Metadados do trabalho

Inclusão Escolar No Ensino Híbrido: Estratégias De Acessibilidade Para Estudantes Com O Transtorno Do Espectro Autista.

Ana Cláudia Prazeres França Cavalcanti de Albuquerque

O presente artigo tem como objetivo apresentar estratégias que reduzem e/ou eliminam barreiras da acessibilidade favorecendo o processo de desenvolvimento e aprendizagem do estudante com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no ensino híbrido. A partir das pesquisas bibliográficas e das observações das práticas pedagógicas adotas no ensino híbrido de  08 crianças e adolescentes autistas, relatamos as estratégias citadas nesse artigo pautadas nas seguintes dimensões da acessibilidade: arquitetônica, comunicacional, metodológica, instrumental, programática e atitudinal. Os estudantes observados estão inclusos em escolas particulares na educação infantil, fundamental I e II e têm características autisticas leves e moderadas. No entanto, passaram a ter participação ativa e a realizar com autonomia as atividades síncronas e assincronas, obtendo avanços no desenvolvimento e na aprendizagem. Precisamos considerar que os profissionais da educação e estudantes no ano de 2020 enfrentaram muitos desafios e quando tratamos da educação especial estes foram ainda maiores. As estratégias foram definidas a partir do perfil individualizado de cada estudante. Existem lacunas nas informações sobre a inclusão escolar de pessoas com TEA no ensino híbrido e este atigo não possue a pretenção de esgotar as possibilidades de estratégias, mas sim contribuir com o conhecimento sobre a temática  e  aguçar a busca por outras.

Palavras‑chave:  |  DOI:

Como citar este trabalho

ALBUQUERQUE, Ana Cláudia Prazeres França Cavalcanti de. Inclusão Escolar No Ensino Híbrido: Estratégias De Acessibilidade Para Estudantes Com O Transtorno Do Espectro Autista.. Anais do Colóquio Internacional Educação e Contemporaneidade, 2021 . ISSN: 1982-3657. Disponível em: https://www.coloquioeducon.com/hub/anais/305-inclus%C3%A3o-escolar-no-ensino-h%C3%ADbrido-estrat%C3%A9gias-de-acessibilidade-para-estudantes-com-o-transtorno-do-espectro-autista. Acesso em: 16 out. 2025.

Inclusão Escolar No Ensino Híbrido: Estratégias De Acessibilidade Para Estudantes Com O Transtorno Do Espectro Autista.

A inclusão escolar de estudantes com Transtorno do Espectro Autista é algo que está em constante debate na área de educação especial e inclusiva, com o aparecimento da pandemia devido o Covid-19, no ano de 2020 foi necessário a implantação de forma imédiata um ensino remoto ou um ensino híbrido capaz de materializar o ensino-aprendizado de crianças e adolescentes inseridos na rede regular de ensino.

Com o cenário de distanciamento social, a necessidade de derrubar as barreiras ficou ainda mais ratificada, não poderíamos deixar que a luta pelos direitos fosse descontinuada no processo pandêmico. Atender as demandas educacionais de um estudante com TEA, é realizar ações diferentes como forma de trazer igualdade de condições e uma das propostas para a educação inclusiva é promover o “acolhimento das diferenças”, além de promover a autonomia e protagonismo no processo de desenvolvimento e aprendizagem.

Diante do que foi citado, este artigo pretende apresentar estratégias realizadas pelo Atendimento Educacional Especializado, de escolas da rede particular de ensino do Recife-PE,  em 2020 que promoveram a inclusão escolar no ensino híbrido de oito estudantes matriculados na educação infantil, fundamental I e II com o Transtorno do Espectro Autista, alinhada às dimensões da acessibilidade já definidas por Sassaki, a fim de contribuir com o campo teórico e com a prática de outros profissionais. Para construir esse trabalho, fizemos alguns questionamentos que nortearam o levantamento das informações: quais as estratégias que podem contribuir com a inclusão escolar no ensino híbrido das crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista? Para a superação das barreiras impostas pelo TEA durante o ensino híbrido quais as dimensões da acessibilidade foram utilizadas?

