Metadados do trabalho

Educação Quilombola No Período Da Pandemia: Reflexões Sobre A Realidade No Tabuleiro Do Quilombo Rural Em Penedo

Valdeck Gomes de Oliveira Junior; Cléia Lima; Anderson Silva Santos

RESUMO

 

A pandemia decorrente da Covid-19 tem provocado problemas significativos para a educação mundial. No tocante a realidade da educação quilombola brasileira (que já apresentada problemas na sua estrutura) a pandemia tem intensificado ainda mais essas dificuldades. Frente ao exposto, este artigo objetivou apresentar reflexões sobre a realidade enfrentada pelos professores e estudantes acerca do processo de escolarização, por meio do uso de metodologias ativas, nas aulas on-line em uma Escola Municipal Quilombola do município de Penedo, em Alagoas, frente a necessidade da suspensão das aulas em virtude do contexto da pandemia provocada pela Covid-19. Essa pesquisa se configura como qualitativa, com revisão bibliográfica, para elucidar os conceitos de ensino on-line e metodologias ativas, delimitando o período de fevereiro a maio de 2021. Visando enfocar os (des)caminhos trilhados, vividos pelos alunos e professores de uma escola quilombola, que vive nesse momento uma realidade adversa dentro de outra dura realidade. A partir das discussões, conclui-se que o ensino on-line, nessa comunidade, impele a adoção de novos fazeres pedagógicos potenciando novas práticas dos professores e enfrentando desigualdades.

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Como citar este trabalho

OLIVEIRA JUNIOR, Valdeck Gomes de; LIMA, Cléia; SANTOS, Anderson Silva. EDUCAÇÃO QUILOMBOLA NO PERÍODO DA PANDEMIA: REFLEXÕES SOBRE A REALIDADE NO TABULEIRO DO QUILOMBO RURAL EM PENEDO. Anais do Colóquio Internacional Educação e Contemporaneidade, 2021 . ISSN: 1982-3657. Disponível em: https://www.coloquioeducon.com/hub/anais/17-educa%C3%A7%C3%A3o-quilombola-no-per%C3%ADodo-da-pandemia-reflex%C3%B5es-sobre-a-realidade-no-tabuleiro-do-quilombo-rural-em-penedo. Acesso em: 16 out. 2025.

EDUCAÇÃO QUILOMBOLA NO PERÍODO DA PANDEMIA: REFLEXÕES SOBRE A REALIDADE NO TABULEIRO DO QUILOMBO RURAL EM PENEDO

1 INTRODUÇÃO

 

O atual contexto pandêmico, em nível global, ocasionado pelo vírus Covid-19, trouxe a urgência em ressignificar modos de vida, comportamentos, dinâmicas da sociedade e a organização do ensino. Dessa forma, a escola como instrumento dinamizador da sociedade e de espaço de convívio foi afetada e, rapidamente teve que modificar sua dinâmica pedagógica, ao paralisar o modo presencial de ensino, transportando-se para ambientes virtuais, devido a súbita mudança no cenário educacional, os profissionais da educação e estudantes da comunidade quilombola investigada buscaram dentro de suas limitações atuar nesse novo cenário, ao tentar superar adversidades e criar possibilidades de aprendizagens.

As escolas foram obrigadas a adequar suas realidades para conter a disseminação do vírus, acatando às recomendações da OMS (Organização Mundial de Saúde), com o intuito de reduzir o contágio e sua proliferação, buscando o controle epidemiológico e redução de infecção.

No tocante, o estado de Alagoas lançou o Decreto n° 69.501 de 13/03/2020 que determinou o isolamento, distanciamento social, e medidas sanitárias como meio de arrefecer o contágio e suspensão das aulas presenciais no estado.

E com o Decreto estadual n° 69.527 de 17/03/2020, observamos em seu teor, a ausência de oferta e orientação de atividades pedagógicas por parte do Estado, levando as escolas e estudantes a buscar meios alternativos por conta própria para o fazer pedagógico e curricular no contexto da pandemia.

