Este texto apresenta os resultados do plano de trabalho que faz parte do projeto de pesquisa “Alfabetização Histórica: em busca de um reposicionamento disciplinar diante das reformas curriculares.” Apresenta a análise do ensino de História para os Anos Iniciais no município de Barra dos Coqueiros visando investigar a base do ensino desta disciplina a partir da implantação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) como orientação para o currículo escolar . A BNCC é um documento normativo dividido em 3 etapas: Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. É ela que norteia o conjunto de aprendizagens e competências para o aluno desenvolver em sua jornada na educação básica.
É após este cenário de introdução da BNCC que desenvolve-se esta pesquisa que tem como objetivo principal analisar o processo de ensino-aprendizagem de alfabetização histórica por professores do Ensino Fundamental nos Anos Iniciais em algumas Escolas Municipais de Barra dos Coqueiros/SE, investigamos também quais os conceitos de alfabetização histórica ou letramento histórico que eles possuem e realizar uma análise articulada com o que apresentam a base de alguns teóricos que debatem o assunto na produção acadêmica.
O período de ensino dos Anos Iniciais é quando se constrói o pilar da alfabetização, proporcionando o caminhar para que assim como fala SOARES(2004):
“após alguns anos de aprendizagem escolar, o indivíduo terá não só aprendido a ler e escrever, mas também a fazer uso da leitura e da escrita, verifica-se uma progressiva, embora cautelosa, extensão do conceito de alfabetização em direção ao conceito de letramento: do saber ler e escrever em direção ao ser capaz de fazer uso da leitura e da escrita.”(SOARES, 2004, P. 7)
O conhecimento histórico é descrito na BNCC (2018) como uma forma de pensar, entre várias; uma forma de indagar sobre as coisas do passado e do presente, de construir explicações, desvendar significados, compor e decompor interpretações, em movimento contínuo ao longo do tempo e do espaço. Especificações semelhantes à literacia histórica, termo traduzido de literacy history, discutido por PETER LEE (2006, 2016) , STAMATTO (2009), JÖRN RÜSEN (2015), sobre o ensino de História para os Anos Iniciais. Para (OAKSHOTT, 1983, P. 6): Uma primeira exigência da literacia histórica é que os alunos entendam algo do que seja história, como um “compromisso de indagação (apud LEE, 2006, P. 134) outra característica que se assemelha com a BNCC (2018): é que considerações históricas não são cópias do passado, mas todavia podem ser avaliadas como respostas(...) do documento que elas explicam.
Dessa forma entende-se que o termo apresenta variantes porém não muda o seu significado assim como confirma STAMATTO (2009): No Brasil o termo literacy pode ser traduzido como alfabetismo ou alfabetização. Esta autora apresenta uma análise em materiais didáticos sobre o ensino de história com o foco em livros didáticos, que objetiva identificar os significados e conceitos de alfabetização histórica nos livros didáticos para os Anos Iniciais de ensino.
Entende-se então que o processo de alfabetizar letrando caminham juntos nos Anos Iniciais de ensino, e para o desenvolvimento pleno do aluno é importante que o docente conheça as especificações deste processo. A entrada da BNCC como documento de norte para elaboração do currículo escolar também pode-se considerar uma forma de apoio para o pensar histórico crítico,pois na análise do documento ao que se refere a disciplina de História encontramos indicações de atitudes que podem ser usados como fonte de pesquisa e assim o aluno desenvolver o aprendizado através de pesquisas do construir e desconstruir assim como está na BNCC:
“Elaborar questionamentos, hipóteses, argumentos e proposições em relação a documentos, interpretações e contextos históricos específicos, recorrendo a diferentes linguagens e mídias, exercitando a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos, a cooperação e o respeito.” (BRASIL, 2018, P. 402)
E neste contexto para estimular uma Educação histórica autônoma que é reforçado mais uma vez pela BNCC:
“exige um reconhecimento das bases da epistemologia da História a saber: a natureza compartilhada do sujeito e do objeto de conhecimento, o conceito de tempo histórico em seus diferentes ritmos e durações, a concepção de documento como suporte das relações sociais, as várias linguagens por meio das quais o ser humano se apropria do mundo. Enfim, percepções capazes de responder aos desafios da prática historiadora presente dentro e fora da sala de aula.” (BRASIL, 2018, P. 402)
Portanto, para construir este pensamento e contribuir com o arranjo destes processos é necessário compreender as formas de aquisição das afirmativas da história assim como disse (LEE, 2006):
“A compreensão de como as afirmações históricas podem ser feitas, e das diferentes formas nas quais elas possam ser mantidas ou desafiadas, é uma condição necessária para a literacia histórica, mas não suficiente. Se os alunos que terminam a escola são capazes de usar o passado para ajudá- los a atribuir sentido ao presente e ao futuro, eles devem levar consigo alguma história substantiva” (LEE, 2006, P. 131-150)
Todavia é possível afirmar que este conhecimento não pode ser inativo, isolado ele deve fazer parte da vida cotidiana do aluno promovendo um pensar crítico em suas relações sociais e com isto desenvolver interpretações de maneira prática e participativa.