O Transtorno do Espectro Autista, na classificação internacional de doenças (CID -10), está na categoria F84, que corresponde a “Transtornos globais do desenvolvimento”. As caracteristicas que classificam o autismo são: deficit na interação social e comportamentos restritos e repetitivos. O Transtorno do Espetro Autista também poder se manifestar de forma grave, moderado e leve.

No Brasil, a pessoa com autismo é equiparada legalmente como uma pessoa com deficiência. Atualmente, não existem estatíticas oficiais do governo federal da população de crianças e adolescentes com autismo e de acordo com o Center of Diseases Control and Prevention (CDC) nos Estados Unidos – órgão equivalente ao Ministério da Saúde em nosso país, houve um aumento de 30% nos casos de autismo em relação aos últimos anos. De acordo com esses dados, algumas cidades registram cerca de um caso de autismo a cada sessenta e oito crianças

O ensino híbrido significa um ensino que mistura, ora atividades presenciais e outra remota, também é “a articulação de processos de ensino e aprendizagem mais formais com aqueles informais, de educação aberta e em rede” (BACICH; NETO; TREVISAN, 2015, p.29). Essa metodologia permite que de acordo com o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) do estudante possamos adequar as melhores práticas de acolhimento, desenvolvimento e aprendizagem. 

A inclusão escolar de pessoas com Transtorno do Espectro Autista no ensino híbrido é algo em construção, impossível de ser praticada sem as dimenões da acessibilidade definidas por Sassaki (2013).  Cabendo aos mediadores dessa inclução estruturar as condições que possibilitam a autonomia e a qualidade de vida para a pessoa com deficiência, no caso desse artigo crianças e adolescentes com TEA. Durante a pesquisa foi observado que a inclusão só foi possível devido a derrubada das barreiras: arquitetônicas, comunicacionais, metodologicas, instrumentais, programáticas e atitudinais.

Nesse artigo, cada estratégia será classificada de acordo com as dimensões da acessibilidade. Compreende-se que as estratégias apresentadas são um ponto de partida para a prática de inúmeras outras que o docente pode utilizar para promover a verdadeira inclusão escolar no ensino híbrido. A acessibilidade trará a oportunidade de desenvolvimento e aprendizagem para os alunos com TEA em diversos contextos e em diversas atividades, sejam elas síncronas ou assíncronas.

         A pandemia de 2020 provocou diversas transformações na sociedade e como forma de enfrentamento a Covid-19 foram publicados diversos decretos, um deles foi para o fechamento das escolas, algo que fomentou muitos debates, mudanças nas metodologias e a ampliação do descurtinamento das desigualdades existentes na educação do nosso país. Os responsáveis pela gestão das escolas e da educação materializaram projetos e diretrizes para continuidade do processo de ensino, e a orientação naquele momento, era buscar alternativas para vencer o período pandêmico com um olhar inovador, o objetivo era continuar com a inclusão escolar de estudantes com TEA, mesmo com a adversidade vivenciada naquele período.

            A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, 2020) informa no relatório de maio de 2020, como medida de contenção contra a disseminação da Covid-19, 186 países ou regiões fecharam escolas, total ou parcialmente.

            O professor do Atendimento Educacional Especializado, mesmo sem a formação para o ensino híbrido, precisou construir alternativas que continuassem proporcionando o processo de ensino-aprendizagem e o direito a educação de estudantes com autismo continuasse sendo respeitado, as práticas adotadas por muitos professores até então nunca tinham sido aplicadas na inclusão de estudantes com Transtorno do Espectro Autista. Não podemos deixar de registrar que devido a desigualdade estrutural em nossa educação muitas práticas adotadas não foram universalizadas e disponibilizadas a todos os estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) em nosso país, demostrando que a desigualdade também atinge a educação especial e inclusiva.

O estudante com TEA tem “um transtorno do desenvolvimento, não é apenas um atraso ou uma interrupção do processo normal de desenvolvimento, embora estes possam estar presentes também, mas sim a manifestação clı́nica de um processo atı́pico e prejudicial do desenvolvimento” (BRASIL, 2015, p. 33).