Com esta ação, as escolas quilombolas em Penedo/Al, se viram impelidas a mobilizar-se para promover o ensino remoto como prática educacional para que os estudantes não perdessem a “proximidade com o currículo”, como aponta Lima (2020, p. 3).

Tais discrepâncias já latentes antes da pandemia acontecer, torna-se gritante durante o surto viral. Para as ausências de ações governamentais, Santos (2020, p. 9), denomina de “Sociologia das Ausências”. Em ouras palavras, aquilo que parece não existir teve sua invisibilidade ativada nas relações sociais injustas e predatórias. Neste caso, as invisibilidades educacionais da escola pública foram expostas no período da pandemia da Covid-19.

E, sem esquecer de trazer à luz que as comunidades quilombolas já sofrem silenciamento histórico, o surto viral evaporou nossa segurança e nossa normatividade, como alerta Santos (2020, p. 7) ”. Sabemos que a pandemia não é cega e tem alvos privilegiados, mas mesmo assim cria-se com ela uma consciência de comunhão planetária, de algum modo democrática”. Desta forma, as questões identitárias vem sendo banalizada e potencializada nesse período pandêmico.

Para o mundo do trabalho e para o universo educacional, a pandemia trouxe o modo de trabalho remoto de forma muito célere, invadindo nossas vidas e lares que hora são transformados em locais de trabalho, destacando não só questões identitárias como as dificuldades dos professores em trabalhar remotamente.

 Diante desse cenário, ressalta-se que refletir sobre a prática envolve tanto a necessidade de rever a teoria quanto de desvelar a vicissitudes da ação docente (SANTOS, FREITAS E CAVALCANTE, 2016). Apesar do contexto e da falta de formação, segundo os/as professores/as, tudo ocorreu muito rápido, mesmo com o improviso, a falta de estrutura.

Nesse aspecto, Silva (2006, p. 152) enfatiza:

 

[...] a formação de professores torna-se ainda mais necessária à superação da situação que dificulta as ações articuladas e desenvolvidas  pelos/as  docentes  e da aprendizagem nesta nova modalidade online, trazendo à centralidade da discussão a importância da Didática, quando antes o centro discursivo eram as avaliações.   

 

A atividade remota com os estudantes quilombolas, vem proporcionando momentos de reflexões sobre a nossa prática e sobre a importância de uma formação para os professores, além da busca por adaptações das aulas para diminuir o distanciamento e ampliando novos olhares para o processo de aprendizagem em tempos de isolamento social.

Diante disso este trabalho teve como objetivo geral apresentar reflexões sobre a realidade enfrentada pelos professores e estudantes acerca do processo de escolarização, por meio do uso de metodologias ativas, nas aulas on-line em uma Escola Municipal Quilombola do município de Penedo, em Alagoas, frente a necessidade da suspensão das aulas em virtude do contexto da pandemia provocada pela Covid-19.

Frente a este objetivo, indaga-se: quais os desafios enfrentados por uma comunidade quilombola do interior de Alagoas frente ao ensino remoto em tempos de pandemia?

Para atingir ao objetivo da pesquisa e consequentemente responder à pergunta norteadora desta pesquisa foi utilizada como metodologia utilizada foi de abordagem qualitativa, com revisão bibliográfica.

Esperamos que este trabalho provoque um repensar na oferta do ensino nas comunidades quilombolas em Alagoas, refletindo sobre os conceitos e teorias referentes as especificidades da modalidade em questão.

2 IDENTIDADES – CONCEITOS, REFLEXÕES

 

Atualmente um aspecto cultural relevante das comunidades quilombolas de Penedo é a manutenção de valores e tradições familiares, pois nas comunidades, principalmente no Oitero, há fortes índices de população de etnia negra, embora haja a resistência de alguns de aceitar o fato de ser quilombola, consolidando ainda, uma identidade racial e cultural própria, sendo auto definida como remanescentes de Quilombo, conforme portaria Nº 177 de 31 de agosto de 2012 da Fundação Cultural de Palmares/Ministério da Cultura conforme publicação no diário oficial da União de 03/09/12.

