Metadados do trabalho

Dupla Excepcionalidade Na Perspectiva Da Formação De Graduandos De Pedagogia

Ariane Luzia dos Santos

Este trabalho versa sobre a importância de se estudar dupla excepcionalidade na formação inicial dos graduados em Pedagogia que irão lecionar na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental. O objetivo desta pesquisa bibliográfica é apresentar um panorama dos programas de ensino de cinco disciplinas de quatro diferentes cursos de licenciatura em pedagogia que abarcam conteúdos sobre alunos que precisam de atendimento educacional especializado, visando detectar os tópicos relacionados à dupla excepcionalidade, em particular altas habilidades/superdotação (AH/SD) e transtorno do espectro autista (TEA). Além disso, almeja – se que este trabalho possa contribuir para analisar a formação inicial dos licenciados em Pedagogia no que refere-se ao atendimento educacional especializado dos estudantes com dupla excepcionalidade. Conclui-se que as ementas das disciplinas analisadas não contemplam esta temática considerada e que há a necessidade de um olhar multidisciplinar sobre a dupla excepcionalidade no âmbito educacional.

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Como citar este trabalho

SANTOS, Ariane Luzia dos. DUPLA EXCEPCIONALIDADE NA PERSPECTIVA DA FORMAÇÃO DE GRADUANDOS DE PEDAGOGIA. Anais do Colóquio Internacional Educação e Contemporaneidade, 2021 . ISSN: 1982-3657. Disponível em: https://www.coloquioeducon.com/hub/anais/268-dupla-excepcionalidade-na-perspectiva-da-forma%C3%A7%C3%A3o-de-graduandos-de-pedagogia. Acesso em: 16 out. 2025.

DUPLA EXCEPCIONALIDADE NA PERSPECTIVA DA FORMAÇÃO DE GRADUANDOS DE PEDAGOGIA

Introdução

 

Nos últimos anos tem despontado um número crescente de pesquisa relacionadas aos alunos com alguma necessidade educacional especial (ALVES E NAKANO, 2015; HAKIM, 2016; VILARINHO-REZENDE et al 2016), incluindo alunos com altas habilidades/superdotação (AH/SD) coexistindo com alguma condição, a primeira vista, não compatíveis a pessoas superdotadas, ou seja, alunos com a dupla excepcionalidade.

A dupla excepcionalidade, segundo Alves e Nakano (2015, p. 347) pode ser definida como a existência de alta performance, talento, habilidade ou potencial, ocorrendo concomitantemente com uma desordem psiquiátrica, educacional, sensorial e física. Esse assunto vem se instituindo cada vez mais em uma área de grande interesse nas pesquisas científicas, mesmo com escassos estudos no Brasil, e tem sido considerado de grande relevância para maior compreensão dos alunos com necessidade educacional especializada.

O processo de formação inicial do professor que leciona na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental é um tema que gera muitos questionamentos no âmbito  educacional. Diversas são as discussões em relação à forma que os conteúdos relacionados ao atendimento dos alunos com necessidades educacionais especiais são abordados nos cursos de graduação em Pedagogia.

O processo de formação dos licenciados em Pedagogia que irão ministrar aulas na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental abarca a função de preparar esses futuros docentes em relação ao ensino de alunos com alguma necessidade educacional especial. Entre eles, por exemplo, estão os alunos com altas habilidades/superdotação (AH/SD), com transtorno do espectro autista (TEA) e com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).

A relevância do atendimento educacional especializado aos estudantes que apresentam necessidades especiais, foi reconhecida no Brasil  desde 1971 pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 5. 692. De acordo com esta lei federal, os estudantes com altas habilidades/superdotação são aqueles que demostram alto desempenho ou potencial em uma ou mais das seguintes áreas: habilidade intelectual geral, capacidade acadêmica específica, pensamento criativo ou produtivo, habilidade de liderança, habilidades em artes, música ou psicomotoras.

Em 1973 foi criado o Centro Nacional de Educação Especial (CENESP), responsável pela supervisão da Educação Especial no Brasil. O centro impulsionou ações educacionais voltadas às pessoas com deficiência e às pessoas com altas habilidades/superdotação, mas ainda configuradas por campanhas assistenciais e iniciativas isoladas do Estado.

Pensando em uma Educação Inclusiva, a Resolução CNE/CP nº 1/2002, que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de professores da Educação Básica, define que as instituições de ensino superior devem prever, em sua organização curricular, formação docente voltada para a atenção à diversidade e que contemple conhecimentos sobre as especificidades dos alunos com necessidades educacionais especiais. Inclusive dos alunos com altas habilidades/superdotação.