Segundo Gadia, Tuchman e Rotta (2004), a primeira vez que o autismo foi utilizado como expressão está localizado em um trabalho de Bleuler, datado de 1911, quando é usado para caracterizar a perda do contato com a realidade. Leo Kanner em 1943, publicou um dos primeiros estudos sobre o autismo. Durante sua pesquisa, estudou um grupo de crianças com comportamentos sociais diferente e acreditava que o autismo deveria ser separado da esquizofrenia infantil, embora continuasse no grupo das psicoses infantis (Rodrigues, 2015). Para Rodrigues (2015, p.14), “Kanner tinha uma visão do autismo como “inaptidão” em relações sociais normais com as pessoas e em reagir diante de situações da realidade e  Bleuler uma visão de “ausência da realidade”.”

Com o decorrer dos anos e a ampliação dos estudos na área o Transtorno do Espectro Autista (TEA), e de acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais V (DSM-V), essa condição passou a ser caracterizada principalmente por um déficit na interação social e presença de comportamentos restritos e repetitivos, havendo a possibilidade de se manifestar de forma leve, moderada e grave (APA, 2014).  Segundo Schwartzman (2011), o TEA pode ser classificado em: Autismo Infantil (AI) e Autismo Atípico (AA). No AI, as alterações se manifestam antes dos 03 anos de idade e comprometem a interação social, a comunicação, o comportamento e podem vir acompanhadas de outras manifestações indefinidas. Já o AA, elas ocorrem após a idade de 3 anos e pode não manifestar todas as perturbações reconhecidas no TEA.

De acordo com Albuquerque e Andrade (2015), o diagnóstico não deve ser a prioridade, o principal está na singularidade da pessoa e no contexto que está inserida. As autoras indicam uma caracterização do termo TEA da seguinte forma:

Transtorno: é algo que está em desordem; Espectro: existe uma variabilidade de característica, sinais e comportamentos; Autista: pessoa com dificuldade na interação social, e/ou na comunicação, e/ou com interesses restritos e repetitivos, e/ou com disfunções sensoriais e/ou orgânicas. (ALBUQUERQUE E ANDRADE, 2015, p. 17)

Segundo Goldstein (2009, p. 09-10), são características essenciais de uma pessoa com TEA:

‘‘a dificuldade de interação social; dificuldade acentuada no uso e compreensão de comportamentos não-verbais (contato visual, expressão fácil, gestos); dificuldade em fazer amigos; dificuldades em demonstrar reciprocidade social ou emocional; dificuldade na comunicação: atraso ou falta de linguagem verbal. Além disso, para aqueles em que a fala é presente, verifica-se uma grande dificuldade em iniciar ou manter um diálogo; uso estereotipado e repetitivo da linguagem; falta ou dificuldade em brincadeiras de “faz de conta” e/ou brincadeira social, dependendo da faixa etária. Comportamentos e interesses restritos e repetitivos; preocupação insistente com um ou mais padrões de comportamento e/ou interesses, com intensidade ou foco singular; assumem de forma inflexível rotinas ou rituais (têm “manias” ou se focalizam em um único assunto de interesse); maneirismos motores estereotipados; preocupação com partes de objetos, em vez do todo’’.

A Política Nacional de Proteção à Pessoa com Autismo, instituída através da Lei nº 12.764/2012, reconhece que, para efeitos legais, a pessoa com autismo é equiparada a pessoa com deficiência e terá os mesmos direitos e deveres. A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015) afirma em seu artigo 27 e no parágrafo único que:

“a educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegurados sistema educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e necessidades de aprendizagem. É dever do Estado, da família, da comunidade escolar e da sociedade assegurar educação de qualidade à pessoa com deficiência, colocando-a a salvo de toda forma de violência, negligência e discriminação.”

            Respeitando o cenário local, o perfil do estudante com TEA e o contexto inserido,  foi utilizado diversas estratégias para a inclusão escolar através do ensino híbrido.

Inclusão escolar e o Ensino Híbrido

A inclusão escolar é considerada um dos principais focos das políticas públicas de educação, porém não existiam políticas que tratassem de inclusão escolar  no ensino híbrido,  uma vez que a educação especial não atuava com essa metodologia. Porém, historicamente a educação buscou evoluções didáticas, mesmo não existindo hegemonia em correntes educacionais, e  infelizmente estruturalmente a maioria das escolas não têm acessibilidade. Essa diferença estrutural ficou ainda mais nítida no ano de 2020, quando precisou adequar para o ensino híbrido, mesmo as escolas particulares, que temos a ideia que ofertam mais recursos, precisaram de um tempo para se organizarem.