Entender o letramento histórico é importante para o processo de ensino-aprendizagem de História para os Anos Iniciais porque assim como defende (LEE 2016) é preciso superar a concepção de que a História é a sucessão de fatos passados que não tem relação nenhuma com o presente pois como disse (LEE, 2016. P. 121): ajudar os estudantes a abandonar a visão do presente como algo separado do passado por uma espécie de apartheid temporal.
Considerando a análise do conhecimento dos docentes que atuam nos Anos Iniciais da educação neste contexto de implementação da BNCC e desta base epistemológica do ensino de história assim como reforçado por (BARCA, 2001):
”O Ensino da História, enquanto disciplina de charneira para a promoção da educação histórica, assume-se hoje com uma fundamentação científica própria. Ancorada em áreas de conhecimento como a Epistemologia da História e das Ciências Sociais, a Psicologia Cognitiva e a História, constitui-se como teoria e aplicação à educação de princípios decorrentes da cognição histórica.” (BARCA, 2001, P. 13)
É possível afirmar que com base nessas mudanças no currículo escolar com a BNCC e na base da construção do pensamento histórico que se faz necessário investigar como está desenvolvendo-se o processo de ensino-aprendizagem dos alunos, e se o conhecimento dos professores está de acordo com os teóricos que discutem a temática dentro do universo acadêmico.
Metodologicamente, esta pesquisa caracteriza-se como quanti-qualitativa. De um lado, fez-se o movimento de selecionar um número representativo de unidades escolares e docentes para aplicação de questionário on-line. De outro, realizou-se a análise das respostas apresentadas pelos professores com vistas a compreender a percepção deles sobre o ensinar História. O primeiro contato com a temática foi através da apresentação de artigos de alguns autores que discutem o tema disponibilizado pelo orientador do projeto, seguido de um estudo da Base Nacional Comum Curricular no tocante ao ensino de História onde analisamos as diretrizes sobre a disciplina para o Ensino Fundamental. A etapa seguinte desta pesquisa foi a visita na Secretaria de Educação do Município de Barra dos Coqueiros, município localizado na região metropolitana de Aracaju, ligado à capital de Sergipe pela ponte Construtor João Alves.
Para ampliar meu entendimento sobre o tema, também houve a participação em dois cursos de extensão: o primeiro sobre aprendizagem Histórica em perspectiva comparada, desenvolvido com o apoio da pró-reitoria de extensão(UFS) e do centro de Educação Superior a Distância(UFS) este proporcionou um estudo com os autores já conhecidos e apresentou outros estudiosos do tema; o segundo sobre Avaliação Escolar: para muito além da reprovação, este desenvolvido pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte este também focado na disciplina de História na oportunidade foi possível aprender métodos avaliativos e identificar possíveis erros durante o processo de elaboração destes métodos.
Com o intuito de levantar algumas informações básicas, recorreu-se ao apoio da Secretaria Municipal. Para isto, agendamos um contato presencial, realizamos uma pequena entrevista com a secretária em que indagamos se os livros e recursos didáticos que são distribuídos pelo município já estavam seguindo as reformas curriculares e se houve algum curso de capacitação para os professores atuantes sobre o currículo escolar com a nova BNCC. A resposta foi positiva para ambos, sendo que o curso ocorreu no ano de 2019. Também conseguimos a informação de que apesar de o ensino estar sendo efetuado de forma remota( uma das medidas sanitárias adotada pelo município para conter o avanço do covid-19) todas as secretarias das escolas estavam funcionando normalmente no período manhã e tarde para atendimento dos pais e responsáveis dos alunos.
