Este relato é subsidiado pelas experiências pedagógicas e formacionais, vivenciadas enquanto graduanda do curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) - Bahia e bolsista pelo Programa de Residência Pedagógica (PRP), atuante como residente no Centro Juvenil de Ciência e Cultura (CJCC) do município de Feira de Santana.
O CJCC se caracteriza como uma iniciativa da Secretaria da Educação do Estado da Bahia para o fortalecimento da educação complementar, diversificação do currículo e ampliação de jornada. Foram instituídos formalmente a partir do Decreto nº 12.829, de 4 de maio de 2011, do Governo do Estado da Bahia (BAHIA, 2015).
Nos Centros Juvenis, são oferecidos um conjunto de oficinas, cursos e atividades para livre escolha dos estudantes do Ensino Médio e Anos Finais do Fundamental da rede estadual de ensino, possibilitando que assumam a responsabilidade pela ampliação de sua jornada de formação, são espaços interescolares, ou seja, operam sempre em diálogo com as escolas de ensino regular da rede estadual, de onde se originam os estudantes que participam das atividades. Há, ainda, ofertas pontuais, experimentos pedagógicos, de atividades para outras modalidades e séries, bem como para a comunidade do entorno de cada CJCC (BAHIA, 2015).
Atualmente são 09 Centros Juvenis do estado da Bahia, localizados nas seguintes cidades: Salvador, Barreiras, Senhor do Bonfim, Itabuna, Vitória da Conquista, Irecê, Jequié, Serrinha e Feira de Santana. A percepção sobre esses Centros e seus desdobramentos, práticos e conceituais, trazem em si um potencial significativo para o aprimoramento de políticas públicas baianas no campo da educação (RUBIM, 2018).
Segundo seu Documento Base, os Centros Juvenis incentivam os estudantes pela relação com o ato de aprender, motivada pela descoberta, fundamentando-se em quatro pilares, quais sejam: i) estudante é autor de sua jornada; ii) a escola é conexão; iii) o conhecimento é transmídia e iv) aprender é divertido.
As atividades pedagógicas comumente são ofertadas em formatos de cursos, atividades livre e oficinas interdisciplinares, além de projetos de investigação e criação de produtos pelos próprios estudantes, oferecidas em ciclos, normalmente três ou quatro por ano. Os estudantes recebem certificados de participação e é possível que se inscrevam em atividades simultâneas, desde que não haja sobreposição de horários ou conflito com o curso regular.
Ao prever a participação do estudante em seus espaços formativos, o CJCC potencialmente ampliam a complexidade do sistema escolar público do estado da Bahia, por intermédio de uma proposta de aprendizagem que ultrapassa as fronteiras das disciplinas e das áreas de conhecimento. O trânsito fluido através das áreas e a conexão entre formas diversas de conhecer demonstram haver outras possibilidades potenciais de sistematização interdisciplinar do conhecimento (RUBIM, 2018).
O Programa de Residência Pedagógica é identificado como uma atividade de formação realizada por discentes regularmente matriculados em cursos de licenciatura e desenvolvida em escolas públicas da educação básica, denominada escolas-campo; definido com o propósito de promover a experiência de regência em sala de aula aos discentes da segunda metade dos cursos de licenciatura, acompanhados pelo(a) professor(a) da escola (preceptor) e sob orientação de um(a) docente da Instituição de Ensino Superior (EDITAL RP/PROGRAD 01/2020). O programa tem por objetivo, aproximar os graduandos/residentes das demandas do ambiente escolar em todas as suas nuances. Conforme afirmam os seguintes autores:
Reconhece-se cada vez mais a necessidade de investimentos em propostas nas quais se valoriza a aproximação entre os saberes dos profissionais atuantes na educação básica e aqueles saberes produzidos nas instituições de ensino superior, num processo de construção de novos conhecimentos sobre escola, ensino, docência e prática pedagógica (RODRIGUES; CERDAS; PASCHOALINO, 2017, p. 02).