A educação precisou mergulhar mais do que nunca nos ensinamentos de Paulo Freire, que defendia uma educação emancipadora e motivadora em descobertas de coisas novas para todos os envolvidos, buscando sempre atingir uma melhor qualidade voltada para o processo de ensino-aprendizagem, acreditando no

 

“caráter evolutivo da realidade exige que a educação seja uma atividade contínua. À medida que a sociedade evolui, a educação movida pela práxis evolui também.” (TAVARES; RODRIGUES; VIANA, 2018, p.8)

 

Segundo Fonseca e Ciola (2014, p. 162), “falar em uma forma de ensino específica para pessoas com autismo é desentender o espectro como um continuum de manifestações e desconsiderar a variabilidade de sinais que acompanham o transtorno”. Destarde, é tão importante encontrar as estratégias que promovem acessibilidade e identificar dentro do perfil do aluno a mais adequada.

Cunha (2013) defende a ideia de que a aprendizagem é uma característica própria do ser humano. Acreditando nisso e também na ideia de que todo aluno aprende, reconhece-se que as diferenças residem apenas nas formas de aprender, que são variadas. A partir dessa óptica, trabalhamos na perspectiva de que é possível superar as dificuldades imposta pelo TEA e para isso classificamos dentro das dimensões da acessibilidade estratégias que promovessem a autonomia da pessoa com TEA no ensino híbrido. 

Orrú (2012, p. 168) afirma que “o educador necessita ser capacitado para que se conscientize (...) deste modo poderá sair de uma posição passiva no processo de ensino-aprendizagem”, respeitando o sujeito como ele precisa. Sob a luz desse pensamento durante a prática pedagógica no ensino híbrido foi percebido esse exercício diariamente por parte dos professores.

Rodrigues (2015) aponta que a dimensão social na singularidade deve ser considerada e que o processo de desenvolvimento da pessoa com TEA está diretamente ligado a estimulação, ao conhecimento do perfil individualizado, ao seu contexto socioeconômico e cultural e a um atendimento educacional especializado bem ajustado ao cotidiano da família. A essência do ensino híbrido na perspectiva combinada, misturada, personalizada tem como premissa observar cada ponto deste e elaborar propostas adequadas ao perfil do estudante.

A inclusão escolar no ensino híbrido foi um dos maiores desafios para os docentes da educação especial e para os familiares de pessoas com TEA. Os casos mais graves muitas vezes não se adaptaram a metodologia híbrida, tampouco a remota, já os casos moderados e leves alguns precisaram de estratégias de acessibilidade para conseguir vencer as barreiras.

O termo ensino “híbrido” significa “misturado”, ou seja, ocorre ora presencial ora remotamente com atividades síncronas e assíncrona, pode contar com tecnologias assistivas de baixa ou alta tecnologia. Ao se discutir sobre a educação híbrida, é importante ter a ideia de “não existe uma forma única de aprender e na qual a aprendizagem é um processo contínuo, que ocorre de diferentes formas, em diferentes espaços” (BACICH; NETO; TREVISAN, 2015, p.51). Também destaca-se que o ensino híbrido se configura como uma combinação metodológica, na qual os agentes (professores e alunos) têm um papel importante no processo de ensino-aprendizagem. O problema atual do ensino híbrido está na desigualdade de oportunidade e de acesso. Um problema estrutural do nosso país e muitas vezes essa falta de estrutura para implementá-lo reflete como se o problema fosse da metodologia.

Híbrido também é “a articulação de processos de ensino e aprendizagem mais formais com aqueles informais, de educação aberta e em rede” (BACICH; NETO; TREVISAN, 2015, p.29) e que com responsabilidades combinadas o estudante terá um aprendizado significativo.

