O estado de Pernambuco apresenta uma vasta lista de atividades culturais de grande importância estadual e nacional, como maracatu, caboclinho, frevo, baião, manguebeat, entre outros. É, portanto, um ambiente com grande diversidade cultural, que se estende do litoral ao sertão, apresentando característica social aberta a práticas coletivas e harmoniosas em todas as esferas e atividades tanto artísticas como culturais (Hofstede,1984. p.22).
Dessa forma, a prática cultural da Região do Araripe Pernambucano, aprendida e compartilhada como apresentam os estudos dos autores, potencialmente, funde-se e se fortalece com a criação de um evento social que abrange toda a região, consolidando a identidade cultural dos diferentes grupos envolvidos, em acordo com (Hall, 1999, p.38), o qual afirma que “a identidade é realmente algo formado ao longo do tempo”. Nesse processo de formação, a educação não formal é a base que sustenta as ações do Edacra enquanto projeto artístico cultural.
A educação não formal apresentada pelo Edacra – Encontro de Dança, Arte e Cultura da Região do Araripe – tem concordância em (Gohn, 2015, p.16): educação não formal é processo sociopolítico, cultural e pedagógico de formação para a cidadania, entendendo o sociopolítico como a formação do indivíduo para interagir com o outro em sociedade. Desse modo, o processo educativo do evento possibilita a construção de um diálogo entre as manifestações tradicionais da Região do Sertão Pernambucano e as expressões contemporâneas do cenário nacional, fortalecendo a identidade cultural dos grupos envolvidos. Em concordância com o pensar, como nascem os cactos? Devemos refletir que os movimentos culturais, sociais e artísticos bem como os grupos de jovens mobilizados e mobilizadores nascem da necessidade de ressignificar a existência na construção de espaços democráticos, formando cidadão com diálogos tematizados (Gohn, 2015, p.21) no exercício da educação não formal.
Como afirma (Hall, 1999, p.13), “A identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia”, assim as identidades são construídas em diálogos com variadas identidades possíveis, que enriquecem e multiplicam as possibilidades de construção, ou melhor, a cultura se transforma como um mecanismo vivo, parte integrante das práticas humanas, as quais formam um coletivo de ações que movimentam os grupos sociais, gerando a multiculturalidade ou a cultura pessoal e coletiva. (Hall,1999, p.13) reitera, ainda, que os aspectos, os quais produzem as mudanças nas estruturas das manifestações culturais de uma sociedade, são baseados nos “confrontos entre as diferentes identidades com as quais poderíamos nos identificar”. Observamos, deste modo, que o ser humano é socialmente adaptável a diferentes realidades e é um agente transformador do meio cultural em que vive.
Com fundamento nessa linha de conhecimento, compreende-se que a identidade cultural se consolida à medida que dialoga com culturas diversas de forma segura, compartilhando conhecimentos e espaços, fortalecendo, na juventude, sua identidade e valores culturais locais em concordância com as expectativas e necessidades de expansão, para conhecer, produzir, divulgar assim como vivenciar a arte e a cultura viva sem fronteira. Essa é uma prática da educação não formal.
A ideia da gestão coletiva do projeto surgiu, segundo seus idealizadores, da necessidade de criar um espaço para compartilhar experiências coletivas e formar novos públicos para a produção artística da região, com as linguagens de dança, teatro, poesia, grafite, música. Esse evento é “um convite para cultura viva, cheia de significados práticos, a cultura não deve ser teorizada, é para ser vivida e evolui com a comunidade”, como relata o idealizador do evento, afirmando que a cultura mostra que o povo do Sertão é colorido e feliz. Nessa perspectiva, os papéis relevantes para o sucesso do projeto é a consciência do respeito à individualidade e à identidade de cada participante, bem como as particularidades locais, por parte dos seus organizadores, do gerente do projeto e da sua equipe (Hofstede, 1984, p.154).
