Metadados do trabalho

O Protagonismo Do Centro De Mídias Do Amazonas Nas Inovações Em Práticas E Metodologias De Educação Em Lugares Remotos

Wilmara Cruz Messa Monteiro; Maria da Conceição Oliveira Rodrigues; Ana Claudia Ribeiro de Souza

RESUMO

A alternativa para levar a educação básica para alunos de comunidades remotas do estado do Amazonas veio através do Centro de Mídias de Educação do Amazonas-CEMEAM. Este estudo advém de experiências do cotidiano de trabalho no CEMEAM, com intuito de apresentar a relevância deste departamento da Secretaria de Estado da Educação e Desporto-SEDUC-AM, principalmente em relação à possibilidade de acesso, permanência e êxito de jovens e adultos das mais longínquas localidades do interior do estado do Amazonas. Primeiramente, discute-se a partir de uma abordagem das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação-TDIC, e se reflete sobre o protagonismo do CEMEAM nesse contexto da TDIC. Em um segundo momento, discorre-se sobre a historicidade do CEMEAM, com um breve destaque aos dados coletados de sistemas de acompanhamento. Em seguida, apresenta-se os aplicativos e as plataformas utilizadas, e referência as conquistas do Centro desde a sua criação, com um breve olhar às ações estabelecidas no período pandêmico vivenciado desde 2020. Por fim, apresenta-se as impressões que se constituíram a partir das vivências na SEDUC-AM.

 

 

Palavras‑chave:  |  DOI:

Como citar este trabalho

MONTEIRO, Wilmara Cruz Messa; RODRIGUES, Maria da Conceição Oliveira; SOUZA, Ana Claudia Ribeiro de. O Protagonismo do Centro de Mídias do Amazonas nas Inovações em Práticas e Metodologias de Educação em Lugares Remotos. Anais do Colóquio Internacional Educação e Contemporaneidade, 2021 . ISSN: 1982-3657. Disponível em: https://www.coloquioeducon.com/hub/anais/137-o-protagonismo-do-centro-de-m%C3%ADdias-do-amazonas-nas-inova%C3%A7%C3%B5es-em-pr%C3%A1ticas-e-metodologias-de-educa%C3%A7%C3%A3o-em-lugares-remotos. Acesso em: 16 out. 2025.

O Protagonismo do Centro de Mídias do Amazonas nas Inovações em Práticas e Metodologias de Educação em Lugares Remotos

  1. INTRODUÇÃO

     O estado do Amazonas, onde está localizada a Secretaria de Estado da Educação de Desporto e o Centro de Mídias de Educação do Amazonas - CEMEAM, é o maior estado em extensão territorial de acordo com o IBGE (2020) com área territorial de 1.559.167,878km², com aproximadamente 4.207.714 pessoas.

     A tessitura deste estudo está no âmbito das Políticas Públicas Educacionais do Estado do Amazonas a partir das ações de ensino realizadas pela Secretaria de Estado da Educação –SEDUC Amazonas, por meio do CEMEAM, reflexões que estão no eixo de discussões sobre Educação, Inovação e Tecnologias.

    O que vislumbramos nesse estudo é tecer um olhar acerca do protagonismo do CEMEAM em tecnologias digitais no contexto educacional do estado do Amazonas. A temática advém de experiências na Secretaria de Estado da Educação e Desporto do Amazonas, na Secretaria Executiva Adjunta do Interior, além do cotidiano de trabalho no próprio CEMEAM.

      A pesquisa de abordagem qualitativa, delineou o percurso metodológico à luz de Marconi e Lakatos (2005), com pesquisa documental realizada em fontes primárias dos arquivos do CEMEAM, e pesquisa bibliográfica de autores que sustentaram o caminhar teórico da pesquisa.

     O Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado da Educação e Desporto, vem desenvolvendo, continuamente, uma política de inclusão educacional no estado, possuindo como uma das metas a universalização da Educação Básica. Sendo o estado do Amazonas o maior em extensão geográfica e tendo como principal meio de locomoção o transporte fluvial, as dificuldades de acesso à escola convencional são comuns às comunidades mais distantes do interior, ou seja, da sede dos municípios, o que estimulou a oferta do Ensino Presencial com Mediação Tecnológica. Nesse sentido, a partir de 2007, foi implantado e implementado o CEMEAM, uma central de produção educativa estruturada com uma plataforma tecnológica - digital, objetivando garantir o atendimento educacional da população mais distante do estado.