            O ensino híbrido para crianças e adolescentes autistas precisa ser visto como um projeto de vida, olhando para o passado de cada estudante – sua história – para o contexto que está inserido e para o seu futuro (BACICH; NETO; TREVISAN, 2015, p.30). Acredita-se que a educação híbrida possibilitará que ao estudante com autismo tenham momentos individuais e coletivos, enriquecendo as aulas com metodologias ativas, como jogos, projetos, visitas técnicas, pesquisa online, aula invertida, entre outras.

            A prática de um ensino híbrido, com competências amplas e aprendizagens combinadas, “com foco em valores, projeto de vida, metodologias ativas, personalização e colaboração” (BACICH; NETO; TREVISAN, 2015, p.42) pode trazer grande contribuição para o desenvolvimento do estudante. Realizada a partir de um currículo flexível com tempo e espaços integrados, combinados presenciais e virtuais, individuais e em grupo, planejados personalizadamente para o processo de ensino-aprendizagem.

No ensino híbrido assim como no presencial a educação precisa de profissionais e familiares que tenham a visão que:

[...] os homens são seres que se superam, que vão à frente e olham para o futuro, seres para os quais a imobilidade representa uma ameaça fatal para os quais ver o passado não deve ser mais que um meio para compreender claramente quem são e o que são, a fim de construir o futuro com mais sabedoria. Ela se identifica, portanto, com o movimento que compromete os homens como seres conscientes de sua limitação, movimentos que é histórico e que tem o seu ponto de partida, o seu sujeito, o seu objeto (FREIRE,1980, p. 81-82).

 

No ensino híbrido existem atividades síncronas e assíncronas, na primeira o professor está desenvolvendo a atividade junto com a turma, seja no ambiente virtual ou presencial o professor está presente. Na segunda, o estudante realiza atividades sem a presença do professor e de acordo com sua disponibilidade de horário e condições do ambiente.

Estratégias de Acessibilidade para pessoas com TEA no ensino híbrido

Acessibilidade, é um termo no qual muitas pessoas remetem a rampas e placas táteis, no entando é um termo muito amplo e ainda pouco estudado sua aplicação para as pessoas com autismo. Seguindo o pensamento de Sassaki (2013) a acessibilidade é necessária para ter uma qualidade de vida e autonomia em diversos contextos e situações no cotidiano.

De acordo com as Leis 10.098 e 13.146 ela é definida como:

“possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida.”

 

A acessibilidade promove para a pessoa com deficiência, neste caso a pessoa com o TEA, autonomia e independência, gerando qualidade de vida para a pessoa com autismo e a todos que convivem com ela. Promover a acessibilidade no ensino híbrido para crianças e adolescentes com autismo envolve uma parceria entre a família e a escola, com responsabilidades compartilhadas entre professores, familiares e estudantes.

Sassaki (2013, p.15) estruturou a acessibilidade didaticamente em  dimensões, são elas:

“Arquitetônica (sem barreiras físicas); comunicacional (sem barreiras na comunicação entre pessoas); metodológica (sem barreiras nos métodos e técnicas utilizados nos sistemas sociais comuns); instrumental (sem barreiras de instrumentos, ferramentas, utensílios etc.); programática (sem barreiras embutidas em políticas públicas, legislações, normas etc.) e atitudinal (sem preconceitos, estereótipos, estigmas e discriminações nos comportamentos da sociedade para com as pessoas que têm deficiência).”

 

O mesmo autor durante a pandemia escreveu sobre a setima dimensão, a natural (relacionada a natureza) que neste artigo não trataremos devido a pesquisa estar pautadas nas seis dimensões anteriormente descritas por ele.

Para construção desse trabalho realizamos pesquisas bibliograficas sobre ensino híbrido, estratégias de inclusão escolar no ensino híbrido para pessoas com TEA e dimensões de acessibilidade para embassar o levantamento das ações necessárias para implantação de estratégias no ambiente de estudo. Com a necessidade de migração do ensino presencial para o ensino hídrido os estudantes com diagnóstico de TEA no nível leve e  moderado,  teve seu plano de desenvolvimento individualizado atualizado, com o objetivo de atender a nova metodologia. No plano, foi contemplando as dimensões da acessibilidade e como poderiam ocorrer as atividades síncronas e assíncronas. A aplicação dessas estratégias foram acompanhadas e monitoradas quanto à sua eficácia durante o ano letivo de 2020 a partir da prática pedagógica.

