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Educação Profissional E O Proeja: Reflexões Acerca Do Processo De Formação Para O Mundo Do Trabalho

Genivaldo Ferreira Sá

A EJA - Educação de Jovens Adultos é uma modalidade que se distingue das demais por reconhecer a historicidade dos sujeitos que dela participam e enquanto modalidade se propõe a possibilitar o acesso a conhecimentos em uma determinada época da vida que precisam conciliar estudo e trabalho, pois além de estudantes são trabalhadores e vislumbram na escola a possibilidade de permanecer ou adentrar no mundo do trabalho. Neste artigo, optamos pelo estudo bibliográfico com o objetivo de analisamos a estreita relação dos sujeitos do PROEJA - Programa Nacional de Integração da Educação Básica com a Educação Profissional na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos com o mundo do trabalho, uma vez que os educandos do PROEJA perpassam pelo processo de formação profissional. Para isto, utilizamos das contribuições de teóricos como Freire (2011), Frigotto (2004), Charlot (2013), Arroyo (2007), Machado (2010), Marx (2009), Hegel (1974) e Gramsci (2011), dentre tantos outros. Buscamos, então, compreender como o processo de formação profissional dos educandos do PROEJA tem contribuído para a inserção destes sujeitos no mundo do trabalho? Assim, objetivamos compreender o processo de formação dos educandos do PROEJA para sua inserção no mundo do trabalho. 

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Como citar este trabalho

SÁ, Genivaldo Ferreira. EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E O PROEJA: REFLEXÕES ACERCA DO PROCESSO DE FORMAÇÃO PARA O MUNDO DO TRABALHO. Anais do Colóquio Internacional Educação e Contemporaneidade, 2022 . ISSN: 1982-3657. Disponível em: https://www.coloquioeducon.com/hub/anais/433-educa%C3%A7%C3%A3o-profissional-e-o-proeja-reflex%C3%B5es-acerca-do-processo-de-forma%C3%A7%C3%A3o-para-o-mundo-do-trabalho. Acesso em: 16 out. 2025.

EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E O PROEJA: REFLEXÕES ACERCA DO PROCESSO DE FORMAÇÃO PARA O MUNDO DO TRABALHO

A Educação de Jovens Adultos é uma modalidade de educação que reconhece a historicidade dos sujeitos que dela fazem parte e que se propõe proporcionar o acesso a conhecimentos em uma determinada época da vida em decorrência do fato de ter sido negada, ainda na infância e adolescência, o direito de acesso e permanência na escola e consequentemente da aprendizagem formal, mesmo havendo previsão legal na Constituição Federal e na LDBN - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 9394/1996.

Neste artigo, abordamos a formação profissional dos educandos do PROEJA - Programa Nacional de Integração da Educação Básica com a Educação Profissional na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos e a estreita relação com a concepção de trabalho como princípio educativo que se estenda para além do mero treinamento profissional que atenda não apenas o mercado, mas uma formação integral na direção de uma nova concepção de homem e de sociedade.

Levando-se em consideração os objetivos do PROEJA, observa-se que o mesmo tem por intuito elevar as potencialidades dos sujeitos que possuem defasagem idade série através da oportunidade de formação não somente do ponto de vista do letramento, mas da formação para o mundo do trabalho. Assim, o referido programa contribui para formação cidadã, isto é, sujeitos críticos, criativos e preparados para atender às exigências do mundo do trabalho.

Mediante esta contextualização, tivemos como objetivo compreender o processo de formação dos educandos do PROEJA para sua inserção no mundo do trabalho evidenciando os indicadores que possibilitam maior aproximação entre a formação e necessidade de trabalho. Diante disso temos como problema de pesquisa a seguinte questão: Como o processo de formação profissional dos educandos do PROEJA tem contribuído para a inserção destes sujeitos no mundo do trabalho? 

          Assim, esperamos que o estudo aqui apresentado traga contribuições significativas para a Educação de Jovens e Adultos e assim possa ampliar a produção do conhecimento no campo da educação e mundo do trabalho.

2 ABORDAGEM METODOLÓGICA

Os caminhos metodológicos deste estudo permearam o levantamento bibliográfico dos teóricos que tratam da formação profissional dos sujeitos da Educação de Jovens e Adultos -EJA no ambiente escolar.