     A tecnologia utilizada para a transmissão das aulas faz uso de um sistema via satélite de videoconferência com interação de áudio e vídeo, onde cada sala de aula conta com um kit tecnológico, denominado “Kit de hardwares” disponibilizado nas salas de aula e composto por uma antena digital, uma TV, uma CPU/IP.TVbox, uma webcam, um microfone, um teclado, um mouse, um estabilizador e uma impressora.

 

2. AS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO E O CEMEAM

   Os estudos de Moran, Masetto e Behrens (2006) apontam para a utilização das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC), que podem proporcionar processos de comunicação mais participativos, tornando a relação professor-aluno mais aberta e interativa.

     Nesse movimento, Maia (2019) afirma que, no contexto da realidade educacional do Amazonas, o CEMEAM configura,

 

[...] uma solução tecnológica integrada, ou seja, uma rede de comunicação multisserviços capazes de romper com o conceito de separação física entre aluno e professor, aproximando-os pela integração virtual, mediada pela tecnologia de comunicações, pela videoconferência e por sistemas e por sistemas interativos de colaboração (p. 62).

   Nesse viés, Lévy (1999) aduz que o mundo contemporâneo está sofrendo uma mutação na relação do saber com sua produção que, em escalas e ritmos acelerados, estão além dos espaços acadêmicos. Isso mostra o descompasso no caminho de construção do saber no ambiente escolar. Contudo, a instituição social escola, por sua essência histórica, social e antropológica, é forte, sólida e resiste a essas mutações. Não se pode negar, também, que a escola, como instituição de interesse da sociedade, deveria estar em sintonia com as demandas internas e externas a ela, mas o que se percebe é a dicotomia e o distanciamento da escola com os avanços na sociedade. Coadunando com esse excerto, Melo (2019, p. 62) assevera que

[...]apostando nas tecnologias da informação e comunicação que a [...] SEDUC/AM se dispôs a vencer todas as dificuldades, inclusive os naturais, impostas pelas características do estado, com a finalidade de atender uma demanda reprimida histórica de estudantes[...] residentes em comunidades rurais do estado do Amazonas[...]

 

   Nesse contexto das TDIC, o CEMEAM configura-se como possibilidade de emancipação dos sujeitos do processo educativo. Nessa direção Maia (2019) declara que

Possivelmente, uma expressão mais adequada de se utilizar para traduzir a metodologia utilizada pelo Centro de Mídia de Educação do Amazonas seja “atendimento a distantes” (grifo do autor) ao invés de a distância, uma vez que o curso é regular, com a mesma carga horária e dias letivos do ensino convencional; é presencial[...] (p.50)

       As TDIC são utilizadas nas diversas áreas, mas é no contexto educacional que encontra diferentes possibilidades, desafios, dificuldades e oportunidades de implementação. Dentre os desafios e dificuldades está vencer aspectos da cultura escolar ligados ao individualismo e balcanização, partindo para a ressignificação da prática pedagógica dos chamados professores tradicionais, aqueles resistentes à mudança. 

      Outrossim, as TDIC compõem o escopo do letramento digital, fazendo o uso da leitura e da escrita além do mundo interno da escola, possibilitando os “hiperlinks” entre os contextos internos e externos, como função social no cotidiano do aluno e suas comunidades.

     No contexto cultural digital da sociedade atual, os atores envolvidos no processo de ensino e aprendizagem começam a interagir com a tecnologia antes de adentrar ao espaço escolar. Da mesma forma, na realidade mundial tecnológica, com avanços, atrativos tecnológicos, materiais lúdicos digitais acabam direcionando a curiosidade das crianças e jovens, incitando a irem em busca de mais novidades e tecnologias avançadas.

