O artigo a seguir almeja mapear alguns dos principais grupos Think Tanks e compreender as origens da reestruturação do campo conservador/reacionário no Brasil, ao mesmo tempo em que, compreende como a ideia de crise da democracia representativa/liberal facilitou, através da ideia de crise das instituições, essa ascensão. Os Think Tanks surgiram nos Estados Unidos no século XX, com o objetivo de produzir pesquisas científicas que pretediam utilizar para o planejamento de políticas públicas de caráter imparcial, a exemplo o New Deal. Já no Brasil surgem na década de 1980 instituições ligadas à elite brasileira, para entender o desenvolvimento da nova direita brasileira, foram realizadas leituras acerca do surgimento dos Think Tanks neoliberais e sua ascensão no Brasil, com o intuito de compreender como eles influenciaram no fortalecimento da nova direita brasileira e repercutiram sobre a sociedade em abordagens embasadas nos preceitos defendidos pelos neoliberais, como diminuição/ reconfiguração do papel do Estado, defesa da liberdade de escolha, indivíduos essencialmente individualizados, livre mercado, defesa de educação e saúde privatizada.
Foram feitas análise no site de dois Think Tanks o Instituto Von Mises Brasil (IMB) e o Instituto Liberal[1] (IL) em que foram feitas análises acerca de seus posicionamentos sobre a Aliança Bolsonaristas. Além disso, foram feitos mapeamentos da história e também os seus principais autores e referencias, com intuito de compreender as discussões que cercam o tema, e que demonstram a forma como suas ideologias são expostas na sociedade.
A importância desse trabalho está vinculada a compreensão de um tema que está disposto na atualidade e na maneira como os termos direita e esquerda[2] são utilizados constantemente na sociedade, mesmo que, muitos dos que os utilizam não detenham conhecimento sobre eles. Com essa pesquisa temos a preocupação de desmitificar a visão de uma parcela da sociedade, ao mostrar que direita e esquerda são conjuntos homogêneos, e mostrar com isso que existem muitas direitas como a conservadora, a religiosa e a reacionária, e que na reconfiguração de uma direita tradicional para uma nova direita, que apesar de obter um termo “novo”, ainda mantém muitas ideias da velha direita.
Expor a influência que os Think Tanks têm sobre o pensamento da sociedade, com a utilização dos meios mediáticos para a disseminação de informações a todo momento, onde muitas vezes os indivíduos não conseguem distinguir a informação verídica da falsa, e acabam perdendo o senso de criticidade, e como consequência elevando a individualidade e abraçando a ideia de meritocracia. Ao mesmo tempo para trazer reflexões acerca da eleição de um presidente autoritário e polêmico, foi feita uma análise para compreender o que fez a sociedade elegê-lo. E constantemente ser apontado como defensor de ideias preconceituosas por afirmar valores homofóbicos, racistas, defender a ditadura militar, o porte de armas de fogo, etc. Assim, se busca mostrar qual foi o papel desses Think Tanks para sua candidatura e chegada à presidência.
A metodologia desenvolvida nesse trabalho foi realizada em etapas, no primeiro momento foi feita uma análise teórica acerca do surgimento dos Think Tanks neoliberais tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil e quais são suas influências na nova direita brasileira, posteriormente como os mesmos repercutem na sociedade.
No segundo momento o trabalho aprofunda leituras e notícias específicas sobre Guerra Cultural, Aliança Bolsonarista, sobre o Instituto Von Mises Brasil e o Instituto liberal, mapeando a história, a trajetória de seus principais membros e seus posicionamentos sobre a conjuntura política atual conservadora/reacionária que governa o país.
Em um terceiro momento se constata as possíveis contradições entre as ideias defendidas pelos atores no campo teórico e a sua reação frente à prática aplicada pelo governo. Para isso, será feita análises de conteúdo com a utilização de um instrumento de auxílio a partir do programa Iramuteq, que corresponde a um software de analise textual que auxiliará no tratamento de dados produzidos pela pesquisa.
Diante do presente estudo propõe-se a realização da análise de conteúdo com o intuito de investigar profundamente os conteúdos publicados nos sites dos referidos Think Tanks neoliberais brasileiros denominados de Instituto Liberal e o Instituto Mises Brasil. Para isso textos foram coletados e analisados, com intuito de compreender o posicionamento desses sites frente à Aliança Bolsonarista e entender sua repercussão na realidade estudada.
[1] Para Casemiro (2016) esses Think Tanks neoliberais também podem ser denominados de aparelhos privados de hegemonia.
[2] Refere-se ao possicionamento político.
