Metadados do trabalho

Formação Docente Em Geografia: Teoria E Prática E Seus Desafios Em Sala De Aula

Romeu Nascimento; Alberlene Ribeiro de Oliveira Oliveira; Vinicius Henrique Santos

A teoria e a prática são pares dialéticos indissociáveis no processo de ensino-aprendizado. Para o professor em formação em geografia, além do conhecimento teórico, é fundamental a vivência em sala aula através do estágio supervisionado, uma vez que se faz necessário a prática de ensino que possibilita o docente ir além das leituras e desenvolver na prática o que foi estudado e orientado durante a graduação, pois o ambiente escolar demanda flexibilidade e resiliência, por isso a necessidade do educador em formação conhecer as diferentes realidades ensejadas na sala de aula. O professor deve orientar, mediar e instigar os alunos durante o processo de ensino-aprendizado, pois eles são seres ativos durante esse processo. Dessa forma, o presente trabalho tem como objetivo analisar as práticas de ensino desenvolvidas na disciplina Estágio Supervisionado em Geografia III, compreendendo a importância entre a teoria e a prática na formação do docente de geografia, além de observar a eficiência de uma prática educativa que leve em consideração a mediação professor-aluno, bem como expor os resultados obtidos em sala de aula na prática de estágio.

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NASCIMENTO, Romeu; OLIVEIRA, Alberlene Ribeiro de Oliveira; SANTOS, Vinicius Henrique. Formação Docente em Geografia: Teoria e Prática e seus Desafios em Sala de Aula. Anais do Colóquio Internacional Educação e Contemporaneidade, 2022 . ISSN: 1982-3657. Disponível em: https://www.coloquioeducon.com/hub/anais/390-forma%C3%A7%C3%A3o-docente-em-geografia-teoria-e-pr%C3%A1tica-e-seus-desafios-em-sala-de-aula. Acesso em: 16 out. 2025.

Formação Docente em Geografia: Teoria e Prática e seus Desafios em Sala de Aula

A aprendizagem acontece na interação entre os sujeitos, em que uns, por terem conhecimento de algo, através da linguagem escrita, falada ou gesticulada, transmitem aos demais cidadãos que querem conhecer/aprender. Nas primeiras sociedades, o conhecimento era passado de geração a geração e esses grupos aprendiam para poderem aplicar no dia a dia.

Não existe uma forma específica de ensinar. A forma tradicional que conhecemos, com um professor lecionando e alunos organizados em fila ouvindo-o, é uma construção social vinda da Europa, portanto, a aprendizagem pode ocorrer em qualquer local e qualquer tipo de sociedade, o local não determina o processo educacional.

Existem formas de sociedade em que grupos sociais aprendem a partir da interação entre eles, tais como muitas tribos africanas e indígenas espalhadas pelo mundo. Com a instituição do modelo europeu de educação nos países dominados pelo colonialismo e pelo imperialismo, o professor passou a ser o responsável pela aprendizagem dos sujeitos, sendo que outras formas de educar passaram a ser deslegitimadas, pertencendo aos mais atrasados segundo a concepção do poder hegemônico da educação dominante.

Para haver a construção efetiva de um olhar crítico e uma aprendizagem significativa dos sujeitos, de modo a que possam atuar na sua realidade, o professor é o responsável pelo ensino aprendizado em sala de aula. Se em outras formas de sociedades a educação é um processo de transmissão de experiencias vivenciadas no cotidiano das pessoas, no modelo de educação capitalista/burguês o docente é formado em instituições acadêmicas para poder lecionar.

Para o professor se tornar um sujeito apto a ministrar aulas, é necessário que ele tenha aporte teórico e seja instruído por profissionais experientes que já lecionam em sala de aula, pois o ambiente escolar é heterogêneo e apresenta inúmeras dificuldades. A teoria por si só não prepara o professor em formação, é necessário a prática, cujo objetivo é aplicar o que foi estudado durante a graduação em sala de aula e ter o contato concreto com os educandos para observar as dificuldades e tentar aprender a lidar com elas, tendo em vista que o ambiente escolar não é homogêneo.