   Vive-se a era da informação, e a percepção da tecnologia na sala de aula como instrumento de desenvolvimento da capacidade de educandos e de educadores é cada vez mais crescente, exigindo da escola um papel de intervenção providencial. Face a essa realidade social, o CEMEAM oportuniza àqueles estudantes nos locais mais longínquos do estado do Amazonas, o acesso à educação mediado por TDIC de forma inovadora e democrática.

3. UM OLHAR NA HISTORICIDADE E ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL DO CEMEAM

3.1   A origem

    Implantado em 2007, o Centro de Mídias de Educação do Amazonas (CEMEAM) foi uma política de estado pioneira no país e, a cada ano, é ampliado pelo Governo do Estado do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado de Educação e Desporto (SEDUC).

   O CEMEAM atua como uma central de produção e transmissão televisiva de aulas mediadas por tecnologias para a Educação Básica. O planejamento das aulas é realizado por professores especialistas assessorados por uma equipe pedagógica. As aulas são transformadas em peças televisivas por uma central de produção educativa para TV com o uso de diversos recursos midiáticos e ferramentas de comunicação, transmitidas ao vivo diariamente para todas as salas de aula simultaneamente em horário regular. A mediação das aulas é realizada por um professor generalista, que recebe orientações didático-pedagógicas para conduzir o processo de aprendizagem do aluno.

   São utilizados diferentes recursos de interatividade em tempo real e mídias estrategicamente planejadas para o desenvolvimento das aulas síncronas e assíncronas [1]. A presencialidade às aulas pressupõe a participação e interação efetiva dos integrantes no processo educativo: professores ministrantes (especialistas), professores presenciais (generalistas) e educandos, resultando no desenvolvimento de inteligências coletivas no ambiente de aprendizagem.

    Nesse modelo educativo, é o professor ministrante especialista de cada componente curricular que, embora esteja mediando os conhecimentos de um estúdio localizado em ponto remoto, faz-se presente em cada sala de aula, simultaneamente, através dos recursos da tecnologia. Dessa forma, a interlocução colaborativa entre o professor ministrante e o professor presencial é fundamental para que a apreensão do conhecimento seja construída significativamente.

    A sequência didática das aulas segue uma organização bem estruturada, a fim de possibilitar aos alunos entendimento efetivo dos conteúdos ministrados, sendo dividida em:  Exposição de conteúdo, Dinâmica Local Interativa - DLI (atividade realizada pelos estudantes presencialmente em sala de aula e mediadas pelo professor presencial) e Interatividade (realizada ao vivo pelos professores ministrantes).

     Vale ressaltar a importância do momento da Dinâmica Local Interativa (DLI), que requer o olhar atento de todos os sujeitos (ministrantes, presenciais e assessoria pedagógica). A DLI é, portanto, um dos indicadores qualitativos para o feedback entre os condutores/mediadores da ação pedagógica em sala de aula. O acompanhamento pedagógico é realizado por uma equipe de pedagogos que atende os professores ministrantes em todo o processo de planejamento, produção e transmissão das aulas. Os professores presenciais são acompanhados diariamente por meio de e-mail, comunicação telefônica e de forma síncrona via chat, ferramenta disponível na plataforma digital onde ocorre a transmissão das aulas.

     Assim, tendo como base o teor do artigo 27 da LDB nº 9394/ 96, pode-se afirmar que neste modelo didático pedagógico com uso da metodologia b-learning [2] do ensino presencial com mediação tecnológica realizam-se os processos de aprendizagem com uma organização de tempos e espaços escolares específicos, fundamentando o currículo nas diretrizes que orientam a base mínima de conhecimentos formativos para a promoção e progressão das aprendizagens dos estudantes.

   Educação e tecnologia são temas indissociáveis do currículo do Ensino Presencial com Mediação Tecnológica, cuja proposta é valorizar a relação sujeito-objeto do conhecimento, nesse contexto de aprendizagem com interface tecnológica e digital. Assim, considera a escola como o lugar geográfico da construção do conhecimento e do diálogo crítico, e as tecnologias de comunicação e informação como o diferencial metodológico que gera a inserção digital e social dos estudantes promovendo a aprendizagem em rede. Nesse sentido, o projeto pedagógico do CEMEAM fundamenta-se no conceito de ciberespaço que segundo Levy (1999) é:

Uma forma ousada de se construir o conhecimento em dimensão coletiva da inteligência em ciberespaços, que antes se restringia a um espaço de comunicação aberto pela comunicação mundial dos computadores e memórias de computadores para tornar-se um estágio avançado de auto-organização social ainda em desenvolvimento (p.92).