Especificamente em relação a AH/SD, em 2005, foram implantados os Núcleos de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação (NAAH/S) em todos os estados brasileiros e no Distrito Federal.Com isso, são instituídos centros de referência na área das altas habilidades/superdotação para o atendimento educacional especializado, para a orientação às famílias e a formação continuada dos professores, estabelecendo a organização da política de Educação Inclusiva de forma a garantir esse atendimento aos alunos da rede pública de ensino.

Segundo Wechsley e Suarez (2016, p.42), a proposta do NAAH/S, além de propiciar aos professores formação de novas estratégias de ensino para motivar estudantes com AH/SD, é de incluir os pais em grupos de atendimento para que possam torna-se mais vigilantes às necessidades especiais de seus filhos.

O lançamento do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), foi em 2007, reafirmado pela Agenda Social, tendo como eixos a formação de professores para a Educação Especial, a implantação de salas de recursos multifuncionais. Além disso, houve também a publicação de quatro volumes intituladosA construção de Práticas Educacionais para alunos com Altas habilidades/Superdotação. Wechsley e Suarez (2016, p.42) corroboram com Freeman e Güenther (2000) quando os autores afirmam que estas e outras publicações demonstram a importância do acompanhamento psicológico e estímulo ao desenvolvimento do talento humano.

Para o bem estar e desempenho do estudante com AH/SD, a formação do professor exerce um importante papel. Wechsley e Suarez (2016, p.42) afirmam que para Delou (2012), enquanto não houver professores capacitados, pouco se progredirá no cumprimento dos direitos educacionais destes estudantes. Além disso, para Güenther (2006) a formação dos professores é o aspecto mais importante para o sucesso de programas para alunos AH/SD. Uma vez que o professor é quem define o ambiente, quem inspira ou devasta a autoconfiança do estudante.

Apesar da ideia de AH/SD estar intimamente pautada nas capacidades mais relevantes que uma pessoa possa apresentar, é possível encontrar casos em que é também diagnosticado algum transtorno, como TEA e TDAH. Percebe-se que poucos professores estão preparados para trabalhar com alunos que possuam altas habilidades/superdotação em alguma área e com algum tipo de déficit. Nesse sentido, este trabalho vai considerar a situação em que um aluno com AH/SD também seja diagnosticado, com síndrome de Asperger (SA), no TEA, ou seja, a dupla excepcionalidade.

O Transtorno do espectro autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento.  De acordo com a 5º edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de transtornos mentais (DSM – V), o TEA é caracterizado por comprometimento expressivo na interação social, associado ao déficit na comunicação verbal e não verbal, bem como manifestações clínicas relacionadas a padrões restritos e repetitivos de comportamentos estereotipados, inflexíveis, direcionados a interesses, atividades e ações específicas e rotineiras (American Psychiatric Association - APA, 2014).

De acordo com Cardoso e Pitanga (2020, p. 127), as dificuldades do TEA “estão presentes em múltiplos contextos, podendo ser manifestadas atualmente ou por histórias prévias, ocasionando, ao longo da vida do indivíduo, prejuízos no funcionamento pessoal, familiar, acadêmico, social e profissional.

Hakim (2016, p. 72) cita os autores Camargos et al. (2013) para conceituar a síndrome de Asperger como um transtorno do espectro autista (TEA) em que, na história pregressa do paciente, não há grau de atraso no desenvolvimento psíquico, presente no autismo clássico e é considerada uma síndrome comportamental.

Vale ressaltar que a síndrome de Asperger não aparece mais como diagnóstico distinto do TEA no DSM – V, mas ainda aparece na classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID – 10 ( World Health Organization Geneva – WHO, 1993, p. 252), sendo definida como “um transtorno de validade nosológica incerta caracterizada pelo mesmo tipo de anormalidades qualitativa de interação social recíproca que tipifica o autismo, junto com um repertório de interesses e atividades restrito e repetitivo”. O documento ainda menciona que a síndrome de Asperger difere do autismo “primariamente por não haver nenhum atraso ou retardo global no desenvolvimento cognitivo ou de linguagem”. Além disso, afirma que  a maioria dos indivíduos com a síndrome de Asperger é de inteligência global normal, mas é comum que seja nitidamente desajeitada.