Teoria e prática são um par dialético indissociável, por isso a importância do docente em formação em geografia ter o devido aprofundamento teórico antes de ministrar aulas e aplicar o que foi estudado e passado por professores experientes da graduação no ambiente escolar.

O docente deve orientar, mediar e instigar seus alunos em sala de aula e se atentar para não dar respostas prontas, pois a aprendizagem é uma construção entre professor-aluno. Soma-se a isso a postura que o educador deve ter ao adentrar no ambiente escolar, haja vista que ele não pode se colocar na posição de detentor absoluto do conhecimento e tirar a autonomia do estudante em sala de aula. Caso isso aconteça, as aulas passam a não ter significado para os alunos, pois segundo Freire (2021) o estudante é um ser ativo no processo de ensino aprendizado.

Dessa forma, o presente trabalho tem como objetivo analisar as práticas de ensino desenvolvidas na disciplina Estágio Supervisionado em Geografia III, compreendendo a importância entre a teoria e a prática na formação do docente de geografia, além de observar a eficiência de uma prática educativa que leve em consideração a mediação professor-aluno, bem como expor os resultados obtidos em sala de aula na prática de estágio.

Para alcançar os resultados esperados, como metodologia, foram utilizadas referenciais bibliográficas em artigos, revistas, dissertações, teses e livros e publicações em eventos de anais. Os principais autores foram: Acselrad (2009), Marques (2018), Ribeiro (2008), Ribeiro (2020), dentre outros. Soma-se a isso a aplicação do projeto de ensino envolvendo os usos e conflito das águas no Brasil, no Colégio Estadual João XXIII, na primeira série do Ensino Médio, sendo aplicado em 12 aulas, como prática do Estágio Supervisionado III no ensino de Geografia.

 

A aprendizagem acontece a partir da interação entre os sujeitos, em que uns, por terem conhecimento de algo, através da linguagem escrita, falada ou gesticulada, transmitem aos demais cidadãos que querem conhecer/aprender. Até hoje muitas pessoas veiculam o ato de educar apenas ao ambiente escolar, o que é reduzir esse processo a um único espaço. Educar independe do local, este processo se dá em toda relação onde indivíduos trocam saberes de modo a construir um conhecimento novo para quem está sendo educado. Brandão (1999, p.13) corrobora com essas ideias ao exemplificar que:

A educação existe onde não há escola e por toda parte pode haver redes e estruturas sociais de transferência de saber de uma geração a outra, onde ainda não foi sequer criada a sombra de algum modelo de ensino formal e centralizado. Porque a educação aprende com o homem a continuar o trabalho da vida (BRANDÃO, 1999, p. 13).

 

           Nesse sentido, o modelo educacional que é normatizado em países como o Brasil, é uma construção social advinda da Europa, em que alunos são organizados em fileiras e devem prestar atenção aos conteúdos abordados, servindo como receptáculos de informações. Todavia, esse quadro tem sido modificado por pensadores que entendem que não existe educação sem formação de consciência, sem aplicação prática no cotidiano para entender a realidade e poder atuar na contestação da mesma (SAVIANI, 2021).

            Com as transformações ocorridas no decorrer da história, a forma de ensino-aprendizado difundida pelo mundo será modificada substancialmente. Com a ascensão do modo de produção capitalista, a cultura europeia será globalizada e imposta aos mais recônditos lugares do planeta e, consequentemente, a forma de educar sofre influência da cultura dominante, pois, se nas primeiras sociedades e até hoje em outros grupos sociais que convivem com a natureza, o ensino era/é transmitido na paisagem natural, na floresta e por um sujeito qualquer que tinha/tem experiências, no modelo de ensino europeu, a educação passa a acontecer em sala de aula, todos sentados em carteiras, ouvindo o professor que estuda para poder transmitir conteúdos que muitas vezes fogem da realidade dos indivíduos, pois não são vivenciados em sua prática cotidiana (SOUZA e JOSELIN, 2018).