      Desse modo, o ciberespaço não é determinado apenas pelo uso de tecnologias digitais, mas pela superação da técnica para um estágio mais avançado, valorizando a informação construída coletivamente. Em relação aos aspectos legais do Ensino Presencial com Mediação Tecnológica, as diretrizes estão presentes na Constituição Federal de 1988 e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBN) de 1996, bem como nos demais documentos legais que regulamentam e orientam a educação nacional, como: o Plano de Educação Nacional (PNE) 2011- 2020 Lei 13.005 de 20/06/2014; as Diretrizes Curriculares para Educação Básica - Parecer CNE/CEB 07/2010; a Resolução CNE/CEB 04/2010; a Resolução CNE/CEB 07/2010, que define as Diretrizes Curriculares para o Ensino Fundamental de 09 anos; a Resolução CNE/CP 02/2017, que institui a Base Nacional Comum Curricular; e a Resolução CEE/AM 098/2019, que trata do Referencial Curricular Amazonense.

     Os tempos de aprendizagem em que os professores ministrantes, os professores presenciais e os estudantes atuam juntos ocorrem durante 200 dias letivos contínuos, em horários pré-definidos (diurno), com 4 horas diárias de efetivo trabalho escolar, divididas em 06 tempos/aulas, em cumprimento a um cronograma sequenciado de oferta dos componentes curriculares, onde se oportuniza aos estudantes cursar a integralidade da carga horária de cada componente curricular ofertado, sendo considerado concluído o ano/série escolar quando o estudante cumpre a carga horária total prevista para o curso.

    A intencionalidade desse modelo curricular é possibilitar aos estudantes o cumprimento individual da carga horária dos componentes curriculares, com o estudo sequenciado dos conhecimentos escolares, sem perdas das aprendizagens já efetivadas quando ocorrem paradas no percurso escolar, sendo permitido a ele a reposição de conteúdo, bem como o cumprimento, em regime de progressão parcial, de até 2 componentes curriculares (EF).

     Sendo o Ensino Presencial com Mediação tecnológica um modelo de ensino não convencional com características de EaD, faz-se necessária a oferta de ambientes virtuais de aprendizagem (AVAs), aplicativos para smartphones, sites, portais, canais on-line, entre outros, buscando a ampliação das possibilidades de aprendizagens dos alunos por meio da revisão de conteúdos curriculares, favorecendo espaços que conduzam ao fortalecimento dos conteúdos trabalhados nas aulas de todas as etapas e modalidades de ensino. Deste modo, o Centro de Mídias administra multiplataformas que podem apoiar o acesso ao repositório digital produzido.

      O Ensino Presencial com Mediação Tecnológica atende em 2021 os 62 municípios do estado, assegurando aos estudantes, com base nos princípios pedagógicos para a educação básica, a inclusão educacional, principalmente àqueles que estão nas localidades mais remotas do Amazonas. Além disso, o CEMEAM transmite palestras e cursos de alcance social em parceria com outros órgãos governamentais e, também, com outros departamentos da Secretaria.

 

3.2 Estrutura Organizacional do CEMEAM em 2021

 

      A Estrutura do CEMEAM é composta por uma direção e três gerências, conforme os dados constantes nos sistemas e arquivos da Instituição (SEDUC/CEMEAM,2021), a saber:

  • Gerência de Ensino por Mediação Tecnológica (GEMTEC) - coordena o processo administrativo e de gestão do planejamento, produção e transmissão de aulas, sistematização; aplica a avaliação de desempenho profissional; orienta e acompanha os processos de ensino, aprendizagem e desempenho escolar; acompanha os registros de pós-transmissão do ensino presencial com mediação tecnológica; desenvolve ações para formação profissional dos professores ministrantes, presenciais e pedagogos, presencialmente e por IP.TV, resguardando os princípios legais, epistemológicos, psicopedagógicos, as novas tecnologias, as competências e os domínios metodológicos do CEMEAM.
  • Gerência de Operações e Suporte (GEOS) - coordena e controla o processo de aquisição, gestão dos serviços de logística e suporte técnico para garantir o pleno funcionamento das turmas atendidas pelo ensino presencial com mediação tecnológica; supervisiona os serviços de reforma e manutenção do prédio do CEMEAM e realiza a gestão do seu patrimônio; acompanha as transmissões, as atividades de sistema e a preparação de estruturas para eventos.
  • Gerência de Mídias e Conteúdos Digitais (GEMCD) - fomenta o uso das mídias e conteúdos digitais a partir do gerenciamento de plataformas e ambientes virtuais de aprendizagem (portal, aplicativo, canais on-line, outros); gerencia a produção de conteúdos digitais para a diversificação do ensino; coordena a gravação de conteúdos digitais, em DVDs; avalia e emite parecer sobre projetos, conteúdos e material didático, relacionados ao uso de recursos digitais de aprendizagem.

 

3.3 Estatísticas do CEMEAM

   De acordo com dados (SEDUC/CEMEAM/SIGEAM, 2021), o Ensino Presencial com Mediação Tecnológica em componentes curriculares e modular é ofertado em 61 municípios com 2.142 turmas nos níveis de Ensino Fundamental e Ensino Médio, na modalidade de Educação de Jovens e Adultos. O Centro dispõe de 69 professores, 18 pedagogos e 36 técnico.

 

4. APLICATIVOS E PLATAFORMAS EM METODOLOGIAS DE ENSINO E APRENDIZAGEM

 

   O CEMEAM atua com multiplataformas cujo objetivo é aumentar o alcance para acesso dos alunos e professores, disponibilizando materiais pedagógicos como: videoaulas, cadernos digitais, materiais complementares, links, dentre outros nas plataformas online que são espelhados em uma programação televisiva. Utilizando o YouTube e as plataformas do “Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA)”, “Educação”, “Saber +” e aplicativo “Aula em Casa”, os conteúdos passaram a ser melhor assimilados independente do horário da programação na televisão, o que ajuda na organização das rotinas tanto dos estudantes quanto dos professores.

    Alcançar os 62 municípios do Amazonas é um desafio, principalmente tecnológico, no que compreende a logística. Além da internet, que é precária em muitas regiões do estado, foi possível levar a transmissão de aulas do Ensino Médio para estudantes de 24 municípios em parceria com o “Amazon Sat”, canal de televisão privado.

    Dos 34 municípios para os quais não foi possível levar o conteúdo do Aula em Casa via sinal de televisão, os coordenadores e gestores das escolas foram orientados pela Secretaria Adjunta Pedagógica e do Interior a fornecer materiais de apoio com que os estudantes pudessem aprender o conteúdo, ainda que no primeiro contato e, também, praticar os exercícios para fixação dos componentes curriculares. Preocupado com a realidade dos municípios de conexão nula, o CEMEAM produziu Guias de Estudos, que foram impressos pela Secretaria, com os mesmos conteúdos disponibilizados nas plataformas digitais e distribuídos a todos os estudantes da rede.

      Outro canal amplamente utilizado pelo corpo docente do interior do Amazonas foi o WhatsApp. Por ser uma plataforma mais leve e precisar de menos dados móveis para baixar vídeos, por exemplo, os conteúdos eram enviados aos pais, que os remetiam de volta aos professores após o estudo, com o objetivo de que os docentes acompanhassem o ensino a distância. Em 2021, a Secretaria desenvolveu 4 pacotes de ofertas de conteúdos de acordo com a realidade de cada munícipio do nosso estado, desenvolvendo materiais como podcasts para veiculação em rádios, enviando materiais via satélite para as comunidades remotas, impressos para as localidades de nula conectividade e digitais para as que possuem conectividade.