Diante disso, este artigo adota a abordagem qualitativa de investigação, onde o pesquisador tem interesse de observar como os sujeitos organizam o seu cotidiano, o que as pessoas pensam, reivindicam e aceitam, o modo como pessoas diferentes dão sentido às suas vidas. Na pesquisa qualitativa observamos um cosmo real, e a subjetividade do sujeito. Tudo depende da sensibilidade e percepção aguçada do pesquisador diante do que deseja conhecer. Segundo Denzin e Lincoln (2006), a pesquisa qualitativa envolve uma abordagem interpretativa do mundo, o que significa que seus pesquisadores estudam as coisas em seus cenários naturais, tentando entender os fenômenos em termos dos significados que as pessoas a eles conferem.

No que concerne às contribuições da pesquisa bibliográfica tomamos como base os estudos de Gil (2002, p. 45) que faz alusão à importância da referida pesquisa quando assevera que “A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente”. Assim, percebemos que a pesquisa bibliográfica proporciona um olhar abrangente acerca dos fenômenos do estudo. Lakatos e Marconi (2017) esclarecem que esse tipo de pesquisa tem como objetivo colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto. Assim, este artigo se constituiu a partir das ricas contribuições da abordagem qualitativa delianeada pela pesquisa bibliográfica.

 

3 A FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO EDUCANDO DO PROEJA PARA O MUNDO DO TRABALHO

 

 

A escola deve ser o lugar de provocar inquietações no educando e cada vez mais estreitar a relação deste com o conhecimento. No que concerne ao PROEJA, cabe à escola efetivar o cumprimento das exigências legais regulamentadas pela Constituição Federal no que concerne a educação como direito de todos, de forma inclusiva, ética e integral.

O PROEJA tem origem em um contexto complexo e paradoxal em torno de projetos educacionais que objetivam a afirmação de processos formativos emancipatórios em contraposição com a manutenção de uma educação aliada à dinâmica do mundo do trabalho (MACHADO, 2010). Diante disso, o PROEJA surge do movimento dos embates que serviram de sustentáculo para a revogação do Decreto nº 2.208/97 em favorecimento ao Decreto nº 5.154/2004. O novo Decreto promulgado em um cenário de tensões entre uma conjuntura política que vislumbrava o avanço e a manutenção dos direitos sociais que se opunha às ideias dos que defendiam a permanência de um Estado de perpetuação de privilégios e desigualdades (FRIGOTTO, 2004). A partir de então nascia o retorno da possibilidade de integração do ensino médio à educação profissional técnica, a partir de uma proposta curricular única que, de forma integrada, assegura o cumprimento das finalidades estabelecidas para a formação geral e as condições de preparação para o exercício das profissões técnicas (BRASIL, 2004).

A partir das configurações legais estabelecidas em 2004, o PROEJA estabelece propostas de integração da educação básica à educação profissional levando em consideração as especificidades da EJA. Nota-se assim, o desafio de retomar a significação da base epistemológica e pedagógica dos saberes aliados ao currículo do PROEJA, considerando a complexidade que perpassa pela educação profissional mediante os itinerários acadêmicos e políticos inerentes à Educação de Jovens e Adultos tendo em vista a formação de homens e mulheres que buscam na escola a aprimoramento e autenticação de seus saberes para a formação política, social e consequentemente para o mundo do trabalho. Percebe-se assim a necessidade de promover a formação técnica integrada ao ensino médio em comunhão com a emergência de uma educação não para adequar o trabalhador às exigências do mercado de forma passiva e subordinada, mas que seja capaz de uma formação humana pautada nos princípios de um “[...] processo crítico, emancipador e fertilizador de outro mundo possível (BRASIL, 2007, p. 36)”.