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A atuação no PRP para os residentes participantes do EDITAL RP/PROGRAD 01/2020, se efetivou de forma remota, devido a pandemia do COVID-19, doença infecciosa causada pelo novo Coronavírus que se espalha facilmente, por gotículas de saliva ou secreções nasais, entendida como uma Emergência de Saúde Pública de importância internacional, devido a sua gravidade e para sua contenção, a sugestão era o distanciamento social. Diante deste cenário as atividades presenciais foram suspensas por determinação dos órgãos sanitários e gestores, e as aulas da educação básica aconteceram remotamente, adaptação curricular temporária para dar continuidade as atividades de ensino durante o distanciamento social, assim como as atividades referentes ao PRP.
Deste modo, professores e estudantes habituados com o presencial, precisaram adaptar-se ao remoto, mediado pelas tecnologias, se estendendo para as atividades de extensão e pesquisa da universidade. Essa transição, não é simples, pois exigiu novas aprendizagens principalmente relacionadas à integração das tecnologias digitais da informação e comunicação, à repensar a estrutura das aulas; as ações de continuidade e as abordagens pedagógicas, mas também evidenciou os desafios de acesso às tecnologias (GODOI et al, 2021).
O cenário educativo, é permeado por desafios e demandas, e em decorrência da atipicidade atual, o caráter remoto demonstrou dificuldades como: problemas de conexão; ausência de conhecimento das ferramentas tecnológicas e digitais; isolamento social; aplicabilidade; falta de equipamentos; espaços inadequados, sobretudo esses fatores não anularam a decisão em participar do PRP no Subprojeto de Licenciatura em Educação Física, entendendo a relevância de ocupar os espaços formativos que a universidade oferece para a formação inicial.
A atividade docente é direta ou indiretamente conjunta, não se limita apenas à sala de aula e/ou às interações com os alunos. Na verdade, ela está interligada à relação e interação entre o professor com outros sujeitos que se envolvem e formam os mais diversos coletivos. Na conjuntura do PRP, por exemplo, essa coletividade é formada entre residentes, preceptor, estudantes, gestão, orientador, entre outros (NASCIMENTO, 2021).
A Educação Física (EF), disciplina fundamentada essencialmente pela práxis pedagógica, representa um contexto de inter-relação entre teoria e prática em constante movimento, onde as atividades permitem que o professor possa, não só conduzir o processo de ensino e aprendizagem teoricamente fundamentado, mas que contribua para a análise desta mesma teoria, trazendo da prática elementos que contribuam para o desenvolvimento e avanço da teoria (GIARETTON; SZYMANSKI, 2013).
Tratando-se da educação de professores, é essencial desenvolvê-la a partir de vivências pedagógicas no interior das instituições, da mesma maneira, é fundamental priorizar pela intencionalidade, aplicabilidade coerência, atentando ao contexto e sujeitos inseridos no processo (ZANCAN, 2012). De acordo a Machado et al (2020, p.12), em sua investigação sobre a EF em tempos de distanciamento social, “os docentes optaram por enfrentar as situações adversas por meio da reorganização dos seus planejamentos, da valorização da Educação Física como componente curricular”. Nesse sentido, me deparei com o desafio de ministrar de forma remota aulas de EF, disciplina que possui suas particularidades, assim, foi preciso fazer adaptação, inovar e criar estratégias metodológicas de ensino para as atividades desenvolvidas no CJCC.
Considerando as perspectivas supramencionadas, surge a escolha de relatar as experiências iniciais de aproximação com a docência no I Módulo do PRP no CJCC, correspondente ao seu I ciclo letivo, estas que aconteceram em formato de Atividades Livres (AL), remotamente, ministradas por um coletivo de oito residentes para estudantes do Ensino Médio e Anos Finais do Fundamental, supervisionados pela preceptora, que é professora de Educação Física da instituição.
Além disso, narrar a integração e ambientação no PRP e nos espaços próprios do CJCC, para entender sua dinâmica de funcionamento, como: Atividades Curriculares (AC); aproximação com gestão e corpo docente, bem como as experiências formacionais vinculadas.
Integração no Programa de Residência Pedagógica
O PRP objetiva o “aprimoramento de formação docente por meio da necessária articulação entre o que os alunos aprendem na universidade e o que experimentam na residência” (GONÇALVES; SILVA; BENTO, 2019, p. 681), assim, ressalto o pressuposto que o PRP pode ser uma possibilidade fecunda na formação docente, de aproximação do real cenário da educação, das adversidades e grande parte do que o envolve, ultrapassando os limites universitários, para considerar a complexidade do cotidiano da escola pública como um espaço formador (FELÍCIO; GOMES; ALLAIN, 2014).