CRESCIMENTO DO NEOLIBERALISMO
Os processos que difundiram a adoção do neoliberalismo como política/ideologia na forma de gerir o Estado eclodiram na década de 1970/80, período de ascensão da crise estrutural do capitalismo. As transformações provocadas pela crise geraram uma nova forma de pensar o Estado que até então era pensado a partir das ideias Keynesianas. Com a nova configuração do modo de regulamentação da sociedade, o Estado também foi repensado, agora com cunho neoliberal.
Com a crise de 1973[1], sobretudo nos EUA, precisava desenvolver estratégias para combater e reverter os seus efeitos, nessa perspectiva tem-se a adoção da doutrina neoliberal, o que significou a diminuição da ação do Estado para as questões sociais, aumento das ações voltadas para economia a fim de aprovar medidas que favoreçam a liberalização do mercado.
Para Hayek (2010) o neoliberalismo é um desdobramento do liberalismo, não pode se afirmar que existe uma continuidade entre os dois, há existência de uma continuidade apenas em uma defesa de um Estado mínimo, mercado privilegiado e a noção antropológica do indivíduo, no qual possuí diferença em sua constituição e suas ideologias, pois o neoliberalismo defende a existência de uma sociedade desigual, contudo, para eles, essa seria a única forma de se obter a liberdade e riqueza. A partir dos utilitaristas Benthan e Mill a desigualdade passou a ser vista como algo positivo, pois eles entendiam que para se obtiver bem estar para um maior número de pessoas pode-se sacrificar a felicidade de um menor número de pessoas. A partir dessas concepções, alicerçadas na noção de liberdade, o indivíduo se torna responsável pelo seu bem estar e felicidade, portanto os resultados na economia adviriam da competição.
As escolas que impulsionaram o desenvolvimento das ideias neoliberais são: a Escola Austríaca de Economia, a Escola de Chicago, a Escola de Virgínia e Libertarianismo que possui vertentes distintas e apesar de existir disputas entre elas, as mesmas participam da Sociedade Mont Pèlerin e seus representantes já ocuparam cargos na sociedade.
As ideias que se desenvolviam acerca do neoliberalismo não foram implantadas tão facilmente, a crise de 1970 possibilitou que esses ideais fossem adotados como possível saída do estagflação, representando um projeto político que alavancou a taxa de acumulação do capital e restabelecimento do poder da classe dominante na economia.
As primeiras experiências com os governos neoliberais ocorreram por meio de ditaduras, a exemplo a ditadura de Pinochet no Chile e posteriormente em democracias consolidadas, como no caso dos Estados Unidos.
O neoliberalismo defende o Estado mínimo para a sociedade e o Estado máximo para promover o livre-mercado, o mesmo é caracterizado por possuir uma nova roupagem em sua constituição e disseminação de seus ideais que não são coesos, que representa controvérsias. Com destaque para o discurso de que para a existência de um desenvolvimento econômico é necessário à existência da desigualdade, com exposição de interesses que impulsiona a competitividade, ou seja, um ponto positivo na economia, porém as consequências na sociedade são drásticas, porque acarreta em aumento da miséria, expõem uma falsa liberdade que desfavorece o trabalhador e que não há presença de ideais democráticos.
Os neoliberais disseminam a ideia do indivíduo livre que possui controle do seu trabalho, ou seja, uma autonomia que leva a individualização e fomenta a ideia do empreendedorismo como modelo ideal que favorece todas as classes. Nesse contexto, o trabalhador é posto como um possível pequeno empresário que tem toda a responsabilidade pelo seu sucesso ou fracasso ao empreender.
Essa ideologia neoliberal vai se introduzindo na sociedade, que, por sua vez, começa a acreditar na ideia de uma liberdade individual como forma de possuir dignidade humana. A mesma é internalizada tanto na sociedade quanto nos governos, elevando a individualidade, competitividade e ideia de meritocracia.
A Nova Direita é embasada nos preceitos fundamentais da direita tradicional, a mesma colocada ideologicamente com uma nova roupagem:
A nova direita na América Latina e a uma postura política que conserva elementos da velha direita: o capitalismo como modelo econômico e preceitos morais tradicionais; entretanto, essa direita ideologicamente renovada reconhece e aceita as vantagens políticas das políticas sociais implementadas pela esquerda na região, ao mesmo tempo em que procura se desvincular da memória dos regimes ditatoriais militares apoiados pelos partidos da velha direita. (CODATO; BOLOGNESI; ROEDER, 2015. p. 121).
A nova direita diferencia-se da direita tradicional no quesito de que essa última preza pela manutenção do status quo. E distingue-se da esquerda tradicional visto que essa tem igualitarismo como ideal humano, portanto a nova direita preserva as suas bases tradicionais, mantendo as desigualdades sociais, defendendo o liberalismo do mercado, mas estabelece uma falsa igualdade de oportunidades.