Cabe dizer que todas as referencias usadas nesta pesquisa estão apreciando a dupla excepcionalidade, considerando altas habilidades/superdotação coexistindo com síndrome de Asperger, a qual a partir do DSM-V aparece dentro do TEA. Dessa forma, em algumas citações há menção de síndrome de Asperger e em outros momentos poderá aparecer apenas TEA, sendo nesse caso, considerado autista de nível de suporte 1 sem atraso ou retardo global no desenvolvimento cognitivo ou de linguagem.

Observa-se uma crescente preocupação de pais e professores sobre a dupla excepcionalidade, particularmente por diagnóstico e intervenção precoces e adequadas. Paralelo a isso, nota-se uma escassez de discussões no processo de formações inicial e continuada de professores que irão ministrar aula na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental.

Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é apresentar um cenário dos programas de ensino de  cinco disciplinas de quatro diferentes cursos de licenciatura em pedagogia que abarcam conteúdos sobre alunos que precisam de atendimento educacional especializado, visando detectar os tópicos relacionados à dupla excepcionalidade, em particular, AH/SD e TEA. As disciplinas em questão são nomeadas por Educação Inclusiva, Fundamentos da Educação Inclusiva, Educação Especial, Educação Especial – fundamentos, políticas e práticas escolares e Projeto integrado de estágio em docência em Educação Especial. Além disso, anseia – se colaborar para responder a seguinte pergunta: Como é a formação inicial dos licenciados em Pedagogia que irão ministrar aulas na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental no que diz respeito à dupla excepcionalidade, em particular, AH/SD e  a síndrome de Asperger ( que encontra-se no TEA)? Para realização deste trabalho utilizou-se a pesquisa bibliográfica feita a partir de documentos normativos, artigos e livros que versam sobre o tema estudado e da análise de cinco ementas das disciplinas Educação Inclusiva, Fundamentos da Educação Inclusiva, Educação Especial, Educação Especial – fundamentos, políticas e práticas escolares e Projeto integrado de estágio em docência em Educação Especial para quatro cursos de Pedagogia de universidades públicas paulistas. Cada disciplina é obrigatória e semestral no curso de graduação em Pedagogia que a mesma está inserida. A análise dos resultados foi feita a partir dos objetivos e dos conteúdo programático de cada programa de ensino da disciplina considerada.

 

Altas habilidades/superdotação e transtorno do espectro autista: a dupla excepcionalidade

 

A dupla excepcionalidade na área de altas habilidades/superdotação é um tema que tem despertado o interesse dos estudiosos, familiares e professores que convivem com pessoas superdotadas.

Atualmente, de acordo com Hakim (2016, p.65) os estudos estão voltados para identificação e reconhecimento de alunos com AH/SD e portadores de TDAH e os alunos com AH/SD e SA. Vale dizer que este trabalho abordará apenas a dupla excepcionalidade AH/SD e SA.

Vilarinho-Rezende et al. (2016, p. 64) citam Guimarães e Alencar (2012) para afirmar que existe uma quantidade significativa de indivíduos com a síndrome de Asperger que apresentam nível intelectual superior à média, sendo assim, diagnosticados como superdotados com síndrome de Asperger, ou seja, com dupla excepcionalidade.

Para trabalhar com os alunos que possuem a dupla excepcionalidade em questão, faz-se necessário que os professores tenham conhecimento aprofundado tanto sobre AH/SD e TEA, quanto sobre as características que as diferenciam. Dessa forma, há uma maior possibilidade de se construir uma educação inclusiva respeitando as características dos estudantes.

O quadro a seguir explicita nove características que distinguem o AH/SD do AH/SD com SA, descritas por Neihart (2000) e apresentadas por Vilarinho-Rezende et al. (2016, p. 65).

 

Quadro 1. Características que distinguem o AH/SD do AH/SD com síndrome de Asperger, segundo Neihart (2000).

Altas Habilidades/Superdotado

Altas Habilidades/Superdotado com síndrome de Asperger

Padrão de fala normal mas podem ter uma linguagem mais avançada para sua idade.

Fala pedante e sem conexões.

Costumam resistir passivamente à rotina, e muitas vezes, aceitam-na.

Baixa tolerância à mudança de rotina.

Têm consciência que são diferentes.

Têm baixo nível de consciência que são diferentes.

A atenção, quando perturbada, é por estímulos externos.

A atenção, quando perturbada, é por estímulos internos.

Se envolvem em humor socialmente recíproco.

Apesar de conseguir fazer jogos de palavras não entendem humor que exige reciprocidade social.

