Metadados do trabalho

Reflexões Sobre O Uso Das Tecnologias E Qualidade De Vida Dos Professores De Educação Física Escolar Em Tempos De Pandemia

Manoel Messias Santos Alves; Willian Lima Santos; Luciene Costa Santana

O presente estudo buscou analisar indicativos de qualidade de vida de professores de educação física escolar atuantes em meio ao cenário pandêmico, assim como refletir sobre o uso das tecnologias digitais enquanto recursos didático-pedagógicos no processo de ensino e aprendizagem em educação física escolar. Trata-se de levantamento piloto com recortes preliminares da pesquisa de doutorado, em andamento, com abordagem quali-quantitativa e de caráter descritiva. O público-alvo correspondeu a 13 professores de educação física escolar atuantes na Educação Básica. No que se refere aos instrumentos de pesquisa, foi utilizado um questionário sociodemográfico para traçar o perfil dos participantes, e um instrumento elaborado pelo Grupo de Qualidade de Vida da Organização Mundial da Saúde, conhecido como WHOQOL-bref, para avalia a qualidade de vida de modo geral e com base em alguns construtos subjetivos e multidimensionais. Embora a maioria dos professores tenha mostrado níveis razoáveis e satisfatórios com relação a qualidade de vida, foi possível inferir que o atual cenário pandêmico e seus impactos na atuação docente, sobretudo no que se refere as exigências para poder lidar de maneira apropriada com os diversos aspectos recorrentes do ensino remoto, podem sobrecarregar esses docentes e prejudicar sua qualidade de vida.

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Como citar este trabalho

ALVES, Manoel Messias Santos; SANTOS, Willian Lima; SANTANA, Luciene Costa. Reflexões sobre o uso das tecnologias e qualidade de vida dos professores de educação física escolar em tempos de pandemia. Anais do Colóquio Internacional Educação e Contemporaneidade, 2021 . ISSN: 1982-3657. Disponível em: https://www.coloquioeducon.com/hub/anais/289-reflex%C3%B5es-sobre-o-uso-das-tecnologias-e-qualidade-de-vida-dos-professores-de-educa%C3%A7%C3%A3o-f%C3%ADsica-escolar-em-tempos-de-pandemia. Acesso em: 16 out. 2025.

Reflexões sobre o uso das tecnologias e qualidade de vida dos professores de educação física escolar em tempos de pandemia

As discussões acerca do uso educacional das tecnologias, sobretudo da internet e as Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC), ganharam destaque na atualidade, visto que ao contrário do século passado, a maioria dos alunos trocaram um estilo de vida ativo pelo acesso constante a diferentes dispositivos móveis, e inclusive os levam para a sala de aula, o que reforça a necessidade de incluir ou aprimorar esse debate na formação docente em educação física escolar, tanto nos cursos de formação inicial, quanto continuada, com foco nas práticas didático-pedagógicas para que os professores se apropriem dessas tecnologias dentro e fora dos espaços educativos (FERRETE; FERRETE, 2014; 2019). 

Ao relacionar essa discussão com o cenário atual, não podemos deixar de considerar os desafios impostos à humanidade para o enfrentamento da pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2), agente etiológico da Covid-19, que além de afetar o sistema de saúde em escala global, tem prejudicado também vários outros setores como a educação, economia e segurança pública, por exemplo, fazendo com que os serviços de home working (teletrabalho, trabalho remoto ou trabalho a distância) e de distance learning (ensino a distância) ganhassem destaque importante na atualidade (PECI, 2020), visto que a principal medida a ser adotada a fim de diminuir a disseminação desse vírus, é a restrição do contato físico entre as pessoas, principalmente por meio do distanciamento social (ALVES; FERRETE; SANTOS, 2020; FILHO; TRITANY, 2020).

Dessa forma, a integração das tecnologias ao cotidiano tem se tornado estratégia importante para garantir a manutenção e acesso aos serviços essenciais, e no que se refere ao âmbito escolar, promove a construção de novas possibilidades no processo de ensino e aprendizagem. No entanto, uma inquietação merece ser considerada nesse contexto: quais são os impactos decorrentes da pandemia da Covid-19 na atuação docente e qualidade de vida dos professores de educação física escolar?