A direita tradicional pode ser classificada em três estamentos: possui relação com as ditaduras militares; defende a diminuição da ação do Estado na economia; defesa da moral cívica e da família tradicional. Já a nova direita que surgiu em oposição à velha direita e à esquerda, defende o liberalismo econômico, no entanto controlado pelo Estado de forma que garanta a igualdade de oportunidades; defende a democracia e radialmente os valores da família tradicional.
A nova direita é constituída majoritariamente por lideranças religiosas e comunicadores, observa-se que o perfil dos que compõem a nova direita se diferencia da velha direita, pois exclui a classe que tradicionalmente ocupa os cargos políticos, como os fazendeiros, advogados, empresários, médicos, etc. As ocupações dos candidatos são ligadas a área urbana, com apelo da população e com alta visibilidade com os eleitores de bases conservadoras neopentecostal.
Essa configuração fica evidente pelo perfil dos grupos presentes no parlamento, que pode ser classificado em três grupos relativamente coesos, mas que defendem seus interesses próprios, estes são:
Em primeiro lugar, uma bancada empresarial; expressiva em termos numéricos, defensora do liberalismo econômico e de medidas de redução da presença do Estado na economia; em segundo, uma bancada composta por religiosos conservadores, principalmente evangélicos, mas também apoiado por uma forte presença de lideranças católicas. Estes defendem os chamados direitos da família e a moralização dos costumes, contrapondo-se principalmente a políticas dos defensores dos direitos homossexuais, bem como a direitos reprodutivos e a legalização do aborto. Um terceiro grupo, por fim, se concentra em torno das chamadas questões securitárias, defendendo a redução da maioridade penal e da revogação do Estatuto do Desarmamento. (FAGANELLO, 2015 p.146-147).
Estas são conhecidas como Bancada do boi, da bíblia e da bala. Esta última é composta principalmente por ex-policiais, ex-militares e entre outros, que defendem a repressão, incentiva a violência, aliados as indústrias armamentistas, discurso por sua vez defendido pelo presidente Jair Bolsonaro. No qual possui representatividade em todas as esferas do poder formando uma rede de aliados que facilita a aprovação de medidas que os beneficia.
A direita assume um caráter conservador com alta presença de representantes evangélicos, que no fim do século XIX lutava para a separação do Estado e a Igreja, agora igrejas pentecostais ocupam espaço na política, introduzindo a moral e os bons costumes em prol da vida e da família, indo de encontro com as ideias dos movimentos de esquerda, como movimentos feministas, antirracista, anti-homofóbico.
De acordo com Rocha (2018) no Brasil o sucesso dos governos de Lula, fez com que boa parte da sociedade não se sentisse representada, considerando a diminuição a oposição nas instituições públicas, formando-se os contra-públicos digitais. A nova direita ganhou força em detrimento de diversos escândalos de corrupção, se materializando de fato a partir do primeiro protesto pro impeachment de Lula.
Os desdobramentos do escândalo do mensalão foi o cenário em que se formou o primeiro movimento da nova direita em 2006, o Movimento Endireita Brasil, composto principalmente pode jovens advogados de direita para promover a tentativa do impeachment de Lula.
O fracasso do impeachment de Lula provocou um recuo nos participantes do Movimento Endireita Brasil, que se voltou para a utilização dos meios midiáticos, onde estariam protegidos e conseguiram se manter no anonimato, criaram fóruns, blogs, site, comunidades no Orkut onde poderiam livremente expressar suas ideias ultraliberais, muitas vezes com discursos agressivas e cáustico com palavrões como, por exemplo, as comunidades que se apresenta favorável as falas e textos de Olavo de Carvalho, que possuem caráter pró-mercado.
Não representados pelas comunidades e organizações existentes, alguns membros do contra-público, reuniram-se para formar novas organizações que os representassem. Dentre esses membros, Hélio Beltrão Jr, expressa ser necessário conquistar mentes e corações, desvinculando-se parcialmente de debates complexos, exaustivos, para a simples explicação de que o livre mercado é a melhor solução para os problemas do país, dessa forma agregar pessoas pela fácil compressão da linguagem. O mesmo criou uma comunidade chamada Liberalismo (verdadeiro), com o propósito de reunir pessoas para criar um Think Tanks. Após um ano da criação dessa comunidade, em 2007, Beltrão funda uma Think Tanks ultraliberal, o Instituto Mises Brasil.