Tivemos acesso liberado ao mapeamento das Escolas do Município entregue de forma impressa com informações de nome, endereço, coordenadores e localidade centro ou zona de expansão destas conforme o Quadro seguinte:
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QUADRO I: Unidades escolares do município
ESCOLA |
COORDENADORAS |
ENDEREÇO |
MODALIDADE DE ENSINO |
E.M DEOCLIDES JOSÉ PEREIRA |
Kátia Maria Lino e Joelma Guedes de Barros |
Praça Antônio Válido, S/N-Pov.Jatobá |
Educação Infantil e Ensino Fundamental-1° ao 5° ano |
E.M.PROFESSORA GELVÃNIA MOURA DA SILVA |
Maria de Fátima Fagundes Costa de Santana |
Av.Beira Rio,s/n-Pov Canal |
Av.Beira Rio,s/n-Pov Canal |
E.M.E.I ESTER MARTINS |
Janecy Costa de Azevedo e Marcia Cristina Nascimento Barros |
Complexo Marcelo Déda |
Creche e Educação infantil |
E.M JOÃO CRUZ |
Mercedes dos Santos e Sandra Araújo de Oliveira |
Av. Moises Gomes Pereira 280,Centro |
Ensino Fundamental- 1° ao 5° ano |
E.M SÃO FRANCISCO DE ASSIS |
Roberta Kelly Venancio Santos e Roberta da Silva Coutinho Almeida |
Rua Pedro R. Nascimento,14-Centro |
Educação Infantil e Ensino Fundamental-1° ao 3° ano |
CRECHE MUNICIPAL JORGE PRADO DE OLIVEIRA |
Waleska Santos Goerch e Nancy Ramos Campos Lins |
Av. José de Campos,s/n-Centro |
Creche l |
E.M.E.I O PEQUENO APRENDIZ |
Edjane Goes de Sá e Ana Amélia de Morais |
Av.Tiradentes,208-Olimar |
Educação Infantil |
E.M.E.F. PROFa CREUZA GOMES DOS SANTOS |
Shirley Dias de Andrade e Marineuza Menezes e Margareth Gomes Santos |
Rua Paulo de Tarso,96-Olimar |
Ensino Fundamental-4° ao 9° ano e EJA- 1° ao 9° ano |
E.M.E.F PROFESSORA MARILI MOURA DE LIMA |
Sandra Regina Silva e Cândida Regina Cunha |
AV.José Mota Macedo,80-Centro |
Educação Infantil |
E.M.E.F PROFESSORA MARILI MOURA DE LIMA |
Ilnara Neri Souza dos Santos e Cláudia Marta de Oliveira Costa e Gilvânia Bispo dos Santos |
Travessa José de Almeida,26-Marivan |
Ensino Fundamental-1° ao 5° ano e EJA-6° AO 9° ano |
E.M.PROFa MARIA LIGIA SANTOS MOURA |
Maria Silvana Menezes Santos e Maria josé Lima de Carvalho. |
Rua B,255-Caminho da Praia |
Educação Infantil e Ensino Fundamental-1° ao 3° ano |
E,M. PREFEITO JOSÉ MOTA MACEDO |
Joseane Santos Moura |
Rod.Edilson Távora,s-n-pov.capoã |
Educação infantil e Ensino Fundamental-1° ao 5° ano |
Fonte: Secretaria Municipal de Educação de Barra dos Coqueiros
A escola E. M. E . F Professora Marili Moura aparece no mapa duas vezes porque no momento da realização desta pesquisa a escola encontrava-se em reforma física e foi necessário fazer o deslocamento para outro ambiente contudo os dados que a secretaria armazenava e disponibilizou foi feito dessa maneira dupla e mantivemos os dados igual o documento original.
Sobre o currículo regente das instituições a resposta foi o link do currículo do Estado de Sergipe. Após leitura deste analisamos que ele foi construído pouco após a homologação da BNCC e que, segundo o documento, possui: o propósito de mobilizar,engajar e fortalecer as relações institucionais,visando assegurar os direitos de aprendizagens das crianças, adolescentes e jovens, contemplando as 10(dez) competências gerais da BNCC. Evidenciando assim após leitura do currículo que possui como desígnio fomentar a inclusão da Base Nacional Comum Curricular no sistema de ensino estadual.