            Para haver a construção efetiva de um olhar crítico e uma aprendizagem significativa dos sujeitos, de modo a que possam atuar na sua realidade, o professor é o responsável pelo ensino aprendizado em sala de aula. Se em outras formas de sociedades a educação é um processo de transmissão de experiencias vivenciadas no cotidiano das pessoas, no modelo de educação capitalista/burguês o docente é formado em instituições acadêmicas para poder lecionar.

            Essas formações muitas vezes se dão apenas com o contato teórico por meio de literaturas aceitas academicamente, o que dá a entender, para muitas pessoas, é que o único conhecimento válido é o que é produzido pela ciência e que está escrito em livros, artigos, dissertações, revistas, sites e etc. No entanto, a produção de conhecimento não é possível sem que haja a observação empírica e a análise prática dos fenômenos, em outras palavras, tudo que é escrito e divulgado pela ciência, passa necessariamente pela aplicação concreta no cotidiano. A respeito dos conhecimentos produzidos academicamente, tais quais na universidade, Oliveira (2022, p. 232) explicita que:

[...] essa instituição, embora seja um espaço de crítica e construção do conhecimento, ainda assume uma concepção dominante e do conhecimento que se funda na hierarquização. Assim, legitima o saber científico em detrimento de outras formas de conhecimento e contribui para a marginalização de grupos sociais portadores de outros saberes, reforçando a injustiça cognitiva. Isso porque o modelo ocidental de universidade tem como base epistêmica o pensamento moderno/colonial, o qual tende a reproduzir o eurocentrismo teórico-filosófico, bem como o racismo e o sexismo imbricados em suas estruturas.

            Como os humanos necessitam ter experiência para poderem aprender, seja na realização de atividades simples como quebrar um coco, pescar, caçar, ou em atividades complexas, como construir uma casa e montar um carro, é necessário ter a teoria e a prática como pilares para que possam vir a desenvolver tal ou qual atividade. Para uma criança desenvolver habilidades de quebrar um coco, por exemplo, a teoria e a prática se fazem necessárias, pois, para ela ter êxito, necessita de alguém para ensiná-la como cortar o coco e precisa do coco para aplicar o que foi ensinado (STURMER, 2019).

Destarte, como o campo de estudo do geógrafo é o espaço, o docente em formação em Geografia não deve ficar restrito às leituras dos conceitos, ou seja, é necessário que o aluno em formação em Geografia conheça o ambiente escolar para saber realmente como se dá à docência, pois, dessa forma terá os primeiros contatos com os alunos e colocará em prática o que foi orientado pelos professores durante as aulas que teve na academia.

A teoria na formação docente é necessária para que o sujeito compreenda os conteúdos de forma aprofundada. Esse conteúdo é carregado de concepções de mundo dos indivíduos que os produzem, daí a necessidade de entender que os seres humanos são seres históricos, bem como as formas de ensino. Isso denota grande importância do aprofundamento teórico por parte do educador em formação para que ele enxergue as contradições e logo após, tentem fazer com que seus alunos enxerguem as contraposições na prática, em sua vivência.

Nesse sentido, após o aprofundamento teórico, as aulas práticas são fundamentais no ensino-aprendizado para o docente em formação em Geografia conhecer o ambiente escolar e tentar fazer seus alunos refletirem e construírem conhecimento acerca do espaço de análise. As aulas práticas devem sempre levar em consideração o que foi lido, seja em livros, artigos, dentre outros meios, fazendo correlação com o que está posto no espaço de vivência. O objetivo de uma construção de conhecimentos que leve em conta a prática é fazer com que os estudantes entendam que são seres históricos e que, portanto, podem questionar e alterar a realidade em que vivem, mas para que isso ocorra é necessário a interação social conjunta.