É notória a importância de uma formação autônoma e libertadora sem deixar contemplar a compreensão dos fundamentos científicos, tecnológicos, social e históricos. Esta perspectiva é evidenciada no Documento Base do PROEJA quando expressa que:

 

 

O que realmente se pretende é a formação humana, no seu sentido lato, com acesso ao universo de saberes e conhecimentos científicos e tecnológicos produzidos historicamente pela humanidade, integrada a uma formação profissional que permita compreender o mundo, compreender-se no mundo e nele atuar na busca de melhoria das próprias condições de vida e da construção de uma sociedade socialmente justa. A perspectiva precisa ser, portanto, de formação na vida e não apenas de qualificação do mercado ou para ele (BRASIL, 2007, p. 13)

 

 

Mediante esta colocação o que se evidencia como necessidade é a concepção de uma formação com sustentação em opções políticas, objetivando garantias de direitos aos jovens e adultos aos quais foi atribuída uma educação com base na compensação aligeirada, tecnicista e assistencialista. Assim, torna-se relevante trazer à tona o trabalho como princípio educativo o que implica, na concepção de Gramsci (1991), valorizar o trabalho em sua dimensão ontológica e histórica, de forma a sinalizar para uma proposta da educação comprometida com a formação humana dos sujeitos.

Ao considerar a concepção de trabalho como princípio educativo para a formação dos educandos do PROEJA significa que os distintos campos de conhecimentos que o constituem sejam adequados na totalidade e explorados no tocante aos princípios da cidadania e do trabalho.

Na argumentação de Ciavatta (2009, p. 19), “O trabalho sempre foi uma atividade separada da atividade da escola - o primeiro, próprio do mundo do fazer e da servidão; a segunda, próprio do mundo do saber”. Assim, trabalho e escola sempre foram dois universos antagônicos e tradicionais na sociedade ocidental. Não deve, portanto, relegar ao segundo plano a discussão do mundo do trabalho na educação de jovens e adultos. É imprescindível trazer para o cenário formativo o debate para o reconhecimento da importância da formação integral dos jovens e adultos trabalhadores.

Apesar da notoriedade da necessidade da formação integral dos educandos da EJA, observa-se que ainda hoje o ensino desta modalidade abriga um tradicionalismo metodológico e curricular distante da vida profissional destes sujeitos. Assim, estando os conteúdos dissociados do mundo do trabalho não fará sentido para os estudantes, uma vez que estes buscam na escola a formação para o mundo do trabalho.  Diante disso, Charlot (2013) relata que essa lógica tomou forma a partir de 1950 nas sociedades contemporâneas, e cita o exemplo da Alemanha que valorizou a qualificação do trabalhador por meio da formação profissional e técnica, priorizando, assim, a questão do desenvolvimento e transformação da relação entre o trabalho e a educação. Charlot, (2013, p. 85) assevera ainda que:

 

 

De forma mais geral, nesse modelo de sociedade, de escola e de articulação entre trabalho e educação, mudou profundamente a relação com o saber e com a escola: no mundo inteiro se tornou “evidente”, nas representações dos alunos, dos seus pais, dos jornalistas, dos políticos, etc., que se vai à escola para “ter um bom emprego mais tarde”.

 

 

Diante do exposto acima pelo autor percebemos a importância dada à escola no tocante a ascensão social e profissional do educando. Nesta perspectiva, as propostas de uma aprendizagem que desperte no aluno o desejo nos saberes escolares, ficam relegadas aos conteúdos pelos conteúdos que por si só, na lógica tecnicista, darão ao indivíduo as condições de sua falsa liberdade/emancipação.

Não será útil para a vida do aluno, que já se encontra defasado em relação à idade serie, frequentar a escola e se deparar com conteúdos e metodologias desconectadas de seu cotidiano pessoal e das atuais perspectivas da formação profissional. A formação dos sujeitos da EJA deve ter como base significados e sentidos que deverão compor os anseios dos sujeitos da aprendizagem que se traduzem na formação integral do educando mediante a preparação, sobretudo, para o mundo do trabalho.

No que concerne às instituições que ofertam a EJA, a estas, cabe a tarefa de promover uma educação que tenha como ponto de partida a realidade dos estudantes, sujeitos de uma sociedade que a todo tempo se transforma e requer destes, novas formas de convivência social atrelada a qualificação. Por isso, é importante que cada instituição de ensino conheça sua própria realidade, assim como a de seus estudantes para que possa construir projetos e intervenções metodológicas capazes de subsidiar os estudantes diante de suas necessidades em relação ao mundo do trabalho.

Sendo assim, perante a necessidade e importância do investimento na formação do cidadão trabalhador. É importante considerar, também, que a concepção de homem, a articulação entre o mundo do trabalho e a formação educacional são requisitos fundamentais para a compreensão da formação e constituição do capital humano.  Diante desse pensamento, Frigotto (2001, p.41) traz o conceito de capital humano numa perspectiva não apenas econômica, mas também social.