Considerando o documento acima citado, reconhecemos a importância da valorização da memória coletiva, como destaca Certeau (1994), ao dizer que:

 

A memória não possui uma organização já pronta de antemão que ela apenas encaixaria ali. Ela se mobiliza relativamente ao que acontece – uma surpresa, que ela está habilitada a transformar em ocasião. Ela só se instala num encontro fortuito, no outro (CERTEAU, 1994, p. 150).

 

Considerando as representações elaboradas, as identidades construídas e os saberes oriundos da trajetória vivenciada pelos estudantes das comunidades quilombolas de Penedo, propomos o desafio que nos fez perceber as identidades dos estudantes universitários das comunidades quilombolas de Penedo/AL, buscando a incorporação de outros conhecimentos e significações a fim de compreendermos as complexidades das relações, influências e contingências que permeiam os processos identitários desses sujeitos.

Entendendo que o processo identitário se faz no coletivo, sobre esse aspecto Munanga (1994, p. 177-178) afirma:

 

A identidade é uma realidade sempre presente em todas as sociedades humanas. Qualquer grupo humano, através do seu sistema axiológico sempre selecionou alguns aspectos pertinentes de sua cultura para definir-se em contraposição ao alheio. A definição de si (autodefinição) e a definição dos outros (identidade atribuída) têm funções conhecidas: a defesa da unidade do grupo, a proteção do território contra inimigos externos, as manipulações ideológicas por interesses econômicos, políticos, psicológicos, etc. (MUNANGA, 1994, p. 177-178).

 

Munanga (1994) reafirma as premissas básicas na construção da identidade cultural como elemento importante para a construção do ser social. Isso nos faz pensar que as ações direcionadas a identidade étnica do povo negro se válida em um processo de autoconhecimento e essas lutas do Movimento Negro tem o intuito de priorizar as políticas afirmativas que possam ofertar a visibilidade e valorização de sua identidade negligenciada.

Considerando a necessidade dos estudantes quilombolas da UFAL/Penedo refletirem sobre sua identidade, compreende-se que ouvi-los se faz urgente, o que nos possibilitará ouvir e debater com os sujeitos da comunidade aspectos referentes às origens e culturas desta comunidade. A nossa intenção com esses sujeitos é dar visibilidade à transformação das dimensões concretas da realidade, numa busca engajada do historicamente possível “ou daquilo que impossível tornamos possível em determinado momento histórico” (FREIRE, 2001, p.232).

O diálogo com esses sujeitos investigados terá sempre conteúdos e temas que possibilitem reflexões sobre as identidades, saberes quilombolas, história dos negros do Brasil e de Alagoas, musicalidade afro-brasileira, contribuições afro-brasileira na formação do País, religiosidade africana, cidadania e ética.

 

3 ENSINO REMOTO NA PANDEMIA DA COVID-19: NUANCES DAS AULAS ONLINE NUMA ESCOLA QUILOMBOLA

 

A atual pandemia veio acrescentar novos desafios ao ensino, o uso de tecnologias, o afastamento de estudantes das escolas e dos professores na fase basilar de sua escolarização e da necessidade de implementação de um currículo emergencial para promover a humanização, manter e ampliar os conhecimentos de educadores e educandos. Como inferiu Lima (2020, p.5).

Considerando o ensino remoto como única alternativa para evitar paralisação do ano letivo os professores demonstram uma preocupação com relação à importância da interação no processo ensino-aprendizagem.

Valle; Marcom (2020, p.141) afirma que:

 

Os profissionais da educação precisam repensar as formas de interação e mediação a serem utilizadas no processo ensino-aprendizagem, uma vez que foram obrigados a se reinventar e promover alternativas capazes de proporcionar aos alunos o acesso ao conhecimento, numa tentativa de salvar o ano letivo.

 

O autor ressalta que professores e estudantes precisam procurar possibilidades e estratégias de interação, adaptar-se à escolarização, esse é um momento de adaptação, de adotar estratégias e práticas pedagógicas. De qualquer forma, eles precisam de formação para trabalhar neste novo formato de dar aula em ambiente residencial e de forma on-line.