A formulação da nova direita brasileira no mercado editorial, em revistas, jornais reconhecidos e em programas de televisão, bem como artistas e humoristas utilizam desses programas para fazer críticas constantes ao PT e a esquerda que deixava em evidência o fenômeno cultural do “politicamente incorreto” com influência da crise do lulismo. Nessa perspectiva, esses protestos influenciaram na consolidação da nova direita com a participação direta dos contra-públicos digitais que disseminaram discursos que estimulavam o ódio ao PT e ao Governo de Dilma através dos discursos contra a anticorrupção e do antipetismo.
THINK TANKS.
Segundo Rocha (2018) Casimiro (2016) e Friderichs (2019) os Think Tanks foram criados especificamente para se dedicar a divulgação de ideias para a maior parte da sociedade, com grupos específicos de divulgação com base em interesses específicos, alguns dos TTs são responsáveis pela promoção da direita, no qual divulgam e disseminam suas ideologias, e com a variabilidade de direitas existentes, ou seja, diversidade de posições conservadoras, liberais e autoritárias, estão aptos a mudanças constantemente ao logo dos tempos.
Cada vez que consegue defensores de seus ideais torna as direitas brasileiras fortes e as recolocam constantemente em evolução, suas ideologias crescem cada vez mais rápidas na sociedade. Com tudo isso, percebe-se que o desenvolvimento da direita brasileira se deu com o auxílio da divulgação dos TTs.
Os Think Tanks são anteriores ao neoliberalismo, no entanto, não possuíam a mesma função. Dessa forma, podemos destacar três fases que culminaram na definição de TTs.
Originou-se nos Estados Unidos no início do século XX, almejavam produzir pesquisas cientificas que auxiliassem na criação e planejamento de políticas públicas de caráter imparcial, por exemplo, o New Deal. O segundo momento se desenvolveu a partir da Segunda Guerra Mundial com o objetivo de desenvolver estratégias de defesa da segurança do país, levando em conta a conjuntura do período, compreendendo as mudanças que estavam ocorrendo. O terceiro momento surgiu nos anos de 1970, com o abandono da ideia de neutralidade, que fez compreender o mercado de ideias, sua influência para a política e para a formulação de ideias que se infiltram no Estado e influenciam a tomada de decisões.
Os TTs são instituições que disseminam informações e conhecimentos na sociedade, que segundo Camila Rocha,
podem ser definidos de modo mais genérico como instituições permanentes de pesquisa e análise de políticas públicas que atuam a partir da sociedade civil, procurando informar e influenciar tanto instancias governamentais como a opinião pública no que tange a adoção de determinadas políticas públicas. (ROCHA, 2015, p. 262).
De acordo com Casimiro (2016), os aparelhos privados de hegemonia são instituições também tituladas de Think Tanks que buscam levar em consideração apenas seus interesses mostrando as sociedades que se importam com os problemas existentes, porém, se manifestam com base em interesses específicos, recebem doações econômicas tanto de pessoas físicas quanto de empresas que condicionam suas doações a defesa de seus ideais. Essas instituições podem ser classificadas como, Academic (or universities without students)[2]; contract researchers[3]; advocacy tanks[4]/ de defesa de interesses; party think tanks[5].
O neoliberalismo possui uma ligação com vários Think Tanks que estão interligados com intelectuais e especialistas que buscam disseminar suas ideologias de forma coesa e que mantêm suas posições ideológicas presentes no mundo. Os institutos funcionam como uma teia transacional de Think Tanks que são interligados desde os pequenos aos grandes lugares. Nesse sentido, semeiam informações sobre as questões políticas e econômicas dos diferentes países onde estão instalados, essas mesmas instituições que estão no centro da rede dos TTs, também financiam novos institutos, pesquisas e organizam encontros de intelectuais de forma a espalhar as ideias neoliberais. As ligações entre as redes de todos os continentes favorecem para que essas instituições promovam as ideias de direitas neoliberais.
Os Think Tanks do Brasil são mantidos por financiamentos que visam elevar a legitimidade na defesa dos ideais neoliberais, nesse sentido, buscam a união de adeptos, uma conexão e afinidades de direitos e obrigações entre os que acreditam nessas ideologias, as mesmas moldam o pensar e a forma de enxergar dos seres humanos e suas visões do mundo social, influenciando suas direções.
O fenômeno do TTs no Brasil cresceu significativamente na década de 1980, com a criação de institutos ligados principalmente a elite brasileira, alcançando 17 novos institutos apenas nessa década, destaca-se o Instituto Liberal e o Instituto de Estudos Empresariais. Esse crescimento é expressivo quando se observa que entre as décadas de 40 a 70 existiam apenas 18 institutos dentre eles, a Fundação Getúlio Vargas de 1944, o Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais, entre outros.