 

 

O conceito de capital humano – ou, mais extensivamente, de recursos humanos – busca traduzir o montante de investimentos que uma nação ou os indivíduos fazem, na expectativa de retornos adicionais futuros. Do ponto de vista macroeconômico, o investimento no “fator humano” passa a significar um dos determinantes básicos para o aumento da produtividade e elemento para a superação do atraso econômico. Do ponto de vista microeconômico, constitui-se no fator explicativo das diferenças individuais de produtividade e de renda e, consequentemente, de mobilidade social.

 

 

Conforme o exposto, o aumento da escolaridade e a formação profissional surgem como possibilidade de ascensão social e econômica dos trabalhadores e consequentemente resulta na possibilidade de empregabilidade. A escola deve repensar a educação como um elo de formação da cultura geral e de construção do conhecimento como possibilidade de informação e aprimoramento profissional. Na concepção de Arroyo (2007), é necessário que a escola, através do ensino, proponha uma aprendizagem voltada para conscientização e amadurecimento político. Para que isso ocorra é crucial que a educação contemporânea esteja atenta para um ensino que valorize a participação social e incentive cada indivíduo a adquirir esclarecimentos para lidar com sua própria liberdade e autonomia para que possa exercer sua cidadania.

O PROEJA vislumbra uma educação onde haja ações que possam contribuir para a superação dos desafios enfrentados pela EJA. A formação da referida modalidade de ensino deve valorizar a aprendizagem e o espírito de solidariedade além dos saberes empíricos dos estudantes.  Neste sentido, Arroyo (2007, p.25) afirma que:

 

 

A EJA como espaço formador terá de se configurar reconhecendo que esses jovens e adultos vêm de múltiplos espaços deformadores e formadores onde participam. Ocupam espaços de lazer, de trabalho, cultura, sociabilidade, fazem parte de movimentos de luta pela terra, pelo teto e pelo trabalho, pela cultura e pela dignidade.

 

 

A EJA é uma modalidade de educação que faz significativa diferença na vida pessoal do educando, pois discute e constrói valores éticos de cidadania, como respeito, dignidade e trabalho, exemplos essenciais para a valorização e construção da identidade de sociedades mais igualitárias, despertando um posicionamento crítico e reflexivo nos sujeitos em formação, o que os faz melhor compreender a realidade que os cerca e maior valorização no âmbito social e familiar.

Na proposta pedagógica e na prática, percebemos que dentro da modalidade EJA, o PROEJA cumpre, além da formação profissional a função da formação humana mediante a grande amplitude de promover e fortalecer saberes, oportunizando o acesso ao universo de conhecimentos científicos e tecnológicos produzindo uma estreita relação entre o sujeito e o meio, na perspectiva da formação integral que possibilita ao educando compreender o mundo ao seu redor, assim como sua própria compreensão para atuação na perspectiva de melhoria das próprias condições de vida e da construção de uma sociedade mais justa e igualitária. A formação no PROEJA contempla, ainda, a formação para a vida e não somente a qualificação para o mundo do trabalho e assim contribui para que o educando deseje outras perspectivas de atuação e de qualificação profissional capazes de possibilitar ao educando orgulho e satisfação.

O processo formativo do PROEJA pressupõe a concepção de trabalho como princípio educativo perpassando pela necessidade de uma metodologia que permita analisar, por meio dos processos sociais e produtivos, as propostas e projetos de formação, para a construção de um conhecimento amplo, que garanta a formação para a superação dos desafios enfrentados no mundo do trabalho e em todos os espaços de convivência.

As atuais demandas do mundo do trabalho exigem do trabalhador habilidades cognitivas para a resolução imediata de problemas, assim emerge uma nova relação entre conhecimento entendido como produto e como processo da atividade humana, o que requer por parte dos trabalhadores maior conhecimento teórico e prático. Cabe, portanto às instituições ofertantes do PROEJA possibilitar a formação do educando em conformidade com as demandas das transformações ocorridas no mundo do trabalho.