O fato de o evento ocorrer apenas anualmente não diminui a sua importância na promoção da ação de educação pela arte, uma vez que esse se constitui como um espaço comum para o encontro das práticas e das experiências de artistas e grupos culturais, desse modo o Edacra, em seu caráter multicultural, difunde e produz saberes gerados pela educação não formal. De acordo com (Gohn, 2015, p.16), “A educação não formal engloba saberes e aprendizados gerados ao longo da vida, de forma individual ou coletiva”, fato que se identifica com o relato de alguns integrantes, os quais afirmam que, para os jovens, os festivais se tornam um caminho para estimular a criatividade artística, o respeito à diversidade e à liberdade de expressão por meio da Arte. Dessa maneira, projetos e eventos sociais de Arte e Cultura são essenciais para proporcionar uma visão de mundo e da própria arte, mais humana, aberta a possibilidades e mudanças, além de gerar uma rede de comunicação e uma economia solidária.
Ainda, a aprendizagem não formal é parte integrante de projetos sociais de caráter artístico e cultural, e “o exercício da educação não formal é uma possibilidade real, entretanto o caráter dessa participação vai depender das relações e interações desenvolvidas.” (Gohn, 2015, p.21). Nesse contexto, o Edacra é um espaço coletivo de troca de saberes, livre expressão pessoal e coletiva, produzindo debates e rodas de conversas com diferentes modalidades artísticas e culturais, proporcionando, além do estímulo à democratização e à criação de saberes e produtos culturais, a preservação das memórias sociais. Isso é fundamental para a existência social humana e para a garantia histórica de preservação da memória social em comunhão com a geração de novas produções em equilíbrio com as identidades culturais em constante renovação (Hall, 1999, p. 62). Dessa forma, o equilíbrio entre a cultura local e a global é um marco de sucesso do projeto, que, ao longo das suas edições, assumiu um caráter multicultural, com prática da educação não formal voltada para a experiência e saberes que valorizam a cultura humana no Sertão do Araripe.
O projeto social tem como objeto a realização do Edacra, criado com o intuito de agregar, o máximo possível, manifestações culturais bem como seus representantes e praticantes (Hall, 1999, p.13). Trata-se de um movimento capaz de ampliar e modificar, positivamente, a identidade cultural de uma cidade, trazendo as representações de arte e cultura, que fazem parte de variadas identidades de todo o estado. Esse evento aparece no cenário cultural da Região do Sertão do Araripe Pernambucano como uma ferramenta de interação social, promovendo um ambiente de convívio social rico em atividades e diversidade cultural, influenciando diretamente a região, através do encontro de inúmeros grupos organizados de diversas expressões e representações coletivas sociais.
Conforme (Hofstede, 1984, p.157), “O Edacra deu uma dimensão maior ao que era produzido no Araripe, principalmente na linguagem da dança”, deste modo, esse relato de um participante do evento, confirma a importância de projetos sociais de caráter artístico e cultural para a vida assim como para a inclusão social de jovens em regiões carentes de grandes espaços e centros culturais, como é o caso do Sertão Nordestino.
A cultura regional araripense tem, no Edacra, a construção de um diálogo entre as manifestações tradicionais e as expressões contemporâneos (Hall, 1999, p.16), fortalecendo, na juventude, sua identidade e valores culturais locais em concordância com as expectativas e as necessidades de expansão para conhecer, produzir, divulgar bem como vivenciar a arte e a cultura viva sem fronteira. O projeto social em questão teve 11 edições, sendo uma por ano, e os seus principais fatores de sucesso estão ligados, principalmente, à união entre a cultura tradicional e as tendências novas (Hall, 1999, p.24), formando público e promovendo o fortalecimento da identidade cultural local, que, apesar de ter reconhecimento internacional, ainda enfrenta dificuldades em manter suas matrizes culturais.