As estratégias estão organizadas por dimensão de acessibilidade e foram definidas respeitando o perfil de cada estudante e espaço domiciliar, o mais importante é que as crianças e adolescentes tivessem seu direito à educação sendo preservado.

As dimensões de acessibilidade para inclusão escolar no ensino híbrido de estudantes com TEA foram:

Programática: essa foi a primeira acessibilidade que utilizamos, devido o contexto foi necessário a atualização do Plano de Desenvolvimento Individualizado Escolar para o ensino híbrido (Figura 1), neste precisavamos definir como ocorreria a inclusão escolar a partir daquele momento; além de uma revisão nos projetos e programas da escola; foi alinhado o plano pedagógico ao decreto do governo estadual e a realidade do ensino híbrido.

Figura 1 – Plano de Desenvolvimento Individual Escolar – Ensino Híbrido

Fonte: Dados da pesquisa (2020).

Arquitetônica: ambiente organizado e estruturado, com o mínimo de estímulos concorrentes; mesa e cadeira apropriadas ao tamanho da criança e do adolescente, quando sentados precisam estar com os pés apoiados no chão e com postura adequada de forma que sinta conforto para o processo de atenção, concentração e aprendizagem (Figura 2e 3); ambiente sem pessoas transitando; ambiente previsível com agenda visual e com horário das disciplinas; iluminação indireta e com lâmpada morna, ou luz quente; ambiente limpo, organizado, com o mínimo de distratores e sons o mais neutralizado possível.

Figura 2 e 3 – Ambiente organizado de forma que o estudante se sinta confortável para aprendizagem

  

Fonte: Dados da pesquisa (2020).

Comunicacional: como no grupo pesquisado existiam estudantes verbais e não verbais usamos comunicações alternativas de alta ou baixa tecnologia para todos; pranchas de comunicação, avental, diário de rotinas escrito e com imagens; quadro branco imantado com letras coloridas; objetos em miniaturas; objetos concretos; cartões de comunicação agenda visual com foto dos professores e/ou das atividades (Figura 4); atividades pedagógicas livre de estímulos distratores, em letra bastão e objetiva; cronograma de aula colorido por disciplina; prancha de comunicação expresando como o estudante estava emocionalmente para começar a aula (Figura 5).

Figura 4 – Agenda Visual com fotos dos professores, nomes e matérias.

Fonte: Dados da pesquisa (2020).

Figura 5 – Prancha de comunicação expresando como o estudante estava emocionalmente para começar a aula.

Fonte: Dados da pesquisa (2020).

Metodológica: para atender essa dimensão de acessibilidade realizamos atividades síncronas, no qual tivemos momentos individuais online e/ou presencial e momentos em grupo online (Figura 6 e 7); atividades assíncronas com o suporte de Tecnologias Assistivas (TA - Recursos e Serviços) de alta ou baixa tecnologia e/ou recursos pedagógicos acessíveis (Figura 8); foi utilizado acomodações sensoriais para acalmar e reduzir as esteriotipias durante as aulas (Figura 9); utilizamos objetos de aprendizagens concretos; utilizamos diversas metodologias ativas.

Figura 6 e 7 – Atividade síncrona (em grupo ou individual)

 

Fonte: Dados da pesquisa (2020).

Figura 8 – Atividade assíncrona

Fonte: Dados da pesquisa (2020).

Figura 9 – Acomodações sensoriais para acalmar e reduzir as estereotipias durante as aulas

Fonte: Dados da pesquisa (2020).

Na acessibilidade Instrumental: elaboramos uma pasta com atividades de aprendizagens combinadas (Figuras 10 e 11), os cadernos tinham a foto do professor e a disciplina, essas imagens eram as mesmas utilizadas na agenda visual. (Figura 12), livros adaptados adequados ao perfil do estudante, histórias sociais,  materiais concretos durante a aula, tesoura adaptada, lápis triangular jumbo, lápis 8B, apontador transparente, agenda visual/rotina; objetos para acomodação sensorial; material estruturado e organizado; adaptador de lápis, protetor de ouvido, calculadora para matemática; plano inclinado para leitura; adequação do livro para material didático adaptado e as avaliações no perfil do aluno.