Bom discernimento.

Discernimento ausente.

Imperícia motora com menor frequência.

Imperícia motora com maior frequência.

Afetividade inapropriada com menor frequência.

Afetividade inapropriada com maior frequência.

Estereotipia com menor frequência.

Estereotipia com maior frequência.

Fonte: Vilarinho-Rezende et al. (2016, p. 65). Elaborado pelo autor.

 

Em relação ao desempenho acadêmico dos estudantes com a dupla excepcionalidade, Vilarinho-Rezende et al. (2016, p. 66) mencionam os autores Assouline et al. (2009) e  Foley-Nicpon et al. (2012) para afirmar que os “indivíduos superdotados tanto com síndrome de Asperger ou autismo de alto funcionamento exibem bom desempenho nas áreas de leitura, Matemática, linguagem escrita e linguagem oral com escores acima da média”.

Além disso, ainda de acordo com Assouline et al. (2009) pessoas com dupla excepcionalidade podem apresentar excelente performance em linguagem, narrativa e memorização. “Entretanto, expressam alguns problemas quanto ao desempenho em atenção, comportamento inibitório, memória para faces e reconhecimento de emoções quando comparados a superdotação sem qualquer transtorno.”, segundo Vilarinho-Rezende et al. (2016, p. 66).

Cabe dizer que não há um perfil único de estudantes com AH/SD, tampouco há de estudantes com AH/SD e com síndrome de Asperger. Diante do exposto, percebe-se a importância de abordar mais a dupla excepcionalidade ao longo da formação dos graduandos de pedagogia. É neste contexto que o presente trabalho apresenta um panorama de programas de ensino de disciplinas de diferentes cursos de licenciatura em pedagogia que abrangem conteúdos sobre alunos que precisam de atendimento educacional especializado, visando apontar os tópicos relacionados à dupla excepcionalidade.

 

Métodos

Para realização deste trabalho utilizou-se a pesquisa bibliográfica feita a partir da análise de cinco ementas das disciplinas Educação Inclusiva, Fundamentos da Educação Inclusiva, Educação Especial, Educação Especial – fundamentos, políticas e práticas escolares e Projeto integrado de estágio em docência em Educação Especial para quatro cursos de Licenciatura em Pedagogia de universidades públicas paulistas. Cada disciplina é obrigatória e semestral no curso de graduação em Pedagogia que a mesma está inserida. A análise dos resultados foi feita a partir dos objetivos e do conteúdo programático de cada programa de ensino da disciplina considerada.                   

                                                                                                                                                                                               

Quadro 2. Disciplinas dos cursos de Pedagogia

Curso

Disciplina

Carga horária

Última atualização do programa de ensino

A

Educação Inclusiva

68

2013

B

Fundamentos da Educação Inclusiva

75

2017

C

Educação Especial

60

2017

D

Educação Especial – Fundamentos, Políticas e Práticas escolares

60

2020

D

Projeto Integrado de Estágio em Docência em Educação Especial

90

2020

Fonte: autor.

 

 

Vale dizer que as disciplinas Educação Especial – Fundamentos, Políticas e práticas escolares  e Projeto integrado de estágio em docência em Educação Especial são realizadas em conjunto no curso D avaliado. Nos demais cursos considerados, não há pré e co – requisito para as disciplinas Educação Inclusiva, Fundamentos da Educação Inclusiva e Educação especial. Essas disciplinas também não são realizadas em conjunto com nenhuma outra disciplina associada ao estágio em docência.

Resultados e discussão

O processo de formação de docentes no que se refere à inclusão educacional de alunos com dupla excepcionalidade é imprescindível. Hakim (2016, p. 91) afirma que Alencar (2001) reitera que é essencial que o professor esteja melhor provido para propiciar uma educação de boa qualidade, levando em consideração as diferenças individuais e encorajando o desenvolvimento de talentos, competências e habilidades diversas.

Lopes et. al. (2014, p. 41) acordam com Alencar e Fleith (2001), quando os autores afirmam que as propostas educacionais para serem efetivas devem considerar as áreas cognitiva, acadêmica, afetiva e social; a existência de uma parceria entre família e escola e oferta de uma variedade de modalidades de atendimento escolar.

As ementas das disciplinas analisadas não contemplam com profundidade os conteúdos desejáveis na formação inicial de docentes que poderão atuar com alunos com dupla excepcionalidade, uma vez que há poucos tópicos mencionando altas habilidades/superdotação e TEA na Educação Infantil ou nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Além disso, nenhum programa abarca a possibilidade da coexistência do aluno com AH/SD e TEA, de forma explícita. 