A seguir, apresentaremos os dados coletados através de questionário e entrevista, com a análise e cruzamento de informações. O levantamento de dados se dará através da aplicação inicial de um questionário, aplicado a um grupo de 25 pessoas envolvidas no projeto social em análise. Para identificar o perfil dos participantes na pesquisa, verificamos, inicialmente, a sua relação no projeto, e eles foram divididos em quatro categorias, sendo: artista participante, público, apoiador e admirador, artista e membro da organização.
A referida caracterização foi apresentada quando perguntados sobre a sua relação com o projeto social e revelou que a maioria é artista participante, contando 14 (quatorze); apoiador e admirador, há 6 (seis); público, apresentam-se 3 (três); artista e membro da organização contabilizou 2 (dois). Observando o gráfico, verificamos que, apesar do grande número de artistas participantes, o envolvimento deles na organização do evento é baixo.
Figura 1 – A relação dos participantes com o EDACRA
Fonte: resultados originais da pesquisa.
Sobre o tempo médio de participação no evento, a maior parte dos entrevistados, ou seja, 14 (quatorze), que soma maioria absoluta, afirmou ter participado de 1(uma) a 3 (três) edições, seguido de 7 (sete), que participaram de 1(uma) a 6 (seis) edições; 2 (dois) deles estiveram em 1 (uma) a 10 (dez) edições; e 2 (dois) dos interrogados envolveram-se em todas as edições do evento. Observando, em termos de porcentagens, podemos afirmar que as participações são duradouras, sendo esse um fator de sucesso que podemos observar.
Figura 2 – De quantas edições do evento você participou durante os 11(onze) anos do EDACRA?
Fonte: resultados originais da pesquisa.
Em consonância com a questão anteriormente analisada e solicitando uma avaliação da sua própria participação no projeto em estudo, o público participante desta pesquisa se apresenta, em grande maioria, como muito atuante como artista, somando 16 (dezesseis), sendo seguido por espectador regular, com 5 (cinco), o que revela a importância do projeto para formação de público; e, ainda, pouco atuante como artista há 3 (três), e espectador irregular, apenas 1 (um).
Figura 3 – Como você avalia sua participação no evento?
Fonte: resultados originais da pesquisa.
A quarta questão apresentada no questionário foi: em qual linguagem artística você se identifica no evento? Fechamos a parte da pesquisa em que caracterizamos o perfil do público analisado, e esta nos mostra que a maioria absoluta dos participantes do projeto social em destaque é artistas da modalidade da dança popular contemporânea ou de rua, com 18 (dezoito) deles participando do teatro, 3 (três) são envolvidos com música e poesia e 3 (três), com grafite. Assim, observamos que o perfil do público segue fiel às práticas artísticas realizadas nas primeiras edições do evento.
Figura 4 – Em qual linguagem artística você se identifica no evento?
Fonte: resultados originais da pesquisa.
As questões seguintes do questionário permitiram verificar como o público, em sua maior parte formado por artistas, via os principais fatores que contribuíram para o sucesso do projeto. Solicitados a apontar o principal fator de êxito do projeto social, a maioria aponta que é a potencialidade do evento para formar público para atividades culturais e artísticas na região, ou seja, 9 (nove), seguido pela importância da criação de um espaço coletivo para práticas dos artistas, com 7 (sete) respondentes. As respostas de 5 (cinco) entrevistados apontaram, ainda, o respeito à individualidade e à identidade de cada participante, e 2 (dois) deles colocaram a coordenação colaborativa do evento. Esses são os fatores de sucesso do evento, que teve uma duração de 11 anos.
Figura 5 – Em sua opinião, qual o principal fator de sucesso do projeto social?
Fonte: resultados originais da pesquisa.
Sobre a importância do referido projeto para o Sertão Pernambucano, região da sua realização, as respostas apontam para a necessidade desses artistas de criar um espaço e um mecanismo de comunicação para as práticas artísticas e culturais da região com outras linguagens e agentes culturais, sendo as seguintes respostas: criar uma rede de comunicações entre linguagens e modalidades artísticas de várias regiões diferentes, de 16 (dezesseis) entrevistados; possibilitar aos artistas um espaço para apresentar sua arte, de 4 (quatro) respondentes; democratizar ao público o acesso à produção cultural e artística, de 3 (três) participantes; e divulgar os artistas locais não se configurou resposta de nenhum interrogado.