Compreendo que o PRP pode acrescentar saberes e experiências, qualificar e agregar ao itinerário pessoal e profissional dos residentes, como a construção de novas experiências, de “reaprender os conteúdos estudados, de elaborar atividades e estratégias, além de desenvolver a responsabilidade, a ética e o compromisso, que contribui para reflexão permanente acerca da função do professor” (NETO; PEREIRA; PINHEIRO, 2020, p. 11)
Nesse sentido, acontece a integração no PRP com o Seminário de Abertura dos Programas de Iniciação à Docência da UEFS, tematizando de maneira geral sobre os “Desafios da escola pública na pandemia”, marcando o início das atividades do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) e PRP da UEFS (2020-2022). As palestras desse Seminário, contaram com os seguintes temas específicos: “A escola pública em tempos de pandemia" e a "Exclusão digital e seus desdobramentos na formação de professores e na educação pública”.
Endosso falas presentes nas palestras que julgo pertinente registrar, no tocante a sensibilidade para o olhar com cada estudante, da “inventividade” e criatividade nesse momento, que é preciso romper com certezas presumidas e verdades pressupostas, para um futuro que precisará mobilizar de maneira inteligente as ferramentas e plataformas digitais e quem não souber mergulhar na ocasião que a história nos coloca ficará para trás e, apesar de triste, trouxe uma possibilidade pedagógica. Igualmente, da necessidade de avaliar os cursos de formação inicial de professores e revisar os currículos, para pensar pedagogicamente a utilização das tecnologias, apropriação oportuna no processo educativo.
A partir desse momento de abertura oficial, cada Subprojeto prossegue com as atividades planejadas pelas suas coordenadoras e preceptoras para serem desenvolvidas junto aos residentes.
Tratando-se especificamente do Subprojeto de EF, devido ao contexto pandêmico, a metodologia adotada também foi remota. Realizamos reuniões gerais via plataforma digital para aproximação com o Programa, apresentação, organização dos residentes nas escolas-campo, momentos de leitura, reflexão, trabalho em grupo, atividades assíncronas, socialização, produção de escrita coletiva, exposição e exploração de documentos que envolvem princípios educacionais e da aprendizagem, dentre estes menciono: o Documento Curricular Referencial da Bahia, os Organizadores Curriculares Essenciais; os Caderno de Apoio à Aprendizagem, e outras leituras importantes referentes a esse panorama de inserção remota.
Nesse ínterim, participei de alguns eventos virtuais formativos, pontuo os seguintes: I MêsPed - Webinários de Pedagogia; Jornada Pedagógica Educação Física Escolar e Esporte: novos tempos, desafios e saberes para o ensino da Educação Física e esporte; IV Colóquio Docência e Diversidade na Educação Básica; 12° Encontro de Professores e Estudantes de Educação Física (EPEEF); I Ciclo de Palestras PRP – Educação Física e o I Seminário Educação Física e relações étnico-raciais. Além dos cursos e oficinas sobre ferramentas digitais para enriquecer as aulas remotas.
Dentre os eventos supracitados, faço um recorte especial para o I Ciclo de Palestras PRP – Educação Física, sistematizado pelo Subprojeto de EF, em que integrei a Comissão Organizadora, coordenando sua programação, incluindo a estruturação do evento; emissão dos certificados; organização das salas virtuais; divulgação; espaço cultural; escolha das temáticas e palestrantes, definidas em: “Os desafios da educação em tempos de ensino remoto”, com o Prof. Dr. João Danilo; “Contribuições das DCRB para Educação Física em tempos de ensino remoto”, com o Prof. Dr. Cristiano Bahia; “Ensino remoto: dificuldades e possibilidades “, com o Prof. Dr. Marcius Gomes e “Currículo Cultural da Educação Física”, com o Prof. Dr. Leonardo Duarte, no intuito de refletir temas relevantes no âmbito da educação básica relacionados ao PRP e promover momentos de discussão, partilha e de formação quanto às possibilidades e desafios das atividades remotas, com ênfase na Licenciatura em EF.