 

 5. PRÊMIOS E RECONHECIMENTOS NA TRAJETÓRIA DO CEMEAM

 

    O CEMEAM é um centro de referência local, nacional e internacional e busca cada vez mais melhorias e inovações em seus processos educativos. Dentre as metas da direção é envolver os professores da rede no uso de soluções tecnológicas a fim de    elevar a educação do estado, criando laboratórios makers, criando projetos de recuperação da aprendizagem para aumento dos índices do Amazonas em avaliações de larga escala e muitos outros projetos inovadores que poderão garantir o alcance destas metas. A trajetória do Centro é marcada por muitas conquistas, como o Prêmio Prata para Criadores – 2021, concedido pela plataforma midiática YouTube, como reconhecimento pelo trabalho nos 62 municípios do estado. Essa premiação é uma certificação para canais com mais de 100 mil inscritos e reconhece aqueles que seguem diretrizes, regras e padrão de qualidade da plataforma. Em 2021, o canal “Aula em Casa Amazonas” tem 127 mil inscritos, e o “Aula em Casa 1 Amazonas” tem um público de 102 mil. Com o total de inscrições, o projeto de ensino remoto da Secretaria de Educação está entre os cinco maiores em número de inscritos no Youtube no Brasil. Entre as redes estaduais do país, somente São Paulo, Paraná, Pernambuco e Rio de Janeiro estão à frente no número de seguidores.

   Em 2011, o CEMEAM recebeu o Prêmio Tecnologia Social da Fundação Banco do Brasil. Esse prêmio compreende produtos, técnicas e/ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que representem efetivas soluções de transformação social. Por meio da participação de ONGs, universidades, centros de pesquisa e governos, foi criado o Banco de Tecnologias Sociais (BTS), que reúne experiências testadas e aprovadas para problemas sociais em diferentes áreas como saúde, educação, habitação, água, geração de renda, alimentação, energia e meio ambiente.

    Outra premiação que merece destaque é o Prêmio Quality - 2018 e 2019, o CEMEAM recebeu o prêmio na categoria Quality Diamante. Esse outro prêmio intuía distinguir e premiar empresas que se destacavam no mercado brasileiro, com excelência na qualidade de seus produtos ou serviços contribuindo efetivamente para o desenvolvimento socioeconômico do País, valorizando, realmente, o produto nacional. Como principal missão, visa incentivar e contribuir na jornada para a excelência da qualidade, assegurando a prosperidade do cidadão, a integridade do meio ambiente e a competitividade no País.

      O trabalho com a inovação e tecnologia rendeu o Prêmio Learning & Performance Brasil - uma evolução do Prêmio e-Learning Brasil, que reconhece as melhores práticas em Aprendizado e Performance, como Referência Nacional e uns anos como Vencedor do prêmio nos anos de 2008 a 2019.

     A inclusão social pela tecnologia está presente na trajetória do CEMEAM, e o destaque e reconhecimento veio com o prêmio “A Rede, a tecnologia na inclusão social”, em 2009. Essa outra premiação foi criada em 2007 pela Bit Social, para dar visibilidade aos melhores projetos de inclusão digital do país, de modo a estimular novas iniciativas e inspirar políticas públicas. Os vencedores desse prêmio foram escolhidos, entre mais de 200 inscritos, por uma comissão julgadora composta por 14 integrantes, entre os quais, formuladores de políticas públicas, empresários e especialistas em tecnologia. O destaque foi para a Educação, área que recebeu dois prêmios, sendo um deles para o Centro de Mídias de Educação do Amazonas.

      O CEMEAM, em 2009, recebeu da Fundação Qatar, o prêmio da Cúpula Mundial para a Inovação na Educação - World Innovation Summit for Education – WISE - sob a liderança de sua presidente, Sua Alteza a Sheikha Moza bint Nasser. A WISE é uma plataforma de ação conjunta que se tornou referência mundial em novas abordagens educativas, promovendo a inovação e a construção do futuro da educação por meio da colaboração. A cada ano, o Prêmio WISE reconhece e promove seis projetos inovadores de sucesso que abordam os desafios mundiais da educação. Até hoje, 42 projetos foram reconhecidos em todo o mundo a partir de uma série de quesitos: caráter inovador, contribuição positiva, escalabilidade, adaptabilidade.