Desse modo, observamos que nenhum participante apontou a divulgação dos artistas locais como um dos principais pontos importantes do projeto. Nesse ponto encontramos uma contradição nas informações, uma vez que, em vários momentos, o fator da formação de público foi apresentado como muito importante, e todo público é formado para um determinado grupo. Nessa perspectiva, a não divulgação dos artistas locais deve ser levada em consideração.
Figura 6 – Em sua opinião, qual a principal importância do EDACRA para a região?
Fonte: resultados originais da pesquisa.
Em observação às qualidades do coordenador do evento em questão e solicitados a destacar as mais positivas, 9 (nove) interrogados colocaram o conhecimento em práticas culturais populares e contemporâneas; já 8 (oito) deles afirmaram boa comunicação com os participantes; expuseram a habilidade para articular parcerias 5 (cinco) entrevistados; e nenhum colocou a abertura para aprender novas práticas. Neste ponto, podemos ver que o fato de o coordenador ser um artista, com práticas diversificadas, e o bom conhecimento na área fazem com que ele tenha grande credibilidade por parte de todos. Esse conhecimento prévio é acompanhado pela habilidade no diálogo, característica fundamental para gerenciar o projeto.
Figura 7 – Qual qualidade do coordenador do evento em questão pode ser destacada como mais positiva?
Fonte: resultados originais da pesquisa.
Através do questionário, investigamos, ainda, como o projeto contribui para o fortalecimento da juventude, identidade e valores culturais, e a maioria acredita que possibilitar a construção de um diálogo entre as manifestações tradicionais e as expressões artísticas contemporâneas é a melhor forma de reforçar a identidade da juventude, o que foi exposto por 9 (nove) entrevistados. Em seguida, vem o fortalecimento do diálogo entre culturas diversas, com 8 (oito) participantes; a junção de diversas linguagens artísticas foi colocada por 3 (três) deles; e 3 (três) afirmaram por ser aberto a conhecer, produzir, divulgar e vivenciar as artes e a culturas diferentes. Essa análise nos permite comprovar que o respeito à diversidade cultural faz parte do cotidiano e da prática dos participantes, sendo também um dos principais fatores de sucesso do projeto.
Figura 8 – Em sua opinião, como o EDACRA contribui para o fortalecimento da juventude, identidade e valores culturais?
Fonte: resultados originais da pesquisa.
Quanto à importância da existência de um evento multicultural na região, 10 (dez) participantes acreditam ser importante por estimular a democratização, a criação de saberes e produtos culturais e a preservação das memórias sociais; na sequência, por ser um projeto social com apresentações de linguagens diversas abertas ao público variado, expuseram 8 (oito) entrevistados; por agregar o máximo possível de manifestações foi exposto por 4 (quatro) interrogados; e, por último, por promover um equilíbrio entre a identidade da cultura local e a global foi colocado apenas por 1 (um).
Figura 9 – Qual a principal importância do EDACRA como evento multicultural na região?
Fonte: resultados originais da pesquisa.
Em relação à pergunta sobre a organização do evento enquanto projeto social, a maioria considera sua existência essencial para proporcionar uma visão de mundo e da própria arte mais humana, aberta a possibilidades e mudanças, ou seja, 12 (doze); em segundo, 7 (sete) apontaram a preservação da memória social e cultural dos movimentos culturais da região como importante; seguidos de importante, por gerar uma rede de comunicação entre os participantes, o que foi colocado por 3 (três) entrevistados; e pouco importante, uma vez que existem diversos projetos sociais parecidos, não foi exposto por nenhum.
Figura 10 – Como você avalia a organização do EDACRA enquanto projeto social?
Fonte: resultados originais da pesquisa.