Participei também do Seminário de Integração promovido pela Secretaria da Educação do Estado da Bahia (SEC-BA), que contou em sua programação com lives e oficinas sobre os materiais usados para auxiliar os estudantes e professores no planejamento e execução do trabalho pedagógico para as atividades letivas remotas e das possibilidades para o retorno, assim como da Pré e Jornada Pedagógica Paulo Freire para marcar o início do ano letivo continuum 2020/2021.
No tocante a ambientação e imersão das atividades desenvolvidas no ambiente virtual escolar para inserção/conhecimento/diagnóstico do CJCC, no contexto da suspensão das aulas e ações remotas, participei de reuniões com gestão e corpo docente para entender sua estrutura e dinâmica funcional, partilha pelos professores de atividades produzidas em outros ciclos letivos, encontros formativos sobre o uso de ferramentas no Google e momentos socioemocionais.
A live “Rede Estadual de Educação e os Centros Juvenis de Ciência e Cultura: novos desafios” foi a aula inaugural para o ano letivo nos Centros Juvenis de todo o estado da Bahia. Sua programação contou com vídeo, música, apresentação, depoimentos relatando sobre a relevância desses Centros, interação com jogos e partilha dos representantes dos CJs das atividades nesse momento remoto.
Desde a inserção na escola-campo, acompanhei as Reuniões de Atividades Complementares (AC) ocorridas semanalmente, espaço destinado ao diálogo para os desdobramentos da organização do trabalho pedagógico, momentos formativos, de esclarecimentos, avaliações, socializações, reflexões, atividades desenvolvidas, decisões e articulações conjuntas para as práticas pedagógicas e curriculares, por conseguinte primando pelo bom desempenho da instituição e responsabilidade pelos pares envolvidos.
Ademais, junto aos meus colegas residentes possuímos autonomia para definir reuniões internas por escola-campo, entre nós ou com a preceptora para concluirmos encaminhamentos e outras demandas do PRP. Sinalizo que conseguimos produzir: sínteses; resumos; questionários; análises críticas; mapas mentais; materiais didáticos como: Trilhas de Aprendizagem; slides conceituais; atividades complementares para o Caderno de Apoio; e fazer leituras e discussões.
Compreendo, conforme afirma Josso (2004, p.48), que “a formação é experiencial ou não é formação [...]”, visto que os conhecimentos teóricos adquiridos se tornam mais eficazes quando experienciados, assim, na práxis, o estudante em formação inicial tem a possibilidade de entender e refletir, vários conceitos que lhe foram apreendidos, por isso percebo, que a inserção no PRP e nos espaços possíveis de atuação, se tornam de grande relevância. A educação, o processo ensino-aprendizagem e tudo que os envolve, carrega em si inúmeros desafios, então penso que os cursos de licenciatura devem demandar constante aperfeiçoamento, visando à formação inicial dos seus estudantes.
Atividade Livre no Centro Juvenil de Ciência e Cultura: partilha de experiência
As atividades ministradas por mim e os outros colegas residentes no CJCC durante o I ciclo aconteceram em formato de Atividade Livre, que faz parte da metodologia curricular adotada pela escola e consiste em ações/atividades/clubes desenvolvidos pelos professores e/ou parceiros e tem como público esperado estudantes matriculados em escolas estaduais e demais membros da comunidade escolar. A AL se diferencia das oficinas por não necessariamente conduzir à elaboração de um produto e funcionar durante um período mais flexível.
Participaram aproximadamente 50 estudantes do Ensino Médio e Anos Finais do Fundamental dos seguintes colégios estaduais: Helena Assis Suzart; Governador Luiz Viana Filho; Áureo Filho e Domingos Barros, com duas aulas semanais, divididos em duas turmas, totalizando oito encontros. Junto aos meus colegas, compomos um total de oito residentes, trabalhando coletivamente no CJCC.