Destarte, a pandemia do Covid-19 encontrou no ambiente residencial um local que abriga uma estrutura familiar, não possuindo, uma configuração educacional para aulas remotas, isso quer dizer que os lares dos alunos difere da estrutura da escola o que dificulta ainda mais o delineamento das atividades. Assim, transportar o processo educativo, em formato de aulas on-line, para as residências dos alunos trouxe implicações à aprendizagem,

Nesse sentido, de acordo com Moran (2003, p. 48):

 

Existem dificuldades sérias na aceitação online. A primeira é o peso da sala de aula. Desde sempre aprender está associado a ir a uma sala de aula e lá concentramos os esforços dos últimos séculos para o gerenciamento da relação entre ensinar e aprender.

 

 De um modo geral, estudar online exige um espaço adequado para o aluno, com boa iluminação, ausência de distrações. Nesse sentido, questionamos os alunos sobre as condições vividas por eles dentro de casa, haja vista que o alvo da nossa pesquisa é o ensino online mediado em casa.

No que diz respeito à educação quilombola, a adoção do ensino remoto é recorrida como medida emergencial para lidar com esses percalços e minimamente não desestruturar as redes municipais. Nessa perspectiva, todas as instituições de Penedo no estado de Alagoas tiveram que aderir a algum planejamento capaz de minimizar os impactos do distanciamento social e as aulas não presenciais.

 Nesse sentido, vamos entender as nuances conceituais que podem nos articular sobre implementação dessa metodologia remota.

Seguindo o que mostra Mancebo, Saviani (2021, p. 38) complementa:

 

A expressão ensino remoto passou a ser usada como alternativa à educação a distância (EAD). Isso, porque a EAD já tem existência estabelecida, coexistindo com a educação presencial como uma modalidade distinta, oferecida regularmente. Diferentemente, o “ensino” remoto é posto como um substituto excepcionalmente adotado neste período de pandemia, em que a educação presencial se encontra interditada.

 

A partir das falas dos autores, compreendemos que o ensino remoto como ferramenta da atividade denominada home office não possui uma legislação que seja capaz de atender na totalidade à essa prática.

Nesse contexto, precisamos refletir sobre a adoção dessa forma de trabalho que foi adotado nesse período pandêmico pelas escolas de Penedo, especificamente no Tabuleiro do quilombo rural, nos deparamos com a realidade dos profissionais da educação que teve sua prática docente seguindo as nuances dessa nova perspectiva em trabalhar por meio dos dispositivos tecnológicos e trabalho em casa, na modalidade de ensino remoto.

 Com isso, nos deparamos com a realidade do educador frente a real situação educacional do município e entender os novos espaços da sala de aula é necessário, sempre tendo como ponto de partida as discussões a as legislações que fundamentam essa prática.

 

A legislação mais recente sobre o tema é o Decreto nº 9.057, de 25 de maio de 2017. Esse decreto considera o Ensino a Distância (EaD) como “a modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorra com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com pessoal qualificado, com políticas de acesso, com acompanhamento avaliação compatíveis, entre outros, e desenvolva atividades educativas por estudantes e profissionais da educação que estejam em lugares e tempos diversos.

(MANCEBO, 2020, p.110)

 

A legislação em questão não aponta claramente dispositivos jurídicos que protejam e orientem para o uso do ensino remoto na educação, sendo possível entender que diante da crise pandêmica esse conceito foi utilizado como recurso baseando-se em outras legislações que efetivamente não cobrem a prática dessa nova abordagem. Deixando claro nas entrelinhas legislativas as ausências do Estado ao deslocar as responsabilidades para a figura dos/as educadores/as.

 No entanto, compreendemos que a situação do ensino à distância em nosso país, no estado de Alagoas e para a comunidade quilombola do Oiteiro em Penedo, revelou, conforme Lima (2020, p. 6) aponta:

 

A situação de ensino à distância provocada pela pandemia revelou que muitos alunos não têm autonomia necessária para estudar e tomar decisões a respeito da informação. Revelou, também, que muitos alunos não dominam as atividades de estudo e não tem conhecimento sobre métodos de investigação.