      Ainda em 2009, veio a honraria do Prêmio Learning Impact 2009 - IMS Global Learning Consortium. O prêmio Learning Impact Awards tem por finalidade identificar projetos que evidenciem o uso mais impactante da tecnologia em todo o mundo, de apoio ao aprendizado. Realizados anualmente e reconhecidos pela IMS Global Learning Consortium, a premiação busca reconhecer em escala global soluções inovadoras e de destaque de tecnologia educacional que são usadas para enfrentar os desafios mais significativos da educação.

     O reconhecimento pelo trabalho do CEMEAM é resultado de uma trajetória de investimento e determinação em garantir acesso à educação dos amazonenses residentes nos locais mais longínquos do estado, e dando oportunidades a jovens e adultos com percurso escolar interrompido por vários fatores, sendo um deles o fator geográfico, pela localização afastada dos centros urbanos. Essa situação vem amenizando com a oportunidade de estudar por meio da tecnologia do Centro de Mídias do Amazonas.

 

5 O CEMEAM ULTRAPASSA AS FRONTEIRAS

       Por conta da pandemia do Covid-19, a Secretaria de Estado de Educação e Desporto utilizou uma estratégia educacional denominada "Aula em Casa" tão logo as aulas presenciais foram suspensas em 2020. A Secretaria usou sua expertise na produção de videoaulas para o ensino com mediação tecnológica para levar os conteúdos aos alunos, na busca de reduzir os impactos no cumprimento do calendário letivo.

   Criado em meio à pandemia para ofertar o ensino remoto, o projeto foi regulamentado pelo Conselho Municipal de Educação (CME-Manaus), Resolução N° 3/2020; pelo Conselho Estadual de Educação (CEE/AM), Resolução N° 30/2020; pelo Governo Federal, com a Medida Provisória N° 934/2020; e orientado pelas Diretrizes Pedagógicas instituídas pela Secretaria de Educação.

      A adoção do regime especial de aulas não presenciais levou o Amazonas a ser o primeiro estado do Brasil a retomar as atividades na rede pública com aulas transmitidas pela televisão aberta, na internet e com materiais didáticos impressos para atingir os estudantes das mais variadas realidades. Posteriormente, com o Centro de Mídias de Educação do Amazonas (CEMEAM), a rede estadual passou a compartilhar seus conteúdos para que as secretarias de Educação de 11 estados Brasileiros, além dos municípios do estado do Amazonas, também pudessem disponibilizar aos estudantes de suas respectivas redes. Esses estados são: Espírito Santo, Amapá, Sergipe, São Paulo, Rio de Janeiro (Teresópolis), Santa Catarina, Maranhão (Balsas), Pernambuco (Caruaru), Rio Grande do Norte, Pará (Óbidos) e Alagoas. A expectativa era que os conteúdos alcançassem mais de 10 milhões de estudantes em todo o país.

      No Amazonas, a solução multiplataforma atendeu estudantes do 6° ao 9° ano, do Ensino Fundamental e Ensino Médio com o “Aula em Casa” e passou também a disponibilizar conteúdo de aulas não presenciais para o 1° ao 5° do Ensino Fundamental, bem como atividades orientadas diversificadas para Educação Infantil, com a parceria da Prefeitura de Manaus, por meio da Secretaria Municipal de Educação (Semed-Manaus).

     Todo esse trabalho foi realizado com o apoio das ações de fortalecimento da qualidade da educação que vêm sendo desenvolvidas na rede estadual de ensino por meio do Programa de Aceleração do Desenvolvimento Educacional do Amazonas (Padeam) e por meio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

        Para que a estratégia educacional adotada tivesse sucesso, foram utilizadas várias ferramentas pedagógicas de gestão e de acompanhamento, como Plantão Virtual de Apoio a Aprendizagem – composto de 120 professores para sanar as dúvidas dos alunos e professores nas variadas plataformas de ensino e no APP Aula em Casa em tempo real; Busca Ativa dos alunos; Disponibilização de Formulários de Pesquisa de Acesso ao Projeto para Pais, Alunos e Professores compiladas em Business Inteligence (Bis), Engajamento de Coordenadores Distritais e Regionais, como também de Pedagogos e Professores das escolas para utilização de outras estratégias de ensino, utilizando grupos de Whats App, Google Classroom, Entrega de materiais impressos de forma domiciliar para que todos os estudantes fossem atendidos.