Figura 10 e 11– Pasta com atividades personalizadas

Fonte: Dados da pesquisa (2020).

Figura 12– Cadernos Adaptados  

Fonte: Dados da pesquisa (2020).

Na dimensão atitudinal, considerada uma das mais complexa das dimensões, pois depende muito da concepção ideologicas de cada indivíduo e sua forma de lidar com a empatia. houve realização de formações para os professores sobre: autismo, metodologias síncronas e assincronas, aprendizagens combinadas e tecnologias para o ensino remoto; também orientações como realizar atividades em sala de aula remota nas quais o estudante com TEA participassem ativamente; mediadores que, de forma empática, recebessem o estudante com autismo; fomentamos com campanhas de sensibilização o respeito as necessidades individuais e o não julgamento, ajudando a vencer as barreiras e acreditando no potencial humano; reuniões com a família no qual chamamos momento com a família, neste momento era orientado como poderia realizar as atividades assincronas.

A pandemia trouxe inumeros desafios e a prática pedagógica realizada na educação especial e na educação inclusiva precisou ser revista. Nesta revisão o Plano de Desenvolvimento Individualizado foi adequado a um ensino híbrido, sendo dividido em três momentos: o primeiro em atividades remotas sincrona em grupo, o segundo em atividade remotas síncrona individual e o terceiro atividades assincronas mediadas de forma presencial por algum membro da família ou em alguns casos mais específicos por um acompanhante terapeutico domiciliar.

Tivemos como dimensões da acessibilidade: arquitetônica, comunicacional, metodologica, instrumental, programática e atitudinal. Essa divisão possibilitou organizar cada estratégia de acordo com a necessidade do estudante e orientar as famílias como continuar o processo de ensino e aprendizagem respeitando o cenário local e a realidade de cada estudante.

Diante do exposto, a partir dos resultados da pesquisa realizada, chegamos à conclusão que as estratégias foram pensadas, programadas e aplicadas considerando a individualidade de cada estudante, tendo com premissas a acessibilidade e a inclusão escolar mesmo diante das dificuldades vivenciadas naquele momento.

As estratégias utilizadas não se esgotam nessa pesquisa e superar as barreiras da acessibilidade no ensino híbrido é um grande desafio para todos. As estratégias são definidas conforme o perfil de cada estudante e sabemos que cada um é único. Porém é importante sabermos das práticas pedagógicas utilizadas para inspiração no surgimentos de novas estratégias.

Agradeço a todas as crianças e adolescentes com autismo que atendo e aos meus colegas professores por acreditarem na inclusão. 

" ...antes tarde doque nunca não é!" (Frase muito utilizada por um jovem autista o RAFANTÁSTICO)

ALBUQUERQUE, A. C. P. F. C de; ANDRADE, F. M. C. Receitas de brincadeiras: a arte de desenvolver vários tons de azul! 1.ed. Recife: O AUTOR, 2015.

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais DSM-V. Porto Alegre: Artmed, 2014.

BACICH, Lilian; TANZI NETO, Adolfo; TREVISANI, Fernando de Mello. Ensino Híbrido: Personalização e tecnologia na educação [recurso eletônico] In: BACICH, Lilian; TANZI NETO, Adolfo; TREVISANI, Fernando de Mello (orgs.). Porto Alegre: Penso, 2015. E-PUB

BRASIL. LEI Nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. Brasília, 2000. Disponível http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l10098.htm Acessado em: 10 de jan. 2020.

______. LEI Nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012. Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. Brasília, 2012. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12764.htm. Acesso em: 19 de jan. 2020.

______. LEI Nº 13.146, de 06 de julho de 2015. Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Brasília, 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm#art112htm. Acesso em: 19 de jan. 2020.

______.Lei nº 13.979/2020 diário oficial da união publicado em: 07/02/2020 | edição: 27 | seção: 1 | página: 1 órgão: atos do poder legislativo lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020. https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/lei-n-13.979-de-6-de-fevereiro-de-2020-242078735. Acessado em 11 de agosto de 2021

CAVALCANTI, H. H. C. de A. ENSINO REMOTO: uma possibilidade de como e o que ensinar - CAPÍTULO 4 – Reflexões e desafios das novas práticas docentes em tempos de pandemia [recurso eletrônico] / Organizadoras: Janine Marta Coelho Rodrigues, Priscila Morgana Galdino dos Santos. - João Pessoa: Editora do CCTA, 2020.