 

Na outra ponta da linha abissal, para usar o termo de Santos (2010, p. 32), “a pandemia torna o processo mais vantajoso para a iniciativa privada”. Seguindo esse prisma, Mancebo menciona os impactos advindos da adesão desse método excludente, pois “é bem possível que a EaD improviso deixe muitos estudantes de fora e aprofunde, ainda mais, o apartheid educacional, pois no Brasil a conectividade e os aparelhos tecnológicos são bens para alguns” (2020, p.113).            

Compreendemos e justificamos que as tecnologias não estão em alcance de todas as classes e como foi destacado, essas questões podem aumentar ainda mais um processo de desigualdade no país que já sofre historicamente e por essas questões de silenciamento. Trazendo como consequências, diversas mazelas sociais.

Salientamos que o ensino remoto na aplicação da educação pública reflete considerações que Saviani (2021, p. 38) discute da seguinte maneira:

 

[...] o “ensino” remoto se expandiu e alcançou também a educação pública de forma bastante ampliada, fazendo uso de idênticas “variações sobre o mesmo tema”. Mesmo para funcionar como substituto, excepcional, transitório, emergencial, temporário etc., em que pesem as discordâncias que temos com o ensino não presencial e que iremos abordar, determinadas condições primárias precisariam ser preenchidas para colocar em prática o “ensino” remoto, tais como o acesso ao ambiente virtual propiciado por equipamentos adequados (e não apenas celulares); acesso à internet de qualidade; que todos estejam devidamente familiarizados com as tecnologias e, no caso de docentes, também preparados para o uso pedagógico de ferramentas virtuais.

 

Esses aspectos básicos imprescindíveis para aplicação do ensino remoto, como bem apontou Saviani (2021), são problemas enfrentados na realidade do ensino público brasileiro e em no estado de Alagoas não é muito diferente, como bem foi apontado no tópico a seguir.

 

4 FORMAÇÃO DO PROFESSOR: REALIDADE QUILOMBOLA NO CONTEXTO DA PANDEMIA

 

O processo educativo no município de Penedo deve passar por uma reflexão, diante da realidade alterada, a pandemia está instaurada, a crise da educação está posta e aponta que as dificuldades no trabalho remoto ficaram mais visíveis, com uma precária infraestrutura física das escolas e a falta de recursos tecnológicos. A situação exige uma estrutura básica que possa ser capaz de dar subsídios para aplicação do ensino remoto, com isso, faz-se necessário investimentos tanto em aparatos tecnológicos como também na formação dos docentes.

Destacamos que, além das necessidades estruturais e de formação, a pandemia deixou muito claro que a escola é espaço de domínio das pedagogias, os/as educadores/as são insubstituíveis, uma vez que os responsáveis e pais não detém o conhecimento pedagógico e o espaço domiciliar jamais reproduzirá o espaço educativo, sócio-afetivo-interacional, inclusivo e promotor de justiça social.

Para validar essas questões, no que diz respeito as dificuldades do trabalho docente nesse período pandêmico e adoção de ensino remoto, o autor consegue estabelecer uma visão crítica a respeito dessa sobrecarga intelectual.

 

Relevante destacar também que esse processo açodado de implementação do ensino remoto contribui para a intensificação do adoecimento docente. Pois, além da pressão e vigilância impostas que podem se configurar em assédio, o uso constante das tecnologias, com as quais nem todos são familiarizados, amplia as possibilidades de adoecimento físico e mental. A elevação da carga de trabalho se dá, ainda, em condições subjetivas desfavoráveis, uma vez que muitas e muitos docentes têm que lidar com o teletrabalho em meio a afazeres domésticos e demandas familiares (INFORMANDES, 2020, apud SAVIANI, 2021, p. 43)

 

Como já foi destacado, no Ensino Remoto existem várias frentes de atuação, por parte desses profissionais da educação, que reflete para a superação ao buscar práticas pedagógicas outras, vivenciar, enfrentar a falta de estrutura, vislumbrar qualificação necessária para lidar com esse momento pandêmico, criar estratégias de permanências e êxitos dos estudantes em seus processos de aprendizagem, são aspectos que precisam ser (re)pensados, (re)planejados, são exigências que o momento pandêmico impõe.