Quanto mais munido de aprofundamento teórico o docente em formação em geografia chegar em sala de aula, maior será a probabilidade de terem êxito durante o estágio. Como o ambiente escolar não é homogêneo, o planejamento das aulas sofre modificações, mas, quando o profissional tem um grande aporte teórico e sabe agir na prática e lidar em algumas situações adversas, maiores serão as chances de saberem sobressair em algumas situações.

Com isso, a escola é constituída por sujeitos de diferentes culturas, com formas de pensar e de se comportar distintas, sendo esse um dos desafios que os professores em formação encontram em sala de aula. Mesmo com as instruções dos educadores mais experientes de como se sobressaírem em determinadas situações, é necessária a atuação dos sujeitos em formação em sala de aula, pois somente na prática perceberão ou não se saberão lidar com essas situações e se realmente querem seguir na profissão. A despeito de algumas dificuldades Silva (2014, p. 10-11) deixa explícito que:

Os professores tem enfrentado inúmeras dificuldades em sala de aula, logo os alunos não se sentem motivados para aprender, alguns buscam simplesmente conversar com os coleguinhas de sala, outros ficam ouvindo músicas, sem falar nos comportamentos agressivos e, muitas vezes, violentos em relação aos professores (SILVA, 2014, p. 10-11).

Silva (2014, p. 10-11) também esclarece que: 

Os professores se angustiam e até perdem o direcionamento das aulas, muitas vezes sem saber o que fazer e muitos se desestimulam perdendo até os interesses para ensinar e acabam perdendo o amor pela profissão dificultando a aprendizagem do aluno. Com isso, muitos docentes se afastam das atividades defasando o quando docente colocando em risco o potencial da instituição de ensino (SILVA, 2014, p. 10-11).

Outro desafio em sala de aula para o docente em formação é o nível de desenvolvimento dos estudantes, pois o ambiente escolar não é homogêneo, e não há alunos no mesmo nível de aprendizado. Alguns precisam de maiores atenções do professor por não terem a base para compreender alguns conceitos, e o educador precisa dar conta do assunto, bem como acompanhar a aprendizagem de cada aluno.

Dessa forma, a teoria e a prática andam juntas na edificação da formação do professor de geografia e, quando da dissociação desses dois pilares, a aprendizagem dos educandos se vê comprometida. Isso porque qualquer profissional deve observar, atuar na prática para sentir o ambiente em que irá trabalhar, sendo essencial, assim, para o docente em formação de geografia, conhecer o ambiente escolar e ter contato direto com os alunos, além de ir para sala munido de conteúdo, pois fará com que tenha confiança e construa aulas com seus alunos de forma satisfatória.

Soma-se a isso a heterogeneidade das salas de aula, o que é desafiador para os docentes em formação, por isso a necessidade de observarem na prática, para aprenderem a lidar com situações adversas, seja envolvendo situações de falta de comportamento dos estudantes, bem como atrasos no conteúdo. Dessa maneira, o ambiente escolar é uma forma de aprendizado tanto para os professores que estão no processo de formação, tanto para os alunos, ou seja, aluno-professor aprendem juntos, pois o conhecimento é inacabado e ininterrupto.

 

2 Professor e aluno: uma relação mútua na busca pela construção do conhecimento

            A sala de aula é uma construção história, em que o propósito é a busca pelo conhecimento. Professor-aluno não estão dissociados na busca do saber, pois cada qual possui conhecimentos distintos, mas no final do processo de educar se complementam. O professor é responsável por orientar, mediar e instigar o debate entre os alunos, não dando respostas prontas, pois, caso isso aconteça, o ensino passa a ser mnemônico e será pouco ou nada significativo, pois o propósito de educar é fazer com que os sujeitos reflitam, pensem e construam suas percepções no mundo.

            A aprendizagem se dá através de socialização de ideias, em que um sujeito passa conhecimentos que os outros não conhecem, ou seja, é uma troca de saberes em que o ouvinte e o falante aprendem de forma concomitante. Com a atual forma de ensino, há uma pseudo visão de que os professores são os únicos detentores do saber em sala de aula e os alunos são sujeitos passivos no processo de ensino.