O mapa das escolas disponibilizado de maneira impressa como exposto aqui, continha o nome de todas as escolas municipais de creche até os anos finais do Ensino Fundamental, somando 13 escolas. Porém como o nosso objetivo era apenas a parcela das escolas de 1° ao 5° ano de ensino, selecionamos quatro escolas são elas: Escola Municipal João Cruz, Escola Municipal São Francisco de Assis, Escola Municipal de Ensino Fundamental Marili Moura de Lima e Escola Municipal Professora Maria Ligia Santos Moura.
Para acesso ao contato dos professores foi realizada uma visita às quatro escolas selecionadas, com a ajuda da direção destas no dia da visita foram encontrados alguns deles que estavam na escola para elaborar o plano de aula semanal das aulas remotas dessa forma alguns dos contatos foram adquiridos diretamente dos seus portadores, os outros disponíveis pelo contato online da direção escolar assim somados a parcela de 14 professores polivalentes atuantes no ano letivo de 2020 e na oportunidade as coordenadoras disponibilizaram os dados de funcionamento das turmas do ano letivo e dos possíveis contatos que seriam abordados conforme Quadro:
QUADRO II: Escolas selecionadas para o estudo
E.M. SÃO FRANCISCO DE ASSIS |
E.M JOÃO CRUZ |
E.M PROF° MARIA LÍGIA SANTOS MOURA |
E.M.E.F MARILI MOURA |
MANHÃ / TARDE |
MANHÃ / TARDE |
MANHÃ / TARDE |
MANHÃ / TARDE |
1° A B C/ D E F |
1° A / B |
1° A / B |
1° A B / |
2° A B / C D |
2° A / B |
2° A B / C |
2° A B / C |
3° A B / C D |
3° A / B |
3° A / B C |
3° A B / C D |
4° A / B |
4° A B C/ D E |
||
5° A / B C |
5° A B / C D |
FONTE: acervo pessoal do pesquisador
Funcionando plenamente manhã e tarde e com o quadro de professores regentes em todas as salas completas. Catorze docentes toparam responder o questionário liberando o número de telefone para contato e envio do formulário, foi liberado o acesso para todos e com previsão de retorno sem data limite pois a pedido de alguns professores que atuavam nos dois turnos o tempo disponível era imprevisto.
A próxima etapa desta pesquisa é a elaboração do questionário online, este elaborado com a ajuda dos critérios fornecidos pela secretaria de educação do município fazendo articulação com a base teórica estudada e a BNCC. Pensamos em investigar se o currículo do município estava atualizado pois a intenção de sondar o conhecimento sobre alfabetização histórica em sua forma conceitual e analisar como estavam desenvolvendo este conhecimento nos alunos de acordo com os parâmetros da BNCC sabemos que o uso destes critérios é algo considerável novo devido ao pouco tempo em que a mesma entrou em vigor, ao obter a resposta que o currículo do estado era o atual para as diretrizes educacionais do município foi possível dar continuidade a esta pesquisa de maneira satisfatória com os objetivos iniciais da mesma.
Extraímos alguns pontos que consideramos importantes e que de algum modo se relacionam, com o estudo de cada um dos referenciais destacamos alguns pontos que mereciam destaque para as perguntas tais como recursos didáticos e tecnológicos que aparecem como forma de diretriz para o ensino da disciplina em ambos os documentos, as maneiras de proporcionar o convívio social em sua diversidade e sondar sobre o grau de conceito adquirido pelos docentes. Também pensamos em perguntar se existia alguma dificuldade em relação aos assuntos e conteúdos da disciplina de História para a fase do Ensino Fundamental dos Anos Iniciais em que eles atuavam no momento, bem como também alguns outros quesitos que consideramos importantes para a alfabetização histórica de acordo com os teóricos apresentados neste texto.
O retorno das respostas contou a soma de 7 docentes com representantes de todas as 4 escolas selecionadas, conseguimos identificar materiais, recursos didáticos e métodos utilizados pelos professores. Bem como investigar a concepção do conceito de alfabetização histórica que os docentes apresentaram nas suas respostas.
Como citado antes, o estudo da BNCC para o ensino de História nos Anos Iniciais aponta para uma concepção de educação histórica epistemológica, bem como a busca pelos teóricos que discutem a Alfabetização Histórica, assim é neste viés de investigação que foi pensado cada pergunta do questionário. Não houve nenhum tipo de reclamação quanto ao acesso ou erro no formulário durante a sua vigência.