A ementa para Atividade Livre surgiu, a partir da visualização do cenário pandêmico, da necessidade do olhar sensível para o autocuidado, principalmente se tratando do público específico que participou, os adolescentes que estão passando por uma fase central e importante da vida humana, de transição, permeada por mudanças físicas, comportamentais, emocionais. Contudo, “a adolescência não pode ser vista apenas como um momento de crises emocionais, comportamentos, semipatológicos, por vezes inconscientes, devido aos hormônios que estão à flor da pele” (ANJOS, DUARTE, 2017, p. 125).
A adolescência se caracteriza como um momento privilegiado do desenvolvimento humano, visando o indivíduo para além de suas experiências individuais e pessoais (ANJOS, DUARTE, 2017). As intervenções decorrentes deste período de transição enfatizam a “importância de não se considerar o adolescente e o processo de adolescer como problemas, mas como janela de oportunidades de um sujeito em desenvolvimento inserido nos contextos social, cultural e coletivo” (SANTOS et al, 2021, p.03).
O fechamento das instituições de ensino como iniciativa para a contenção de casos da COVID-19 retirou muitos estudantes das escolas, desse modo, diante da suspensão das atividades presenciais; adiamento de provas; suspensão da conclusão de ciclos ou períodos escolares, foi causado interrupção nas rotinas e o confinamento em casa, pode ter gerado gatilhos nos adolescentes como: medos; incertezas e ansiedade. O distanciamento social dos amigos e familiares são aspectos que podem afetar o bem-estar e a qualidade de vida das pessoas. Considerando essa vertente, as ALs foram planejadas, a fim de contribuir com a potencialidade do desenvolvimento desses adolescentes, visando a perspectiva do autocuidado, mediante os conteúdos da Educação Física, pautada nos pilares norteadores do CJCJ, considerando o contexto em que estamos inseridos.
Nesse viés, partimos da compreensão do ser humano em sua totalidade, entendendo que mente e corpo são indissociáveis e não se pode fragmentar a natureza humana, desprezando sua dimensão integral. Portanto, devemos nos cuidar pensando na saúde como um todo, desta maneira surgiu a iniciativa dessa atividade, no intuito de promover o cuidado consigo, com o outro e com o ambiente.
Ao finalizar os encontros, realizamos uma avaliação por meio de um formulário via Google Forms, onde os estudantes deixaram suas impressões ao participar das Atividades Livres, esses que foram de grande importância, pois impulsionaram a continuidade na promoção de atividades e outros momentos como estes, na mesma perspectiva, buscando constante melhora, mantendo um trabalho responsável e com intencionalidade. Para isso, é fundamental que o professor esteja consciente de sua responsabilidade, tomando decisões de acordo com os valores morais e as relações sociais de sua prática. Enfim, fica evidente a importância dos educadores na vida do estudante acreditando que este profissional e o meio que ele é inserido faz a diferença (BRANDÃO; HORA, 2018).
A título de ilustração, segue algumas impressões dos estudantes ao finalizar sua participação nas Atividades Livres:
“Adorei as aulas e achei bastante interessante e importante abordar esses assuntos de autocuidado.” (Estudante A)
“Um respiro pra mim nesse tempo todo de pandemia.” (Estudante B)
“Muito bom, importante demais para nós refletirmos um pouco, é especial tá com muitas pessoas legais.” (Estudante C)
“Muito bom! Me chamou a atenção a importância da atividade física em vários aspectos.” (Estudante D)
“Trazendo ideias de autocuidado, acredito que tenha sido importante para os alunos aprenderem a lidar com nós mesmos, ainda mais no tempo em que vivemos.” (Estudante E)
“Foi muito bom fazerem esse projeto para incentivarem a gente a não nos esquecermos neste período de pandemia, se cuidar é fundamental.” (Estudante F)
Estabeleço um paralelo com os resultados obtidos em uma dissertação de mestrado intitulada “O SEU OLHAR MELHORA O MEU: A PERCEPÇÃO DOS CENTROS JUVENIS DE CIÊNCIA E CULTURA POR SEUS ESTUDANTES”, produzida por Iuri Oliveira Rubim em 2018, que projetou compreender, a partir da experiência dos estudantes nos Centros Juvenis de Ciência e Cultura, suas percepções ao participar das atividades. Ela foi realizada com a técnica de grupos focais, pois possibilita interação; de escuta simultaneamente, podendo reforçar posicionamentos e envolveram estudantes dos CJ da cidade de Salvador e Senhor do Bonfim.