Nas duas questões sequentes, analisamos os objetivos do projeto. Aqui observamos os objetivos formais declarados, inicialmente, no projeto, se foram atingidos ou se foram modificados na prática. Sobre isso, 11 (onze) afirmaram que foram atingidos plenamente, 5 (cinco) colocaram que foram parcialmente atingidos sem modificações, 3 (três) expuseram que foram atingidos com poucas modificações na prática, e apenas 1 (um) respondeu que não foram atingidos e foram modificados na prática.
Figura 11 – Na sua observação, os objetivos formais, declarados, inicialmente, no projeto, foram atingidos ou foram modificados na prática?
Fonte: resultados originais da pesquisa.
Sobre os conflitos que surgiram e como estes foram solucionados, a maioria dos participantes acredita que não houve conflitos, ou melhor, 10 (dez) deles, seguido por um percentual que acredita que houve conflitos de ordem operacional de espaços e equipamentos, solucionados com diálogos entre equipes, no caso, 6 (seis) deles. Já pelo tipo de liderança, solucionados com diálogos entre equipes foi colocado por 2 (dois) entrevistados, e 1 (um) apontou de ordem ideológica, solucionados com diálogos entre equipes.
Figura 12 – Quais conflitos surgiram e como foram solucionados, superados?
Fonte: resultados originais da pesquisa.
Para a pergunta relativa à forma como foram avaliadas as várias atividades realizadas dentro do projeto, 8 (oito) responderam que foram avaliadas pela coordenação e participantes, já e 5 (cinco) expuseram que foram avaliadas pela coordenação e 5 (cinco) colocaram que aconteceu pela coordenação, com informes do resultado para os participantes; apenas 1 (um) respondeu que não foram avaliadas. O fato da existência de uma avaliação coletiva, apontada pela maioria dos participantes, confirma que o projeto tem como prática a gestão colaborativa, sendo esse um dos principais fatores de sucesso do projeto.
Figura 13 - Como foram avaliadas as várias atividades realizadas dentro do projeto?
Fonte: resultados originais da pesquisa.
De acordo com o questionamento relacionado aos riscos ocorridos durante a execução do projeto e que consequências isso teve para o seu sucesso, as seguintes respostas foram obtidas: riscos de ordem financeira foi colocada por 9 (nove) participantes; riscos de ordem de logística de espaço e equipamento, por 3 (três) deles; riscos de gerenciamento das equipes, por 1 (um) dos entrevistados; e 6 (seis) respondentes apontaram que não houve riscos.
Figura 14 – Quais os riscos ocorridos durante a execução do projeto e que consequências isso teve para o seu sucesso?
Fonte: resultados originais da pesquisa.
Sobre a indagação relacionada aos riscos ocorridos durante a execução do projeto e quais consequências isso teve para o seu sucesso, as respostas foram: falta de recursos para cobrir despesas do evento, exposta por 11 (onze) participantes; problemas de espaços adequado, colocada por 3 (três) entrevistados; a falta de estímulo e comunicação da equipe não foi colocada por nenhum deles, e 5 (cinco) apontaram que não houve riscos.
Figura 15 – Sobre os riscos ocorridos durante a execução do projeto, que consequências isso teve para o sucesso do projeto?
Fonte: resultados originais da pesquisa.
Quanto às preocupações dos coordenadores do projeto na condução das atividades e das pessoas, a maioria dos participantes, ou melhor, 12 (doze), viu como principais características as técnicas, com foco nos objetivos do projeto e bem-estar dos participantes; já 3 (três) deles apontaram técnicas, como a manutenção do tipo de liderança escolhida; colocaram técnica, com o sucesso do evento e o bem-estar dos participantes, 2 (dois) respondentes; e 2 (dois) expuseram com o sucesso do evento e o bem-estar dos participantes.
Figura 16 – Quais as preocupações dos coordenadores do projeto na condução das atividades e das pessoas?
Fonte: resultados originais da pesquisa.