Conforme a proposta presente no documento base do PROEJA, a concepção de trabalho compreendida pelo educador deve perpassar pela compreensão de trabalho como processo social pelo qual ocorre a transformação humana através do desenvolvimento de novas ideias, isto é, a transformação do homem pelo trabalho. A partir de então o educando, por meio do pensamento crítico, inicia a construção de um processo de conhecimento com a intenção de romper com o conceito de fragmentação e técnica do trabalho, para entendimento do mundo do trabalho e das relações sociais a ele inerentes.

Diante de todas essas mudanças na sociedade, a escola deve estar preparada para lidar com essa diversidade cada vez mais crescente na EJA e nos programas inerentes a esta modalidade, a exemplo do PROEJA. Assim, a capacitação dos profissionais que lidam cotidianamente com esses jovens e adultos é fator crucial para a sistematização metodológica e estratégica na práxis pedagógica, assim como debates sobre atitudes, valores, desejos que integram os desafios pela presença do educando da EJA no cotidiano da escola.

 Assim, é urgente a sistematização entre a prática e a teoria para que as demandas da EJA sejam transformadas em conhecimento e aprendizagem significativos para o adulto trabalhador. É neste contexto que se manifesta o desafio enfrentado pela escola e todos os docentes, isto é, o de agir na integração da cultura da escola, dos alunos, dos docentes e da sociedade para promover a união das diversas culturas para a construção contextualizada dos novos saberes. Diante disso, a relevância da diversidade cultural no contexto escolar ganha respaldo nas palavras de Souza (2001, p. 119) quando afirma que:

 

 

As questões da diversidade cultural se colocam especificamente no país, pelo número crescente e cada vez mais diversificado de alunos de diferentes condições sociais, diversas etnias, visível especificamente, a partir da obrigatoriedade e universalização da escola.

 

 

A partir do que se apresenta acima compreendemos que a intersecção dos saberes surge como papel fundamental na direção de um caminho mais confiável perante os desafios que se apresentam, na trajetória escolar do educando da EJA. É necessário refletir a diversidade cultural da modalidade de ensino em questão e também definir as responsabilidades da escola e do professor nos tratamentos pessoais, coletivos e culturais dos alunos, sendo crucial para a compreensão do processo educacional. A consideração da cultura permeada pelo diálogo é um dos aspectos mais significativos para a aprendizagem, pois de acordo com Freire (1996, p. 82):

 

 

A priorização da “relação dialógica” no ensino que permite o respeito a cultura do aluno, a valorização do conhecimento que o educando traz, enfim, um trabalho a partir da visão do mundo do educando é sem dúvida um dos eixos fundamentais sobre os quais deve se apoiar a prática pedagógica de professoras e professores.

 

 

Diante da importância do diálogo é possível compreender que, na esfera educacional, dialogar significa socializar ideias para uma reflexão na ação. O diálogo é uma conversa que resulta em uma reflexão coletiva objetivando criar ações emancipadoras e aprimorá-las mediante a relação escola e educando. A relação dialógica é fundamental para o sucesso da EJA, pois oportuniza o educando a ter sua participação no processo de ensino-aprendizagem assim como também nas tomadas de decisão, tornando o percurso da aprendizagem, além de humano, dialógico. Freire, (2011, p. 63) infere que:

 

 

Não há outro caminho senão o da prática de uma pedagogia humanizadora, em que a liderança revolucionária, em lugar de se sobrepor aos oprimidos e continuar mantendo-os como quase ‘coisas’, com eles estabelece uma relação dialógica permanente.

 

 

                Conforme referencia o autor a prática pedagógica pressupõe uma relação não apenas dialógica, mas também humanizadora. O pensamento de Freire suscita a necessidade de, cada vez mais, inserir o educando no centro dos debates promovidos em sala de aula para que suas ideias não sejam ofuscadas pela classe dominante. Não obstante, o estudante do PROEJA não deve ser pensado fora da relação dialógica e humana da aprendizagem, pois são sujeitos detentores de saberes e ideias que precisam ser valorizados.

 

 

 

3.1 O CONCEITO DE TRABALHO

 

 

O conceito de trabalho já foi definido por diversos autores e estudiosos, mas para fins deste texto, recorremos às contribuições de Marx, Hegel e Gramsci mediante a crença de que a existência humana pressupõe a garantia das condições de viver para poder fazer história. Em seu sentido amplo, o trabalho está intimamente ligado à produção dos próprios mecanismos de satisfação das necessidades elementares.