Nesse sentindo, é importante investigar quais são as ações didático-metodológicas mais utilizadas pelos professores de Educação Física para o enfrentamento das medidas restritivas decorrentes do contexto pandêmico, voltadas ao uso das tecnologias como estratégia inovadora da atividade docente, e como tais circunstâncias têm repercutido na saúde e bem-estar docente, pois desde o ano de 2020, muitos professores acabaram sendo pressionados a reinventar sua atuação docente mediante o uso das tecnologias digitais para promover formas de apropriação crítica e contextualizada desses dispositivos durante suas aulas.

Quando falamos em saúde, vale a pena lembrar que seu significado deve ser compreendido como um valor coletivo, com enfoque nas relações dos indivíduos com o meio ambiente, e não apenas aos fenômenos biológicos. Desse modo, em 1946, a Organização Mundial de Saúde (OMS) redefiniu o conceito de saúde como “o estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença”; desde então, a promoção da saúde vem assumindo o compromisso de ser condizente com as realidades e necessidades das pessoas em geral, para que as populações exercerem controle e autonomia em seus estilos e qualidade de vida (OMS, 1946; RODRIGUES et al., 2007; ALVES, 2019).

A definição de qualidade de vida trazida pela OMS, como a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e do sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações (THE WHOQOL GROUP, 1994), fortalece a importância de abordar essa temática na educação física escolar, inclusive na vida dos professores, sobretudo no contexto pandêmico, que tem acarreado vários prejuízos psicossociais ao ser humano na sua integralidade.

Nessa perspectiva, implicitamente, podemos inferir que as consequências impostas pela situação pandêmica no âmbito educacional pode ter relação com a qualidade de vida dos professores, especificamente neste estudo, os de educação física, devido a suspensão das aulas presenciais e consequentemente das atividades práticas, o uso das tecnologias digitais como estratégias pra continuar o ano letivo por meio do ensino remoto emergencial, a pressão dos gestores e das comunidade para se adequar ao uso das tecnologias, a falta de recursos e de suportes tecnológicos e de demais fatores decorres do isolamento social, que certamente podem ser prejudiciais ao seu bem-estar e interferir negativamente na qualidade de vida desses docentes.

Diante do exposto, o presente estudo teve como objetivo principal analisar indicativos de qualidade de vida de professores de educação física escolar atuantes em meio ao cenário pandêmico. Além desse objetivo, buscamos também refletir sobre o uso das TDIC enquanto recursos didático-pedagógicos no processo de ensino e aprendizagem em educação física escolar.

Qualidade de vida e atuação docente em tempos de pandemia

O ser humano está inserido numa esfera multidimensional envolvida por fatores biológicos, epidemiológicos e socioculturais, que por sua vez, pode colocá-lo em situações de vulnerabilidade, influenciando seu modo de viver e de adoecer, e, consequentemente, sua qualidade de vida (AYRES; PAIVA; FRANÇA JÚNIOR, 2012). Com efeito, o termo qualidade de vida possui uma relação direta com a saúde física e o bem-estar emocional ou psicológico das pessoas, incluindo sentimentos de felicidade, contentamento e satisfação com as condições da própria vida (ALVES, 2019; ALVES; PAGAN, 2019).

Vale ressaltar que embora a qualidade de vida e saúde sejam termos diretamente relacionados, na qual a saúde é o principal elemento para uma vida plena, este não é o único fator que influencia a nossa qualidade de vida, pois há toda uma complexidade de elementos, envolvendo também as diferentes relações sociais e ambientais, como o estado emocional, atividade profissional, autocuidado, valores culturais, estilo de vida e a satisfação com o ambiente em que se vive (SILVA et al., 2013; SOBRAL, 2015).

Diante do exposto, fica evidente que ter qualidade de vida é, de maneira geral, estar em harmonia com vários fatores que não se restringem apenas à vulnerabilidade ou gravidade dá saúde física, é necessário, sobretudo, que os indivíduos estejam de bem consigo mesmo e com o meio em que está inserido (ALVES; PAGAN, 2019). Assim, diante dessas considerações, é possível inferir que a atual crise de saúde pública causada pela Covid-19, além de ter feito milhões de vítimas fatais em nível mundial, tem prejudicado também a qualidade de vida de grande parte da população, tendo em vista que as restrições sanitárias de isolamento e distanciamento físico social impõem mudanças individuais e socioculturais sem proporcionar muitas opções para que as pessoas possam ter condições para se adaptar de maneira saudável a essas novas rotinas.