De acordo com Casimiro (2011), a força da manipulação do pensamento é algo indescritível, pois a classe dominante detém esse poder contra a sociedade, eles utilizam dos meios de comunicação ao seu favor para conseguir adeptos de sua opinião, já que a direita brasileira possui um grande poder sobre a população, irão sempre utilizar o convencimento como uma forma de expor suas ditas verdades, ou seja, os Think Tanks.
Os Think Tanks neoliberais trazem o discurso de autonomia e independência, no qual o trabalhador se imbui da ilusão da possibilidade de escolha para se chegar a uma melhor condição de vida, influenciando e legitimando o discurso de empreendedorismo a ideia de construção de uma empresa e horários próprios para seu trabalho, uma ilusão de liberdade.
Para demonstrar o funcionamento desses TTs, será análisado o Instituto Liberal (IL) e o Instituto Von Mises Brasil (IMB), partindo do seu processo de formação até suas formas de atuação na política brasileira, e como suas ideologias são expostas na sociedade.
INSTITUTO LIBERAL
O Instituto Liberal foi criado no ano de 1983 no Rio de janeiro e tinha como base divulgar as ideias neoliberais, tanto para os empresários quanto para a sociedade brasileira. Esse instituto utilizava tanto de publicações em livros, matérias didáticos e estava sempre presente em eventos para consolidar e atingir o máximo de público para a defesa de suas ideologias e com isso foi disseminado para outros Estados como, por exemplo, São Paulo, Brasília, Salvador, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte e Recife que passaram a possuir sedes que ao longo do tempo passaram a desenvolver funções distintas e autônomas que, ao mesmo tempo, mantem os ideais e visão de mundo exposta pelo Instituto Liberal do Rio de Janeiro.
O Instituto Liberal se manifesta como influenciador e construtor de ideias educativas e culturais, na defesa de direitos individuais e com limitação e representativo. Os mesmos se intitulam de instituições sem fins lucrativos e sem defesa partidária. Para Gros (2003, p. 14) “a ação dos institutos Liberais é dirigida aos segmentos dominantes da sociedade, para a divulgação do liberalismo, e aos políticos, para promover as suas propostas de políticas públicas".
Os institutos são mantidos por patrocinadores, no qual são bem dispostos na tese de Gros (2003) e Casimiro (2011) que expõe uma lista em 1993 com mais de 200 empresas que são responsáveis pelo financiamento dos Institutos Liberais, destaque para Globo, Votorantim, Ipiranga, Banco do Noroeste, Banco de Boston, Bradesco, Vasp, Carrefour, Nestlé, Unibanco e entre outras.
De acordo com Gros (2003), o Instituto Liberal possuía a ideia de uma construção de uma sociedade com princípios do livre mercado e a existência de um bom funcionamento com o Estado de Direito. Para que a disseminação de ideias fosse efetiva foram elaborados distintos eventos para expor as suas ideologias, como conferências, seminários e cursos em todo país em busca de um público de confiabilidade e que possa expor e formular suas opiniões como políticos, jornalistas, militares, professores universitários, empresários e outros intelectuais. Como se percebe os eventos possuíam um público alvo específico.
Nesse sentido, esse Think Tanks possui influência sobre a sociedade, pois impõe ideais que passam a ser defendidas por grande parte da população. Como exemplo disso, destaca-se a substituição da educação pública pela privada como solução para educação brasileira. Sobre esse tema, eles expõem que os pais poderiam escolher em qual escola seus filhos irão estudar, enaltecendo a ideia de liberdade de escolha para preferências individuas dos estudantes, com isso, dentro dessa lógica, a melhor alternativa seria um sistema educacional concorrencial. Para o Instituto Liberal, o Estado é um mau administrador de seus recursos e isso se expressa no sistema educativo e com isso o IL expõe que o Estado deveria apenas fornecer recursos e não prestar serviços, pois, deveria apenas fornecer vales educativos acredita-se que assim garantirá uma qualidade de ensino e que a competição entre as unidades escolares seria algo positivo e produtivo.
De acordo com Casimiro (2016) o Instituto Liberal é um aparelho privado de hegemonia de difusão do liberalismo no Brasil desde a década de 1980:
O IL não pode ser compreendido apenas como uma instituição de difusão de "ideias liberais”, mas sim, como córtex político, organizando mecanismos de ação política, formando novos quadros, realizando articulações intra-classe, assim como, desenvolvendo objetivos tático-operacionais. (CASIMIRO, 2016, p. 238 -239).