 Por outro lado temos a visão do aluno, todos os entraves que o mesmo tem sofrido para tentar de maneira muito autônoma desenvolver o seu próprio processo de aprendizagem.

No findar dessas pautas, percebe-se que os sujeitos são vítimas de múltiplas problemáticas resultantes desse momento pandêmico.

Embora a tecnologia faça parte da realidade do cotidiano dos professores e dos alunos, a escola não está preparada para uma mudança abrupta e repentina (TRUTWEIN, SANTOS, 2020). E é neste cenário que os professores enfrentam dificuldades em manusear ferramentas tecnológicas, adequar os conteúdos e as metodologias de currículos de forma remota, na avidez de validar o ano letivo e legitimar as aulas, segundo os professores, onde os discentes não usufruíram efetivamente da aprendizagem.

Outra questão importante para essa discussão é a compreensão de que o professor necessita de formação continuada, para eles, isso pode fazê-los refletir diretamente no currículo que é usado na prática diária, pois “a questão do currículo nem sempre é entendida pelas diferentes tendências teóricas da educação como central nessa relação educativa que acontece no espaço escolar” (BARCELOS, 2012, p. 29).

Essa questão deve ser levada em pauta rotineiramente no espaço escolar para os professores que atuam diretamente no processo formativo para que tenham uma visão de aprendizagem ao longo da vida e possam compreender que “o currículo será tomado como um texto a ser lido, interpretado e construído num processo de conjunto e permanente” (BARCELOS, 2012, p. 35).

Ressalta-se ainda  aquilo que afirmam Schlemmer, Morgado e Moreira (2020, p. 772): “Entre os desafios, no campo da educação, está à necessidade de formar pessoas que sejam capazes de aprender, viver, conviver e atuar nessa sociedade hiperconectada, de maneira responsável, crítica e cidadã, a fim de transformá-la”. Desse modo, é essencial repensar sobre a utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação – TICs - em sala e sobre a formação do professor no uso dessa tecnologia.

Com isso, precisamos pensar em educação como um todo, em que o conteúdo não seja o único protagonista. Acreditamos num processo em rede que deve valer para professores, alunos, material didático, ambiente de aprendizagem, todos são importantes num processo educativo.

 

5 PERCURSO METODOLÓGICO

 

Pesquisa de caráter qualitativo baseada em estudo bibliográfico a partir de autores que embasam teórica e conceitualmente acerca do tema, “a pesquisa bibliográfica não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre certo assunto, mas aproxima o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras” (MARCONI; LAKATOS 2003, p. 183). Dessa forma, procuramos contribuir com outros olhares que possibilitem ampliar o que já foi dito.

Procuramos, portanto, não só apresentar a síntese das produções, mas contribuir com outros olhares que possibilitem ampliar o que já foi dito. O estudo de caso foi por meio de um questionário por meio eletrônico (formulário do Google), com estudantes, educadores/as e diretor da escola quilombola da rede municipal de ensino de Penedo/Alagoas.

Com o intuito de conceituar esse tipo de abordagem, Gil (2010), menciona que este tipo de pesquisa apresenta como objetivo primordial:

 

[...] a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis. São inúmeros os estudos que podem ser classificados sob esse título e uma de suas características mais significativas está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados (GIL, 2010, p. 28).

 

Com isso, compreendemos o papel importante do trabalho que se orienta por meio do olhar qualitativo, levando em consideração os aspectos que designam olhares pedagógico, didático, curricular com a profundidade que a pesquisa delineia sobre o objeto.

Seguindo as diretrizes metodológicas, foi selecionado o questionário por meio eletrônico para ofertar aos sujeitos a oportunidade de fala sobre a temática, para que ficassem livres para destacar suas impressões e com isso dispor um panorama maior sobre esse estudo de caso.