CENTER FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. Changes in prevalence of parent-reported autism spectrum disorder in school-aged U.S. children: 2007 to 2011-2012. National Health Statistics Reports, 2013. Disponível em: http://www.cdc.gov/spanish/meiosdecomunicacion/comunicadosp_transtorno_espect ro_autista_0327.html. Acesso em: 12.08.2021.

CUNHA, E. Autismo na escola: um  jeito diferente de aprender, um jeito diferente de ensinar – ideias e práticas pedagógicas. Rio de Janeiro: Wak editora, 2013.

FONSECA, M. E. G.; CIOLA, J de C. B. Vejo e Aprendo: fundamentos do programa TEACCH. O ensino estruturado para pessoas com autismo. 1 ed. Riberão Preto: Book Toy, 2014.

FREIRE, Paulo. Conscientização teoria e prática da libertação: uma Introdução ao Pensamento de Paulo Freire. 3 ed. São Paulo: Moraes, 1980.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 52 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2015.

FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005, 42.ª edição.

Portaria nº 343/2020 - diário oficial da união publicado em: 18/03/2020 | edição: 53 | seção: 1 | página: 39 órgão: ministério da educação/gabinete do ministro portaria nº 343, de 17 de março de 2020. https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-343-de-17-de-marco-de-2020-248564376.  Acessado em 11 de agosto de 2021

GADIA, C. A.; TUCHMAN, R.; ROTTA, N. T. Autismo e doenças invasivas de desenvolvimento. J. Pediatra. Rio de Janeiro, v. 80, n. 2, p. 83-94, 2004. Disponível em: Acesso em: 19 de jan. de 2020.

GOLDSTEIN, A. O Autismo sob o olhar da terapia ocupacional: um guia de orientação para pais. São Paulo: Casa do Novo Autor, 2009.

OLIVEIRA, J. B. A.; GOMES, M.; BARCELLOS, T. - A Covid-19 e a volta às aulas: ouvindo as evidências. Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.28, n.108, p. 555-578, jul./set. 2020

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE [OMS] CID-10 Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.

ORRÚ, S. E. Autismo, linguagem e educação: interação social no cotidiano escolar. 3 ed.Rio de janeiro: Walk Ed, 2012.

RODRIGUES, J.M.C; SANTOS, P.M.G. Reflexões e desafios das novas práticas docentes em tempos de pandemia [recurso eletrônico] / Organizadoras: Janine Marta Coelho Rodrigues, Priscila Morgana Galdino dos Santos. - João Pessoa: Editora do CCTA, 2020.

RODRIGUES, J. M. C; GEGLIO, P. C. (Org s.). Contribuição das Ideias de Educadores Brasileiros para a Formação Docente. João Pessoa: Editora do CCTA, 2016.

RODRIGUES, J. M. C; Spencer, E. A criança autista: um estudo psicopedagogico. 2 ed Rio de Janeiro: Wak editora, 2015.

SASSAKI, R. K. Inclusão: acessibilidade no lazer, trabalho e educação. Revista Nacional de Reabilitação (Reação), São Paulo, Ano XII, mar./abr. 2009, p. 10-16.

SASSAKI, R. K. Inclusão: Construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: Editora WVA, 2013.

SCHWARTZMAN, J. S.; ARAUJO, C. A. Transtorno do Espectro Autista – TEA. São Paulo: Ed. Memmon, 2011.

UNESCO. COVID-19 impact on education. Disponível em: https://en.unesco. org/covid19/educationresponse. Acesso em: 11 de agosto de 2021.

VENDRAMIN, C. Repensando mitos contemporâneos: o capacitismo. Anais do III Simpósio internacional repensando mitos contemporâneos. Unicamp: Campinas, SP. https://www.publionline.iar.unicamp.br/index.php/simpac/article/view/4389/4393. 2019. Acesso em 15.01.2021

Encontrou algo a ajustar?

Ajude-nos a melhorar este registro. Você pode enviar uma correção de metadados, errata ou versão atualizada.