São expostas motivações para a criação de uma instituição de caráter liberal, de acordo Casimiro (2016), partiu da ideia de uma dificuldade de acesso a literatura liberal no Brasil isso inclui também os espaços acadêmicos e com influência de todas as conjunturas políticas e econômicas da década de 80. Uns dos fundadores do IL foi Donald Stewart Jr, que também argumentava sobre a dificuldade de encontrar referencial teórico sobre o liberalismo no Brasil.
Para que a instituição obtivesse sucesso criou-se uma proposta de organização, com liberdade para as pessoas que estivessem dispostas a participar, porém deveriam seguir os princípios, podendo fundar outros institutos filiados ao IL em outros estados. Com isso emerge a ideia de criação de IL em outras regiões como forma interligação entre os institutos em todo Brasil.
A descentralização das atividades do Instituto poderia representar maior flexibilidade de ação e ampliação das formas de captação de recursos; entretanto, por outro lado, trazia o risco de desviar dos objetivos do projeto e desarticular seu posicionamento ideológico. (CASIMIRO, 2016, p. 245).
Na década de 90 ocorreu o auge dos Institutos Liberais e logo após o IL incorporou uma nova estratégia de ação que foi importante para a reconfiguração do Estado, sendo denominado de série notas que está interligado ao um projeto maior que foi desenvolvido nos países latinos americanos, intitulado de Programa de Assessoria Legislativa para América Latina, esse projeto foi elaborado pela instituição dos Estados Unidos denominada de Center for International Private Enterprise (CIPE), com vínculos com ao Fundo Nacional para a Democracia (National Endowment for Democracy - NED), era sustentado por recursos do governo, responsável pela construção de canais fundamentais para a atuação e intervenção dos EUA.
Com base em seus interesses o qual busca a viabilidade e reformulação institucional do Estado que estão alicerçados na defesa da economia do mercado e da propriedade privada, tendo como acesso direto as influenciando nas decisões políticas da sociedade.
De acordo com Denise Gros (2002) o IL defende que os problemas como a situação de pobreza e a desigualdade social que existe no país estão vinculados a observância dos princípios, sobretudo a interferência do Estado na vida econômica é a causa principal dos problemas existentes e não ao sistema econômico que se desenvolve e ao mesmo tempo em que gera miséria.
INSTITUTO VON MISES BRASIL
De acordo com Casimiro (2016) o Instituto Von Mises Brasil (IMB) foi criado com bases ideológicas da Escola Austríaca de Economia em 2009 por uns dos participantes do grupo Ultra, Hélio Beltrão e foi apresentado publicamente aos círculos liberais brasileiros no XXIII fórum da liberdade que foi realizado no ano de 2010, com o tema: “Seis temas para entender o mundo”.
A ortodoxia austríaca clássica possui bandeiras como a defesa da diminuição do papel do Estado, livre concorrência, economia de mercado e nas mais variadas formas de representação da vida social a defesa constante do direito à propriedade privada. Já o Instituto Von Mises Brasil depõe de uma proposta principal como base para sua atuação a produção embasada nas ideologias propostas pelo neoliberalismo teorizados, principalmente, por Ludwig Von Mises, Friedrich Hayek e Murray N. Rothbard . O IMB traz a clássica frase de Rothbard em seus meios eletrônicos como forma de desejar boas-vindas aos seus seguidores: “no livre mercado, todos ganham de acordo com o valor que sua produtividade tem em satisfazer os desejos dos consumidores. Sob a distribuição estatal todos ganham de acordo como quanto podem roubar dos produtores”.
Com isso, o IMB expõe sua atuação em base austríaca no intelecto coletivo do pensamento ultraliberal e com presença de grupos conservadores, que coloca toda a estrutura do Estado e em seus direitos conquistados e garantidos por ele e o coloca como o entrave para a obtenção da prosperidade material e a sua visão de concepção de liberdade.
Na visão do Instituto, a sociedade civil para ser livre necessita alcançar o respeito a partir da obtenção a propriedade privada, que os indivíduos façam trocas de forma voluntária, sem interferências governamentais e a ordem natural entre os mercados, assim esperam que suas ações influenciem uma boa parte da população e os meios acadêmicos para que aceitem e sigam os seus ideais.
A ideologia do IMB é pautada em distintos temas como, político, social e econômico. Em que busca a ideia de um:
... Estado “mínimo” e, consequentemente, a economia de mercado, com condição necessária para o exercício pleno da democracia e liberdade entre os indivíduos consumidores, da própria natureza humana é essencialmente individualista” (CASIMIRO, 2016, p. 333).
