTPF_12_026.pdf. Acesso em: 12 abr. 2022.
PEREIRA, J. J. B. J.; FRANCIOLI, F. A. de S. Materialismo histórico-dialético: Contribuições para a teoria Histórico-Cultural e a Pedagogia Histórico-Crítica. Germinal: marxismo e educação em debate, [S. l.], v. 3, n. 2, p. 93–101, 2012. DOI: 10.9771/gmed.v3i2.9456. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/revistagerminal/article/view/9456. Acesso em: 27 mar. 2022.
ROCHA, Tânia de Fátima. Formação continuada do professor coordenador pedagógico no âmbito regional da rede estadual paulista: entraves e possibilidades. 2017. 148 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Educação, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - Puc/Sp, São Paulo, 2017. Disponível em: https://repositorio.pucsp.br/jspui/handle/handle/20226. Acesso em: 12 abr. 2022.
ROSA, Clovis. Gestão estratégica escolar. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 2004.
SAVIANI, Dermeval. A pedagogia no Brasil: história e teoria. Campinas, SP: Autores Associados, 2008. (Coleção Memória da Educação)
SPIRKINE, A. YAKHOT, O. Princípios do Materialismo Histórico. S. São Paulo: Estampa, 1975.
VERDINELLI, Marilsa Maria. Formação continuada de professores do ensino fundamental subsidiada pela pedagogia histórico crítica e teoria histórico-cultural. 2007. 206 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Educação, Pós-Graduação em Educação, Área de Concentração: Aprendizagem e Ação Docente, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, PR, 2007. Disponível em: http://www.ppe.uem.br/dissertacoes/2007/2007%20-%20Marilsa_Maria_Verdinelli.pdf. Acesso em: 12 abr. 2022.
VIGOTSKI, Lev S. Psicologia pedagógica. São Paulo: Martins Fontes, 2001.