Para o autor, essa pesquisa se designa como o encontro de jovens estudantes com uma experiência complementar de cultura escolar na rede pública estadual da Bahia. Ele concluiu que:
De forma geral, a percepção formada pelos educandos caracteriza os Centros Juvenis de Ciência e Cultura como espaços relevantes para eles e para outros estudantes. Para eles, os CJCC são ambientes inovadores, onde adquirem novos conhecimentos e habilidades – e podem experimentar com base no que aprendem A influência da participação no Centro Juvenil também é sentida no que se refere ao desenvolvimento dos estudantes. É praticamente unânime a referência à melhoria da capacidade de se expressar. De acordo com os estudantes, a desenvoltura nesse aspecto facilita significativamente tanto a vida escolar quanto relações de afeto e familiares. Os discentes também contam que o ganho progressivo de autonomia [...] faz com que tenham mais autoconfiança e assumam mais responsabilidades (RUBIM, 2018, p. 150).
Assim, assemelho os resultados dessa pesquisa, as narrativas dos estudantes que participaram das Atividades Livres no CJCC de Feira de Santana, com os residentes do curso de Licenciatura em Educação Física da UEFS. Acredito que, para além de trabalhar os conhecimentos sistematizados, podemos também interferir positivamente na formação pessoal do estudante.
Uso das Tecnologias Digitais nas Atividades Livres
O planejamento das Atividades Livres foram realizados em reuniões internas com os residentes do CJCC, delimitando os conteúdos da Educação Física; objetivos, momentos e avaliação, supervisionados por nossa preceptora. Elas foram ministradas por tecnologia digital, dentro de um sistema institucional pelo Google Meet e ferramentas como: Mentimeter; Zoho show; Crello; Canva; Padlet; Joamboar; Quizizz, fazendo uso de painéis de interação; nuvem de ideias; cards; jogos; quiz de perguntas e respostas, para contribuir no processo de ensino e aprendizagem, tentando inserir os estudantes de forma dinâmica e com intencionalidade.
O desenvolvimento tecnológico, além de transformar profundamente a dinâmica da sociedade em que vivemos, ampliou de forma vertiginosa a possibilidade de estabelecimento de processos comunicacionias que permitem níveis de interação cada vez mais complexos e naturais. É possível afirmar que o advento da internet de alta velocidade, submete a própria interação a um processo de virtualização, ampliando a capacidade comunicacional dos sujeitos e possibilitando um processo hipermidial de interação com os demais e com o meio (MELLO; TEIXEIRA, 2011, p. 1362).
A tecnologia digital como ferramenta para as práticas de recursos virtuais nas metodologias de ensino, embora apresentem limitações, foram aliadas na mediação da continuidade das atividades educacionais na pandemia. Para a concretização e desenvolvimento das aulas, essas tecnologias engajam recursos para aplicação de funcionalidades didático-pedagógicas, como a interação na relação estudante e professor, do diálogo a distância através de plataformas digitais e outras organizações:
Nesse contexto não há como negar que essas novas tecnologias trouxeram grande impacto para dentro da sala de aula, como por exemplo, a inovação e a atratividade para uma realidade mais próxima dos alunos e que esses novos canais de comunicação e informação se tornaram fundamentais na disseminação do conhecimento nessa virtualidade contemporânea (SANTOS; ARAÚJO, 2020, p. 02).
A Organização Pedagógica para planejamento e delineamento acontecia em um movimento de supervisão, reflexão; sugestões; avaliação, visando assegurar meios e condições objetivas para atingir as finalidades, nos colocando de maneira desafiadora na posição do ser docente, de forma remota. O diálogo com os pares de trabalho foram de expressividade, potencializando o trabalho de construção coletiva.