No entanto, sabendo que a troca de saberes é o que contribui para a aprendizagem, professor e aluno aprendem juntos em sala de aula e, quando os primeiros se comportam como detentores absolutos do conhecimento e os últimos como apenas receptores, a chamada “educação bancária” denominada por Paulo Freire, o processo de ensino-aprendizado perde seu significado, pois os alunos devem ter autonomia em sala de aula, tendo em vista que eles não chegam ao ambiente escolar vazios de conhecimento, tendo sempre algo a oferecer. A esse respeito Chiarella et al (2015, p. 419) corrobora com essas ideias ao exemplificarem que:

A ideia de que o professor deve transmitir conhecimentos ao aluno e que este deve memorizá-los, internalizá-los e repeti-los mecanicamente é denominada “concepção bancária” da educação, segundo Freire. A concepção bancária parte do pressuposto de que o professor é detentor de conhecimentos legítimos e que o aluno é um mero receptáculo de informações. Neste tipo de relação, existe uma desigualdade importante quanto ao poder e à autonomia, pois o professor é o sujeito da ação, ele ensina e toma o aluno como um objeto, passivo, receptivo e ingênuo. Além disso, o contexto é desvalorizado, a história de vida dos indivíduos é secundária, e a ação educativa é uma forma de opressão e subjugação.

O docente deve incitar e valorizar o conhecimento do aluno, pois seu local de vivência, quando é explorado em sala de aula, passa a ser exemplo para muitos assuntos que são abordados durante o ensino, como por exemplo, contradições sociais, pobreza, expropriação, precariedade, favelização, bairros nobres, dentre outros, tornando o ensino significativo, pois os estudantes perceberão o que está posto e criarão suas próprias visões de mundo. Freire (2021, p. 31-32) corrobora com essas ideias ao relatar que:

[...] pensar certo coloca ao professor ou, mais amplamente, à escola, o dever de não só respeitar os saberes com que os educandos, sobretudo os das classes populares, chegam a ela – saberes socialmente construídos na prática comunitária –, mas também, como há mais de trinta anos venho sugerindo, discutir com os alunos a razão de ser de alguns desses saberes em relação com o ensino dos conteúdos. Por que não aproveitar a experiência que têm os alunos de viver em áreas de cidade descuidadas pelo poder público para discutir, por exemplo, a poluição dos riachos e dos córregos e os baixos níveis de bem-estar das populações, os lixões e os riscos que oferecem à saúde das gentes. Por que não há lixões no coração dos bairros ricos e mesmo puramente remediados dos centros urbanos? [...] (FREIRE, 2021, p. 31-32).

Tendo por base o próprio modelo de alfabetização freiriano aplicado em Angico/RN e que alfabetizou aproximadamente 300 trabalhadores em 45 horas utilizado elementos significativos de sua vivência, é possível construir conhecimentos que reverberaram na escala macro a partir de situações cotidianas. É lógico pensar que o cotidiano dos alunos não abarca toda a complexidade dos fenômenos que acontecem em termos globais, porém assim como é preciso aprender a ler para depois de muita leitura e desenvolvimento da interpretação poder entender obras complexas, o mesmo vale para qualquer forma de conhecimento.

O educador deve se atentar quanto ao conteúdo que será transmitido em sala de aula, pois, caso não tenha relação com o que o estudante vivencia, o aluno se sentirá desmotivado e não se interessará pelo que o professor está tentando ensinar. Quando o conteúdo tem relação com o dia a dia do aluno, ele se sente mais motivado, pois está estudando algo que de uma forma ou de outra servirá para ele, tornando o sujeito crítico do que acontece em seu local. Desse modo, é importante a relação dos conteúdos de geografia com o espaço geográfico do aluno, pois Santos (2012, p. 120) ressalta que:

[...] a disciplina Geografia, entendemos que eles convivem com as mazelas urbanas, como a falta de infraestrutura das cidades, o desemprego, a insegurança, as desigualdades sociais, o lixo nas ruas, a poluição sonora, as enchentes. Todos esses temas podem ser trazidos à tona nas aulas de Geografia, trazendo essas experiências dos alunos juntamente com o conhecimento geográfico; dessa forma, edificando-se um conhecimento significativo para o aluno (SANTOS, 2012, p. 120).