Visando ampliar a reflexão sobre o contexto pandêmico e suas implicações na atuação docente, especificamente na área da educação física escolar, Alves, Ferrete e Santos (2020) contribuem com essa discussão ao ressaltarem a importância de promover um letramento digital do professor, não só para fins de valorização desse profissional, mas sim para crescimento pessoal e melhoria da qualidade de ensino e aprendizagem, tendo em vista a relevância do seu papel na formação de sujeitos críticos, reflexivos e participativos numa sociedade onde a produção de informação está cada vez mais consolidada por meio das tecnologias digitais.

É notório que o uso crescente dos recursos audiovisuais e, das tecnologias em geral, vem contribuindo para diversificar a atividade docente, proporcionando um grande volume de informação que circula rapidamente no meio social. Para acompanhar o ritmo acelerado dessa sociedade tecnológica, a escola não pode ignorar esse processo de letramento digital, o qual requer que os professores estejam preparados para atuar com competência diante dos diversos meios de difusão e promoção do conhecimento e da aprendizagem.

Nessa perspectiva, para acompanhar as mudanças proporcionadas pela tecnologia nos mais variados contextos socioculturais, a escola precisa engajar-se de maneira comprometida na formação de cidadãos capazes de lidar com os avanços tecnológicos de forma consciente e participativa, necessitando assim, além do conhecimento, uma reflexão acerca das suas linguagens e utilização. Entretanto, para que esse processo se concretize, a escola e o seu corpo docente também necessitam se apropriar dessas tecnologias, visando assim, melhorar a produtividade e interação com os estudantes, de maneira autônoma, e engajada com as peculiaridades da cultura digital (SANTOS; FERRETE; ALVES, 2020).

Assim, considerando que a atuação do professor é fruto de sua formação desenvolvida desde o curso de licenciatura até os processos de educação continuada e suas experiências em sala de aula, quanto mais cedo receberem formação continuada para fins de letramento digital, maiores serão as possibilidades desses profissionais terem uma qualidade de vida melhor, visto que poderão analisar e refletir sobre as transformações da realidade, bem como a praticarem propostas pedagógicas inovadoras de acordo com as necessidades da escola. Sendo assim, tais medidas permitirão ao professor de educação física ter clareza do seu papel enquanto agente transformador, ajudando os discentes a construírem formas de encarar o mundo e aprender a lidar pacificamente com as tecnologias.

 

Aborgagem Metodológica

O presente estudo está em conformidade com os princípios éticos estabelecidos pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS), conforme a Resolução nº 510/2016, que trata das pesquisas com seres humanos, e corresponde a um levantamento piloto com recortes preliminares da pesquisa de doutorado, em andamento, intitulada de “Ensino remoto emergencial e formação docente: um olhar sobre as implicações do uso das tecnologias durante a pandemia de Covid-19 na Educação Básica”, aprovada pela Comissão de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal de Sergipe (UFS), sob o Parecer nº 4.490.395, na qual o pesquisador responsável, em concordância com seu orientador, considerou pertinente trazer essa investigação voltada a educação física escolar neste trabalho.

O público-alvo da pesquisa correspondeu a professores licenciados em educação física, que participaram de uma atividade referente a disciplina Núcleo Temático Interdisciplinar, do Colegiado de Educação Física, da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), desenvolvida por um grupo de acadêmicos do 8º período sob a supervisão da professora Dra. Yara Lucy Fidelix. A referida atividade contou com a participação remota e voluntária de 94 (noventa e quatro) professores com diferentes formações, como Artes Visuais, Biologia, Química, Física, Geografia, Educação Física, Letras, Matemática, etc., e atuantes na Educação Básica de alguns municípios situados nos estados da Bahia, Alagoas e Sergipe. No entanto, para atender os objetivos propostos, foram incluídos neste estudo somente os dados coletados referentes aos professores de Educação Física.