Os conflitos da atividade docente não se limitam aos espaços físicos da escola, nem tampouco ao espaço virtual. Isso porque, os conflitos estão sempre presentes e demandam constantes mudanças no agir dos professores e professoras. Mesmo assim, e apesar das limitações do período remoto, a união e o trabalho coletivo se configuraram como fundamentais para que as residentes pudessem se (re)adaptar a essa realidade, a partir dos diálogos estabelecidos com outros coletivos, das ferramentas utilizadas, das prescrições e das suas (trans)formações [...] Embora esteja em fase inicial, é possível perceber que a RP vem se consolidando e permitindo uma formação cada vez mais próxima daquilo que é enfrentado diariamente pelo/a professor/a em sua trajetória educacional, ainda mais durante o contexto de ensino remoto (NASCIMENTO, 2021, p. 49).
A criatividade e inovação, foram exigências fundamentais para sistematizar os encontros e mediar o processo. Ressalto que o uso das ferramentas digitais na educação, se apresenta como estratégia de ensino na modalidade remota, contanto que sejam consideradas como instrumentos para pensar, aprender, conhecer, pesquisar, representar, dialogar e trabalhar em via de mão dupla, de forma dinâmica e criativa propiciando assim uma melhor qualidade no ambiente de aprendizagem.
Conforme afirma Santos et al (2020, p. 08):
É importante ressaltar que as tecnologias digitais agem como facilitadoras no processo de ensino-aprendizagem [...]. Vale lembrar que, estamos passando por um processo de adaptação, na qual seguimos nos reinventando e aprendendo novas metodologias. Nesse sentido, a tecnologia se torna uma oportunidade de contribuir positivamente tanto no ensino remoto, quanto aos processos de aprendizagem, proporcionando novas formas de ensinar e, principalmente, de aprender. Apesar dos desafios presentes, o docente deve ter um olhar otimista diante da tecnologia, e vê-la como uma aliada do processo de ensino-aprendizagem. Esse momento atual deve ser encarado como uma oportunidade para ressignificação da prática acadêmica e de mudanças de algumas posturas no funcionamento da educação.
Os conhecimentos atuais ao cotidiano dos educandos, necessitam estar imersos nas atividades a fim de que sejam portadoras de sentido para os educandos. Também é desejado que a presença no CJCC imprima, direta ou indiretamente, influência positiva na vida acadêmica dos estudantes (RUBIM, 2018). Baseado nessa concepção, buscamos alinhar os conhecimentos da Educação Física com o contexto atual.
A fundamentação dos Centros Juvenis estima pelo desenvolvimento da educação, conduzindo os estudantes para a aprendizagem, com a valorização de seus conhecimentos, bem como de construir um ambiente próprio, estimulando-o de forma colaborativa. Sua metodologia firmada na valorização e o interesse pela descoberta, potencializa o conhecimento e a autonomia e fortalece o exercício do pensamento reflexivo e crítico, possibilitando os jovens a agirem como cidadão capaz de integrar a sociedade de forma atuante (MELO, 2018). Deste modo, seria notável a expansão e abrangência de Centros Juvenis não apenas nos estados baianos, mas em todo território nacional.
A resposta dos estudantes quanto a metodologia adotada paras as ALs, formas de interação, relação estudante-professor, temas abordados, ferramentas utilizadas, conhecimentos adquiridos, dinamicidade, de modo geral, foi positiva.
As experiências formacionais vivenciadas em conjunto com os colegas residentes; preceptoras; coordenadoras; estudantes; outros professores permitiram não apenas trabalhar as intervenções em si, mas, também, de ter contato direto com a relação entre o ensino-aprendizagem; a práxis; planejamentos; documentos legais; leituras importantes; enfatizando o valor expressivo do PRP para o desenvolvimento profissional e formação docente.
Consideramos que os saberes pedagógicos vão se (re)construindo ao longo da vida profissional, compondo o itinerário formativo do estudante, estes que acontecem num continuum processual de apropriações e reflexões. Estabelecer relações entre a formação de professores e os projetos educativos das escolas torna-se indispensável ao se propor uma ação efetiva de formação docente. Por sua vez, presumo ponderar que o PRP replica “uma chance de aperfeiçoamento das habilidades profissionais, da formação e do enriquecimento curricular” (NETO; PEREIRA; PINHEIRO, 2020, p. 11).