Em sala de aula, o professor é responsável pela orientação e mediação dos conteúdos que são abordados. Isso porque facilita a aprendizagem dos alunos, pois os docentes sabem conectar os assuntos e o tempo correto para aplicá-los em tal ou qual turma, haja vista que o conhecimento é processual, demanda tempo, organização e atenção ao nível de desenvolvimento em que o aluno se encontra. Caso não haja a orientação correta, os alunos serão influenciados por tal prática e, por conseguinte, tornar-se-ão cidadãos que não enxergam o que está posto, pelo contrário, ajudam a manter a visão difundida pelo status quo.

            O orientador deve se atentar à forma de transmitir os conteúdos para não dar respostas prontas, caso isso aconteça, o ensino passa a ser pautado na memorização de nomes de rios, cidades, países. É necessário, então, que o docente questione e incite ao debate entre os alunos em sala. Isso fará com que o aluno desenvolva a criticidade no processo de formação enquanto cidadão e, consequentemente, seja emancipado, tanto a partir do que está próximo a eles como do que acontece em outros locais do mundo. Sobre essa assertiva Carvalho Sobrinho (2018, p. 12) assevera que:

Como, então, construir conhecimentos geográficos significativos a partir do cotidiano do aluno? Através do estabelecimento das relações local-global, por intermédio dos elementos vividos e conhecidos no cotidiano, que representam a concretude das ações globais materializadas no lugar. Isso possibilitará que os alunos promovam análises mais sistematizadas sobre o mundo, mas de forma crítica, reflexiva e propositiva (CARVALHO SOBRINHO, 2018, p. 12).

         Diante disso, o professor é o responsável por incitar, mediar e orientar aos estudantes no processo de ensino-aprendizagem, tornando os educandos seres emancipados e críticos, contribuindo para construção e percepções de mundo dos alunos. Não há conhecimento sem trocas de saber, sendo a postura do professor de grande relevância em sala de aula, pois, caso esse seja egocêntrico e se postule como detentor absoluto do conhecimento sem dar autonomia aos seus alunos, o ensino perde significado.

3- Experiências na disciplina de estágio supervisionado III em geografia

A sala de aula não é homogênea, nela há distintas sujeitos com experiencias e contextos sociais diversificados, o que denota grande desafio para o professor em formação. Caso o docente que está sendo formado não leve em conta essas nuances, incorrerá em equívocos no momento avaliativo e de resolução de problemas no ambiente escolar. Para isso, faz-se necessário a relação da teoria e da prática, pois, antes de adentrar em sala de aula, o docente em formação deve ser instruído pelos professores da academia a como se portar em sala de aula.

Durante a formação acadêmica, o aprofundamento teórico se fez necessário para saber passar o conhecimento de forma correta aos estudantes. Antes mesmo de ir à sala de aula, foi preciso saber, aprofundar o quanto eram necessários os conhecimentos dos conceitos que foram lecionados para os alunos, pois estes não são sujeitos passivos no processo de ensino-aprendizagem e precisávamos estar preparados para algumas perguntas/curiosidades/dúvidas deles.

Soma-se a isso, antes das aulas práticas, a orientação da professora responsável pela disciplina de Estágio Supervisionado III, a respeito da postura que deveríamos ter ao adentrar no ambiente escolar e as vicissitudes que este ciclo apresenta. Acerca da importância do período de estágio supervisionado, Martins e Tonini (2016) asseveram que " é importante discutir o estágio supervisionado como espaço de formação e de construção de saberes que oportuniza o desenvolvimento das aprendizagens significativas e indispensáveis da docência.