Nesse contexto, Estado neoliberal, na década de 80 e 90 tem uma ascensão internacionalmente como um movimento ideológico e como uma forma de projeto de governo e de sociedade, no qual é exposto como única forma de desenvolvimento para os países, com pequena atuação do Estado para as questões sociais e grande atuação para o capital segundo a cartilha de orientações de instituições internacionais como o FMI e Banco Mundial.
Das políticas neoliberais, levam apenas em consideração seus interesses específicos, no entanto, apresenta na sociedade que importar-se com os problemas sociais existentes, porém, irá se manifestar com base em suas ideologias. Essa ideologia possui uma grande força de manipulação do pensamento da sociedade, pois a classe dominante detém esse poder de controlar a sociedade, utilizam dos meios de comunicação ao seu favor para conseguir adeptos de sua opinião, irão criar estruturas e interpretações alienantes de modo que o oprimido passa a defender e reporduzir seus discursos.
Instituto dissemina o discurso ortodoxo neoliberal que busca a diminuição do Estado, ou seja, uma reconfiguração do papel Estado e a diminuição da carga tributária, como estratégia da utilização dos direitos da sociedade como forma de transformar em mercadorias negociáveis, com a distribuição dos direitos conquistados arduamente disseminando a ideia de empregabilidade própria.
Assim a precarização do trabalho seria uma forma de dominação da sociedade, o instituto defende o processo de privatização no Brasil a exemplo da educação e saúde, no site são publicadas colocações acerca da educação e saúde. Com isso coloca-se o homem em uma perspectiva de liberdade individual na medida em que tudo se baseia nos preços de serem livres e que toda a realidade social responde juntamente a essa lógica do mercado. Nesse sentido os preços se tornariam livres e, como consequência, tudo seria transformado em mercadoria, necessariamente comercializada e condizentes as leis do mercado.
Nesse sentido, percebe-se a defesa inconstante do IMB as privatizações das escolas e universidades públicas brasileiras, com intuito de transformá-la em uma mercadoria, ou seja, um bem negociável. Os argumentos apontados para a transformação da educação em uma mercadoria é que os conteúdos de uma determinada competência poderiam ser livres para serem ofertados por qualquer um que considerasse que eles seriam necessários em um determinado momento, de maneira que, se os interessados adquirissem esse conteúdo escolheriam pagar o preço que fosse estipulado isso de forma livre, pois o intuito é a escolha e a liberdade individual.
É nessa concepção idealizada pelo IMB de uma sociedade meritocrática e individualista que os liberais-conservadores buscam ressignificar a noção de cidadania, com intuito de “revalorizar” o indivíduo enquanto proprietário em uma perspectiva neoliberal, ou seja, existe o modelo de homem neoliberal, um cidadão tanto consumidor quanto privatizado. A força da ideologia neoliberal sobre a sociedade e constante e exclusiva, pois impõe quem é vencedor é perdedor.
ALIANÇA BOLSONARISTA
Na política, percebe-se o aumento do discurso de ódio que é sustentado pelos defensores do Bolsonarismo que consequentemente tem gerado violências tanto simbólicas quanto fáticas, em alguns casos pode levar a situações expostos como fascistas.
Bolsonaro juntamente com a nova direita brasileira possui uma grande força nos meios midiáticos que são utilizadas como forma de manipulação e relativização dos conceitos do que seria ou não verdade, com isso, cabe a questionar como um candidato de ultradireita e com defesa de ideais antidemocráticos consegue resultar na manipulação e formulação de um fenômeno denominado de Bolsonarismo, que possui a relativização da verdade como ponto crucial para sua consolidação. A manipulação das informações possui força sobre a população que está na busca de verdades e já estão constantemente decepcionadas com a política brasileira e como consequência a exposição dessas notícias nos meios mediáticos, demoniza os opositores, causa principal para o sucesso do Bolsonarismo.
Bolsonaro obteve uma vitória meteórica nas eleições do ano de 2018, o seu governo renega as intermediações democráticas e busca a radicalização para se obter seus objetivos, com a criação da Aliança Bolsonarista no Brasil, o qual demostra a força das direitas e da família de Jair, o mesmo possui uma grande quantidade de devotos de suas ideologias.
Em suas defesas políticas, Bolsonaro mescla a defesa do ultraliberalismo econômico com presença do racismo, homofobia, militarismo, misoginia, xenofobia e apologias a torturas e a ditadura. Motivadas pela radicalização de seus posicionamentos as inquietações se tornam constantes no ambiente político como também nas redes sociais que passam a expor vários posicionamentos contra e a favor.
De um lado, faz-se a devida denúncia, com ensaios de mobilização
antifascista e a necessária campanha do #elenão liderada pelas mulheres; de outro, aparecem as relações com o fascismo histórico e com outras figuras políticas contemporâneas, como Trump nos Estados Unidos. (CUNHA, 2019, p.183).