O mundo do trabalho passou por diversas mudanças oriundas do surgimento da economia globalizada e do crescimento desta nas últimas décadas. Esta nova realidade tem estimulado questionamentos a respeito do sentido da palavra trabalho e do real papel das escolas quanto a formação para o mundo do trabalho condizente com as necessidades econômicas da sociedade pós-moderna. O referido contexto suscita questionamentos acerca dos limites existentes entre a formação profissional ofertada pelo CEEP Lourdes Carvalho e as atuais demandas do mundo do trabalho da região onde se situa a referida instituição de ensino.

Partindo desse pressuposto, é importante que a concepção pedagógica da escola seja capaz de favorecer e possibilitar a reflexão sobre o mundo que cerca o nosso aluno. A partir disso, pressupõe-se que a formação do jovem e do adulto das classes populares que frequentam a educação profissional não se limite apenas ao domínio de conteúdos, mas seja capaz de aprender a se relacionar com o conhecimento de forma ativa, construtiva e criadora capaz de analisar e refletir a respeito dos sentidos e intenções do mundo do trabalho.

Em seus primórdios, o trabalho era responsável pela produção pautada em técnicas artesanais, assim os trabalhadores eram detentores de mais autonomia e suas atividades não eram tão individualizadas, possuindo um maior controle da totalidade de procedimentos necessários para a produção do que precisavam para sua sobrevivência. A partir da chegada do capitalismo e de seu crescimento o trabalhador passou a ser explorado pelo processo de aperfeiçoamento da divisão social do trabalho e ainda subordinado a um novo controle dos modelos de produção que resultou no denominado assalariamento. A partir de então, o trabalhador vende seu potencial de produção para ao capital, ou seja, sua força de trabalho, e isso passa a ocorrer de maneira cada vez mais mecanizada, como consequência dessa relação surge a exploração.

Marx (2009) agrega à concepção de trabalho os termos estranhado ou alienado, é a maneira pela qual o homem perde-se de si mesmo e torna-se alienado em sua própria essência, uma vez que aquilo que resulta de seu trabalho nunca será para si, mas para o outro. Assim, o trabalho humano como autoatividade pelo qual o homem vem a ser é, na verdade, uma “castração” da “energia física e espiritual” deste. Logo, o trabalho não produz somente o estranhamento, a alienação, produz também o estranhamente de si próprio. Destarte, o trabalho enquanto essência do homem, que deveria ser o ápice de sua realização, certamente, resulta em sua negação. Diante disso, Marx (2009, p. 83) pontua que:

 

 

Esta relação é a relação do trabalhador com a sua própria atividade como uma [atividade] estranha não pertencente a ele, a atividade como miséria, a força como impotência, a procriação como castração. A energia espiritual e física própria do trabalhador, a sua atividade pessoal – pois o que é a vida senão atividade – como uma atividade voltada contra ele mesmo, independente dele, não pertencente a ele. O estranhamento-de-si tal qual acima o estranhamento da coisa.

 

 

Percebemos então que a essência do homem, encontra-se no trabalho e no modo de produção burguesa e só se efetua de forma alienada, pois aquilo que ele produz é destinado ao outro e não mais pertence ao trabalhador. A essência humana também perpassa pelo processo de alienação, uma vez que o trabalhador não aliena somente aquilo que ele produz, mas também a si mesmo.

Observamos ainda nas concepções Marximianas, que trabalho também é a relação do homem com a natureza, a capacidade de transformá-la e se transformar a partir dessa relação. Assim, altera-se a relação do homem com o meio. “É o esforço do homem para regular seu metabolismo com a tão rica natureza” (MARX, 1989). Logo, quando transforma a natureza, o homem também transforma a si mesmo, através da relação de trabalho correspondente à realização de uma atividade que resulta em valor de uso, por meio da contribuição de elementos relevantes como a matéria bruta oriunda da natureza e do meio de trabalho que se caracterizam para a produção de algo.