O/A referido (a) docente explicou o papel do professor durante as aulas e que era preciso incitar ao debate entre os alunos, mediar e orientar para tornar o ensino significativo e tornar os sujeitos emancipados para mudar sua realidade e dos demais cidadãos próximos a eles, pois, como diria Freire (2019) a educação não muda o mundo, ela muda os cidadãos e estes transformam o mundo.

Na aplicação do projeto de ensino intitulado: usos e conflitos das águas no Brasil, levou-se em consideração, o aprofundamento teórico do conteúdo, mas não só isso, buscou-se entender o contexto da turma onde o projeto foi aplicado e, a partir disso, foram desenvolvidas aulas lúdicas, críticas e reflexivas.

Com isso, as aulas práticas de estágio em geografia foram aplicadas em 12 aulas, haja vista que tínhamos como resultados esperados que os estudantes pudessem refletir os usos e os conflitos da água no Brasil e que percebessem que a água, como fonte vital, passou a ter valor econômico, a qual é apropriada pela classe hegemônica, sendo eles responsáveis pela poluição dos rios e dos reservatórios subterrâneos, em locais onde a classe subserviente sofre com problemas de saúde por ingerir água de má qualidade.

Para chegar aos resultados esperados, as aulas foram construídas a partir da mediação e orientação, sempre instigando aos estudantes a refletirem e observarem os problemas da poluição das águas no local em que eles residem. Quando foi questionado aos alunos se havia problemas de poluição de água em seu município, o aluno A respondeu que: “como exemplo, professor, temos o açude daqui de Ribeirópolis que não é tratado e os esgotos das casas caem para dentro dele”. A partir disso, os estudantes passam a enxergar as contradições presentes no espaço em escala local e, posteriormente, em escala global.

 Além da participação do aluno em sala durante as aulas, percebeu-se que eles aprenderam o que foi explicado, quando foi aplicado a prova avaliativa. Para deixar explícito que os estudantes entenderam em sala, o estudante B respondeu a uma questão da prova da seguinte maneira, ao ser questionada sobre quem mais utiliza e impacta às águas:

 “a água em nosso país não é livre, ela é vendida e não se pode dizer que em boas condições. Então, quem não tem uma renda econômica, não tem acesso a água tratada. Sobre desperdiçar, poluir e poder utilizar mais que nós, fala dos agricultores e empresas que utilizam a água para seu uso próprio” (ALUNO (A) B, 2022).

O aluno C, nessa mesma questão relata que:

“que muitas pessoas usam a água inadequadamente desperdiçando-a, poluindo com esgotos e as fábricas são responsáveis a muita parte disso. E que as águas dos rios, que abastece a nós, não só nas torneiras como na hidratação muitas vezes são poluídas” (ALUNO (A) C, 2022).

O aluno (a) D relata que:

 “geralmente não são as pessoas que usam a água no dia a dia que são as que mais gastam. Indústrias, empresários (gente rica) utiliza bem mais que a população pobre, desperdiçando, poluindo, etc. Degradam poluindo, desperdiçando achando que não tem fim”.

            No poema elaborado pelos alunos sobre elementos de uma bacia hidrográfica, a estudante E relata que:

 [...] “das vertentes a água escorre, o vale vai enchendo, dos afluentes ganhando volume, o rio vai se tendo. De pouco a pouco o rio andando, até chegar na foz, desaguando até o mar, uma imensidão de água, o rio acaba lá” (ALUNO (A), 2022).

A discente descreveu de forma sucinta percurso do rio desde a nascente até a foz (Ver figura 1).

Figura 1: Mapa mental produzido por um aluno (a) sobre hidrografia

Fonte: SANTOS, Guilhereme 

            O aluno em questão, destacou elementos da hidrografia que foram trabalhados em sala de aula, sendo que os aspectos naturais e antrópicos não estão dissociados, haja vista que a água virtual e a indústria são exemplos de interferências dos seres humanos nos sistemas naturais.