Nessa perspectiva, a consciência democrática começa se sentir ameaçada com a candidatura e a eleição de Jair Bolsonaro, pois os defensores da democracia acreditam que suas exposições e colocações os afetam diretamente, ou seja, o coloca como inaceitável, nesse sentido.
Jair Bolsonaro reconhecido como o representante que não possui restrições para suas colocações afrontosas, o qual é destinado como politicamente correto, como suas agressões verbais e perseguições as mulheres lésbicas, negras, homens homossexuais, aos movimentos negros e com desrespeito aos direitos humanos, as lutas trabalhistas, à luta indígena, à luta camponesa, sindical e estudantil. Suas exposições a mídia com defesa aos militares e as expressões do que foi a ditadura militar começa a obter um improvável público que se identifica com suas ideologias defendidas, e que se colocam como insatisfeito com o PT, o quais canalizam suas insatisfações com a política brasileira e encontram em Jair a solução para todas as questões, defendendo que é o primeiro político que fala tudo que acredita, outro ponto as suas colocação sobre a sociedade e a disseminação do discurso miliciano, religioso de uma maior segurança e seu dilema de defesa da família e seus valores.
De acordo com Moura e Corbellini (2019) as falas de Jair poderiam ser consideradas como “apito de cachorro”, porque tanto a sociedade quanto a polícia brasileira nada ouviam de consistente, mas os eleitores de Bolsonaro acreditavam, ouviam e reagiam com engajamento a favor do candidato. Isso ocorria, pois, seus defensores alegarem que seu ponto chave era sua simplicidade, uma autenticidade que transformava seus erros de português em qualidade e sua agressividade em empenho.
Seu discurso era colocado como o único que era direto em suas observações, e que possuía honestidade, franco e que ao mesmo tempo possuía limitações, e ainda era contra a falsidade existe na política tradicionalista, a arma como objeto de símbolo de sua campanha eleitoral.
Jair Bolsonaro se dedicava a proteção da família tradicional cristã, colocou como destaque de seu slogan de sua candidatura o “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. Que está vinculada a uma narrativa de busca ao indiretamente do Brasil, que pode estar relacionada a duas vertentes tanto a moral quanto a ideológica na perspectiva de realocar o que seria certo e errado, com o constante enfrentamento ao PT.
Com isso, percebe-se a ideia de que a política brasileira não tinha espaço para a vitória de um político ligado ao PT, os quais eram chamados por seu adversário de políticos tradicionais e não dificilmente conseguiriam espaço não contexto de 2018. Outro ponto é a distinção dos discursos, Haddad focava no passado enquanto o de Bolsonaro mirava o novo, logo o que a população estava buscando um diferencial, e sem contar na rejeição ao PT se manteve constante e se torna uma barreira grande e que Haddad não consegue derrubar e assim Jair Bolsonaro vence a eleição.
ANÁLISE DE CONTEÚDO
Este trabalho consiste em fazer uma análise dos sites dos TTs neoliberais brasileiros titulados de Instituto Von Mises Brasil (IMB) e Instituto Liberal (IL), e em que medida essas instituições inseriram no pensamento da sociedade o ódio ao governo de esquerda e alicerçaram a candidatura de Jair Bolsonaro. A primeira etapa do processo da análise é a seleção dos textos, com isso foi feita a leitura de um total de 40 textos, em que, desses foram selecionados 10 para a análise do IL e 8 para a do IMB. Essa escolha foi embasada nos que mais se adequam a proposta de estudo, que aborda o governo Bolsonarista, sua relação com os TTs neoliberais e suas formas de atuação sobre a sociedade. De acordo com os critérios da análise, a homogeneidade do material é pertinente, além de estar de acordo com a necessidade do pesquisador, dito isso, os textos coletados para análise são referentes a temas que tratam sobre o governo Bolsonaro. Em um primeiro contato com o material os colunistas se mostram com um posicionamento claramente favorável a candidatura de Bolsonaro.
Após a seleção dos textos que mais se adequavam ao objeto de pesquisa, foi feito o corpus textual do IMB e IL. Assim foi gerado com o auxílio do software Iramuteq, os primeiros resultados que são as palavras-chave dos corpus textuais. Com isso, o primeiro processo de análise apresentou os seguintes resultados sobre o IMB, a palavra “não” 144, “Governo” 119, “gasto” 88, “privado” 50 e entre outras; no IL as palavras que mais se repetiram foram “não“ 154, “Bolsonaro” 93, “presidente” 54, “liberal” 51 que podem ser observadas nas tabelas a seguir: