Metadados do trabalho

O Impacto Provocado Pela Pandemia Da Covid-19 Em Uma Escola Pública Do Município De Ouro Branco – Alagoas: O Que Dizem Os Professores?

Livia Limeira Alves; Karla de Oliveira Santos

A pandemia provocada pela COVID-19 no ano de 2020 no Brasil, provocou mudanças significativas para a educação. Nesse sentido, o estudo analisou os impactos desta pandemia para os professores no município de Ouro Branco/AL, apresentando os desafios que se fizeram presentes para que os estudantes tivessem acesso ao ensino. A metodologia adotada foi de cunho qualitativo, com pesquisa bibliográfica e utilizando a aplicação de questionário semiestruturado para os professores de uma escola municipal do município lócus da pesquisa. De acordo com as análises, os sujeitos da pesquisa afirmaram que foram utilizadas várias estratégias para atender aos alunos, no entanto, também foram apresentadas várias dificuldades, que limitaram as aprendizagens e a participação dos estudantes nas aulas remotas, diante de um cenário de vulnerabilidades sociais e educacionais que marcam uma cidade do sertão de Alagoas.    

Palavras‑chave:  |  DOI:

Como citar este trabalho

ALVES, Livia Limeira; SANTOS, Karla de Oliveira. O Impacto Provocado pela Pandemia da COVID-19 em uma Escola Pública do Município de Ouro Branco – Alagoas: O que dizem os professores?. Anais do Colóquio Internacional Educação e Contemporaneidade, 2021 . ISSN: 1982-3657. Disponível em: https://www.coloquioeducon.com/hub/anais/295-o-impacto-provocado-pela-pandemia-da-covid-19-em-uma-escola-p%C3%BAblica-do-munic%C3%ADpio-de-ouro-branco-alagoas-o-que-dizem-os-professores. Acesso em: 16 out. 2025.

O Impacto Provocado pela Pandemia da COVID-19 em uma Escola Pública do Município de Ouro Branco – Alagoas: O que dizem os professores?

O ano de 2020 marcou profundamente o cenário educacional brasileiro, provocando mudanças nas formas de se relacionar, nas metodologias adotadas, nas práticas educativas, nos currículos, nas avaliações e consequentemente, no uso obrigatório das Tecnologias da Informação e Comunicação imposto pelo cenário pandêmico.

Nesse cenário complexo instalado pela pandemia da COVID-19, as escolas tiveram que fechar as portas, obedecendo aos decretos determinados pelas autoridades, no intuito de diminuir a disseminação do vírus. Sendo assim, partimos da seguinte problemática: O que dizem os professores de uma escola pública do município de Ouro Branco/AL sobre os impactos provocados pela pandemia do coronavírus no ensino remoto municipal?

O objetivo deste trabalho é analisar os impactos da pandemia da COVID-19 para os professores no município de Ouro Branco/AL, apresentando os desafios que se fizeram presentes para que os estudantes tivessem acesso ao ensino, a partir dos resultados de um trabalho de conclusão de curso da Pós Graduação Lato Sensu, Especialização no Ensino de Ciências da Universidade Estadual de Alagoas, Campus II – Santana do Ipanema, estado de Alagoas.

A metodologia adotada foi de cunho qualitativo, com pesquisa bibliográfica e utilizando a aplicação de questionário semiestruturado para os professores de uma escola municipal do município lócus da pesquisa, enviado através de email, para seguir as orientações de distanciamento social propostas pelo Ministério da Saúde por meio da Portaria nº 1.565, de 18 de junho de 2020, que estabelece orientações gerais visando à prevenção e o controle da transmissão da COVID-19.

Os sujeitos da pesquisa são nove professores, destes, seis do sexo feminino e três do sexo masculino, todos com nível superior completo e com mais de seis anos de experiência na docência. Ressaltamos que todos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, autorizando sua participação na pesquisa.

A PANDEMIA DA COVID-19 NO BRASIL

De uma forma rápida, sem aviso prévio, a realidade do mundo passou a ser outra em todos os contextos e não somente para um determinado público, mas para toda população mundial. A protagonista desta situação foi a COVID-19, doença causada pelo coronavírus denominado SARS-CoV-2, sendo possivelmente identificado pela primeira vez na China, em dezembro de 2019. Em 30 de janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que a epidemia da COVID-19 constituía uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII), e em 11 de março de 2020, evoluiu-se para uma pandemia que se espalhou mundialmente.

As medidas de proteção mencionadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) são destinadas para todas as pessoas cumprirem. Porém, as desigualdades sociais que marcam o Brasil não propicia a maioria da população em seguir todas as orientações. Para Gomes (2020, p. 53): “[...] para garantir o isolamento da maioria da população é preciso garantir sua sobrevivência, e isso só pode ser feito com poderosos pacotes fiscais para financiar a renda das pessoas e das empresas, salvando nossa economia”.

Segundo os autores Freitas, Napimoga e Donalisio (2020), houve uma grande preocupação diante de uma doença que se espalhou rapidamente por várias regiões do mundo. O qual gera preocupação à comunidade científica, em função de seu alto nível de contaminação, tendo consequências mais severas (econômicas e sanitárias) para as nações periféricas, sobretudo as mais pobres. Nesse sentido, “a globalização consiste no fato de ser impossível deter uma rápida difusão internacional de novas doenças.” (HARVEY, 2020, p.16).

Diferente da realidade que nos encontramos com toda essa situação, o vírus não decide quem afetará primeiro, ele tem a capacidade de ir de encontro com maior intensidade daqueles sujeitos onde seus direitos são negados constantemente quando não é oferecida uma saúde pública de qualidade e garantias sociais.

Boaventura (2020, p.7) acrescenta que “a pandemia não é cega e tem alvos privilegiados, mas mesmo assim cria-se com ela uma consciência de comunhão planetária, de algum modo democrático”.

No Brasil, a proliferação do vírus COVID-19 inicia em março de 2020, sendo a primeira morte constatada de uma empregada doméstica preta, contaminada por seus patrões que tinham viajado à Europa. Tal fato demonstra a desigualdade econômica e, consequentemente, social, política, racial, moral, sanitária que acomete diversos trabalhadores brasileiros.

Para Macedo, Ornellas e Bonfim (2019), há uma globalização do vírus no qual o Brasil precisa repensar as políticas públicas para a Saúde, de modo que não extermine a sua população pobre, pois as maiores vítimas do vírus, em todo mundo, tem sido a classe trabalhadora, que, em geral, não pode “ficar em casa”, sendo expostos a todas as adversidades e perigos à sua sobrevivência.

Como afirma Santos (2020), a quarentena não só torna visíveis a injustiça, a discriminação, a exclusão social e o sofrimento da população, mas as reforça. Ainda de acordo com o referido autor, grande parte da população do mundo não está em condições de seguir as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) para se defender do vírus, porque habita espaços exíguos e/ou altamente poluídos, onde se obriga a trabalhar em condições de risco para obter os suprimentos necessários para a sobrevivência. Desta forma, as pessoas pertencentes às classes desprivilegiadas estão enclausuradas em residências análogas às prisões ou em campos de internamento, sem condições sanitárias mínimas (não se tem sabão ou água potável, e quando tem, é para beber e cozinhar, etc.).

Diante do exposto, é necessário problematizar como esta pandemia atinge a educação brasileira, diante de um governo ultraliberal, ultrarreacionário, privatista e negacionista.

O CENÁRIO EDUCACIONAL EM TEMPOS DE PANDEMIA

O contexto escolar dentro do novo universo apresentado pela pandemia se configura em uma situação complexa, sabe-se que não é apenas o fato das escolas fecharem as portas e adotar novas estratégias como é apresentado na Lei nº 14.040, de 18 de agosto de 2020 que estabelece normas educacionais excepcionais a serem adotadas durante o estado de calamidade pública reconhecido pelo Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020; e altera a Lei nº 11.947, de 16 de junho de 2009.

A educação torna-se problemática ao ter o incentivo à modalidade de educação à distância (EaD), através de aulas remotas e do uso de aplicativos e de plataformas online, que trazem implicações para as práticas docentes e curriculares. Como afirmam Fiera, Evangelista e Flores (2020, p.26): “trata-se de produzir consenso para manter a hegemonia burguesa sobre conteúdos e métodos remotos de aprendizagem, tendo em vista, viabilizar de um só golpe, a subordinação das mentes e a expansão do mercado”.

A pandemia do novo coranavírus forçou redes escolares ao redor de todo mundo a suspenderem suas aulas presenciais e adotarem, abruptamente, regimes de ensino à distância (EAD). Medida de emergência para manter o sistema educacional operando durante o período de isolamento, as aulas online encontram uma série de obstáculos materiais – a começar pelas tantas situações em que alunos nem sequer possuem acesso à internet em suas casas. (Boletim do GMARX-USP, p.2, 2020).

Com a disseminação do vírus no país, as aulas de escolas e universidades foram suspensas, via decretos governamentais, a exemplo do Decreto Estadual de Alagoas Nº 69.577/2020.

O Ensino Remoto Emergencial surge como possibilidade para que os processos educativos formais continuem. É importante destacar que ainda temos uma polissemia de conceitos e concepções acerca do Ensino Remoto Emergencial. Para Behar (2020), o Ensino Remoto Emergencial define-se como a ausência de professores e alunos na sala de aula, assim sendo, ele afirma que o termo “remoto” significa um distanciamento geográfico ao tempo que “emergencial” remete a um planejamento pedagógico que teve de ser reconstruído do dia para a noite.

Segundo Soares (2020), é nesse contexto que a EaD demonstra uma grande possibilidade de se expandir como uma alternativa para suprir as novas necessidades do neoliberalismo, envolto do discurso da modernização e da inovação da educação, trazendo inúmeras “vantagens econômicas”, pois diminui substancialmente os “gastos”, abre um lucrativo mercado e ainda permite uma considerável expansão do ensino em um curto espaço de tempo.

No entanto, é importante a compreensão conceitual de Educação a Distância e de Educação Remota.

A Educação à Distância envolve desde o início uma adequação do conteúdo trabalhado para a realidade virtual, atividades e aulas síncronas e assíncronas, suporte constante de tutores, amplas estratégias de abordagens, plataformas (os chamados ambientes virtuais de aprendizagens) previamente conhecidas pelos professores e tutores, etc. As escolas estão diante de uma Educação Remota Emergencial. Remota porque a tecnologia tornou-se mediadora para as aulas presenciais; emergencial no que se refere a um conjunto de estratégias de ensino que têm sido pensadas e adaptadas no calor do momento. (LIMA; BERNARDES, 2020, p.37).

Para a implementação da EaD, é necessário discutir também suas possíveis consequências. A primeira delas é que a sua implementação, de modo aligeirado, esbarra na falta de acesso à internet de grande parcela dos estudantes e de significativa parte do corpo docente. A isso se soma o desconhecimento de um amplo setor do professorado no manejo de tecnologias para elaborar uma aula minimamente “interativa”. Assim, onde ainda se consegue realizar as ditas atividades virtuais, elas acabam, muitas vezes, por se constituírem em uma sobrecarga das metodologias tradicionais (exercícios, correções, aulas expositivas, trabalhos, entre outros) e não em um aproveitamento da tecnologia para desenvolver técnicas mais atrativas, complementares e estimulantes de aprendizagem. (SOARES, 2020).

Diante do exposto, os professores passaram a ter que fazer uso das tecnologias da informação e da comunicação para atender a esta excepcionalidade. A sociedade contemporânea convive com mudanças globais que revelam um panorama desafiador, múltiplo em possibilidades, riscos e incertezas. Os reflexos desse cotidiano são as reconfigurações do modus operandi social, o qual evidencia uma dinâmica contínua de modernização e de (re)adaptação a esse cenário mutante. (LOPES, 2014).

Assim sendo, embora as condições não sejam pertinentes para aulas presenciais o ensino remoto entra em ação considerando a questão emergencial de saúde pública. Conforme referencia a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN (BRASIL, 1996, § 4º), “o ensino fundamental será presencial, sendo o ensino à distância utilizado como complementação da aprendizagem ou em situações emergenciais”.

Consideramos que aulas remotas não estão configuradas como aulas de Educação a Distância (EaD), são situações diferentes, embora se utilizem de recursos e ações semelhantes como as ferramentas digitais, tendo em vista que a Educação à Distancia é uma modalidade de ensino conforme estabelecida na LDBEN (1996) no  artigo 80.

§ 1º A educação à distância, organizada com abertura e regime especiais, será oferecida por instituições especificamente credenciadas pela União.

§ 2º A União regulamentará os requisitos para a realização de exames e registro de diplomas relativos a cursos de educação à distância.

§ 3º As normas para produção, controle e avaliação de programas de educação à distância e a autorização para sua implementação, caberão aos respectivos sistemas de ensino, podendo haver cooperação e integração entre os diferentes sistemas.

§ 4º A educação à distância gozará de tratamento diferenciado, que incluirá: I  - custos de transmissão reduzidos em canais comerciais de radiodifusão sonora e de sons e imagens e em outros meios de comunicação que sejam explorados mediante autorização, concessão ou permissão do poder público; II       - concessão de canais com finalidades exclusivamente educativas; III    - reserva de tempo mínimo, sem ônus para o Poder Público, pelos concessionários de canais comerciais.

 

Diante do exposto, podemos compreender a diferença do que é Educação à Distância em relação ao Ensino Remoto Emergencial que apresenta outras configurações, embora faça uso de recursos digitais com intensidade semelhante.

Segundo Soares (2020):

A Educação à Distância envolve desde o início uma adequação do conteúdo trabalhado para a realidade virtual, atividades e aulas síncronas e assíncronas, suporte constante de tutores, amplas estratégias de abordagens, plataformas (os chamados ambientes virtuais de aprendizagens) previamente conhecidas pelos professores e tutores, etc. As escolas estão diante de uma Educação Remota Emergencial. Remota porque a tecnologia tornou- se mediadora para as aulas presenciais; emergencial no que se refere a um conjunto de estratégias de ensino que têm sido pensadas e adaptadas no calor do momento.(SOARES, 2020, p. 37).

 

Assim, é notório que esse novo processo em que está sendo pensado e colocado em prática nas escolas públicas nos permite ir além. No sentido de compreender o grande número de alunos que por inúmeras situações talvez não tenham possibilidades de ter acesso a esse ensino, que mesmo sendo remoto e de caráter emergencial, acredita-se que trarão algumas contribuições, no entanto, os ambientes de comunicação virtual não é uma realidade que alcança a todos.

Os conceitos sobre o ensino remoto ainda estão sendo construídos, considerando que se trata de uma realidade nova, foi um tanto complexo encontrar definições mais elaboradas.

A expressão ensino remoto passou a ser usada como alternativa à educação a distância (EAD). Isso, porque a EAD já tem existência estabelecida, coexistindo com a educação presencial como uma modalidade distinta, oferecida regularmente. Diferentemente, o “ensino” remoto é posto como um substituto excepcionalmente adotado neste período de pandemia, em que a educação presencial se encontra interditada. (SAVIANI e GALVÃO, 2020,p.38).

 

Destarte, o município de Ouro Branco/AL, obedecendo a portaria nº 544, de 16 de junho de 2020 que dispõe sobre a substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais, durante a situação da pandemia da Covid-19, adotando o ensino remoto com algumas ressalvas, considerando que aos alunos que não possuem disponibilidade de recursos tecnológicos para acompanhar as atividades, serão entregues nas escolas, apostilas com atividades equivalentes a três semanas, nas atividades constarão as instruções de como os alunos devem realizar as mesmas. Após esse período, as atividades serão devolvidas para os professores e logo, novas atividades seguirão.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA

O presente estudo trata-se de uma pesquisa de cunho qualitativo que busca compreender questões dos fatos sociais, considerando que é um campo de muitas variáveis sem o intuito de quantificar os dados.

A pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. (MINAYO, 2001 p.80).

 

A pesquisa possibilita ao pesquisador ir ao encontro de situações que enriquece os conhecimentos, observadas por diferentes sujeitos, fazendo reflexões e análise do contexto pesquisado.

Para alcançar os objetivos propostos neste estudo, foi realizado um questionário semiestruturado com seis questões abertas, possibilitando aos pesquisados expressar suas opiniões e garantindo sua autonomia com as respostas. Considerando que o momento não permite contato físico em virtude da pandemia da COVID-19, os questionários foram enviados via e-mail aos sujeitos participes da pesquisa.

Considerando que se trata de uma pequena amostragem, o questionário foi enviado a 20% dos professores que atuam na escola, destes 71% devolveram os questionários.Os sujeitos da pesquisa atuam nos anos finais do Ensino Fundamental, em uma escola da rede pública municipal, de Ouro Branco – Alagoas, localizada na zona urbana.

De acordo com pesquisa no sítio eletrônico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o município de Ouro Branco, possui uma população aproximada de 11.535 pessoas. (IBGE, 2020). O PIB per capita equivale a R$ 6.021,73 e Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) equivalente a 0,547 (IBGE, 2010) e em 2017, o salário médio mensal era de 1,8 salários mínimos.

Destacamos que o município dispõe apenas de uma empresa prestadora de serviços de internet, que atende a zona urbana e rural da cidade.

Os participantes da pesquisa foram nove professores, divididos entre seis do sexo feminino e três do sexo masculino. O tempo de atuação no magistério variou, sendo o mais experiente com 23 anos de docência, seguida de um professor com 19 anos, outro professor com 18 anos, uma professora com 10 anos, uma outra com 9 anos, uma outra professora com 8 anos e três professores com 6 anos de atuação.

Em relação à escolaridade, podemos observar que todos os docentes possuem Ensino Superior Completo e destes nove professores, sete possuem Pós Graduação Lato Sensu.

Todos os participantes da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, seguindo o que preconiza os princípios da ética em pesquisa com seres humanos.

O QUE DIZEM OS PROFESSORES DA ESCOLA MUNICIPAL DE OURO BRANCO/AL?

No intuito de saber como a escola, campo do estudo, localizada na zona urbana da cidade de Ouro Branco/AL, que atende os anos finais do Ensino Fundamental, estava articulada frente a atual situação em que a educação está vivendo neste período da pandemia, foi indagado como está sendo esse novo processo de aulas remotas? Quais estratégias foram utilizadas para chegar até os alunos?

Os professores responderam que o momento é desafiador, provocando mudanças nas práticas educativas, a exemplo de um dos sujeitos que afirma que “a nova situação é desafiadora, pois nunca tinha pensado em ensinar dessa maneira. Esse novo cenário foi bastante impactante para nossa atuação”. (sujeito da pesquisa)

Uma das problemáticas apresentadas foi a falta de formação continuada para trabalhar com os recursos tecnológicos e a adoção de novas metodologias, o que tem causado um processo de adaptações individuais para que se tenha um ensino significativo e  garantia das aprendizagens dos alunos.

Sobre as estratégias utilizadas para que o ensino chegasse aos alunos, os sujeitos da pesquisa apontaram que fizeram uso de: Plataformas digitais, a exemplo do Google Classrom, Roteiros impressos, principalmente voltado para os alunos que não possuem acesso à internet de banda larga, aulas online através do Google Meet ou WhatApp. Ao mesmo tempo, que questionamos as dificuldades apresentadas com o Ensino Remoto na escola. Os sujeitos afirmaram que a pandemia revelou problemas que já eram perceptíveis anteriormente, como a falta de acesso ao uso de tecnologias e internet.

Notamos que as estratégias mais citadas foram vinculadas às ferramentas digitais e as dificuldades apresentadas podem ser corroboradas a partir da fala de uma das professoras: “com a pandemia, revelou-se problemas que já eram notados, mas que não eram levados em conta pela administração no que se refere ao acesso às tecnologias”.

 A necessidade de formação continuada direcionada para o uso das tecnologias já deveria ter acontecido na perspectiva de estar atualizada em relação às mudanças que acontecem constantemente na sociedade. POZO (2004) descreve que:

Mudar as formas de aprender dos alunos requer também as formas de ensinar dos seus professores. Por isso, a nova cultura de aprendizagem exige um novo perfil de aluno e de professor, exige novas funções discentes e docentes, as quais só se tornarão possíveis se houver mudança de mentalidade [...].(p.11).

 

Nesta perspectiva, ficou evidente a necessidade de formação continuada para o uso das TDIC´s, como uma estratégia viável para o desenvolvimento das aprendizagens dos estudantes do município de Ouro Branco/AL.

Diante das problemáticas apresentadas e dos esforços dos professores, buscou-se saber se as estratégias adotadas estão sendo eficazes. Os professores apontam limites nessa prática, sendo priorizado o ensino presencial, sendo entendido pelos docentes como a forma mais eficaz de aquisição das aprendizagens. E ainda pontuam, que o ensino remoto emergencial tem provocado falta de assiduidade nas aulas, abandono escolar, falta de retorno das apostilas, possivelmente provocado pela situação de vulnerabilidade social dos estudantes.

Sendo assim, percebemos como os professores pesquisados foram versando por uma mesma linha de raciocínio, pontuando as realidades vivenciadas no cotidiano da escola em meio a esse cenário de muitas incertezas, uma vez que o ambiente escolar já estava com algumas necessidades e isso só se tornou maior diante dessa situação provocada pela pandemia.

As dificuldades apresentadas pelos professores no lócus da pesquisa apontam: Assiduidade dos poucos alunos que ainda participam das aulas, acesso à internet ou oscilações constantes, falta de formação continuada de qualidade e adequada para o atual momento, ausência de interesse dos alunos em participar das aulas, cobrança excessiva por parte da gestão escolar, mas sem proporcionar apoio e burocracia para acessar a plataforma do Google Classroom.

Foi possível observar que os pesquisados têm enfrentado inúmeras dificuldades, desde ausência de materiais à assiduidade dos alunos, o que dificultou a possibilidade de uma aprendizagem mais significativa, principalmente devido à falta de apoio da gestão educacional municipal e da gestão escolar.

Diante de tantas dificuldades, houve uma última questão que buscava saber se haveria vantagem ou desvantagem fazer uso das TDIC´s no ensino remoto emergencial, as respostas dadas foram as que mais apresentaram um grau de heterogeneidade na concepção de cada pesquisado.

Sobre as vantagens do Ensino Remoto Emergencial da escola lócus da pesquisa foram: ministrar aula no conforto da sua casa e em qualquer horário, possibilitar um maior envolvimento dos alunos através das ferramentas tecnológicas e utilizar estas mesmas ferramentas para que os alunos possam manusear estes equipamentos. Entre os nove professores pesquisados, dois responderam que o ensino remoto não possui vantagem nenhuma pelas carências dos alunos em não ter aparelhos para participar das aulas e muito menos acesso à internet.

As desvantagens apresentadas pelos professores foram: a falta de um acompanhamento mais próximo dos alunos, principalmente por não está presente para auxiliar os alunos com o uso dos aparelhos e da internet, excesso da carga horária de trabalho, que triplicou, a não garantia do acesso e permanência dos alunos, devido às desigualdades sociais profundas, dificuldades de compreensão dos conteúdos escolares impostas pelas aulas remotas. 

Evidenciou-se que as afirmações foram bastante relativas, ao ponto de ser entendida como uma necessidade de fazer uso das tecnologias no contexto da sala de aula, bem como, foi constatado que existe uma grande ausência em formações que possibilitem com que as ações sejam desenvolvidas com maior exatidão. Contudo, os olhares de alguns professores foram bem significativos, justificando que esse novo processo vivenciado pelo contexto, provocado pela pandemia, levou alguns professores a entender que as tecnologias são um aliado para o desenvolvimento do ensino e aprendizado, mas reconhecendo os limites impostos no acesso por parte dos estudantes.

Mesmo considerando todos esses limites, redes de ensino estaduais e municipais, assim como diversas instituições públicas de ensino superior, lançaram mão do “ensino” remoto para cumprir o calendário escolar e o que se observou de maneira geral foi que as condições mínimas não foram preenchidas para a grande maioria dos alunos e também para uma parcela significativa dos professores, que, no mais das vezes, acabaram arcando com os custos e prejuízos de saúde física e mental decorrentes da intensificação e precarização do trabalho. (SAVIANI e GALVÃO, 2020, p.38-39).

 

É neste sentido, que as necessidades dos docentes devem ser consideradas, oportunizando assim, novas possibilidades de melhor enfrentar as dificuldades advindas pela conjuntura atual da pandemia da COVID-19. É necessário formações continuadas para que os professores possam desenvolver práticas pedagógicas que proporcionem a aprendizagem dos alunos. Mas não só isso, as desigualdades sociais que acometem os alunos da rede municipal de ensino de Ouro Branco/AL e que foi escancarada com a pandemia, precisam ser analisadas pela gestão educacional. 

O presente estudo propôs apresentar um percurso de como iniciou a pandemia, trazendo recortes no contexto educacional em uma escola da rede pública municipal de Ouro Branco-Al, localizada na zona urbana,  até chegar aos sujeitos pesquisados que tiveram seu momento de fala assegurado, embasados em análises e reflexões que proporcionaram uma compreensão mais aguçada sobre algumas dificuldades já existentes no âmbito educacional.

A escola sofreu um grande impacto, bem como outras áreas da sociedade; houve de uma hora para outra uma mudança nada programada com grandes dúvidas, inseguranças, medos e, infelizmente, muitas perdas. Seria ignorância não considerar as quase 560 mil mortes pela COVID-19 e a tardia campanha de vacinação provocada pelo governo Bolsonaro.

Neste período tenso e de incertezas, o contexto escolar passou a pensar estratégias para estar junto aos alunos no intuito de amenizar os efeitos negativos ocasionados pela pandemia.

Em relação às estratégias pensadas como um caminho alternativo para a continuação da oferta da educação, houveram aulas remotas, como possibilidade para que o ensino chegasse aos alunos. No entanto, a partir da aplicação de um questionário semiestruturado para nove professores de uma escola pública, os sujeitos pesquisados apontaram as estratégias utilizadas para o ensino remoto e as dificuldades encontradas.

As estratégias utilizadas pelos professores foram iniciativas pessoais e isoladas, tendo apenas o uso de apostilas seguida conforme orientação da gestão da escola, as demais como: uso de plataformas educacionais ou de WhatsApp, foram iniciativas necessárias , mesmo sem os professores terem vivenciado uma formação continuada.

Esse estudo também identificou as dificuldades para que os alunos tivessem as aulas, dentre elas: a assiduidade com poucos alunos; relação com a internet; formação de qualidade; ausência de interesse dos alunos em participar das aulas; muita cobrança por parte da gestão escolar; a falta de equipamentos como celular, tablets e notebook para os alunos; burocracia no acesso à plataforma do Google sala de aula. Mas a maior dificuldade apontada pelos docentes foi o porte de aparelhos tecnológicos e o acesso à internet de banda larga, por parte de docentes e alunos.

Compreendendo que o uso das TDICs foi um dos caminhos tomados para que as aulas remotas fossem realizadas, notou-se que o seu uso no contexto escolar já deveria fazer parte deste cotidiano, independente de qualquer pandemia. Como não se tratava de um ponto crucial, passou a ser objeto de uso como caráter de urgência e isso fez com que além dos professores, grande parte dos alunos sentissem dificuldades. O que para nós demonstra a ausência de políticas públicas educacionais que preconizam o uso das TDICs  nas escolas.

Mesmo não sendo objeto de análise, também gostaríamos de pontuar sobre a saúde dos professores com o ensino remoto emergencial. Dentre os sujeitos pesquisados, três possuem entre dezoito e vinte e três anos de trabalho na docência, e com esse novo formato de ensino possuem dificuldades pela carga horária exacerbada e as exigências da gestão escolar sem nenhum apoio, o que também atinge os demais.

Considerando o uso constante de tela, tendo em vista que foram períodos de aulas remotas, bem como a permanência de muitas horas em uma mesma posição, pois a circulação no contexto da casa é diferente do espaço da sala de aula, trouxeram ainda maiores agravantes para a saúde física e mental.

As nossas considerações finais partem da análise de um território específico, a cidade sertaneja de Ouro Branco, localizada no estado de Alagoas, mas que nos provoca a pensar os déficits de aprendizagem causados nos alunos com o modelo de ensino remoto emergencial. E também, como condicionantes externos à escola provocaram a infrequência e consequentemente o insucesso escolar no ano letivo de 2020.

Aos professores e professoras que se dispuseram a participar e contribuir com este estudo.