            Percebe-se que apesar de as respostas ainda serem simplórias, existe o florescimento do pensamento crítico-reflexivo, pois esses alunos conseguiram enxergar, a partir do estágio de desenvolvimento em que eles se encontram, puderam fazer apreensão logica do conteúdo abordado em relação a sua realidade e chegaram ao questionamento de quem mais polui e se apropria das águas no Brasil. Podendo, a partir de então, questionar-se sobre essa lógica em escala mundial/global.

Dessa forma, o Estágio Supervisionado em Geografia foi satisfatório tanto em abordagem teórica, quanto de forma prática, além de ter se sobressaído quando das dificuldades que foram apresentadas durante o processo de estágio, como conversas paralelas, casos de bullying e níveis de desenvolvimentos diferentes coexistindo. Longe de querer ser professores autoritários, os referidos problemas foram resolvidos a partir das trocas dialógicas e sempre levando mensagens reflexivas para que os estudantes se sentissem motivados.  

Isso mostra que educar não é de qualquer forma, para se obter êxito, o professor deve sempre instigar, mediar e orientar os estudantes sem dar respostas prontas e fazendo com que o aluno seja o sujeito principal no processo de ensino-aprendizado, pois o educando construirá sua visão de mundo a respeito das problemáticas presentes em seu local de vivência e em outros lugares do espaço geográfico.

Com essa experiência construída através da teoria e da prática, percebemos que a sala de aula não é tão simples como muitos acreditam, pois esse ambiente é ocupado por sujeitos heterogêneos, com culturas, níveis de aprendizagem distintos e com a forma de se comportar também diferente, alguns mais atenciosos, outros nem tanto, mas tentamos, na medida do possível, instigá-los e construir aulas leves, reflexivas, críticas e se colocando no lugar de eternos aprendizes, pois o conhecimento é interminável e aprendemos mutuamente.

 

Constatou-se que, a partir da experiência de estágio supervisionado em geografia III, a teoria e a prática são um par dialético indissociável na formação docente. Para que o professor aprenda a lidar com a ambiente escolar, essa experiência é sine qua non para uma formação significativa do professor. Sem a experiência no estágio, os futuros docentes não terão como aplicar o que foi estudado durante a graduação e o que foi orientado pelos professores da academia sobre as vicissitudes do ambiente escolar.

            Então, a aplicação prática do projeto de ensino se deu de forma satisfatória, levando em consideração que os estudantes correlacionaram os usos e conflitos das águas no Brasil a partir de observações próximos aos seus lugares. Isso mostra o desenvolvimento da visão crítica-reflexiva dos alunos, relacionando o que mediamos em sala com espaços geográficos mais amplos.

Isso demonstra a importância da mediação e orientação entre professores em formação e educandos, para juntos aprenderem no processo de ensino aprendizado, pois, caso os primeiros se coloquem como autoritários ou licenciosos, o ensino deixa de ser efetivo, pois o aluno não sentido quando perde a autonomia em sala de aula.

 

Agradecemos imensamente à professora Dr. Katinei Santos Costa pelo incentivo, apoio intelectual e disponibilidade para contribuir com este e demais trabalhos que estamos realizando sob suas orientações. Além disso, queremos agradecer, ainda, à professora Dr. Alberlene Ribeiro de Oliveira pelas valiosas inspirações e reflexões que nos fizeram enxergar e ter ideias para alcançar os objetivos propostos neste trabalho, além da confiança que teve em nós desde as primeiras aulas. Agradecemos, também ao professor Dr. Daniel Almeida por desde o início da graduação ter acreditado no nosso potencial e pelas contribuições enquanto profissional

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. 33ªed., Editora Brasiliense, São Paulo, 1999.         

CARVALHO SOBRINHO, Hugo de. Geografia escolar e o lugar: a construção de conhecimentos no processo de ensinar/aprender geografia. Revista de Estudos Geoeducacionais, v. 9, n. 17, jan./abr., 2018, ISSN: 2178-04. Disponível em: GEOGRAFIA ESCOLAR E O LUGAR: A CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTOS NO PROCESSO DE ENSINAR/APRENDER GEOGRAFIA (redalyc.org). Acesso em: 28 jun. 2022.

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