Optou-se por abordagem de estudo de caso, por entender que essa metodologia investiga um fenômeno considerando seu contexto, ou seja, realiza uma análise sob a conjuntura real, é justificada a partir de Yin (2005, p. 32) que ressalta “O estudo de caso é uma investigação empírica que estuda um fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto da vida pandêmico, visando conhecê-lo na sua globalidade como uma unidade ou sistema integrado, seja pessoa, instituição ou acontecimento”.

Nesse propósito, a abordagem do estudo de caso requer sempre que o caso seja bem delimitado e deve ter seus contornos bem definidos no desenrolar da pesquisa, com possibiliddaes de utiização de abordagens qualitativas para o alcance dos objetivos propostos.

O lócus inicial da pesquisa é o município de Penedo/Al,  a nossa delimitação é na comunidade Tabuleiro-quilombo rural que teve seus espaços de convívio, de relação social presencial, de compartilhamento interacional, de afeto e suas dinâmicas (inter)rompidas no cotidiano educacional neste período pandêmico.

 

6 RESULTADOS E DISCUSSÕES

 

A pesquisa foi realizada numa escola municipal em Penedo, a análise do resultado do questionário demonstra que a minoria dos alunos matriculados no Ensino Fundamental anos iniciais, objeto de estudo, possui acesso à internet e o equipamento usado para as aulas são dos pais ou algum responsável.

Em relação aos estudantes matriculados, dos 36 alunos da turma pesquisada, segundo o professor, 16 deles participam das aulas e 20 não são assíduos.

Buscando compreender um pouco mais sobre as ausências, os pesquisadores, aplicaram o questionários a equipe gestora e aos responsáveis dos alunos para saber os motivos ou hipóteses que possam ter contribuído para essa falta as aulas, nos foram apresentados diversos motivos entre eles a falta de internet, falta de local adequado para participar das aulas, falta de crédito no celular ou falta de um aparelho celular.

Diante das respostas, com o isolamento social e sem a presença física do professor, consolidar o processo de escolarização com aulas on-line tem sido uma tarefa árdua na escola do quilombo, pois alguns estudantes não tem telefone com internet para manter o diálogo com os professores, neste momento, a interação entre o estudante e professor é essencial no processo de ensino e aprendizagem ficando difícil obter êxito para consolidar uma prática pedagógica eficaz via WhatsApp no contexto da pandemia e distancia social.

Diante das falas coletadas podemos perceber que a prática educativa não presencial é acima de tudo um desafio, este transforma a educação em um elemento singular em meio ao acolhimento de tantas pluralidades e descobertas.  O ambiente virtual de aprendizagem passou a ser o aplicativo de comunicação, essa modalidade de ensino remoto utilizada pelos professores foi uma das formas de para manter a dialogicidade com os alunos.

Diante do caos na vida dos alunos na pandemia, sobretudo por fatores econômicos e sociais, muitos estudantes ausentaram-se da escola, premidos pelas mudanças econômicas, políticas, sociais e culturais súbitas e rápidas evidenciaram ainda mais a marginalidade, no sentido antropológico, desses sujeitos.

Diante das narrativas coletadas dos professores, participantes da pesquisa, podemos constatar que trabalhar com o processo de ensino remotamente ocasionou vários impactos na trajetória profissional, pois os docentes mediante a situação imposta foram impulsionados à reconstrução do seu fazer pedagógico, lidar com o afastamento, proporcionar, manter e avaliar o ensino em sua turma.

 Em tempos de trabalhos remotos, os/as professores/as necessitaram reinventar o seu fazer. Apesar das intempéries, da ansiedade e dos medos, que são inerentes ao ser humano, precisaram motivar os seus estudantes para buscar as suas permanências.

Foram muitos os desafios postos, sobretudo no acompanhamento das turmas por meio da internet, em plena pandemia, mas eles/as afirmam terem persistido no seu fazer pedagógico.   As mudanças das aulas presenciais, nos formatos tradicionais para ambientes virtuais ainda é um processo novo que indicou a necessidade de mudanças nas práticas dos educadores, e a maior aproximação com as famílias.

Diante dessa realidade, entendemos que não bastava discutir apenas aspectos teóricos e conceituais, neste momento pandêmico de caos social, mas, sobretudo, trazer reflexões sobre as condições pedagógicas que possam impulsionar o diálogo com os estudantes da comunidade quilombola do Oiteiro.