A partir das respostas obtidas nas entrevistas, organizamos a tabela a seguir.
Tabela 1. Quadro demonstrativo de respostas das entrevistas.
ENTREVISTADA 1 |
ENTREVISTADO 2 |
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28 anos, gênero feminino, colaboradora do projeto. |
35 anos, gênero masculino, coordenador do projeto. |
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1) Qual o tipo de liderança, você, enquanto coordenador e criador do projeto, adotou para atingir os objetivos? |
Para não ficar muito sobrecarregada agente dividia todas as tarefas, eu ficava na organização geral, caso faltasse algo agente tentava resolver da melhor forma possível. |
Uma liderança pautada na coletividade tendo a responsabilidade de representar o projeto dialogando diretamente com os artistas de diversos segmentos, representantes dos setores públicos, privado e comunidade, dando acesso a estarem participando diretamente de todas as fases de construção do projeto junto com a equipe organizadora, através de consultas conseguir atingir ações otimizadas que beneficiem a todos. |
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2) Os objetivos formais, planejados inicialmente no projeto, foram atingidos ou eles foram modificados na prática? |
Muitos foram atingidos, mas outros por falta de verbas deixaram e apoio não aconteceram. |
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3) Com observação no processo de planejamento execução do evento, aponte: a) Quais os conflitos que surgiram nesse processo?
b) Como foram solucionados? |
a) Apoio dos governantes, apoio da população, falta de verbas para premiação, equipamentos necessários (som, microfone, transporte, etc.).
b) Alguns não tiveram solução, outros agente tentava se adequar com o que tinha, exemplo: a premiação era menor, os troféus muitas vezes ficávamos devendo e no decorrer do tempo a gente ia pagando. |
a) A falta de recurso para aderir mais ações que pudesse beneficiar mais segmentos artísticos, como também a falta de espaços apropriados na cidade para acontecer algumas das atividades da programação.
b) Fizemos a diminuição da programação, mesclamos os diversos tipos de arte em um único momento de maneira que a ideia abrasasse a cada proposta existente e gerasse menos gastos, adaptamos algumas propostas de atividades para espaços públicos, praças, escolas, ONGs e auditórios de repartições e quadras poliesportivas. |
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4) Quais as preocupações que você, enquanto coordenador do projeto, teve na condução das atividades e das pessoas? |
A preocupação de não ter uma boa recepção das pessoas que vinha de fora, de mostrar uma mensagem diferente do que realmente queríamos mostrar, de não conseguir arcar com todas as despesas... |
A preocupação de que o artista fosse ouvido de acordo com sua necessidade e que ao mesmo tempo entende-se a limitação financeira do projeto, mostrando de fato qual a proposta que temos a oferecer no evento que faz a ligação direta entre participante, equipe organizadora, espectadores e público em geral. |
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5) Como foram avaliadas as várias atividades realizadas dentro do projeto? |
Tentamos procurar os pontos negativos e não deixar que aconteça no próximo projeto, passávamos o ano todo trabalhando, fazendo apresentações para arrecadar fundos e apoio para realizar o evento da melhor forma possível. |
Solicitamos para que os participantes, apoiadores, público e equipe organizadora faça uma avaliação escrita do evento como também colhemos relatórios através de debate nas redes sócias e ouvidoria, mantendo contato direto com os participantes. |
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6) Quais os riscos ocorridos durante a execução do projeto e que consequências isso teve para o seu sucesso? |
O risco maior foi econômico, pois nunca tivemos certeza se conseguiríamos manter todas as despesas, já que não existia um apoio fixo. |
Como o evento acontece em espaços públicos devido à falta de espaços adequados para realizações de algumas das atividades da programação, ocorrem dificuldades de logística e de infraestrutura para comodidade e conforto do público e realizações das apresentações artísticas, aumentando, assim, os gastos para essa readequação do projeto além do limite financeiro que dispomos. Outro fator que traz risco ao projeto e a parte climática que pode afetar diretamente a programação, com adiamento e cancelamento de atividades nos dias de chuva. |