O primeiro propósito do questionário é identificar os recursos utilizados para as aulas de História, assim a primeira pergunta foi sobre quais os recursos mais utilizados para as aulas da disciplina de História e como resposta o livro didático é o recurso mais utilizado com quatro aparições das sete respostas; apesar de ser o mais citado ainda houve algumas respostas em que ele não foi lembrado, houve ainda como recurso descrito imagens em atividades fotocopiadas e mídias digitais, citadas duas vezes cada uma; recursos citados uma única vez são: objetos (sem especificações), quadro branco e contos literários.
O livro didático apesar de não ser lembrado por todos os docentes é o recurso didático onde é possível encontrar, ainda que de maneira limitada, o conceito de alfabetização histórica assim como dito por STAMATTO (2009):
“Observamos um número reduzido de obras que consideram em suas proposta teórico-metodológica um conceito de alfabetização histórica, levando-se em consideração que as discussões sobre alfabetização e letramento acontecem no país há pelo menos vinte anos”. (STAMATTO 2009, P.7)
Iremos focar no conceito mais adiante pois vale salientar que o conhecimento dos professores sobre o tema é importante para o domínio do objetivo final com os alunos.
A segunda pergunta desta entrevista direcionamos sobre os recursos de mídia digitais, pois como citamos antes neste texto devido a pandemia mundial do covid-19 foram impostas medidas de isolamentos social e as aulas do segundo semestre estavam ativas por meio de ensino remoto, e pensamos que a utilização desses recursos talvez fosse um meio utilizado não só para esse contexto pois na BNCC a sétima e última competências específicas de História para o Ensino Fundamental é: “Produzir, avaliar e utilizar tecnologias digitais de informação e comunicação de modo crítico, ético e responsável, compreendendo seus significados para os diferentes grupos ou estratos sociais”. então a pergunta foi se eles utilizavam algum recurso de mídia digital para incentivar a pesquisa histórica e quais recursos seriam, seis professores responderam essa questão de forma afirmativa e um negativamente. Sobre quais recursos eles utilizam o de mais respostas foi o vídeo citado por todos que respondeu de forma afirmativa porém alguns não foram específicos outros citaram que utilizavam com sugestão de videoaulas ou trechos de filmes, os jogos digitais aparecem duas vezes, abrindo uma reflexão sobre o porque só estes dois recursos são citados como fonte de auxílio para o processo de desenvolvimento da alfabetização histórica.
A terceira pergunta teve como precursor o currículo do Estado que é o atual regente das escolas municipais. Como citado antes nessa pesquisa, o currículo tem o compromisso de fortalecer a implementação da BNCC nas escolas porém o documento enfatiza que:
“Espera-se que o conjunto de competências e habilidades expressas no componente curricular História afirme um compromisso ético de oferecer uma educação humana e integral, não limitada aos direitos da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), apontando para a ampliação de direitos de cidadania, descentrando saberes e aproximando fazeres e que, portanto, promova uma educação livre, aberta, esclarecida, crítica, responsável, equânime, sustentável e generosa no contexto de democracia”. (Currículo de Sergipe, 2019, P. 431)
Para identificar como é desenvolvida essa ampliação, a pergunta é como eles abordam na sala de aula os seguintes temas: diferentes linguagens, contextos históricos específicos, empatia, o diálogo, a resolução de conflitos, cooperação e o respeito. Um professor não respondeu este item. Quatro afirmaram fazer o uso da roda de conversa. Exemplificam que fazem a utilização da roda de conversa para debater esses assuntos, expor opiniões e tentar juntos a resolução de questões diversas. Um respondente afirmou que para trabalhar a questão da empatia com todos os alunos utilizava algumas vezes do currículo oculto, resposta pertinente já que como exposto é um assunto que está explícito dentro do documento Curricular do Estado de Sergipe:
“Elaborar questionamentos, hipóteses, argumentos e proposições em relação a documentos, interpretações e contextos históricos específicos, recorrendo a diferentes linguagens e mídias, exercitando a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos, a cooperação e o respeito.”(Currículo de Sergipe, 2019, P. 430)
Esta resposta aponta que há ainda falta do conhecimento de um estudo para o currículo vigente dos professores, pois o assunto está dentro das diretrizes curriculares e não haveria a necessidade do uso do currículo oculto.