O Quadro 3, a seguir,  apresenta os objetivos e o conteúdo programático da disciplina Educação Inclusiva do curso A, cuja carga horária é de 68 horas semestrais.

Quadro 3. Objetivos e Conteúdo Programático da disciplina Educação Inclusiva

Objetivos

Conteúdo Programático

Analisar as questões conceituais (filosóficas –ética-políticas) relativas ao processo de inclusão educacional.

Aspectos históricos e conceituais do processo de inclusão.

Propor alternativas pedagógicas (programas e ações) para o atendimento educacional de alunos com a necessidades educacionais especial (NEE) em sala de aula.

Caracterização de diversos tipos de deficiências, altas habilidades e condutas típicas.

Debater os pressupostos teóricos e práticos que envolvem a construção de uma educação inclusiva.

Políticas de atendimento aos alunos com necessidades educacionais especiais.

-

Concepções do currículo considerando a diversidade do alunado com NEE na escola.

-

Educação Inclusiva e a ação educativa: suportes necessários e estratégias de intervenção.

Fonte: autor.

Observa-se que no conteúdo programático da disciplina Educação Inclusiva do curso A é citado a caracterização de diversos tipos de e altas habilidades  e de deficiências, em particular pode estar o TEA. Menciona-se também as políticas de atendimento aos alunos com NEE e concepções do currículo considerando a diversidade do aluno com NEE. Neste caso, há possibilidades de ser abarcado o aluno com dupla excepcionalidade e o tema ser tratado com mais especificidade, mas quando olhamos a referência bibliográfica proposta não há nenhuma alusão que isso aconteça realmente, uma vez que as referências bibliográficas sugeridas não apresentam nenhuma literatura específica sobre a dupla excepcionalidade, além dos documentos normativos que versam sobre a temática em questão.

A disciplina Fundamentos da Educação Inclusiva do curso B  tem como objetivo geral compreender o conceito de Educação Inclusiva e suas implicações para o contexto escolar. O Quadro 4, a seguir, apresenta os objetivos específicos e o conteúdo programático da disciplina Fundamentos da Educação Inclusiva, cuja carga horária é de 75 horas semestrais, sendo 60 horas teóricas e 15 horas práticas.                                              

Quadro 4. Objetivos e Conteúdo Programático da disciplina Fundamentos da Educação Inclusiva

Objetivos

Conteúdo Programático

Conhecer a história da deficiência.

Olhares sobre a Educação Inclusiva (a relação normalidade e excepcionalidade; a questão do estigma da rotulação, multiculturalismo/diversidade; inclusão/integração nas instituições escolares).

Diferenciar o conceito de integração e inclusão.

Desmistificando as deficiências (A história da deficiência no mundo e no Brasil; os tipos de deficiência e suas possíveis causas; as diversidades nas instituições escolares).

Identificar os princípios e concepções que fundamentam a perspectiva da educação inclusiva/ educação para todos.

Cotidiano escolar (Aprendizagem do aluno com necessidades educacionais diferenciadas; formação do professor inclusivo, tecnologias digitais e inclusão escolar).

Contribuir para uma visão mais ampla do tema e de possíveis estratégias no cotidiano da sala de aula.

-

Orientar em relação ao atendimento escolar de alunos com necessidades especiais.

-

Possibilitar a reflexão sobre a formação de professores no contexto da Educação Inclusiva.

-

Entender e levar as discussões das diversidades na escola, respeitando as diferenças das diversas naturezas.

-

Fonte: autor.

O Quadro 5, a seguir,  apresenta os objetivos e o conteúdo programático da disciplina Educação Especial do curso C, cuja carga horária é de 60 horas semestrais.

Quadro 5. Objetivos e Conteúdo Programático da disciplina Educação Especial

Objetivos

Conteúdo Programático

Analisar o panorama histórico da Educação Especial da antiguidade à atualidade.

A relação histórica entre a sociedade e a deficiência

Relacionar tal panorama aos marcos históricos e políticas públicas brasileiras.

Contextualização Legal e Políticas Públicas: Educação Especial X Educação Inclusiva.

Discutir o conceito de Educação Inclusiva e sua implicação na escola.

Inclusão escolar e atendimento educacional especializado (AEE).

Analisar as políticas públicas referentes à Educação especial e Educação Inclusiva.