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7) O que você aponta como fator que levou ao sucesso do projeto? Ou seja, em sua opinião, com a sua visão de coordenador, quais foram os fatores que garantiram o sucesso do projeto? |
O sucesso foi a persistência do grupo, do idealizador Lalá Dance e dos amantes da dança de nossa terra exu. |
Por ser um evento multicultural que reúne várias linguagens artistas que trabalham em diversos segmentos conseguimos montar uma programação com uma variedade maior de atividades que agrada aos diversos públicos a além de promover uma troca de informações, conhecimento e bens culturais maiores. |
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8) Quais os valores sociais e culturais formais, declarados no projeto, que direcionaram a sua execução? |
Sem dúvida era dar um sentido aos jovens desencaminhados no mundo das drogas, das ruas, dando a eles uma nova forma e incentivo para conquistar coisas boas, e mostrar que com o amor a dança, a cultura transforma vidas... |
Promover uma grande interação e troca de saberes entre os artistas e público participante no evento, com o propósito de promover, informar, valorizar, estimular e divulgar os trabalhos e apresentações no encontro, formando plateias, ativando o mercado cultural e incentivando a economia criativa cultural para que o público ao consumo dos bens culturais. |
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9) Quais valores sociais e culturais que não foram declarados no projeto, mas que, de fato, orientaram o trabalho das pessoas e do coordenador? |
Amor ao próximo e a cultura, autoconhecimento, autoconfiança, liderança, união... |
A construção de vínculo e troca de conhecimento entre os participantes e público, fazendo com que não exista uma linha que separe o artista do espectador, disponibilização as comunidades carentes conhecer e consumir bens culturais, descentralizando ações, atividades e programação, levando cultura às áreas mais pobres de vulnerabilidade social, formando público e estigmando a comunidade a conhecer e fazer parte do processo tornando-se agente facilitador do processo. |
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(conclusão) |
Fonte: resultados originais da pesquisa.
A entrevista foi realizada com um colaborador e um coordenador do projeto. As informações coletadas têm como base nove perguntas respondidas individualmente pelos participantes, prezando pela liberdade de expressão de cada um.
Assim, os dados coletados com as entrevistas apontaram os principais fatores que contribuíram para o sucesso do projeto, dentre esses fatores destacaram-se: a gestão colaborativa, o formato multicultural do evento, a persistência do grupo de trabalho e artistas envolvidos, a superação dos conflitos e dos riscos, a realização de avaliações coletivas e os objetivos ligados aos valores sociais do grupo.
A gestão colaborativa é citada por todos os entrevistados em comunhão com os dados coletados na aplicação das entrevistas, o que vem a validar a afirmação do coordenador do projeto, o qual afirma que a “liderança pautada na coletividade tendo a responsabilidades de representar o projeto dialogando diretamente com os artistas de diversos segmentos” foi o modelo de gestão adotado para o projeto, como afirmativa à importância do trabalho coletivo em projetos sociais.
Quando solicitados a apontar diretamente os principais fatores de sucesso do projeto, os entrevistados afirmaram que a persistência e a dedicação do grupo assim como o formato multicultural do evento são os fatores fundamentais, uma vez que esses determinam o caráter democrático, participativo e social do projeto. A dimensão educativa do evento, com linguagens artísticas diversas, potencializa a existência de um espaço democrático e diversificado tanto para os artistas como para o público, possibilitando a construção de sentido na identidade cultural dos grupos e dos artistas participantes do projeto (Hall, 1999, p.62). Esses dados são compatíveis com as informações do questionário, em que 39,13% (trinta e nove vírgula treze por cento) dos participantes apontam, como principal fator de sucesso do projeto, a formação de público.