Ao fazer referência ao conceito de trabalho Gramsci retoma à escola e a função desta, que conforme o autor, é preparar os novos indivíduos para a vida em sociedade, ensinando-lhes como se organiza a vida social, em que o indivíduo transforma a natureza. Deste modo, Gramsci (2011, p. 221)

 

 

Pode-se dizer, por isso, que o princípio educativo no qual se baseavam as escolas primárias era o conceito de trabalho, que não pode se realizar em todo seu poder de expansão e de produtividade sem um conhecimento exato e realista das leis naturais e sem uma ordem legal que regule organicamente a vida dos homens entre si, ordem que deve ser respeitada por convicção espontânea e não apenas por imposição externa, por necessidade reconhecida e proposta a si mesmo como liberdade e não por simples coerção. O conceito e o fato do trabalho (da atividade teórico-prática) é o princípio educativo imanente à escola primária, já que a ordem social e estatal direitos e deveres) é introduzida e identificada na ordem natural pelo trabalho.)

 

 

Dessa forma, cabe considerar a concepção emancipatória do trabalho perante a necessidade de transformação da sociedade. Assim, a tese do trabalho como princípio educativo deve ser percebida sob um ponto de vista de classe, pois o pensamento do supracitado autor referencia à formação de indivíduos com habilidades técnicas e políticas para a execução de atividades produtivas objetivando a transformação da sociedade mediante a resolução dos dilemas do proletariado. Compreendemos que a relação entre trabalho produtivo e educação é um dos caminhos para que se possa pensar a superação da divergência entre trabalho manual e intelectual. Diante disso, para melhor compreender esse pensamento é relevante trazer à tona da discussão a tese do trabalho como princípio educativo.

Nesta perspectiva, a formação para o mundo do trabalho, sobretudo no PROEJA, deve acontecer em comunhão com pressupostos emancipatórios para que a classe trabalhadora compreenda o trabalho como princípio educativo. Dessa maneira, devemos fortalecer relação entre trabalho e educação no sentido formativo do educando e da ação humanizadora que deve se estabelecer através do desenvolvimento de todas as potencialidades do sujeito.

Compreendido como prática social, o trabalho é fundamento de extrema importância da educação. Assim, é fundamental que trabalhadores jovens e adultos compreendam o caráter ontológico do trabalho, como também o sentido histórico. Através dessa relação torna-se possível compreender tantas outras existentes entre bases científicas e tecnológicas com a ação produtiva, isto é, a forma como a ciência se relaciona com a prática.

Destarte, compreender este processo possibilitará ao estudante do PROEJA expandir a consciência a respeito da sua condição de trabalhador, se ela é uma condição explorada ou não. Essa visão de trabalho, aproxima-se da concepção científica, uma vez que os conhecimentos produzidos e socialmente legitimados no decorrer da história traduzem os resultados de um processo cultivado pela humanidade na tentativa de compreender e transformar os fenômenos da natureza e da sociedade. Dessa maneira, a formação do adulto estudante do PROEJA deve perpassar por uma formação emancipatória com base em uma leitura crítica do mundo e das relações de trabalho. Torna-se relevante para o estudante compreender as particularidades do trabalho humano e para isso a escola assume papel preponderante, em especial, quando se refere à formação para a inserção no mundo do trabalho. Nesse sentido, é necessário possibilitar aos alunos a apropriação de maneira consistente dos conhecimentos científicos relevantes para compreender criticamente as manifestações da vida e sejam capazes de analisar as relações sociais que estão por trás de todos os acontecimentos través de conteúdos e conhecimentos não fragmentados

Diante do que analisamos e discutimos neste estudo foi possível perceber que a formação para o mundo do trabalho, sobretudo no PROEJA, deve acontecer em comunhão com pressupostos emancipatórios para que a classe trabalhadora compreenda o trabalho como princípio educativo. Dessa maneira, devemos fortalecer relação entre trabalho e educação no sentido formativo do educando e da ação humanizadora que deve se estabelecer através do desenvolvimento de todas as potencialidades do sujeito.

Compreendido como prática social, o trabalho é fundamento de extrema importância da educação. Assim, é fundamental que trabalhadores jovens e adultos compreendam o caráter ontológico do trabalho, como também o sentido histórico. Através dessa relação torna-se possível compreender tantas outras existentes entre bases científicas e tecnológicas com a ação produtiva, isto é, a forma como a ciência se relaciona com a prática.

Destarte, compreender este processo possibilitará ao estudante do PROEJA expandir a consciência a respeito da sua condição de trabalhador, se ela é uma condição explorada ou não. Essa visão de trabalho, aproxima-se da concepção científica, uma vez que os conhecimentos produzidos e socialmente legitimados no decorrer da história traduzem os resultados de um processo cultivado pela humanidade na tentativa de compreender e transformar os fenômenos da natureza e da sociedade.