No que se refere aos instrumentos de pesquisa, foi utilizado um questionário sociodemográfico para traçar o perfil dos participantes, e um instrumento elaborado pelo Grupo de Qualidade de Vida da Organização Mundial da Saúde, conhecido como World Health Organization Quality of Life (WHOQOL-bref), versão simplificada, que avalia a qualidade de vida de modo geral e com base em alguns construtos subjetivos e multidimensionais, composto por 26 questões subdivididas em duas gerais, e as demais em quatro domínios, a saber: físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente. Esse instrumento é amplamente utilizado em pesquisas de diversas áreas do conhecimento, principalmente nos campos da saúde e educação, e no Brasil, foi traduzido e validado por um grupo de pesquisadores na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (FLECK et al., 1999; 2000).

Nesse contexto, os instrumentos foram transpostos e adaptados à plataforma de Formulários do Google, também conhecida como “Google Forms”, que por ser uma ferramenta on-line para criação e armazenamento de formulários na “nuvem”, seu uso se intensificou notoriamente nas pesquisas e atividades escolares remotas durante esse período de distanciamento físico social, sendo um recurso gratuito e acessível/compatível com diversas plataformas e dispositivos móveis.

 

Resultados e discussões

Dentre os 94 (noventa e quatro) professores que responderam o formulário on-line, 14 (quatorze) possuíam formação em Licenciatura em Educação Física, sendo que um deles atuava no Ensino Superior, e por isso, foram incluídos neste estudo somente os 13 (treze) restantes para mantermos o foco na Educação Básica. Desse total, 69% (nove) cursaram a graduação na modalidade presencial, e 77% (dez) informaram possuir título de especialista, enquanto que os demais, somente a titulação de licenciatura. 

Quanto à faixa etária, a idade média desses professores correspondeu a 35 (trinta e cinco) anos, com variação mínima de 23 (vinte e três) e máxima de 50 (cinquenta), e desvio padrão de 8,6 anos. O gênero predominante foi o masculino, com 77% (dez), e no geral, todos os participantes referiram atuar na Educação Básica, especificamente 46% (seis) no Ensino Fundamental e 54% (sete) no Ensino Médio. Ainda sobre o vínculo empregatício desses participantes, apenas um professor referiu trabalhar na esfera privada, e os demais na escola pública, sendo que praticamente a metade (sete), informaram ser servidores efetivos.

As duas primeiras questões fazem parte do domínio geral, em que os professores puderam informar seu nível de satisfação com a saúde e ao mesmo tempo autoavaliar sua qualidade de vida.  Ao analisar as respostas dessas duas primeiras questões, é possível perceber que de maneira geral, cerca de 77% dos professores de educação física afirmaram ter boa qualidade de vida e estarem satisfeito com a saúde (considerando a marcação dos dois últimos níveis da escala Likert, ou seja, “boa e muito boa” e “satisfeito e muito satisfeito”, respectivamente), mas uma parcela significativa se manteve neutra sobre esses aspectos, e cerca de 15% indicou insatisfação com sua saúde, algo compreensível tendo em vista o período pandêmico vivenciado, que por sua vez, afeta a saúde em suas múltiplas dimensões biopsicossociais.

Analisaremos a seguir as frequências descritiva das próximas questões agrupadas nos domínios: Físico; Psicológico; Relações sociais; e Meio ambiente. Inicialmente, no que se refere ao domínio “Físico”, mais de 80% dos respondentes relataram a ausência ou o gradiente “muito pouco” de dor ou desconforto e dependência de medicação ou tratamento, o que nos faz inferir que esses professores apresentam boas condições de saúde do ponto de vista fisiológico. No entanto, nos chamou atenção o fato de boa parte dos participantes ter ficado imparcial sobre as questões 04 e 17, que questiona sobre a necessidade de tratamento médico no dia a dia, e sobre o nível de satisfação para desempenhar as atividades diárias, respectivamente, o que nos faz refletir que embora esses educadores não tenham referido dor física, podem apresentar outras queixas e/ou necessidades para buscar os serviços de saúde, que por sua vez, podem interferir em suas atividades cotidianas, inclusive em sua própria atuação enquanto profissional de educação física.