A questão levantada sobre os objetivos formais do projeto apresentou o ponto de discordância nas respostas dos entrevistados, uma vez que a colaboradora, em sua resposta, afirma que os objetivos não foram totalmente alcançados, enquanto o coordenador apresenta os objetivos como alcançados, destacando que esse fato “gerou expectativas de criar mais conteúdo e ações, a fim de atingir planos e metas para públicos”, sendo essa a visão da maioria das respostas do questionário, em que 55 % (cinquenta e cinco por cento) dos participantes acreditam que os objetivos foram plenamente alcançados. O Edacra, segundo dados levantados nas entrevistas e no questionário, teve, como principais motivos de risco e conflitos à execução do projeto, os fatores de ordem econômica e de logística de estrutura e espaço.
O Edacra consolidou-se como um projeto social de educação não formal, com sucesso reconhecido no Sertão Pernambucano, defendendo valores sociais voltados a atividades artísticas e culturais, direcionado à juventude e aberto a todo público, como um evento singular na região, com uma gestão compartilhada e o caráter multicultural, enraizado de fatores que determinaram o seu sucesso perante os artistas participantes. A análise dos dados coletados nas entrevistas e nos questionários aplicados revela um conjunto de fatores interligados nos quais o evento é alicerçado, que determinaram o sucesso do referido projeto, o qual foi realizado do ano de 2006 a 2015, na cidade de Exu, estado de Pernambuco.
Nesse sentido, os fatores de sucesso do Edacra, enquanto projeto social, são: a gestão colaborativa, que possibilita um feedback entre a equipe gestora do projeto e os participantes, através da avaliações realizadas; o formato multicultural do evento, o qual garante a diversidade de manifestações artísticas e cultural, assegurando, assim, a maior aceitação do público para o evento; a persistência do grupo de trabalho e artistas envolvidos; a superação dos conflitos e riscos, fatores que revelam ligação direta entre valores sociais dos grupos envolvidos; e os objetivos declarados do projeto.
Assim, os objetivos e valores sociais e culturais formais no Edacra partem da construção de um diálogo entre as manifestações tradicionais com as expressões contemporâneas, fortalecendo, na juventude, sua identidade e valores culturais locais em concordância com as expectativas e necessidades de expansão para conhecer, produzir, divulgar e vivenciar a arte e a cultura viva sem fronteira. Criado com o intuito de agregar o máximo possível de manifestações culturais e seus representantes e praticantes, o projeto em questão revelou-se um movimento capaz de ampliar e modificar positivamente a identidade cultural da juventude enquanto artista e como público, ganhando, ao longo das suas edições, um caráter multicultural e democrático.
Agradecimento a Deus pela vida com todas as suas possibilidades. À família por existir, em especial, a minha mãe, Mulher Maria, pelos sacrifícios pessoais que precisou fazer para garantir a educação escolar de 11(onze) filhos, sempre promovendo nossa educação não formal como uma mestra. Agradecimento especial ao meu professor Orientador o Doutor Everaldo Fernandes da Silva e a UFPE - Educação Contemporânea/PPGEDUC – CARUARU.
Entrevista do idealizador do projeto realizada em 15 (quinze) de abril de 2020 (dois mil e vinte). Entrevista da participante do projeto realizada em 15 (quinze) de abril de 2020 (dois mil e vinte). Aplicação de questionário para artistas e público participante do evento em 25(vinte e cinco) de abril de 2020(dois mil e vinte). Link: https://www.onlinepesquisa.com/?url=survey
Bardin, L. Análise de Conteúdo. Tradução de Luis Antero Reto, Augusto Pinheiro., São Paulo, SP, Brasil: Edição 70, 2016.
Gohn, Maria da Glória. Educação não formal no campo das artes. São Paulo: Editora Cortez, 2015.
Hall, S. A identidade cultural na pós-modernidade. RJ, Brasil: Editora DP&A, Rio de Janeiro, 1999.
Hofstede, G. Culture’s consequences international differences in work-related values., Beverly Hills, CA, USA: Sage, 1984.
Lakatos, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 5ed.São Paulo, SP, Brasil: Editora Atlas, 2003.