BEHAR, Patrícia Alejandro. O ensino remoto emergencial e a educação à distância (2020). Disponível em: https://www.ufrgs.br/coronavirus/base/. Acesso em 21 de outubro de 2020.

BOLETIM DO GMARX-USP. Novas formas de sabotagem escolar no EAD- Uns mal educados. São Paulo. Ano 1, Nº 22, 14 de maio de 2020. Disponível em: http://gmarx.fflch.usp.br/boletim22. Acesso em 31 de maio de 2020.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996). Disponível in: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1996/lei-9394-20-dezembro-1996- 362578-normaatualizada-pl.html>. Acesso em 12 de setembro 2020.

BRASIL. Portaria nº 1.565, de 18 de junho de 2020. 116. ed. Brasília, DF, 19 jun. 2020. Seção 1, p. 64-64. Disponível em: https://www.in.gov.br/web/dou/-/portaria-n-1.565-de-18-de-junho-de-2020- 262408151. Acesso em: 15 fev. 2021.

FIERA, Letícia; EVANGELISTA, Olinda; FLORES, Renata. Chantagem como estratégia para assegurar o “direito de aprendizagem” aos “vulneráveis”. In: SOARES et al. Coronavírus, educação e luta de classes no Brasil. Editora Terra Sem Amos: Brasil, 2020,p.21-28.

FREITAS, André Ricardo Ribas; NAPIMOGA, Marcelo; DONALISIO, Maria Rita Donalisio. Análise da gravidade da pandemia de Covid-19. Ser Saúde, Brasília, 2020. Disponível: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2237-96222020000200900. Acesso em 21 de abril de 2020.

GOMES, Ciro. Nada mais será como antes. Quarentena: reflexões sobre a pandemia e depois (org). Ilustração de Carlos Giabarressi.. 1.ed. Bauru: Canal 6, 2020.

HARVEY, David. Política anticapitalista em Tempos de COVID-19. In: DAVIS, Mike, et al: Coronavírus e a luta de classes. Terra sem Amos: Brasil, 2020, p.13-23.

LIMA, Luciméa Santos; BERNARDES, Marcus. Do caos à Pandemia: Educação emergencial em Escolas do Campo. In: SOARES et al. Coronavírus, educação e luta de classes no Brasil. Editora Terra Sem Amos: Brasil, 2020,p.35-44.

LOPES et al. Tecnologias Digitais no contexto escolar: Um estudo bibliométrico sobre seus usos, suas potencialidades e fragilidades. 2014. Disponível em http://www.reveduc.ufscar.br/index.php/reveduc/article/viewFile/658/324. Acesso em 22 de julho de 2020.

MACEDO, Yuri Miguel; ORNELLAS, Joaquim Lemos; BOMFIM, Helder Freitas do. COVID – 19 no Brasil: o que se espera para população subalternizada? Revista Encantar - Educação, Cultura e Sociedade - Bom Jesus da Lapa, v. 2, p. 01-10, jan./dez. 2020. Disponível in: file:///C:/Users/Karla/Downloads/COVID_-_19_NO_BRASIL_o_que_se_espera_para_populaca.pdf.Acesso em 20 de abril de 2020.

MINAYO, Maria Cecília de Sousa (Org.). Pesquisa social: Teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 2001.

 POZO, Juan Ignacio. A sociedade da aprendizagem e o desafio de converter informações em conhecimentos. Pátio Revista Pedagógica, nº31, p.8- 11, ago/out 2004.

SANTOS, Boaventura de Sousa. A Cruel Pedagogia do Vírus. Coimbra: Almedina, 2020.

SAVIANI, Demerval; GALVÃO; Ana Carolina. Educação na pandemia: a falácia do “ensino” remoto. Revista Universidade e Sociedade. ANDES-SN, janeiro de 2021.

SOARES, Sávia Bona V. Coronavírus e a Modernização conservadora da Educação. In:SOARES et al. Coronavírus, educação e luta de classes no Brasil. Editora Terra Sem Amos: Brasil, 2020,p.5-14.

Sítio visitado:

www.ibge.gov.br

Encontrou algo a ajustar?

Ajude-nos a melhorar este registro. Você pode enviar uma correção de metadados, errata ou versão atualizada.