Dessa maneira, a formação do adulto estudante do PROEJA deve perpassar por uma formação emancipatória com base em uma leitura crítica do mundo e das relações de trabalho.  Torna-se relevante para o estudante compreender as particularidades do trabalho humano e para isso a escola assume papel preponderante, em especial, quando se refere à formação para a inserção no mundo do trabalho.

Portanto, é necessário possibilitar aos alunos a apropriação de maneira consistente dos conhecimentos científicos relevantes para compreender criticamente as manifestações da vida e sejam capazes de analisar as relações sociais que estão por trás de todos os acontecimentos través de conteúdos e conhecimentos não fragmentados. Destarte, acreditamos que, investir na formação profissional do educando da EJA dentro de um projeto de desenvolvimento de formação humana, implica em um sério compromisso entre as políticas publicas de educação, trabalho e emprego. 

Este estudo também nos permitiu compreender a importância da concepção pedagógica da escola no favorecimento da reflexão sobre o mundo ao redor do nosso aluno. Assim sendo, entendemos que a formação do jovem e do adulto das classes populares que frequentam a educação profissional não se limite ao domínio de conteúdos, mas a capacidade de se relacionar com o conhecimento de forma ativa, construtiva e criadora capaz de analisar e refletir sobre os sentidos e intenções do mundo do trabalho.  

Desse modo, observamos a necessidade do educando em compreender a concepção emancipatória do trabalho perante as constantes mudanças na sociedade contemporânea. Nesta perspectiva, destaca-se a importância do trabalho como princípio educativo compreendido como a relação entre trabalho produtivo e educação para que se possa pensar a superação da divergência entre trabalho manual e intelectual.

Neste sentido, percebemos que a formação destinada aos sujeitos do mundo do trabalho, sobretudo no processo de formação do PROEJA, deve acontecer em consonância com pressupostos emancipatórios que possibilite a classe trabalhadora perceber o trabalho como princípio educativo. A partir de então, devemos fortalecer as bases entre trabalho e educação no sentido formativo do sujeito e da ação humanizadora que precisa se estabelecer por meio do desenvolvimento das potencialidades do sujeito em formação.

O PROEJA implica na adoção de novos saberes e práticas docentes destinados a uma parcela da população que voltou para a escola com a perspectiva de autenticar os saberes oriundos das diversas experiências da vida cotidiana e correlacioná-los com as demandas do mundo do trabalho. Desse modo, esta integração da formação básica com a formação profissional representa desafios para os docentes a quem se atribui maior responsabilidade pelo processo formação que perpasso pelo aspecto social, político e do próprio trabalho. Notamos, no decorrer deste estudo, que o PROEJA propõe a formação de jovens e adultos excluídos da educação básica com o intuito de formar sujeitos para dar conta da inserção laboral e da inclusão social destes coletivos através de uma formação que não esteja centrada exclusivamente no mundo do trabalho, mas que o conceba como princípio educativo aliado ao saberes necessários ao exercício da cidadania o que resultaria em ressignificar a formação integral de jovens e adultos no âmbito de educação profissional.

Nesse contexto, constatamos ainda a necessidade de considerar as especificidades das histórias de vida, sem perder de vista a valorização dos conhecimentos prévios dos educandos. É relevante provocar reflexões acerca dos motivos que influenciam o abandono da escola por parte dos sujeitos do PROEJA, sejam estes motivos de ordem interna ou externa à escola. Toda essa reflexão perpassa pela importância da reflexão a respeito da forma como ocorre o processo de formação dos educandos do PROEJA para o mundo do trabalho. A superação destes desafios perpassa, necessariamente, pelo fortalecimento das políticas de formação docente específica para a modalidade em questão e por mudanças na estrutura das instituições ofertantes da educação profissional.

ARROYO, Miguel G; BEAUCHAMP, Jeanete; PAGEL, Sandra Denise; NASCIMENTO, Aricélia Ribeiro do (Org.). Indagações sobre currículo: educandos e educadores: seus direitos e o currículo. Brasília: Ministério da Educação; Secretaria de Educação Básica, 2007.

 

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