Prosseguindo com a análise descritiva dos resultados, dessa vez sobre as frequências do domínio “Psicológico”, percebemos que a maioria dos professores participantes desta pesquisa mostraram boa satisfação no que diz respeito aos sentimentos positivos, espiritualidade/religiosidade e sentido da vida nas questões 05 e 06. Já na questão 07, mais de 30% dos respondentes classificou como razoável sua capacidade de concentração, e quase 8% confirmaram ter pouca capacidade para se concentrar, o que porventura pode representar um importante indicativo de dificuldade e/ou comprometimento para desenvolver suas atividades docentes, tendo em vista que atuação do professor exige muita concentração e elementos cognitivos para elaboração dos planos de aulas e de atividades escolares, que por sua vez, ao refletir sobre esse período de ensino remoto emergencial por conta de pandemia de Covid-19, faz sentindo a maioria desses profissionais, ou seja, 53,8%, ter referido apresentar frequentemente mau humor e sentimentos negativos, como ansiedade, depressão. Esses achados reforçam o quanto é importante e necessário promover ações que possam melhorar a qualidade de vida dos professores.

O próximo domínio que foi analisado foi o de “Relações sociais”, que por sua vez, se mostrou satisfatório, visto que a maioria dos professores confirmou estar satisfeita com sua relação envolvendo amigos, familiares e a sociedade em geral, vida sexual e suporte de amigos, mas não podemos desconsiderar que grande parte desses participantes optaram por uma resposta neutra, e nos chamou atenção, sobretudo a questão 21, na qual foi constatado que mais de 15% dos respondentes estão muito insatisfeito com sua vida sexual e/ou sexualidade maneira geral, e outros 23% apresentaram neutralidade sobre essa questão.

Finalizando a discussão desses domínios de qualidade de vida, os achados referentes ao domínio “Meio ambiente” possuem uma importante relação com os condicionantes sociais da saúde, estabelecidos pela OMS, e embora a maioria dos professores não tenha indicado problemas ou insatisfação com sua moradia, segurança, acesso a informações e oportunidades de lazer em sua vida diária, as respostas da questão 24 nos chamou atenção devido ao fato de que praticamente 40% desses participantes terem relatado insatisfação com o acesso aos serviços de saúde. Infelizmente esses dados já eram esperados e ao mesmo tempo compreensíveis diante das limitações apresentadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro, que ao longo de décadas tem enfrentado problemas políticos, de gestão e insuficiência de recursos e de planejamento para atender os princípios da universalização, integralidade e equidade da população, algo que se intensificou gigantescamente em meio ao cenário pandêmico, com o colapso do sistema público e privado em meados de março, assim como a falta de vacinas e a ineficiente e desastrosa atuação do Governo Federal em defender tratamento precoce e sem embasamento científico para combater a Covid-19.

Diante das discussões e reflexões levantadas neste trabalho, torna-se perceptível os desafios lançados para atuação dos professores de Educação Física em meio ao cenário pandêmico, sobretudo no que se refere às práticas didático-pedagógicas para promoverem a redução dos períodos de imobilidade dos alunos por meio do ensino remoto, tendo em vista alguns fatores que podem interferir negativamente nesse processo, como a dependência e o uso indiscriminado das TDIC pelos discentes, além da falta de motivação para desenvolver práticas de atividades físicas, agravadas ainda mais com a ausência de estrutura e de materiais e equipamentos apropriados em suas casas, além da falta de acompanhamento presencial do professor.

Assim, embora a maioria dos professores participantes deste estudo tenha mostrado níveis razoáveis e satisfatórios com relação a qualidade de vida de maneira geral, e também nas dimensões físicas, psicológicas, sociais e ambientais, por meio da aplicação do  WHOQOL-bref, é possível inferir que o atual problema de saúde pública, juntamente com as exigências para poder lidar de maneira apropriada com os múltiplos aspectos recorrentes do ensino remoto, podem sobrecarregar a atuação docente desses profissionais ao ponto de eles se sentirem pressionados ou inseguros com tantas atribuições e, consequentemente, terem sua qualidade de vida prejudicada. Entretanto, reconhecemos a necessidade de aprofundar essa discussão em novas pesquisas que contemplem mais elementos qualitativos e com um maior grupo amostral de professores para poder estabelecer novas relações.

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