Na quarta pergunta adentramos no quesito prático da disciplina, abordando a importância de não só conhecê-la, mas de saber fazer uso da contribuição de sua estrutura para relacionar-se com o presente bem como diz (LEE ,2006, P. 131-150): eles devem estar equipados com dois tipos de ferramentas: uma compreensão da disciplina de história e uma estrutura utilizável do passado. Ponto que demonstra relação com o que expõe a BNCC:
“ As que nos levam a pensar a História como um saber necessário para a formação das crianças e jovens na escola são as originárias do tempo presente. O passado que deve impulsionar a dinâmica do ensino-aprendizagem no Ensino Fundamental é aquele que dialoga com o tempo atual.”(BRASIL, 2018, P. 397)
Portanto, foi perguntado quais fatos ou fontes eles utilizam em maior número de vezes para explicar acontecimentos presentes durante as atividades com sua turma,as resposta foram em maioria positivas escrevem que sim e após eles descrevem como realizam:
- Professor 1: As paisagens, modo de vida…
- Professor 2: costumo em minha aulas de história fazer uma correlação entre o passado e o presente . Isso é trabalhado com os alunos através de pesquisas ou entrevista com os moradores mais antigos.
- Professor 3: As formas de registro, as experiências da comunidade. O tempo como medida.
- Professor 4: os alunos gostam muito de remeter o passado observando o presente vivido.
- Professor 5: emancipação política do município por exemplo.
- Professor 6: mostrando os tipos de brincadeiras e brinquedos do passado fazendo correlação com os de hoje.
- Professor 7: costumes, crenças, comportamentos familiares e tipos de moradias.
As respostas correspondem de maneira satisfatória com o que foi citado anteriormente neste texto para o desenvolvimento de um pensar histórico, apontando que os docentes fazem a tentativa de incentivar uma consciência histórica para o “eu” e o ambiente em que os alunos já são familiarizados. Proporcionando aos alunos que tenham interação com assuntos e desenvolvam o construir e desconstruir incentivando assim a pesquisa e análise de fatos e acontecimentos.
Para a quinta pergunta perguntamos se havia nestes docentes algum tema da disciplina de História que eles tenham dificuldades para ser trabalhado em sala e nesta houve apenas duas respostas positivas: um relata que ”a história local''. Não existe material didático disponível ao professor para dar aula da história do município onde atuo; outro afirmou fontes não escritas: pedra, cerâmica, objetos entre outros. Pensamos em investigar sobre as possíveis dificuldades dos assuntos, pois sabemos que a introdução da BNCC e do currículo estadual se deu a pouco tempo.
Na sexta questão perguntamos sobre a possibilidade dos passeios ou visitas em áreas históricas do município, se era comum haver esse tipo de atividade, seguindo o que está prescrito na BNCC: Identificar os patrimônios históricos e culturais de sua cidade ou região e discutir as razões culturais, sociais e políticas para que assim sejam considerados. Para identificar tais patrimônios seria interessante o uso da visita aos que são próximos dos alunos e que fazem parte do “eu” social em construção nesta fase de alfabetização. O indicativo é de que elas acontecem porém não de maneira regular pois foram 2 respostas para o sim, 2 para o não e 3 para às vezes.
Para as últimas perguntas focamos no quesito conceitual pois assim como afirmado por (BARCA, 2001): É necessário que os conceitos façam sentido para quem os que vai apreender. Então na sétima questão sondamos quais as denominações que aparecem no manual didático de História do professor. As opções foram: 1- alfabetização, que obteve 6 marcações; 2- letramento, com 5 marcações; 3- competência leitora, constando 3 marcações; 4- alfabetização histórica e 5- educação histórica, com apenas uma selecionada em cada. A oitava pergunta, ainda abrangendo sobre a conceituação, foi para saber se eles têm conhecimento do termo literacia (ou alfabetização) histórica. Do total, 4 respostas foram negativas, 2 respostas positivas e uma resposta pessoal: consiste em o aluno não só conhecer o que está escrito sobre a nossa história e sim em entender o que realmente aconteceu.
Fechamos a entrevista com nove perguntas, a nona consiste em escrever qual a concepção de literacia histórica caso a resposta da oitava fosse afirmativa, e como esperado devido ao fato das poucas respostas na pergunta anterior houve 3 respostas a primeira deu o significado da palavra literacia de forma isolada, a segunda respondeu que é o desenvolvimento linguístico a empatia e a socialização e na terceira resposta foi escrito que é quando a criança é alfabetizada em história. A falta de resposta aponta que os professores não estão familiarizados e seguros para responder sobre o tema.