O PRP contribui na construção de identidade profissional, ao proporcionar aproximação com a ação docente, suas demandas e desafios e o cenário da educação, desde os documentos às intervenções, fazendo com que o ser docente se aprimore e enriqueça. Suas atividades exercem forte influência sobre a vida acadêmica, profissional dos licenciandos que os vivenciam, potencializando e qualificando a formação.
Diante das considerações expostas, entendo o PRP como um espaço/tempo de formação, que abrange espaços efetivos para a qualificação do processo formativo do licenciando e a abertura para vivência e construção de experiências formacionais no exercício da profissão docente, reafirmando a importância e necessidade de programas dessa magnitude, com foco na formação de qualidade.
O PRP oportuniza ao futuro docente, vivenciar experiências que podem contribuir para qualificar sua formação, posto nesse processo o sujeito ativar conhecimentos, saberes, competências, habilidades necessárias, se caracterizando como possibilidade fecunda de formação.
Analisando esse percurso de inserção na docência, aproximação com os conteúdos, sua sistematização e planejamento, ambientação em sala de aula e experiência na condução, vivenciar as adversidades de sala de aula, inclusão de elementos digitais, perceber os conteúdos de forma mais crítica, relações interpessoais, criatividade, contribuições para o itinerário individual de cada residente: como autoconhecimento, postura, segurança, maturidade docente e acadêmica, são consideráveis contribuições da atuação no PRP.
É importante salientar a competência, responsabilidade e supervisão da preceptora, da coordenadora e dos demais envolvidos neste processo de formação, que se colocam sempre dispostos ao diálogo e suporte, mesmo diante das adversidades. Sendo assim, essa colaboração dos pares é significativa para o desenvolvimento durante a participação no PRP.
Por sua vez, a vivência no referido Programa permite uma experiência de troca de conhecimento para aperfeiçoamento das habilidades profissionais, da formação e do enriquecimento curricular, o que salienta a expressividade de investir no campo das políticas educacionais e públicas, voltados para a formação inicial. Entendo que se atendidos e cumpridos, de acordo aos seus objetivos, terão grande efetividade, no que se refere à contribuição positiva tanto para o docente em formação, quanto para maximizar a relação entre o local de atuação e a instituição formadora de nível superior, fomentando assim, uma formação experiencial.
Saliento que o elo universidade e educação básica está intrínseco também nesse processo, e o PRP redimensiona essa relação principalmente pelos seus métodos, os quais propiciam aos licenciandos experienciar o exercício da docência, o que fortalece a parceria entre as instituições formadoras, de modo a minimizar o distanciamento, que muitas vezes, é corriqueiro entre estes contextos formativos.
Destaco a necessidade dos estudantes ocuparem os espaços que a universidade e os órgãos gestores oferecem como maneira de contemplar a formação, e o PRP é um desses. Precisamos, cada vez mais, nos inserir e fazer parte de movimentos como esses, que alargam as experiências formativas e fortalecem os tripés: ensino; pesquisa e extensão, que são os pilares indissociáveis da universidade.
Diante do contexto pandêmico, o ensino demandou novas práticas, requerendo do professor não apenas um aparato tecnológico para sua efetivação, mas uma formação pedagógica continuada e atualizada que dirija-se em constante reflexão para relacionar aspectos teórico-metodológicos, evidenciando assim a necessidade dessa formação mais abrangentes, para o contexto que estamos vivenciando e os outros que estejam por vir.
Antes de encerrar, faz-se necessário registrar a importância dos professores de Educação Física, ainda que na formação inicial, ocuparem seus espaços de atuação com responsabilidade, compromissados com seu trabalho e com a função que o ser docente deve assumir, sempre atento, reflexivo e consciente com a formação dos seus estudantes. Esse registro, se estende para professores de modo geral, que o processo precisa ser construído em parceria, alertando para sua condição de mediador do mesmo.
Por fim, nesses termos circunscreve-se a expressividade de fomentar eventos formativos como este e pautar o debate sobre as interlocuções; aproximações; interconexões; relações políticas, sociais, educacionais e cotidianas, que estruturam, conformam e dinamizam a formação.
ANJOS, R. E.; DUARTE, N. A teoria da individualidade para si como referência à análise da educação escolar de adolescentes. Nuances: estudos sobre Educação. São Paulo. v. 28, n. 3. 2017.
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