Os aspectos pesquisados corroboram com as conclusões teorizadas e já apresentadas pelos/as professores/as das turmas e nos levam a considerar a vasta demanda de variáveis no processo de escolarização online a serem aprofundadas ao longo do tempo.

 

 

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

As discussões nesse trabalho ressaltam que o contexto pandêmico acelerou o processo de educação no formato não-presencial, trouxe enormes desafios no âmbito individual, coletivo e institucional para a apropriação das tecnologias digitais e busca da superação das adversidades advindas das sociedades das ausências, da exclusão social e agora digital, realidade dura da maioria dos estudantes desse país e em especial na comunidade quilombola do Oiteiro em Penedo-AL.

O trabalho remoto era uma realidade um tanto quanto distante, ou que se apresentava de forma lenta e gradual no país. Com a pandemia, os profissionais da educação quilombola em Penedo/Al, buscam a superação para elaborar planos de aula para ambiente virtual, com momentos síncronos e assíncronos, e que seguem a necessidade de mudança de paradigma no atuar pedagógico, nas condições desse atuar, e na promoção da inclusão, na diminuição das desigualdades.

Trouxemos para o debate a importância da educação, da figura dos/as educadores/as, dos dilemas, incertezas, superações, da quebra de paradigma sobre as sociedades das ausências, da exigência de novas posturas e prioridades das agências estatais para a educação, vislumbrando horizontes solidários para quem foi atingido mesmo que indiretamente pelas consequências desse surto viral global, e a dura realidade das carências sociais, econômicas e digitais da comunidade quilombola do Oiteiro de Penedo-AL.  

Mesmo com todas as dificuldades enfrentadas durante esse período de atividade remota emergencial, algumas lições foram tiradas para refletir o processo de ensino e aprendizagem, principalmente, o processo de acolhimento dos estudantes, que em virtude do afastamento físico da escola tiveram o desafio de transformar o seu ambiente residencial, assim como os professores, em sala de aula improvisada, compartilhando com todos os familiares saberes, dúvidas, afazeres e dificuldades.

REFERÊNCIAS

 

ALAGOAS. Decreto n° 69.501, de 13/03/2020, Dispõe sobre as medidas para o enfrentamento da emergência de Saúde pública de importância internacional decorrentes do COVID-19 (Coronavírus), e dá outras providências. Maceió AL, 2020ª. Disponível em: https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=390838. Acesso em 27/04/2021.

 

 

ALAGOAS. Decreto n° 69.527, de 17/03/2020. Institui medidas temporárias de enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrentes do COVID-19 (Coronavírus), no âmbito da rede pública e privada de ensino no âmbito do Estado de Alagoas, e dá outras providências. Maceió AL, 2020b.

 

 

BARCELOS, Valdo. Educação de Jovens e Adultos: Currículos e práticas pedagógicas. Petrópolis: Vozes, 2012.

 

 

BRASIL, Constituição Federativa do Brasil: texto constitucional, promulgado em 5 de outubro de 1988. Brasília: 1988.

 

 

BRASIL, Conselho Nacional de Educação. Parecer CP N° 5/2020. sobre a Reorganização do Calendário Escolar dispõe sobre a reorganização do Calendário Escxolar em razão da Pandemia da Covid-19. Disponível em http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=145011-pcp005-20&category_slug=marco-2020-pdf&Itemid=30192. Acesso em 20/05/2021.

 

 

BRASIL, Lei 13. 97, de 6 de fevereiro de 2020. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 7 de fevereiro de 2020. Seção 1, p.1.

 

 

BRASIL, Ministério da Educação. Portaria N° 343. Dispõe sobre a substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais durar a situação de pandemia do Novo Coronavírus Covid-19. Disponível em : http://portal.mec.gov.br/component/content/article?id=88631. Acesso em 19/06/2021.

 

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler – em três artigos que se completam. 46. ed. São Paulo: Cortez, 2001.

 

 

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. São Paulo: Editora Atlas, 2003.

 

 

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