Portanto, analisamos que existe um déficit sobre a conceitualização dos termos para a educação histórica, apontando que pouco aparecem no material didático assim como explícito na resposta da sétima e oitava pergunta as quais obteve um número considerável alto de negativas e para os que tentaram responder na nona e última pergunta escrita a compreensão é confusa ou desmembrada dos termos iniciais, apontando para uma tentativa de resposta dedutiva.
Este texto buscou identificar e analisar as práticas docentes para o ensino de história nos Anos Iniciais do ensino nas escolas municipais de Barra dos Coqueiros, esta pesquisa faz parte do Projeto de Iniciação Científica(PIBIC) a entrevista foi realizada por meio de questionário online devido às medidas de restrição social para conter o vírus do covid-19 e apesar de não fazer parte das etapas iniciais não houve alterações consideráveis em relação às demandas do princípio.
Com o estudo da BNCC e a análise do currículo do estado de Sergipe como o documento norteador das aulas do município identificamos que para o ensino de História estes dois documentos estão relacionados e possuem indicativos que apontam para um ensino histórico autônomo e crítico bem como a base teórica que debate o assunto no meio acadêmico. Com o retorno das respostas foi possível identificar a compreensão sobre o conceito de alfabetização histórica que professores polivalentes em atividade possuem e comparar com o que a produção acadêmica tem defendido.
É possível identificar que apesar de ter o conhecimento de vários métodos que correspondem de forma plena o que pede a BNCC e o currículo do estado de Sergipe para o ensino da disciplina, e fazer uso de alguns dos procedimentos norteadores que estão lá explícitos alguns apresentam falta de conhecimento de uma forma mais detalhada do estudo tanto para a Base Nacional Comum Curricular como também para o documento do Currículo do Estado para o ensino de História, fato que se mostra evidente na citação do uso do currículo oculto e na falta do incentivo ao uso dos recursos tecnológicos para pesquisa e desenvolvimento das aulas.
A falta de respostas em algumas perguntas sobre o conceito de alfabetização histórica revelou que os docentes apresentam pouco conhecimento do tema da alfabetização histórica em seu estado da arte. O que é possível afirmar com a análise das respostas é que apesar de utilizarem a metodologia correta e em alguns casos seguir o padrão do currículo do estado ainda que pouco aprofundado, os docentes apresentam falha na direção de construir um desenvolvedor pleno de consciência histórica pois as falhas apresentadas tanto para a conceitualização bem como para o processo de elaboração das aulas deixam em evidência que é preciso um estudo mais detalhado para estes professores.
Os resultados desse estudo despertaram a inquietação e o interesse de dar continuidade sobre a evidência da falta de identificação dos recursos tecnológicos atuais para o ensino de história nos Anos Iniciais, pois como citado neste texto os recursos tecnológicos também são fontes importantes para serem utilizadas no processo de ensino histórico. Abrindo assim a discussão para um novo trabalho de investigação sobre o que está sendo apresentado no ambiente acadêmico para apresentar estes recursos.
BARCA, Isabel. Educação Histórica: uma nova área de investigação. Revista da Faculdade de Letras : História, Porto, v. 2, p. 013-021, 2001.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018
LEE, Peter. Em direção a um conceito de literacia histórica. Educar em Revista, Curitiba, Especial, p. 131-150, 2006
LEE, Peter. Literacia histórica e história transformativa. Educar em Revista, Curitiba, n. 60, p. 107-146, 2016.
RÜSEN, J. Teoria da História: Uma Teoria da História como Ciência. Tradução: Estevão C. de Rezende Martins. Curitiba: Editora UFPR, 2015.
SERGIPE. Currículo de Sergipe: Educação Infantil e Ensino Fundamental. Regulamentado no Sistema Estadual de Ensino por meio do Parecer nº 388/2018/CEE e da Resolução nº 04/2018/CEE. Aracaju: Câmara Municipal, 28 dez. 2018a. Disponível em: https://www.seed.se.gov.br/arquivos/CURRICULO.DE.SERGIPE.v.02-Regulamentado.pdf. Acesso em: 28 abril. 2021.
SOARES, M. (2004). Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Revista Brasileira de Educação v. s/v, n. 25, p. 05-17.
STAMATTO, Maria Inês Sucupira. Alfabetização Histórica em materiais didáticos: significados e usos. In: Anais do XXV Simpósio Nacional De História, 2009, Fortaleza.