Deficiência auditiva/surdez: abordagem oral e adaptações de acesso ao currículo.

Conhecer, de forma elementar, as necessidades educacionais especiais quanto à etiologia, prevenção e modalidades de recursos educacionais disponíveis para alunos com Deficiência Auditiva/Surdez, Deficiência Visual/Cegueira, Deficiência Física, Deficiência Intelectual,

Transtorno Global do Desenvolvimento e altas habilidades/superdotação (público alvo da Educação Especial).

Deficiência auditiva/surdez: abordagem bilíngue e adaptações de acesso ao currículo.

-

Deficiência visual/cegueira e adaptações de acesso ao currículo

-

Deficiência física e adaptações de acesso ao currículo

-

Deficiência intelectual e adaptações de acesso ao currículo

-

Altas habilidades/superdotação e adaptações de acesso ao currículo

-

TGD – transtorno global do desenvolvimento e adaptações de acesso ao currículo.

Fonte: autor.

Observa-se que no conteúdo programático da disciplina Educação Inclusiva do curso C é referido a necessidade de se conhecer, de forma elementar, as necessidades educacionais especiais quanto à etiologia, prevenção e modalidades de recursos educacionais disponíveis para alunos do público alvo da Educação Especial, em particular para estudantes com altas habilidades/superdotação e Transtorno global do desenvolvimento, em particular, SA e TEA. Além disso, versa-se também  sobre as adaptações de acesso ao currículo em relação à AH/ SD e TGD.

Vale dizer que entre as disciplinas analisadas, Educação Inclusiva do curso C é uma das disciplinas que mais especifica o conteúdo sobre altas habilidades/superdotação e TGD, mas é citado no programa de ensino que isso acontece de forma incipiente. Além disso, na referência bibliográfica proposta não há nenhuma indicação de material didático mais detalhado sobre dupla excepcionalidade.

O Quadro 6, a seguir,  apresenta os objetivos e o conteúdo programático da disciplina Educação Especial – Fundamentos, Políticas e Práticas escolares do curso D, cuja carga horária é de 60 horas semestrais, sendo 20 horas consideradas como práticas para componentes curriculares.

Quadro 6. Objetivos e Conteúdo Programático da disciplina Educação Especial– Fundamentos, Políticas e Práticas escolares

Objetivos

Conteúdos Programáticos

Propiciar ao aluno conhecimentos sobre os princípios e conceitos que delinearam, historicamente, o campo da educação especial.

Princípios, conceitos e concepções que compõem o campo da educação especial.

Apresentar as diretrizes legais da política educaciona

Conclusão

 

Observa-se que o tema de dupla excepcionalidade na área de altas habilidades/superdotação é um campo de estudo recente no Brasil. As pesquisas  em geral versam sobre a identificação dos estudantes com AH/SD e com SA ou com TEA e sobre o atendimento educacional especializado desses alunos mas não abarcam estudos com a coexistência dessas duas situações. Sendo assim, há pouco material que tratam da formação docente inicial e continuada dos professores que irão lecionar na Educação Infantil ou nos anos iniciais do Ensino Fundamental abordando a questão da dupla excepcionalidade.

De uma forma geral, as disciplinas direcionadas ao ensino de alunos que necessitam de atendimento educacional especializado nos cursos de graduação em Pedagogia analisados não abordam com profundidade os conteúdos desejáveis na formação inicial de docentes que poderão atuar com alunos com AH/SD, SA ou TEA na Educação Infantil ou nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Além disso, as referências bibliográficas sugeridas não apresentam nenhuma literatura específica sobre a dupla excepcionalidade na área das altas habilidades/superdotação.

Cabe ressaltar que os curso analisados, normalmente, não apresentam uma disciplina prática para abarcar os alunos que são público-alvo da educação especial, em particular, os estudantes com dupla excepcionalidade. A exceção fica com o curso D que possui uma disciplina Projeto integrado de estágio em docência em Educação Especial mas o programa de ensino da disciplina não deixa muito claro que é dada uma atenção específica aos alunos com dupla excepcionalidade, visto que esse tema não é mencionado na ementa.

Diante da formação do professor da Educação infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental, nota-se que são muitos os desafios para identificar um aluno com indicação de dupla excepcionalidade e para implementar o atendimento educacional especializado para estes estudantes, público alvo da educação especial. Tendo como premissa o direito de todos à educação escolar, com garantia de acesso e permanência a um ensino de qualidade que respeite as diferenças.

 

 

 

Referências

 

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