       O cenário de pandemia e as condições impostas à educação levaram à adaptação dos processos educativos do CEMEAM para atender toda a rede estadual. Disso, surgiu a necessidade de parcerias como a firmada com a emissora pública estadual TV Encontro das Águas, que permitiu a abertura de 4 canais em rede de televisão aberta, e com a emissora privada TV Tiradentes, com a abertura de 3 canais.

   A partir da implementação do projeto, surgiram desafios como a necessidade de aumentar o alcance em quesito de conteúdo, já que não havia conteúdo para o Ensino Fundamental I. Esse problema foi reconhecido, principalmente, porque dos estudantes, esse é o público mais dependente de ações no cenário de isolamento social. Outro fator importante a ser considerado foi a necessidade de distribuir o conteúdo em diferentes plataformas e formatos para alcançar o maior número de estudantes da rede.

     Ainda no mesmo contexto, também foi necessário observar a demanda que vinha dos profissionais da educação. Com o regime sendo posto em prática, as mudanças na rotina diária foram da sala de aula presencial para a sala de aula virtual, onde surgiu a necessidade de subsidiar os profissionais da educação com ferramentas que auxiliassem tanto no ensino remoto como também na saúde mental tendo em vista as inúmeras situações causadas pelas mudanças de rotina. Na impossibilidade de garantir recursos tecnológicos em meio a um programa emergencial e à pandemia, foi necessário criar estratégias de suporte a essas demandas.

 


[1] Aulas Síncronas são aquelas em que a interação ocorre em tempo real durante a transmissão das aulas e assíncronas são as que ocorrem remotamente, fora do horário de transmissão ao vivo das aulas.

[2] A definição de b-learning deriva de uma sigla. B-learning é a sigla para “blended learning”, que pode ser traduzido livremente como aprendizado híbrido ou misto. Isso significa que essa é uma modalidade de ensino que usa ferramentas tanto do ensino presencial quanto do ensino a distância. 

[3] O movimento maker é uma extensão tecnológica da cultura do “Faça você mesmo”, que estimula as pessoas comuns a construírem, modificarem, consertarem e fabricarem os próprios objetos, com as próprias mãos. Disponivel em: https://via.ufsc.br/wp-content/uploads/2017/11/maker.pdf.

 

CONSIDERAÇÕES NO CAMINHAR

         

    Nesse caminhar do estudo acerca do protagonismo do CEMEAM, pode-se perceber que o Centro com sua estrutura organizacional administrativa e pedagógica teve consolidado como referência, um caminhar inovador, com uma equipe comprometida e envolvida.

     Os avanços caminham e ampliação do universo de atendimento para toda a rede de ensino com projetos de Recuperação da Aprendizagem que atuam diretamente nos descritores críticos para melhor aproveitamento dos exames em larga escala, também para alunos que pretendem revisar conteúdo do Ensino Médio para melhor aproveitamento nos exames para as Universidades; e o ensino básico com mediação tecnológica, se tornou a mais um dos projetos nesse ano de 2021.

    Pensando nos formatos utilizados para as aulas por 12 anos e que foram solução para a pandemia do COVID-19, apesar de se apresentarem aspectos tradicionais, utilizando tecnologia, o maior desafio aos 14 anos que completou recentemente em 2021, é a virada de chave para inovação de aulas mais interativas, dinâmicas, com maior movimento, presença do professor constantemente, linguagem mais acessível, dialógica, com inúmeros cenários, objetivas e diretas, relacionando-se com a realidade e fazendo do aluno o protagonista do seu próprio conhecimento.

 

 

REFERÊNCIAS

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IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/am/panorama. Acesso em: 20 de jun. 2021.

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MORAN, José Manuel; MASETTO, Marcos T.; BEHRENS, Marilda Aparecida. Novas tecnologias e mediação pedagógica. 21. ed. Campinas: Papirus, 2013.

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